Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 615: Segredos Despedaçados
Olhando para a quilha que se estendia incessantemente na escuridão, Duncan parecia já ter certeza de sua origem e da “troca” que ocorreu nas profundezas do subespaço um século atrás.
Mas, ainda assim, ele sentia que estava ignorando algo, que aquela não deveria ser a informação que o Banido queria lhe transmitir — pelo menos não toda a informação.
Ele ergueu a lanterna em sua mão, e a chama acesa pelo fogo espiritual brilhou um pouco mais forte. A luz suave iluminou os arredores, tornando os detalhes na superfície da quilha ainda mais evidentes. A luz do fogo refletiu-se nas áreas vazias além da quilha, espalhando-se na névoa escura.
A névoa estava cheia de sombras, como se escondesse muitas coisas.
A sombra de Agatha se aproximou. Ela se ergueu na névoa, parada ao lado de forma indistinta: “Esta… espinha dorsal, poderia ser do Grande Deus Demônio da lenda élfica, Sasroka?”
“A possibilidade é alta”, Duncan assentiu levemente. — E temo que apenas uma existência de nível divino poderia ter uma espinha dorsal como esta.
“O Cabeça de Bode…” Agatha hesitou. Ela parecia estar em um estado de confusão mental, levando um bom tempo para encontrar as palavras certas. “Quero dizer, todos os Cabeças de Bode, incluindo o do Banido, o deste mundo dos sonhos, o que está nas mãos dos cultistas e os que talvez ainda sejam desconhecidos… O senhor acha que qual é a relação entre eles e Sasroka?”
Ela fez uma pausa e continuou: “Aquele Cabeça de Bode confuso disse que Sasroka morreu há muito tempo e que ele não é Sasroka. Mas agora, parece que ‘eles’ têm uma conexão inseparável com o ‘Sonho Primordial’ dos elfos. E agora, encontramos esta ‘quilha’ no fundo do Banido… O senhor não se lembra mais do processo de obter esta quilha no subespaço, certo?”
Agatha, é claro, não sabia que o Duncan de hoje não era o “capitão” original do Banido. Ela naturalmente assumiu que foi Duncan quem fez o acordo e assinou o contrato com o Cabeça de Bode no subespaço cem anos atrás. E como ele mencionava frequentemente que havia perdido muitas memórias no processo de recuperar sua humanidade, ela naturalmente presumiu que esta quilha também era uma das memórias perdidas de Duncan.
Duncan não respondeu diretamente, apenas assentiu levemente. Depois, ponderou por alguns segundos antes de falar, pensativo: “Talvez todos os Cabeças de Bode sejam parte de Sasroka.”
Agatha ficou surpresa por um momento, mas logo reagiu: “Então, a Senhora Lucretia estava certa ao chamar o ‘Cabeça de Bode’ nas mãos dos Aniquiladores de ‘fragmento de deus antigo’… E esses fragmentos de deus antigo estão em estados diferentes e não conseguem se reconhecer… Alguns deles ainda se lembram de coisas relacionadas a Sasroka ou Silantis, enquanto outros parecem não ter mais pensamento ou razão…”
Duncan permaneceu em silêncio, olhando para a impressionante espinha dorsal em seu campo de visão, mergulhado em pensamentos. Depois de muito tempo, ele falou de repente: “Para ser mais ousado na conjectura, o ‘Cabeça de Bode’ talvez seja apenas uma das formas de manifestação dos fragmentos de deus antigo. Esta espinha dorsal diante de nós é claramente outra forma de ‘fragmento de deus antigo’, e não se pode descartar a existência de outras formas de fragmentos de deus antigo: uma árvore, uma pessoa, uma pedra, um cadáver… Todos eles podem ser partes deixadas por Sasroka.
“Afinal, de acordo com as descrições nas antigas mitologias élficas, Sasroka possuía inúmeras formas. Isso também pode explicar por que o Cabeça de Bode, que é suspeito de ser um fragmento de deus antigo, é pequeno o suficiente para ser colocado em uma mesa de navegação, enquanto esta espinha dorsal, também um ‘fragmento’, pode sustentar todo o Banido.”
