Capítulo 653: “Questões Pendentes”

A ordem em Porto Brisa estava se recuperando rapidamente. Embora o alcance do Sonho do Inominado desta vez tenha superado em muito as crises anteriores de Pland e Geada, foi justamente por causa da natureza especial do Sonho do Inominado que, após o “sonho” recuar, seu impacto no mundo real foi, na verdade, mínimo.

A cidade que havia sido engolida retornou ao mundo real, e os bairros que haviam sido cobertos e substituídos pelo pesadelo foram restaurados. O fogo que fluía pelo céu no pesadelo do deus antigo não queimou a cabeça de ninguém. Quando um novo dia chegou, a cidade fronteiriça já havia recuperado sua aparência de outrora.

Claro, não se pode dizer que o incidente não teve nenhum impacto em Porto Brisa.

As pessoas ainda se lembravam da cena da chegada do pesadelo. Um grande número de cidadãos precisava de apoio, e todo o incidente precisava de um desfecho e uma interpretação adequados. Um número considerável de pessoas desenvolveu problemas de memória de curto prazo, alucinações visuais e auditivas após “acordar”. Embora nenhum tenha atingido um nível que pudesse causar contaminação transcendental, a intervenção de psiquiatras era necessária. Mais pessoas comuns foram afetadas por cansaço, sonolência e uma sensação inexplicável de palpitações, sequelas da extração e consumo de seu espírito pelo pesadelo do deus antigo, e ainda não se sabia quanto tempo levaria para se recuperarem.

Rua da Coroa, 99, em Porto Brisa, na Mansão da Bruxa, Duncan estava sentado ao lado da grande janela do chão ao teto no primeiro andar, olhando para a rua em frente.

Caminhantes a Vapor pertencentes à Academia patrulhavam as ruas. Guardas do Conhecimento e pacificadores uniformizados inspecionavam os distritos em busca de “resíduos do sonho” esquecidos. Funcionários enviados pela Prefeitura batiam de porta em porta, verificando o estado dos moradores, registrando os “mentalmente afetados” que precisavam de ajuda ou levando os casos graves para salas de apoio psicológico próximas para tratamento.

“… Acabei de ver Salar Maier. A situação na cidade está melhor do que eu imaginava, não deve haver motivo para preocupação. Meu irmão certamente invejará a situação de Porto Brisa após o fim do incidente. Geada o deixou de cabelo em pé na época.”

Lucretia estava ao lado de Duncan, relatando o que acabara de confirmar lá fora.

“Também vi o mestre Taran-El e aquele Guardião dos Segredos da Verdade que retornaram ao mundo real. O estado do primeiro não é ruim, apenas um pouco apático e com esgotamento nervoso, mas de qualquer forma, o estado dele é sempre assim. Manter os sinais vitais estáveis já é um sucesso…”

“O último, no entanto, foi levado para o hospital. Na verdade, não foi nada grave, apenas um desconforto gastrointestinal. O fardo que uma garrafa inteira de Poção Corvo de Sangue causou em seu sistema digestivo excedeu em muito o dano mental…”

Duncan ouvia distraidamente os relatos de Lucy e disse casualmente: “Quando tiver tempo, seria bom visitar aquele ‘Guardião dos Segredos da Verdade’. Ele conhece as atividades do Banido na fronteira há cem anos. Quero conversar com ele sobre isso.”

Lucretia assentiu. Nesse momento, batidas na porta vieram de repente da entrada, interrompendo a conversa dela com Duncan.

Morris, que estava lendo um livro perto da porta, levantou-se para abrir. Ele conversou por um momento com o visitante na porta, e depois ouviu-se o som da porta se fechando.

“Eram funcionários enviados pela Prefeitura”, Morris se aproximou e disse a Duncan e Lucretia. “Eles estão verificando o estado mental dos residentes de cada casa, perguntando se alguém nesta casa precisa de ajuda psicológica.”

Duncan olhou para Lucretia com uma expressão estranha. Ela deu de ombros: “Nem todo mundo conhece a situação da ‘Mansão da Bruxa’, especialmente os funcionários públicos de base que foram transferidos de emergência de outros distritos durante este período especial. O trabalho diário já os deixa de cabelo em pé, como teriam tempo para conhecer uma casa cheia de histórias estranhas.”

Duncan deu de ombros e se virou para Morris: “O que você respondeu?”

“Eu disse a ele que as pessoas nesta casa estão todas mentalmente sãs, e eu estou especialmente saudável”, disse Morris casualmente. “Mas o emblema de Lahm que ele segurava para detectar contaminação mental de repente queimou. Acho que ninguém mais virá incomodar esta casa.”

“Mais uma história estranha para a coleção”, Duncan se virou e disse a Lucretia.

“E evitamos alguns contatos sociais desnecessários”, Lucretia, por outro lado, parecia estar de bom humor. “Ótimo.”

Duncan sorriu, seu olhar se voltou novamente para a janela. Depois de apreciar em silêncio a cena da rua gradualmente recuperando sua rotina e vitalidade, ele finalmente quebrou o silêncio, pensativo: “O incidente de Porto Brisa terminou… É hora de lidar com algumas ‘questões pendentes’.”

Lucretia piscou: “O senhor quer dizer…”

“Rabi ainda está naquele navio?”

“… Entendido. Vou primeiro verificar a situação daquele ‘ninho’.”

Richard sentia um pouco de frio.

Desde a última vez que se retirou daquele “Sonho do Inominado”, ele sentia o corpo esfriar de vez em quando, como se o sangue em suas veias estivesse diminuindo e parando de fluir, como se seu corpo não conseguisse mais produzir calor suficiente. Mesmo vestir uma camada extra de roupa ou se enrolar em um cobertor no quarto não adiantava.

