Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    A cabine do capitão no navio Carvalho Branco foi temporariamente transformada em um santuário.

    O aroma de incenso pairava pelo ar do ambiente, enquanto amuletos com runas da tempestade estavam pendurados em todas as portas e janelas. Os sacerdotes instalaram estelas de bronze nos quatro cantos do cômodo, amarrando tiras de pano embebidas em óleo sagrado em seus topos. Por fim, um exemplar do Cânone Primordial da Tempestade do Grande Templo foi trazido e colocado no local, servindo como o ‘pilar central’ deste santuário.

    Somente após essa preparação, o Capitão Lawrence e a Inquisidora Vanna entraram na cabine do capitão.

    “Espero que não se importe com as ‘modificações’ que fizemos aqui”, disse Vanna, com uma calma respeitosa, mantendo a dignidade e os bons modos próprios de uma sacerdotisa de alto escalão. “Tudo isso é para garantir a segurança.”

    “Certamente, tudo pela segurança”, respondeu o Capitão Lawrence, assentindo com compreensão imediata. Ele lançou um olhar ao redor, observando os objetos sagrados no cômodo, e suspirou levemente aliviado. “Com essas coisas aqui, qualquer entidade distorcida ou contaminada provavelmente morreria só de dar uma olhada…”

    “Pode falar livremente sobre o que aconteceu com o Banido aqui”, afirmou Vanna com um aceno de cabeça. “Comece pelo início: onde e como vocês avistaram aquele navio?”

    O Capitão Lawrence respirou fundo para se acalmar e começou a narrar aquele dia terrível, o mais assustador de todos:

    “Foi assim…”

    O capitão relatou os acontecimentos com uma riqueza de detalhes impressionante. Diante de uma inquisidora experiente, ele não deixou de mencionar nem o que havia comido no café da manhã naquele dia ou o horário em que os marinheiros tomaram suas refeições. Quando algo não estava claro em sua memória, consultava os registros do diário de bordo do capitão e as anotações dos marinheiros.

    Capitães experientes sabem que, muitas vezes, fenômenos anômalos são precedidos por sinais aparentemente comuns. Embora as pessoas raramente percebam essas conexões no momento, especialistas podem identificar padrões ao revisitar esses detalhes mais tarde, fornecendo valiosas lições para o futuro.

    No vasto mar, cada capitão mantém o hábito de registrar os eventos em um diário de bordo. Ler esses registros é uma das poucas formas seguras de leitura na vastidão oceânica, além dos textos sagrados da igreja.

    Quando Vanna terminou de ouvir o relato, sua expressão se tornou cada vez mais séria. Suas sobrancelhas marcantes franziram em preocupação.

    A situação era mais grave e bizarra do que imaginava.

    Ela acreditava inicialmente que o “encontro” mencionado pelo Capitão Lawrence se tratava apenas de uma visão breve ou, no máximo, um encontro superficial com o Banido. Afinal, o misterioso capitão da embarcação havia apenas levado os bens do Carvalho Branco, sem ferir ninguém. No entanto, ficou claro que houve uma colisão direta.

    O Carvalho Branco inteiro colidiu com o casco do Banido. Toda a embarcação foi engolida pelas chamas verdes fantasmagóricas, transformando-se de dentro para fora.

    Segundo o relato do capitão, o Carvalho Branco chegou a começar a se transformar em parte do Banido. Ele até pôde ver claramente seu próprio corpo entrando em um estado espiritual.

    Os amuletos sagrados e as relíquias do porão não reagiram. Os materiais de proteção no casco da embarcação foram inúteis. O sacerdote mal conseguiu se proteger, enquanto o navio inteiro estava mergulhado nas profundezas do plano espiritual, sem qualquer chance de pedir socorro.

    O Carvalho Branco não escapou por sorte. Foi deliberadamente abandonado pelo capitão do Banido.

    “Inquisidora, o que você acha que o Banido queria fazer naquele dia?” perguntou o Capitão Lawrence após terminar seu relato e notar o longo silêncio de Vanna. “Será que era mesmo só para levar a Anomalia 099?”