Duncan expressou essa possibilidade em um tom calmo, mas a imagem que essa possibilidade descrevia era arrepiante. Mesmo sendo a antiga “Guardiã do Portão”, Agatha sentiu um calafrio ao tentar imaginar o estado daquele Grande Deus Demônio.
Ela não pôde deixar de falar: “Que tipo de poder… faria um ‘deus’ ficar nesse estado? Nesse estado… despedaçado?”
Ela falou por impulso, sem esperar obter qualquer resposta do capitão.
No entanto, após um momento de silêncio, Duncan falou, como se estivesse falando consigo mesmo, lentamente:
“… Mas o segundo projeto também não teve sucesso, e assim o Rei dos Sonhos foi despedaçado na Segunda Longa Noite da Gênese. Parte Dele vagou na fronteira do mundo real…1”
Agatha ficou instantaneamente atônita. Sua sombra tremeu levemente sob a luz da lanterna, as bordas da sombra parecendo um pouco borradas. Logo, ela se lembrou da origem dessas frases: “Este é o conteúdo registrado naquele ‘Livro da Blasfêmia’…”
Duncan assentiu levemente: “Sim, a ‘mitologia da criação’ dos Aniquiladores, a história antes do início da Era do Mar Profundo. O Rei dos Sonhos usou seu poder para criar o mundo, mas foi despedaçado durante a longa noite.”
“Sasroka é um dos Reis Perdidos!” Agatha reagiu. “Este ‘Grande Deus Demônio’ da antiga lenda élfica é o ‘Rei dos Sonhos’ que tentou remodelar o mundo na Segunda Longa Noite?!”
“Na verdade, eu já tinha feito essa associação há muito tempo, afinal, seus poderes são muito semelhantes”, disse Duncan. “Só que, por muito tempo, as antigas lendas élficas careciam de provas concretas. E Sasroka, como um elemento de fé exclusivo da raça élfica, muitas de suas lendas e milagres contradiziam os registros e fatos de outras cidades-estado no Mar Infinito.
“Além disso, há um ponto muito importante: os elfos têm o sistema mitológico e os registros históricos mais completos de todas as raças, mas em seus próprios registros, nunca houve um registro de ‘o Rei dos Sonhos tentando remodelar o mundo na Segunda Longa Noite’, nem qualquer menção de que este Grande Deus Demônio foi despedaçado no final da longa noite — nem mesmo histórias apócrifas semelhantes.
“Essas contradições me impediram de confirmar que o ‘Grande Deus Demônio Sasroka’ das lendas élficas e o ‘Rei dos Sonhos’ da Segunda Longa Noite eram a mesma divindade, até agora… quando vi com meus próprios olhos os fragmentos deixados por este deus antigo despedaçado.”
Talvez por estar em estado de choque e reflexão, Agatha não falou por um longo tempo. Duncan, por sua vez, avançou lentamente. Ele pisou com cuidado em um ponto de conexão da “espinha dorsal do deus antigo” com a lanterna na mão, depois se curvou e tocou sua textura óssea áspera e antiga, que parecia ter sido polida por incontáveis eras, mas ainda era resistente e confiável.
Esta espinha dorsal trouxe o Banido, que havia caído nas profundezas do Subespaço e sido quase completamente engolido e apagado, de volta ao mundo real, remodelando a entidade do navio e sustentando-o por um século inteiro.
Seus movimentos pararam de repente.
Uma questão que ele nunca havia pensado antes, uma questão ignorada por muito tempo, surgiu incontrolavelmente em sua mente. Depois de ver esta “quilha” feita da espinha dorsal de um deus antigo, depois de entender de forma mais clara e intuitiva a estrutura surpreendente no fundo de um navio gigante, Duncan finalmente pensou nesta questão:
A quilha original do Banido, do que era feita?!
