Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 650: A Memória do Cristal
As chamas se infiltraram no cristal, fluindo e se espalhando rapidamente entre as estruturas tridimensionais que eram finas como fios de cabelo e tão complexas que eram estonteantes. E com a injeção das chamas, a consciência de Duncan começou a afundar gradualmente.
Ele sentiu como se tivesse entrado em um lugar vazio, silencioso, frio e sem som.
Era como um canto esquecido por eras infinitas. Uma sensação inexplicável de isolamento e solidão foi transmitida quase instantaneamente através das chamas. E, em seguida, ele sentiu a luz aparecer em seu campo de visão — uma luz forte, de escala quase indiscernível, uma luz fria.
Ele abriu os olhos e se viu de pé sobre uma enorme rocha negra flutuando no vazio. E um sol dourado, quase aterrorizante, queimava silenciosamente diante de seus olhos. As chamas na superfície daquele sol ondulavam, e estruturas de proeminências solares surpreendentes subiam no vazio, para depois caírem lentamente, em silêncio.
No entanto, aquele sol não produzia calor algum. Mesmo estando tão perto, Duncan não sentia o calor terrível que a luz do sol deveria trazer ao brilhar sobre ele. Ele apenas queimava silenciosa e friamente, parecendo ser apenas uma cena puramente registrada… uma imagem.
‘É o Sol Negro? Eu O vi de novo?’
Duncan franziu a testa, pensando isso inconscientemente. Mas, em seguida, ele descobriu que o sol dourado sem calor não era o mesmo que o “Sol Negro” que ele tinha visto antes. Não havia aquelas estruturas de tentáculos estranhas e aterrorizantes nas profundezas de sua casca, nem o globo ocular pálido e moribundo. E, mais importante… este “sol” não tentou pedir-lhe ajuda.
Era o registro de imagem deixado por uma verdadeira estrela!
Duncan reagiu rapidamente. E, em seguida, seu olhar finalmente se desviou do sol frio e começou a notar a “rocha negra gigante” sob seus pés.
Era um artefato colossal!
Sua superfície era plana, com sulcos e entalhes claramente feitos pelo homem. O material, que parecia pedra, tinha um brilho metálico tênue. Em certos “nós” dos sulcos, podiam-se ver estruturas salientes de propósito desconhecido, como se fossem feitas de cristais estranhos.
O olhar de Duncan se estendeu ao longo da borda da rocha gigante, e ele olhou para o vasto e ilimitado vazio escuro ao redor do sol dourado —
Ele viu mais “rochas gigantes” — inúmeros artefatos negros e colossais, como “estelas”, flutuavam ao redor do sol dourado, flutuando na escuridão sem fim, dispostos em uma formação ordenada como uma muralha. Desta perspectiva, ele finalmente viu mais detalhes do lado voltado para o sol: uma camada de cristal lapidada com precisão refletia a luz do sol em um lado da rocha gigante. Sob o cristal, parecia haver dispositivos mecânicos complexos e precisos, aparentemente usados para ajustar o ângulo da matriz de cristais. A estrutura inteira parecia… como se fosse para coletar a energia liberada pelo sol?!
Duncan olhou atônito para a formação de “rochas gigantes” flutuando ao redor do sol, observando-as formar uma enorme e frouxa concha esférica na escuridão, envolvendo a estrela no centro. Então, ele notou a luz distorcida, tênue e semelhante a algum tipo de campo de força entre cada dispositivo flutuante. E fora dessa impressionante estrutura de “concha”, nas profundezas daquela escuridão sem fim, parecia haver mais sombras nebulosas, mas que não podiam ser vistas claramente devido à distância e à interferência da luz solar.
‘O que é aquilo?
‘Planetas distantes? Estações espaciais habitadas? Naves espaciais gigantes? Ou…
‘O… centro de controle para manter e operar esta impressionante Esfera de Dyson1?’