    Vanna o encarou com firmeza:

    “Não é isso que você acredita?”

    “Bem… Sim, eu acreditava nisso. Mas agora não tenho tanta certeza”, confessou Lawrence com um suspiro. “Especialmente depois de você mencionar que aquele capitão fantasmagórico também se manifestou na Cidade-Estado de Pland. Algo me diz que a situação é mais complicada.”

    “Ninguém pode prever as intenções daquele capitão fantasma”, respondeu Vanna, balançando a cabeça. “Tudo o que podemos fazer agora é realizar uma inspeção completa no Carvalho Branco para garantir que ele não carrega nenhum ‘elemento invasor’. Você e sua tripulação terão de suportar algumas restrições. Até que a investigação termine, vocês não poderão ter contato com ninguém fora dos clérigos da igreja… nem mesmo com suas famílias.

    O Capitão Lawrence abaixou a cabeça.

    “Entendo.”

    Depois de uma pausa, ele perguntou:

    “E quanto ao roubo da Anomalia 099…?”

    Vanna sabia exatamente com o que o capitão estava preocupado.

    As estranhas e aterrorizantes anomalias no mar eram uma ameaça pendente sobre as cabeças das civilizações, mas antes de se preocupar com essas grandes e distantes questões, aquele capitão era, antes de tudo, uma pessoa comum tentando sustentar sua família. Perder a Anomalia 099 era uma responsabilidade esmagadora demais para alguém comum suportar.

    “Não se preocupe, a Igreja irá se encarregar de esclarecer isso para as autoridades da cidade-estado e para a Associação de Exploradores”, disse ela com uma voz calma. “O surgimento do Banido foi uma força maior; a perda da Anomalia 099 não é sua culpa. Mesmo que a escolta tivesse sido feita por um navio da Igreja, o resultado provavelmente seria o mesmo.”

    A expressão no rosto do Capitão Lawrence relaxou um pouco.

    Mas havia algo que Vanna não disse em voz alta: no final, coisas como ‘anomalias’ estavam sempre à beira de serem controladas ou de saírem de controle. Todos os anos, novas anomalias escapavam do controle, resultando em perdas de vidas de civis em cidades-estado. A Igreja lutava contra essas forças caóticas há milênios. Diante desse equilíbrio dinâmico vasto e de longa duração, perder uma anomalia não era algo inconcebível — mesmo que seu número de classificação estivesse entre os cem primeiros.

    Mas como inquisidora, ela não poderia dizer isso.

    “Além disso…” O Capitão Lawrence hesitou antes de romper o silêncio novamente. “Eu gostaria de saber: o que torna a Anomalia 099 tão especial?”

    Ele fez uma pausa, depois se apressou em acrescentar: “Claro, quando aceitei a missão de transporte, recebi um dossiê, mas ele tratava principalmente dos métodos de contenção da Anomalia 099 e dos procedimentos de emergência em caso de um descontrole inicial. Não mencionava nada sobre a origem ou o comportamento completo da anomalia em estado totalmente descontrolado… Você sabe, afinal, é uma anomalia numerada abaixo de cem. Quanto mais as pessoas comuns souberem sobre ela, maior o risco de desencadear um descontrole. Eu entendo essas regras.”

    “Agora que a Anomalia 099 foi capturada pelo Banido, tecnicamente ela já está fora de controle total, então…”

    “Eu posso contar”, interrompeu Vanna, assentindo antes que ele terminasse. “A Anomalia 099 agora está fora da jurisdição da sociedade civilizada. Segundo os protocolos, suas informações serão divulgadas à Associação de Exploradores e às equipes extraordinárias de cada cidade-estado para facilitar sua recuperação e contenção no futuro. Como membro da Associação de Exploradores e última pessoa a ter contato com a Anomalia 099, você tem direito a essas informações.”

