Capítulo 62: Entrelaçamento e Sobreposição
O porão do Banido provavelmente sempre esteve navegando no subespaço – essa informação impressionante deixou Duncan em um estado de espírito bastante peculiar.
Ele sempre soube que o Banido era estranho e perigoso, mas nunca imaginou que o nível de bizarrice chegasse a esse ponto. Sobre o subespaço, ele sabia muito pouco, talvez até menos que o professor de história de Nina. No entanto, ele entendia o básico: o subespaço era uma das coisas mais perigosas deste mundo, algo que tirava o sono dos santos e que até os próprios deuses temiam profundamente – o ‘fundo de tudo’, aterrorizante ao ponto de marinheiros supersticiosos evitarem até mencionar a palavra “subespaço” em um navio prestes a zarpar.
Mesmo sabendo que o subespaço não é uma entidade consciente que responde ao chamado do nome, o medo de mencioná-lo no mar era absoluto.
E agora, o Banido, um navio fantasma que vagara por um século, tinha parte de sua estrutura aparentemente navegando no subespaço o tempo todo. Pior ainda, havia uma porta no porão que levava diretamente a ele.
O compartimento escuro e decadente do outro lado daquela porta era, talvez, uma parte do Banido completamente tomada e corroída pelo subespaço – e a porta, um selo que mantinha tudo contido.
Instintivamente, Duncan abaixou o olhar, fixando-se no profundo tom das tábuas do convés sob seus pés. Era como se ele tentasse enxergar através das camadas de madeira, direto para o compartimento destruído e as luzes caóticas do outro lado.
De repente, ele sentiu como se estivesse de pé sobre um barril de pólvora prestes a explodir – com a pequena fresta daquela porta sendo o pavio. E o pior: ele não fazia ideia de quanto tempo o pavio tinha.
Porém, após o choque inicial e a tensão, Duncan começou a refletir mais profundamente. O comportamento do Cabeça de Bode parecia revelar outra camada de informações.
Pelo pânico que demonstrara ao ouvir Alice mencionar a porta, parecia claro que qualquer olhar que o ‘Capitão Duncan’ lançasse através da fresta era suficiente para desencadear algo terrível.
Até agora, o Cabeça de Bode ainda insistia em perguntar repetidamente a Alice sobre o estado mental do capitão, se ele havia dito algo estranho no caminho de volta, emitido sons incomuns ou trazido sombras perturbadoras consigo.
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Mas Duncan tinha certeza de si mesmo. Ele sabia que estava normal.
As visões além daquela porta tinham, de fato, o assustado momentaneamente. Ele até cogitara, por um breve instante, abrir a porta completamente. Mas tudo isso não passava de mudanças no plano psicológico – não havia sentido nenhuma influência de forças ‘sobrenaturais’ em si mesmo.
Os pensamentos vieram e foram. Duncan não sentia que a porta tivesse deixado qualquer impacto duradouro.
Ele olhou para suas mãos, verificando repetidamente em sua mente:
Aqui, seu nome era Duncan Abnomar, o capitão do Banido.
Em outro espaço-tempo, ele se chamava Zhou Ming, um professor de ensino médio comum, preso em um apartamento solitário envolto em neblina.
Talvez… o Cabeça de Bode estivesse simplesmente exagerando? Era apenas uma fresta, não um portal aberto para o subespaço.
O Banido balançava levemente ao ritmo das ondas, enquanto os mastros e cordas rangiam suavemente. As velas espectrais, ainda um tanto instáveis, revelavam o nervosismo e a… ‘negligência’ de quem as controlava.
Duncan ergueu os olhos para as velas e, com determinação, firmou seu espírito. Ele falou em um tom sério dentro de sua mente:
“Primeiro imediato, mantenha o leme firme e controle as velas.”
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“Capitão…?” A voz do Cabeça de Bode soou imediatamente, com um toque de hesitação. “Ah, sim! Sim, senhor Capitão!”
Duncan permaneceu em silêncio, mantendo sua usual seriedade na conexão espiritual. Ele esperava que o Cabeça de Bode falasse, o que aconteceu poucos segundos depois:
“Capitão, eu ouvi a Senhorita Alice mencionar… que a porta no porão abriu uma fresta…”
“Sim”, respondeu Duncan calmamente. “Eu já verifiquei.”
“A Senhorita Alice disse que você confirmou o que estava do outro lado da porta…” O Cabeça de Bode parecia escolher cuidadosamente suas palavras. “Você está sentindo algo… quero dizer, algum tipo de confusão mental? Porque, do outro lado daquela porta…”
“O subespaço, eu sei”, interrompeu Duncan sem cerimônia. “Eu pareço confuso para você? Fale logo.”
“Claro, você parece absolutamente normal!” O Cabeça de Bode respondeu de imediato. “Talvez eu esteja apenas nervoso demais. Afinal, algo assim nunca aconteceu antes. Desde que você trouxe o navio de volta, a barreira entre o Banido e o subespaço sempre foi estável. Eu… não esperava mudanças. Não estou questionando suas decisões, é claro.”
Trouxe o navio de volta? De onde?