Depois de um tempo desconhecido, Duncan finalmente retirou o olhar da colossal formação de conchas no espaço. Depois de perceber o que tinha visto, ele demorou muito tempo para se recuperar.
… No dispositivo de cristal deixado pela Prole do Sol, o que estava armazenado não era nenhuma verdade sombria e proibida ou conhecimento corrompido de um deus antigo, mas… uma antiga estrutura de Esfera de Dyson.
Duncan estreitou ligeiramente os olhos.
Não, estas eram as verdades sombrias e proibidas e o conhecimento corrompido dos deuses antigos. Para a Era do Mar Profundo, para os destroços deixados por outros universos, para todas as coisas estabelecidas sob outros sistemas matemáticos, uma Esfera de Dyson sustentada e construída com parâmetros de um universo alienígena era a corrupção e a contaminação supremas.
Depois de se recuperar do espanto, Duncan caminhou em direção à borda da “rocha gigante” negra sob seus pés, enquanto em sua mente se lembrava da “Nova Esperança” que ele tinha visto antes, que havia caído neste mundo.
‘Aquela nave também se tornou a “contaminação” deste mundo? Depois de cair… em que ela se transformou?’
Ele ficou na beirada do dispositivo de coleta de energia estelar, olhando para baixo.
A casca mecânica, como um penhasco, e a escuridão sem fim à distância entraram em sua visão.
Duncan sabia que aqui não havia realmente “cima” e “baixo”. Se fosse para ser preciso, a gravidade liberada pela estrela distante apontava para o único “baixo” aqui. Mas seus sentidos ainda lhe diziam que o dispositivo negro sob seus pés era o “baixo”, e que ele estava de pé sobre a casca do dispositivo, com a mesma sensação de estar em terra firme — ele não cairia no espaço cósmico infinito, nem seria capturado e sugado pela gravidade do sol.
Essa dissonância entre o que ele sabia racionalmente e o que sentia o ajudava a se lembrar constantemente de que aqui era apenas uma ilusão registrada dentro de um “Protótipo Blasfemo”.
Então, e nas profundezas deste registro? Havia mais alguma coisa?
Duncan sentiu suas chamas, controlando-as para se espalharem mais fundo no cristal, permitindo que sua consciência afundasse ainda mais.
O glorioso sol dourado e a impressionante estrutura da Esfera de Dyson desapareceram diante de seus olhos.
A escuridão sem fim se espalhou de todas as direções, preenchendo sua visão.
Ao contrário do que esperava, ele não viu a cena do fim da civilização que construiu a Esfera de Dyson, não viu outra colisão de mundos. Ele parecia ter pulado diretamente esse processo, chegando ao caos escuro após a aniquilação de todas as coisas.
E depois de permanecer neste caos escuro por um tempo desconhecido, bem quando Duncan estava quase suspeitando que realmente não havia mais informações neste cristal, um leve brilho apareceu de repente em sua visão!
Alguns raios de luz apareceram. No brilho fraco, parecia haver formas tênues, algumas enormes, outras bizarras, outras distorcidas e amorfas. Ele não conseguia ver os contornos reais daquelas luzes fracas, mas ouviu… “vozes”.
Aquelas vozes soaram diretamente em sua mente —
“… A compatibilidade está muito abaixo do esperado, aquele ‘Rei dos Sonhos’ também falhou… Precisamos ajustar o plano…”
“O santuário não pode proteger a todos… As condições de sobrevivência de algumas entidades são muito rigorosas. Preservá-las garantindo ao mesmo tempo as outras entidades… é muito difícil.”
“… Elabore uma lista, e aqueles fora da lista…”
“Quem tomará essa decisão? Como os critérios da lista serão definidos?”