Ele não entendia o que estava acontecendo. Ele claramente tinha muito algodão quente, mas não conseguia impedir que o calor se dissipasse de seu corpo. Essa “anormalidade” o deixava um pouco irritado.

Ele perguntou a Rabi, mas Rabi não lhe deu uma resposta, apenas disse para ele esperar pacientemente.

Felizmente, ainda havia muitas coisas a serem feitas aqui, e Richard podia desviar sua atenção para outro lugar por enquanto.

O navio navegava em direção ao vasto mar, em uma “rota secreta” longe de todas as principais rotas de navegação. Sob as ordens do Santo, eles já estavam longe do chamado “mundo civilizado” e chegariam a um porto de abastecimento perto da fronteira em alguns dias.

Os fiéis a bordo aproveitaram esse tempo para limpar os vários “arranjos” deixados durante a ação anterior, incluindo redefinir as runas no salão de assembleias, selar novamente o “Crânio dos Sonhos” e reajustar o estado de ocultação do navio para esconder ainda mais sua “aura”.

Richard, junto com alguns irmãos, inspecionava as runas e os “objetos sagrados” no convés inferior.

“O Santo disse que esses símbolos podem bloquear a percepção dos seguidores do sol sobre este navio”, resmungou Dumont ao seu lado. “… Espero que essas coisas realmente funcionem.”

“Afinal, nós nos retiramos da operação em um momento crítico. Para aqueles ‘aliados’, isso deve ser considerado uma traição”, disse Richard casualmente, e em seguida, um pouco confuso: “Mas, por outro lado… o que exatamente aconteceu para que o Santo decidisse encerrar a operação tão apressadamente? As palavras daquele bando de Pregadores do Fim são tão eficazes assim?”

“Eu não sei”, Dumont balançou a cabeça. “Mas o Santo deve ter suas próprias considerações. Ele pode vislumbrar as sombras do destino, então deve ter percebido o grande perigo naquele Sonho do Inominado…”

Nesse ponto, Dumont parou de repente, olhou rapidamente ao redor e então baixou a voz, aproximando-se do ouvido de Richard: “Na verdade, de repente sinto…que isso pode ter sido uma armadilha desde o início. Aquele chamado ‘Sonho do Inominado’ escondia um perigo inimaginável. Foi correto sairmos a tempo. Aquele bando de seguidores do sol provavelmente está em apuros agora.”

Notando a seriedade de Dumont, Richard também olhou instintivamente ao redor, sussurrando: “Por que você diz isso?”

“Já faz um tempo que ‘nos retiramos’ antecipadamente”, Dumont ergueu a cabeça, olhando para as runas no teto e nas paredes que emitiam um brilho tênue e sinistro na escuridão. “Aquela ‘Prole do Sol’ ainda não veio até o navio para nos cobrar. Sinceramente, eu não acho que essas runas, usadas para bloquear existências transcendentes comuns, possam deter um derivado de um deus antigo.”

Richard ficou atônito por um momento e finalmente começou a entender.

Ele não deveria ter demorado tanto para reagir. Na maioria das vezes, ele era mais perspicaz que Dumont. Mas, desde algum momento, seu pensamento e reações se tornaram muito mais lentos do que o normal.

Era como se só agora, com o lembrete de Dumont, ele percebesse que a “Prole do Sol” poderia estar em grandes apuros.

“… Você quer dizer que aquela Prole do Sol já está morta? Morta pelo Sonho do Inominado?”, o tom de Richard carregava um traço de nervosismo, perguntando em voz baixa e inquieta. “Não deveria haver nenhum poder no mundo terreno capaz de matar uma ‘Prole’. Será que foi aquele sonho…”

“Também pode ter sido obra dos seguidores ‘dele’, ou até mesmo ‘dele’ próprio”, resmungou Dumont. “Você sabe de quem estou falando.”

Richard fechou a boca imediatamente, não continuando com o assunto.

Não se deve continuar a falar sobre este assunto, senão aquele capitão fantasma lançaria seu olhar para cá ao ser mencionado em palavras imprudentes, e a sombra do Banido emergiria da noite e, envolta em uma névoa densa, levaria todos embora.

Todo navegador do Mar Infinito cresceu ouvindo essas histórias.

Mas Richard estava um pouco curioso —

Ele conhecia o poder da Prole do Sol. Mesmo entre todos os tipos de “Prole”, eles eram um dos mais poderosos. Eles nasceram diretamente do mar de fogo do Sol Negro, uma derivação da essência de um deus antigo. Se não fosse pelo fato de a dimensão real ser selada e protegida pelos Quatro Deuses, o que fazia com que a Prole do Sol pudesse aparecer no mundo real no máximo como uma projeção, o poder completo de seus corpos principais seria suficiente para destruir uma cidade-estado em pouco tempo. Esse tipo de poder, nem mesmo um Santo poderoso poderia rivalizar.

Aquele “capitão fantasma” era realmente tão forte?

O frio surgiu novamente do fundo de seu coração. Richard estremeceu e rapidamente controlou seus pensamentos dispersos, evitando que seu “pensamento” também atraísse algum olhar perigoso vindo da escuridão.

Ao mesmo tempo, ele ouviu a voz de Dumont chegar aos seus ouvidos —

“De qualquer forma, saímos deste redemoinho. Embora muitas pessoas estejam confusas com isso, estamos seguros.”

Richard ficou em silêncio por alguns segundos.

Um frio gelado se espalhou em seu coração, e o sangue em suas veias parecia ter parado de fluir completamente. Ele sentia muito frio, cada vez mais frio.

Ele sentia que seu corpo quase não produzia mais calor.

Mas ele ainda assentiu lentamente.

“Sim, de qualquer forma, agora estamos seguros.”