Duncan captou rapidamente as informações reveladas nas palavras do ‘Cabeça de Bode’ e deduziu parte da verdade, mas não demonstrou qualquer reação. Apenas comentou, como se fosse algo casual:
“Pelo que observei, a fenda na porta ainda está estável, mas não descarto a possibilidade de ela se expandir mais. Gostaria de ouvir sua opinião.”
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“… Já é uma boa notícia saber que está estável, Capitão”, respondeu o Cabeça de Bode, sem desconfiar de nada, mas claramente preocupado. “Quanto às minhas sugestões… Para ser honesto, eu não sei o que fazer. Essa porta foi deixada por você mesmo, e também foi você quem a fechou. Nunca me contou quais eram seus planos para depois, nem mencionou que mudanças poderiam ocorrer. Tudo no porão sempre foi tratado pessoalmente por você…”
“… É verdade”, Duncan concordou imediatamente, aproveitando a deixa. “Parece que você realmente não teria sugestões a dar.”
Pelo visto, o Cabeça de Bode também não conhecia todas as informações sobre a porta no porão. Ele apenas sabia que o outro lado daquela porta levava ao subespaço e que abri-la seria um desastre, mas as informações mais detalhadas… estavam nas mãos do ‘verdadeiro Capitão Duncan’.
Mas onde encontrar o ‘verdadeiro Capitão Duncan’ agora?
“Capitão…” a voz do Cabeça de Bode soou novamente em sua mente. “O que você planeja fazer a seguir?”
O que planejo? O que posso planejar? Fugir para a terra firme? Com a reputação de inimigo universal do Capitão Duncan, é provável que qualquer cidade-estado que avistar o Banido próximo às suas águas enviará uma frota inteira para caçá-lo. Além de continuar vagando no mar com o navio, o que mais posso fazer?
Duncan revirou os olhos e olhou para o céu, frustrado. No mesmo momento, Ai, que havia subido ao mastro fingindo montar guarda, desceu voando e pousou em seu ombro, gritando animadamente:
“É uma armadilha! Abandone o navio e fuja!”
“Fugir? Fugir para onde?”, Duncan respondeu instintivamente, mas logo percebeu algo estranho. “Espere… você consegue ouvir a conversa entre mim e o Cabeça de Bode?”
Sua comunicação com o Cabeça de Bode até agora foi por meio de um elo mental. Por que aquela pomba estava agora respondendo de forma tão precisa?
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A pomba bateu as asas, cheia de arrogância, e declarou:
“Cale a boca! Eu tenho minha própria interpretação das coisas!”
Duncan, por um breve momento, ficou curioso sobre o gosto de uma sopa de pomba. Mas logo voltou sua atenção ao Cabeça de Bode, que ainda esperava sua resposta. Após se recompor, ignorou o pássaro insolente em seu ombro e continuou mentalmente:
“Continue fazendo sua parte. Vou monitorar aquela porta regularmente, como sempre fiz.”
“Sim, senhor Capitão!”
O Banido estabilizou-se novamente. As velas foram ajustadas, e o gigantesco navio retomou sua jornada pelas águas infinitas.
A proa cortava as ondas, e o som das marolas contra o casco ecoava suavemente.
Duncan encerrou a conversa com o Cabeça de Bode e caminhou até a borda do convés, olhando para o mar escuro abaixo de si.
A superfície da água refletia o brilho pálido e frio da Criação do Mundo.
Ele continuaria monitorando a porta no porão, mas apenas isso não mudaria a situação. Ele precisava de mais conhecimento, precisava entender e dominar melhor suas habilidades. Talvez… precisasse de alguma ajuda também.
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Essas coisas não estavam no navio, mas talvez pudessem ser encontradas na cidade-estado de Pland.
Amanhã, Nina voltaria da escola. Nos dias seguintes, ela iria para a loja de antiguidades após as aulas. Seu ‘tio Duncan’ precisaria estar lá para recebê-la.
Antes disso, ele precisaria transferir sua ‘consciência principal’ para a cidade-estado. Até conseguir controlar simultaneamente os dois corpos de maneira hábil, essa troca frequente de perspectiva era inevitável.
Dessa vez, durante a transferência, ele também queria realizar alguns testes com Ai.
Queria descobrir se Ai poderia levar objetos do Banido para a loja de antiguidades. Se fosse possível, precisava confirmar se havia um limite de carga e se o transporte de muitos itens causaria ‘perdas’.
Enquanto planejava tudo isso, Duncan observava distraidamente o movimento das ondas.
O reflexo da Criação do Mundo na água parecia nebuloso e caótico, com raios de luz dispersos como fluxos invisíveis.
A Criação do Mundo?!
Duncan ficou surpreso. Ele de repente percebeu que o reflexo do céu no mar tinha algo estranhamente familiar.
Rapidamente ergueu a cabeça, olhando para a enorme fissura no céu, que parecia uma cicatriz.
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Dentro da imensa ‘ferida’, uma luz turva e caótica tremeluzia. Ao redor da abertura, o céu estava envolto em uma névoa luminosa. Observando mais de perto, a tal névoa de luz… era, na verdade, um emaranhado de fluxos de luz sobrepostos e indistintos.
Parecia exatamente… como a paisagem fora do compartimento quebrado no fundo do Banido.
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