“… Primeiro, determine o limiar de compatibilidade, depois simule… LH-01 calculou um plano, criar uma âncora estável, pode garantir ao máximo… mas ainda será necessário abandonar uma parte…”
Depois disso, houve um ruído caótico, como se o registro correspondente estivesse faltando. Duncan ficou tonto com o ruído, mas logo ouviu informações claras surgindo do ruído —
“… As entidades nesta parte da lista são difíceis de suportar a transformação, o custo de preservação é muito alto… só podemos abandoná-las.”
“… Ainda há uma redundância de três por cento, podemos fazer mais alguns ajustes…”
“… Eles precisam sobreviver em um ambiente estelar específico. Para outras entidades, a luz do sol deles é um veneno potente… O plano de LH-01 não pode atender a esse requisito… O tempo está se esgotando.”
“… Abandone-os.”
Boom!
Um rugido ilusório quebrou todas as vozes, quebrou a escuridão sem fim. Duncan sentiu que havia tocado o fundo desta informação. Nenhuma outra informação surgiu. No rugido e na tontura, sua consciência se retirou rapidamente das profundezas do cristal.
Ele abriu os olhos e viu a cabine familiar à sua frente. O cristal dourado-claro estava em sua palma, transformando-se rapidamente em um monte de cinzas sob a queima das chamas esverdeadas.
A informação contida no cristal havia sido drenada, e este “Protótipo Blasfemo”, que não deveria existir na dimensão real, perdeu sua estabilidade.
Duncan esfregou as mãos, e as últimas cinzas remanescentes em sua palma se dissolveram imediatamente no ar.
Ele ergueu a cabeça e encontrou o olhar do Cabeça de Bode.
“O que o senhor viu?”, perguntou o Cabeça de Bode, um tanto nervoso.
“… O processo pelo qual eles foram abandonados. O conteúdo registrado naquele ‘Livro da Blasfêmia’ foi mais uma vez confirmado.”
Duncan não escondeu nada. Ele contou tudo o que viu e ouviu nas profundezas do cristal ao Cabeça de Bode à sua frente.
Claro, ele não explicou em detalhes a “Esfera de Dyson” e outras particularidades — essa parte do conteúdo não poderia ser explicada em pouco tempo.
Depois que ele terminou de falar, a cabine do capitão ficou em silêncio por um longo tempo.
Depois de um período de tempo desconhecido, o Cabeça de Bode finalmente se moveu. Seu tom era um pouco complexo: “… Naquele ‘Livro da Blasfêmia’ está registrado que, na Terceira Longa Noite, houve ‘clãs’ que foram exilados para a escuridão…”
Duncan assentiu levemente. Ele, é claro, também se lembrava dessa parte da descrição: “Também está registrado que os clãs exilados para a escuridão não morreram — eles se distorceram gradualmente no longo exílio, transformando-se em… coisas ainda mais perigosas.”
O Cabeça de Bode ponderou por um momento e de repente perguntou: “O que o senhor pensa sobre este assunto? O senhor acha que as ações atuais das Proles do Sol… são justificáveis?”
“Discutir o certo e o errado em um assunto como este não tem sentido”, Duncan balançou a cabeça. “O mundo não é feito de justiça. Eu não sei em que estado este mundo estava após a Grande Aniquilação e antes do início da Era do Mar Profundo, não sei quantos planos os ‘Reis’ que tentaram construir o santuário tinham, quantas ponderações fizeram. Comentar sobre as escolhas feitas pelos antecessores ao pavimentar o caminho a partir de uma era estável é um ato tolo e míope, especialmente com a nossa posição atual… Qualquer forma de ‘compaixão’ não tem razão nem necessidade.”
“… O senhor está correto”, o Cabeça de Bode disse em voz baixa, após um momento de silêncio.
Duncan não disse mais nada, apenas assentiu levemente. Em seguida, seu olhar pousou no pequeno “sol” que Vanna havia recebido das mãos do gigante.
- A Esfera de Dyson é uma megaestrutura teórica proposta por Freeman Dyson em 1960: uma construção capaz de envolver uma estrela por completo para capturar sua energia total. Saiba mais aqui.[↩]
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