Capítulo 627: A “Amostra” Preservada

A terrível “doença do sono” e o fenômeno de dissipação estavam se espalhando pelo mundo inteiro. Do mar do norte ao oceano do sul, da fronteira enevoada do leste ao arquipélago do oeste, quase todas as cidades-estado começaram a ter elfos caindo em sono profundo e o bizarro fenômeno de “dissipação”.

E a mensagem de Tad Riel, enviada das profundezas do Sonho do Inominado, também foi transmitida para o mundo inteiro através da boca daqueles elfos adormecidos.

Os sinos das catedrais tocaram, telegramas e comunicações psíquicas começaram a passar mensagens entre as cidades-estado, e governadores e arcebispos comunicavam a situação em tempo real. O sistema conjunto de monitoramento e defesa, estabelecido recentemente sob a liderança da Igreja dos Quatro Deuses, começou a operar às pressas.

As pessoas pensavam que este sistema seria usado para monitorar o mar profundo sob as cidades-estado, mas ninguém esperava que sua primeira função fosse por causa de um sonho fora de controle.

Um redemoinho composto por confetes de papel colorido dançou através das camadas de vinhas, folhas e telhados, e entrou em espiral no escritório do governador na prefeitura.

O Governador Salar Maier, que estava discutindo assuntos com vários funcionários da prefeitura, ergueu a cabeça imediatamente e olhou para a “Bruxa do Mar” que saía dos confetes.

“Lembrei-me de repente que deveria dar uma olhada na situação da prefeitura.” Lucretia caminhou em direção à grande mesa de escritório oval. “Parece que você está muito ocupado.”

“Estou até o pescoço de problemas, senhora.” Salar Maier gesticulou para os funcionários da prefeitura ao seu lado, dispensando-os por enquanto. “Ouvi dizer que a senhora acabou de ajudar a força de pacificadores em apuros. Muito obrigado por sua ajuda.”

“Como está a situação agora?”

“A cidade está um caos. Dezesseis quarteirões perderam completamente o contato, vegetação densa bloqueou todas as estradas, um grande número de moradores está desaparecido, e tanto a força de segurança quanto os guardiões têm dificuldade em penetrar nessas áreas. A central de vapor parou e, por razões de segurança, também desligamos o fornecimento de gás de toda a cidade. Graças a Deus, isso ainda pôde ser desligado, mas ninguém sabe o que fazer esta noite”, disse Salar Maier de uma só vez. “Quanto ao lado de fora da cidade… imagino que a senhora também saiba o que está acontecendo em outros lugares. Inúmeras mensagens estão chegando por vários canais, mas temo não ter energia de sobra para prestar atenção à situação de outras cidades-estado.”

“E a mensagem de Tad Riel? Você sabe sobre isso?”

“Sim, eu sei”, Salar Maier assentiu. “Primeiro, duas horas atrás, a equipe de operação da qual Taran-El participava enviou uma mensagem dizendo que, após a equipe deixar o sonho, o Guardião dos Segredos da Verdade não retornou ao mundo real. Meia hora atrás, recebi a informação mais recente de que o honorável Guardião está preso no lugar mais profundo do Sonho do Inominado…”

Ele parou, com uma expressão complexa e indescritível no rosto. Ele parecia querer soltar um longo suspiro, mas no final, apenas contraiu o canto da boca:

“Os elfos se orgulham de sua herança longa e completa. Acreditamos firmemente que aquelas lendas e mitos antigos foram histórias reais, símbolos de nossa antiga civilização. Agora, nossas lendas e mitos vêm para nos matar.”

Lucretia observou silenciosamente o respeitado governador. Um momento depois, ela falou lentamente:

“Mas, até a noite passada, a informação que tínhamos era que Silantis queria proteger todos os elfos. E mesmo agora, ainda tenho razões para acreditar que essa “proteção” continua em vigor, só que… de uma forma extremamente perigosa.”

O rosto de Salar Maier se contraiu.

“… Sim, porque Silantis enlouqueceu.”

“Quero ver Taran-El e os outros Guardas do Conhecimento que entraram no Sonho do Inominado com ele”, disse Lucretia. “Não os encontrei na universidade da cidade.”

“Eles estão em uma instalação de isolamento para observação e interrogatório. Eu lhe direi a localização…”

A majestosa Catedral da Tempestade erguia-se silenciosamente no ponto mais alto de Pland. A praça em frente à catedral estava tão animada como sempre. Em todos os dias abertos, muitos cidadãos se reuniam aqui, seja para entrar na catedral para o culto, para receber bênçãos e tratamento nas instalações próximas, ou simplesmente para uma visita.

Duncan, vestindo um casaco marrom simples e calças pretas, atravessou o magnífico arco junto com outros grupos de visitantes que entravam na catedral e seguiu o caminho indicado por Vanna em sua mente, em direção às profundezas da catedral.

Ele passou pelo salão principal e pelo caminho de peregrinação abertos aos turistas, passou pelo corredor de atalho ao lado do púlpito e seguiu por um caminho que nem muitos funcionários internos da catedral conheciam.

“… Passe por aquela pequena porta preta. Depois de entrar, vire à direita. A cerca de vinte metros, há uma bifurcação. O pequeno caminho à esquerda leva ao pátio interno…

“Este é o caminho mais tranquilo. No final, o senhor verá a porta lateral da capela interna. Eu combinei com o Bispo Valentine para que ele o espere na capela. Tudo foi arranjado ao longo do caminho, ninguém o impedirá, e os guardas no caminho não sabem de sua identidade… Sim, apenas o Bispo Valentine sabe da situação real…

“Se o senhor quiser vir à catedral novamente no futuro, também pode usar este caminho. A propósito, o quarto onde eu costumava descansar na catedral fica ao lado da capela, o senhor também pode ir… Eu sei que o senhor não precisa…”

Ouvindo a voz da senhorita Inquisidora em sua mente, Duncan ergueu o olhar.