Ele se levantou abruptamente, erguendo a cabeça para observar este espaço escuro e vasto.
O esqueleto do fundo do navio, sustentado pela quilha e pelas costelas, estava imerso na névoa sem fim. À distância, podiam-se ver vagamente as tábuas do casco quebradas e as estruturas de suporte dos níveis superiores.
Esta estrutura construída sobre a espinha dorsal de um deus antigo era vasta, complexa e inspirava reverência.
Mas este não era o Banido original, não inteiramente.
O Banido original já havia sido engolido pelo subespaço. Quando o Cabeça de Bode o viu, o navio era apenas uma leve ilusão e a obsessão do próprio Duncan Abnomar.
O “Banido” que Duncan conhecia agora era o resultado da re-materialização daquela ilusão. Sua quilha original foi substituída pela espinha dorsal de um deus antigo, o que lhe permitiu realizar o “milagre” de retornar do subespaço.
Então, e a quilha original do navio?
Duncan não era um especialista em construção naval, mas depois de viver neste mundo por tanto tempo, ele aprendeu muito sobre navios. Ele sabia como os navios de guerra à vela de cem anos atrás eram construídos. Ele sabia que apenas uma única peça de madeira completa, extremamente resistente e rigorosamente selecionada, poderia suportar o peso da “quilha”, e a força e o tamanho dessa peça de madeira limitavam o tamanho máximo de cada navio de guerra à vela.
No entanto, o Banido excedia em muito esse tamanho — não apenas um pouco, mas o dobro.
O Banido era o maior navio à vela que já existiu neste mundo. Depois dele, nenhum veleiro maior apareceu. E, a julgar pela estrutura do fundo do porão aqui, a quilha do Banido também não usava técnicas como rebitagem ou junção.
Duncan franziu lentamente a testa.
A quilha é a parte mais fundamental de um navio, e seu método de construção determina diretamente a estrutura subsequente de todo o navio. Portanto, esta “espinha dorsal de deus antigo” à sua frente deveria ter apenas substituído a quilha original do Banido, sem alterar em grande escala sua estrutura básica. Assim, o Banido, como outros navios à vela daquela época, deveria ter usado uma quilha única e completa.
Mas não poderia haver uma árvore tão grande na cidade-estado.
Mesmo que houvesse, a própria resistência da madeira tem um limite. Na escala do Banido, já excedia em muito o limite de carga de uma quilha de madeira tradicional.
A menos que, desde o início, a quilha deste navio não fosse de madeira comum, mas algo… muito mais inconcebível.
No último século, o Banido, como um dos maiores tabus do Mar Infinito, teve muitos de seus assuntos transformados em tópicos sobre os quais as pessoas hesitavam em falar. Embora o navio tenha sido construído na cidade-estado de Pland, quase ninguém discutia publicamente seu processo de construção na época.
Mas agora Duncan podia imaginar que, mais de cem anos atrás, quando este impressionante navio de exploração começou a ser construído, deve ter sido um grande evento.
A névoa fluía lentamente por toda parte, e a luz verde-espectral da lanterna se infiltrava suavemente na névoa, como se delineasse muitos contornos sombrios.
Duncan olhou para a névoa persistente ao redor, e sua testa gradualmente se relaxou.
“Parece que é isso que você queria me dizer…”
- Eu fiz uma pequena alteração nessa citação no capítulo 413 para correção. Anteriormente eu havia colocado “…e assim o Rei dos Sonhos foi dilacerado na Segunda Longa Noite da Criação do Mundo”. Eu mudei “dilacerado” para “despedaçado” e “Criação do Mundo” para “Gênese”. O motivo dessa mudança é que a palavra original 创世纪 (chuàngshìjì) é o termo exato para o “Livro de Gênesis” da bíblia. Portanto, traduzir como “Gênese” é a tradução mais literal e fiel da palavra específica que o autor escolheu para esta frase. E a palavra usada para Criação do Mundo é diferente do que a usada aqui.[↩]
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