    Ela fez uma pausa para organizar seus pensamentos antes de continuar, falando de forma deliberada:

    “Anomalia 099, também conhecida como O Caixão de Boneca, tem a aparência de uma caixa de madeira luxuosa e ornamentada, semelhante a um caixão. Dentro dela há uma boneca em estado de sono profundo, com cabelos prateados, vestindo um vestido violeta. Sua estatura é comparável à de um ser humano comum.

    “Foi descoberta pela primeira vez nos mares gelados do norte. A aparência da boneca se assemelha muito à Rainha de Gelo Ray Nora, que foi decapitada pelos rebeldes há meio século. No entanto, não há evidências concretas de qualquer conexão entre ambas.

    “A anomalia não possui consciência nem capacidade de raciocínio, mas parece ser capaz de interagir instintivamente com o ambiente e exercer influência sobre ele.

    “Quanto à contenção, você já conhece os métodos, então não vou repeti-los. Quanto aos perigos que ela representa…

    “Primeiro, o Caixão de Boneca tem uma tendência a ‘se estabelecer’. Se permanecer por muito tempo em uma área, ela a considera como seu território, dificultando sua remoção. Durante esse período, sua influência cresce, e a força de contenção enfraquece rapidamente, aumentando o risco de descontrole. Por isso, a anomalia precisa ser transferida regularmente para novos locais de contenção.

    “Segundo, quando fora de controle, qualquer entidade humanoide dentro de seu raio de influência — que pode variar de cem metros a quase um quilômetro, dependendo do tempo que permaneceu estabelecida — se torna alvo de uma inspeção. Isso inclui humanos, elfos, sen’jins e gyplos. Não se conhece os critérios exatos para a seleção, mas qualquer alvo escolhido perde imediatamente o controle de seus movimentos, como se fios invisíveis os manipulassem, forçando-os a se ajoelhar e curvar-se em direção ao Caixão de Boneca, como cidadãos reverenciando sua rainha. Uma vez que esse ato é concluído…

    “O alvo é instantaneamente decapitado.

    “Essa decapitação não pode ser evitada, bloqueada ou resistida. Bênçãos, armaduras ou qualquer outra proteção são inúteis. O único fator decisivo é ser ‘escolhido’ pela boneca. Após o ato, o Caixão de Boneca fica inativo por quatro a seis horas antes de procurar um novo alvo, repetindo o processo até que todos em sua área sejam eliminados ou que seja contida novamente.

    “Além disso, o Caixão de Boneca possui mobilidade em estado descontrolado, movendo-se em alta velocidade, com força excepcional, e demonstrando métodos imprevisíveis para escapar da captura. Sua estrutura também é extremamente resistente, tornando sua contenção ainda mais desafiadora.

    “Em eventos anteriores de descontrole, apenas um santo sobreviveu. Mas, como ele tinha ascendência de uma cidade-estado do norte, não sabemos se foi sua linhagem que o protegeu ou se ele foi beneficiado por suas habilidades únicas.”

    O capitão Lawrence sentiu um calafrio enquanto ouvia a explicação serena de Vanna.

    Sua primeira reação foi pensar: o dinheiro das cidades-estado realmente não vem fácil!

    Não era à toa que a remuneração para transportar a Anomalia 099 era quase cinco vezes maior do que para outras anomalias. Um objeto com habilidades letais que ignoravam todas as defesas, ativadas apenas pelo olhar da boneca, era um verdadeiro pesadelo em um navio em mar aberto. A missão era praticamente uma sentença de morte se algo desse errado.

    Não é à toa que só os capitães da Associação de Exploradores, acostumados a flertar com a sobrevivência extrema, aceitam essas missões, pensou ele.

    Enquanto isso, a voz de Vanna continuava, cortando seus pensamentos:

    “Devido às habilidades aterrorizantes do Caixão de Boneca, a Igreja deu um nome ao registrá-lo, inspirado na ferramenta usada pelos rebeldes para executar a Rainha de Gelo há meio século: ‘Guilhotina de Alice’.”

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