A capela interna havia aparecido. Esta instalação, não aberta ao público, era usada apenas pelos altos sacerdotes da Igreja do Mar Profundo. Uma porta de madeira preta e simples estava silenciosamente no final do pequeno caminho, com dois guardas da igreja totalmente armados, de pé, eretos, como duas estátuas sombrias.

Duncan caminhou em direção à porta.

Os guardas na porta nem moveram o olhar, como se não tivessem visto Duncan, mantendo sua aparência séria e olhando para a frente.

Isso obviamente também era resultado de um arranjo prévio. Duncan podia quase imaginar que tipo de ordem os guardas ao longo do caminho haviam recebido:

Hoje, um “convidado” especial visitará a catedral.

Não ouçam, não vejam, não perguntem, não pensem.

Ele sorriu educadamente para eles, depois passou pelos dois guardas e empurrou suavemente a porta preta, adornada com numerosas runas sagradas.

Um leve som de ondas do mar soou, quase inaudível. Uma aura úmida e fria pareceu surgir brevemente e depois se dissipar rapidamente. Duncan sentiu que havia atravessado uma barreira invisível e, em seguida, entrou em uma sala espaçosa e bem iluminada.

O Arcebispo da cidade-estado de Pland, Valentine, estava no centro da sala.

Este velho de cabelos brancos e ralos usava uma túnica de sacerdote preta com padrões dourados. Ele estava de costas para a porta, de frente para a estátua da Deusa da Tempestade na sala, que emanava uma atmosfera misteriosa e sagrada, parecendo estar em oração devota. Ao ouvir o som da porta se abrindo, ele se virou e olhou para o “convidado” especial na porta.

Era visível que o velho parecia um pouco nervoso, embora estivesse se esforçando para controlar isso.

“Olá, Bispo Valentine, nos encontramos novamente”, Duncan sorriu levemente e caminhou em sua direção. “Mas, para você, esta deve ser a primeira vez que me vê nesta ‘aparência’.”

Valentine observou curiosamente o “Duncan” que entrava na sala.

O que ele via era apenas um homem comum de meia-idade, vestindo um casaco velho e simples, nem alto nem forte, que poderia ser visto em qualquer lugar da cidade-estado.

Mas, apenas um segundo depois, um forte aviso da razão o instou a desviar o olhar, a não continuar a encarar aquela “casca” que parecia humana.

“Eu sei, este é o ‘avatar’ que o senhor usa para se mover na cidade-estado. Ouvi Vanna mencionar isso.” Valentine baixou ligeiramente o olhar. “Também ouvi dela sobre a situação atual. As coisas que o senhor pediu já estão preparadas.”

O velho bispo ergueu a mão e apontou para um grande caixão de madeira ao lado da estátua sagrada.

Lá estavam guardados os documentos originais do processo de construção do Banido de um século atrás e… a “amostra” mais importante.

Vários candelabros brilhantes foram colocados temporariamente ao redor do caixão de madeira. A luz fantasmagórica que ocasionalmente subia das chamas das velas mostrava que eles haviam sido abençoados. Em ambos os lados do caixão, podiam-se ver selos como placas de pedra e correntes de ferro, obviamente também parte das medidas de segurança.

Parecia que, mesmo tendo sido retirado da câmara de selamento e colocado nesta capela diretamente observada pela deusa, esta caixa de “arquivos de construção naval” recebeu grande atenção. O Bispo Valentine, guardando-a aqui com antecedência, provavelmente também estava se prevenindo contra a perda de controle do conteúdo da caixa.

“… É realmente tão perigoso?” Duncan caminhou em direção ao grande caixão de madeira e não pôde deixar de se virar e perguntar. “Essas medidas de selamento são úteis?”

“Na verdade, não. Porque esta caixa de coisas nunca teve nenhuma ‘anomalia’”, disse Valentine com bastante franqueza.

Duncan ficou perplexo ao ouvir.

“Então vocês estão…”

“Para ficarmos tranquilos”, disse Valentine abertamente. “As coisas na caixa em si não têm anomalias, mas todos sabem que elas definitivamente têm uma conexão sobrenatural com o Banido, então simplesmente usamos todos os tipos de métodos de selamento. O que o senhor vê já é uma versão simplificada. Na câmara de selamento original onde esta caixa estava guardada, as ‘medidas de segurança’ eram muito mais numerosas.”

Duncan ficou sem palavras.

Um momento depois, ele balançou a cabeça, ignorando a atmosfera que de repente se tornou um pouco embaraçosa, e abriu o caixão de madeira.

A caixa não estava trancada — quando foi trazida para cá, a fechadura já havia sido removida.

“As plantas originais do Banido, os parâmetros técnicos e os diários de engenharia. Na verdade, os documentos completos eram muito mais numerosos, mas as coisas menos relevantes foram reduzidas a cinzas no incêndio do estaleiro daquela época. Apenas estes restaram, selados nesta caixa…”

A voz de Valentine veio do lado. O velho bispo se aproximou de Duncan e disse com voz grave, olhando para as coisas na caixa.

“Claro, acho que o que o senhor realmente quer não são apenas essas plantas, mas… aquela coisa no meio da caixa.

“De acordo com os costumes de construção de navios à vela de um século atrás, uma amostra da quilha preservada.”

O olhar de Duncan pousou silenciosamente no bloco de madeira quadrado, cinza-escuro, que estava no meio de um pedaço de cetim preto.

Era uma “amostra” cortada do material original da quilha do Banido.