Índice de Capítulo

    Mudanças de Termo:

    Desaparecido → Banido
    Igreja da Tempestade → Igreja do Mar Profundo
    Sacerdote da Tempestade → Sacerdote do Mar Profundo

    O Carvalho Branco está de volta. Após um longo período sem comunicação e com desvios de rota, o avançado navio a vapor da Associação dos Exploradores finalmente retornou à cidade-estado de Pland.

    Muitas pessoas aguardavam ansiosamente o retorno desse navio, e inúmeros olhares tensos observavam a silhueta que se aproximava lentamente na superfície do mar.

    A Inquisidora Vanna viu que, assim que o apito do Carvalho Branco ecoou, a movimentação no cais começou imediatamente:

    Os estivadores responsáveis por orientar a atracação já estavam posicionados, utilizando sinais de luzes e bandeiras para se comunicar com o Carvalho Branco. Ao mesmo tempo, guardiões subordinados à igreja ativaram os artefatos sagrados do mar profundo que haviam sido posicionados no Cais nº 1 na noite anterior. Esses artefatos, conhecidos como ‘Marcos de Limite’, eram grandes estruturas de bronze com a inscrição do nome da Deusa da Tempestade, Gomona, na base e com óleo sagrado e especiarias em suas cavidades superiores. Quando ativados, criavam um ‘santuário’ sob o olhar protetor da deusa na área onde o Carvalho Branco atracaria.

    Mais afastados, os xerifes enviados pela prefeitura estavam posicionados para bloquear as entradas com armamento pesado. Apesar de serem comuns e pouco preparados para lidar com fenômenos sobrenaturais, seu papel era importante em conter qualquer ameaça física que pudesse sair do navio. Balas de oito milímetros e canhões de quatro libras poderiam ser eficazes contra contaminados de forma física.

    Às vezes, Vanna se via grata pelos avanços da tecnologia. Esses frutos da engenharia possibilitavam que pessoas comuns, antes impotentes, pudessem intervir em eventos envolvendo o sobrenatural. Apesar de os avanços tecnológicos trazerem consequências variadas, as metralhadoras rotativas e canhões haviam reduzido significativamente as baixas entre os membros da igreja nos últimos anos.

    O olhar de Vanna passou pelo cais e se fixou no mar distante.

    O Carvalho Branco soou seu apito pela segunda vez. Sob as orientações dos sinais luminosos na costa, o navio começou a desacelerar e parou a uma certa distância do cais.

    Ao lado de Vanna, um sacerdote respirou aliviado e comentou em voz baixa:

    “O Carvalho Branco seguiu as instruções. Pelo menos parece que ainda está sob controle humano.”

    “Ainda é cedo para afirmar. Muitos que sofreram influências anômalas ou sobrenaturais só mostram sinais de mudança quando já era tarde demais”, respondeu Vanna, balançando a cabeça. “Enviem o segundo grupo de sinais e despachem a equipe de inspeção. Deixem a artilharia costeira pronta. Qualquer movimento suspeito no navio… atirem.”

    A ordem da inquisidora foi rapidamente transmitida. Como o sistema de comunicação do Carvalho Branco estava danificado, a comunicação com o navio era feita por luzes e bandeiras. Após uma série de sinais complexos, três luzes acenderam na proa do navio, e uma escada de corda foi lançada.

    Um barco rápido partiu do cais, movido por um motor a vapor, em direção ao Carvalho Branco.

    A bordo estava uma equipe completa de guardiões: oito combatentes, um comandante e um sacerdote do mar profundo. Esses sacerdotes dedicados acenderam incensos no barco e entoaram os nomes sagrados da Deusa da Tempestade. Antes de embarcarem no Carvalho Branco, deram uma volta completa ao redor do navio e derramaram óleo sagrado misturado com extratos de algas no mar ao seu redor.

    O óleo brilhou levemente ao tocar a água, formando um círculo luminoso ao redor do Carvalho Branco.

    Somente após essas precauções os guardiões se aproximaram e subiram pela escada de corda.

    Tudo isso era observado atentamente por Vanna da torre de observação.

    Trazer um navio que ficou perdido no mar de volta para casa era uma tarefa extremamente perigosa, especialmente se fosse uma embarcação encarregada de transportar objetos anômalos. O Carvalho Branco não podia atracar diretamente. Primeiro, precisava ser inspecionado a uma distância segura. Somente após a confirmação inicial de que não havia sinais de corrupção divina no navio, ele poderia se aproximar do cais.

    Mesmo assim, a tripulação não poderia desembarcar de imediato. Passariam por uma segunda inspeção conduzida por sacerdotes, e o navio seria submetido a uma purificação completa. Após isso, a tripulação seria enviada à igreja no cais para um período de observação que poderia durar dias ou até semanas.

    Somente depois de concluir todos esses processos, sem incidentes, o navio e sua tripulação poderiam ser aceitos de volta ao mundo civilizado. Caso algo desse errado em qualquer etapa, o destino do Carvalho Branco e de seus tripulantes seria o fundo do mar.

    A Deusa da Tempestade acolheria as almas desses infelizes.

    Essas medidas frias, quase cruéis, não eram fruto de maldade, mas da sobrevivência humana.

    Havia, é claro, cidades-estado que não seguiam ou não conseguiam cumprir essas rígidas regras. Hoje, essas cidades ocupavam os capítulos iniciais de livros de história e eram temas de provas finais.

    O tempo passava lentamente enquanto todos aguardavam o sinal da equipe de inspeção no navio. Só havia dois resultados possíveis: se tudo estivesse seguro, seria enviado um pedido de atracação. Caso contrário, a equipe lutaria até o fim e detonaria o barco com nitroglicerina.

    Para navios do porte do Carvalho Branco, uma contaminação severa tornava impossível a sobrevivência dos inspetores.

    Com os braços cruzados, Vanna batia levemente na armadura metálica em seu antebraço.

    De repente, os sinos da pequena igreja no cais soaram, e os tubos de pressão liberaram vapor com três longos apitos.

    Os sacerdotes receberam uma mensagem da equipe de inspeção: o navio estava seguro para atracar, mas havia algo especial a ser relatado.

    Vanna soltou um leve suspiro de alívio.

    Por enquanto, o navio parece estar em boas condições, o que já é a melhor notícia possível.

    Quanto a relatos de situações excepcionais… ela não ficou surpresa.

    Um navio que misteriosamente se perdeu e reapareceu no porto? Seria estranho se não houvesse nada incomum para relatar.

    A Carvalho Branco aproximava-se lentamente do cais. Esse navio, que havia passado por tantos percalços, finalmente retornou a um porto do mundo civilizado. Apesar de a tripulação ainda não estar autorizada a desembarcar, a simples chegada certamente já era um alívio.

    Mais guardas da igreja começaram a embarcar de forma organizada, prontos para realizar inspeções detalhadas e interrogatórios. Vanna também deixou a torre de observação e, acompanhada de um grupo de clérigos, dirigiu-se ao cais. Ela subiu a longa prancha de embarque, finalmente pisando no convés do Carvalho Branco, onde encontrou o capitão de cabelos grisalhos e porte robusto na proa.

    O capitão parecia exausto, claramente sobrecarregado por um longo período de trabalho sob extrema tensão. No entanto, ao perceber a aproximação da Inquisidora da Igreja, ele rapidamente recompôs-se, caminhando ao encontro de Vanna.

    “Olá, sou Vanna, inquisidora da Igreja do Mar Profundo da cidade-estado de Prand. Capitão Lawrence”, disse Vanna sem rodeios, dispensando formalidades. “Vamos pular as apresentações formais — antes de mais nada, peço desculpas pela inspeção rigorosa. Espero que você e sua tripulação compreendam a necessidade disso por parte da igreja e das autoridades da cidade-estado.”

    “Com certeza, senhora inquisidora”, respondeu Lawrence com um aceno rápido. Ele quase disse ‘senhorita inquisidora’, já que Vanna parecia ter a idade de sua própria filha, mas decidiu optar por um tom mais respeitoso. “Já era esperado, considerando que estivemos tanto tempo fora de contato.”

    Vanna assentiu com a cabeça. “Diga-me o que aconteceu com o Carvalho Branco e por que perderam o contato. E por que apareceram em uma rota não registrada? Como está a situação da carga, a anomalia 099?”

    Essas palavras fizeram o rosto de Lawrence se contorcer de desânimo e apreensão. Ele suspirou, olhou ao redor de maneira furtiva e, finalmente, começou: “Eu sei que você não vai acreditar, mas… encontramos o lendário Banido…”

    No instante em que ele falou isso, Vanna ficou estática, com uma expressão estranha e paralisada. Ela estava imersa em uma surpresa que ele não conseguia explicar, mas que lembrava exatamente a sensação de quando encontrou  Banido dias atrás.

    “Inquisidora…?” Lawrence perguntou cautelosamente. “A senhora…”

    “Lawrence”, Vanna pareceu voltar à realidade, focando seus olhos naqueles do capitão, “diga novamente?”

    “Eu sei que você não vai acreditar…”

    “A segunda parte.”

    “Encontramos o lendário Banido…”

    “Eu acredito.”

    Lawrence ficou surpreso. “Então…”

    “Vocês provavelmente precisarão ficar no cais por mais alguns dias, capitão”, Vanna disse com expressão grave. “Isso é sério. Muito sério. Mas… espere, você está dizendo que encontraram o Banido, mas todos sobreviveram?”

    A expressão de Vanna mudou ligeiramente, surgindo uma dúvida em seus olhos. Lawrence, ao ver isso, esticou as mãos, querendo tranquilizá-la: “Estamos bem, mas o Banido levou a Anomalia 099, o Caixão de Boneca. Eu suspeito que aquele navio fantasma estava atrás da boneca.”

    “O Banido levou a Anomalia 099?” Vanna franziu a testa, e em seguida perguntou: “E depois? Ele deixou vocês irem?”

    “Sim… sim”, Lawrence ficou cada vez mais tenso, com uma sensação de que algo estava errado. “Inquisidora, recentemente a cidade…?”

    “… Não há problema em te contar. Parece que seu ‘contato’ pode ser mais grave do que o nosso”, Vanna suspirou, olhando fixamente para o capitão, “Capitão Lawrence, você pode não ser a única pessoa a ter lidado com o Banido recentemente. Vamos encontrar um lugar mais calmo. Preciso entender melhor a situação.”

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