Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O navio estava silencioso. Além do som suave das ondas quebrando, ouvido ocasionalmente através da janela aberta, o único ruído na cabine era o zumbido leve vindo da distante casa de máquinas e dos dutos. A maioria das pessoas parecia ter deixado a área e, mesmo as que ficaram, provavelmente permaneciam em seus quartos, cautelosas e quietas.

    Essa quietude podia até criar uma ilusão de “segurança”. Se não fosse pelo cheiro fraco e intermitente de sangue, um visitante imprudente e ignorante jamais imaginaria que este era o covil de um grupo de cultistas.

    Mas Lucretia sabia que sua “visita” provavelmente já tinha sido percebida pelo mestre do navio.

    Ela sentia uma hostilidade direcionada a ela se espalhando pela embarcação, uma percepção poderosa que “varria” cada corredor e cada cabine repetidamente.

    Ela ergueu a pequena “batuta de maestro” em sua mão e desenhou no ar alguns símbolos que brilharam com uma luz fraca, bloqueando temporariamente o fluxo de sua própria aura.

    O coelho Rabi estava ao seu lado, cauteloso. Essa boneca de aparência assustadora olhava nervosamente de um lado para o outro, observando por um bom tempo antes de finalmente sussurrar:

    “O velho mestre não veio com a senhora?”

    Lucretia olhou para ela.

    “Você quer vê-lo agora?”

    O coelho estremeceu na mesma hora.

    “Não, não, não! Rabi só estava curiosa, Rabi não quer…”

    “O pai virá mais tarde, mas eu preciso vir primeiro para ajudá-lo a ‘limpar’ este lugar imundo”, Lucretia achou a reação do coelho divertida, mas não continuou a provocá-la. “Ele precisa de alguns Cultistas da Aniquilação vivos para realizar algum tipo de… ritual de comunicação. Mas se ele descesse diretamente, temo que não sobraria ninguém vivo aqui.”

    O coelho de pelúcia ouviu, meio sem entender, e depois de um momento, soltou de repente:

    “Ah, ah, Rabi se lembrou! Os demônios que acompanham os Cultistas da Aniquilação comuns morrem de medo do velho mestre, não é?”

    “… Até que você se lembra de algumas coisas úteis.”

    “Rabi é muito esperta!” O coelho de pelúcia imediatamente se encheu de orgulho. Em seguida, seu tom mudou, e ela disse em voz baixa, com um ar misterioso e ansioso por reconhecimento, “Se for esse o caso, Rabi tem uma sugestão…”

    “Uma sugestão?”

    “Talvez só precise deixar aquele ‘Santo’ vivo… Com base nas observações de Rabi, aquele ‘Santo’ já devorou seu demônio simbiótico. Ele não morrerá se vir o velho mestre…”

    Lucretia ergueu as sobrancelhas.


    Algo havia embarcado no navio. Uma sombra se espalhava, uma presença perturbadora aparecia e desaparecia da percepção. Algumas áreas nas profundezas da embarcação estavam gradualmente perdendo contato, e o estado de alguns dos cultistas que se moviam pelo navio… estava se tornando estranho.

    No salão de assembleias, espaçoso, luxuoso e bem iluminado, os Cultistas da Aniquilação se reuniam. Mais e mais pessoas recebiam a ordem de convocação do Santo. Esses sombrios seguidores chegavam de todos os cantos, ansiosos, sussurrando entre si em uma atmosfera opressiva, discutindo a situação com cautela.

    Cerca de uma dúzia de cultistas foram isolados. Eles foram levados para diante do palanque onde o Santo estava, cada um amarrado com cordas embebidas em poções mágicas e usando coleiras especiais no pescoço para suprimir seus demônios simbióticos.

    Outros sacerdotes totalmente armados estavam por perto, obviamente vigiando a dúzia de cultistas amarrados.

    Os olhares próximos inevitavelmente caíam sobre aqueles “irmãos” amarrados. Os sussurros ao redor começaram a discutir e a especular sobre qual erro eles haviam cometido para serem amarrados daquela forma diante do Santo.

    Alguém reconheceu que os amarrados eram todos “participantes do sonho” que haviam se envolvido na operação do Sonho do Inominado. Ligando isso aos rumores que tinham acabado de se espalhar pelo navio sobre o Sonho do Inominado e a Prole do Sol, as discussões em voz baixa se tornaram ainda mais tensas e inquietas.

    Richard sentia apenas que os sussurros ao seu redor eram um ruído caótico.

    Os zumbidos eram como inúmeras limas arranhando seu cérebro, gradualmente se transformando em um barulho agudo e em gritos sem sentido. Ele já não conseguia distinguir as palavras naqueles sons, nem o significado delas. A sensação de frio que se aprofundava em suas veias o deixava cada vez mais irritado. E o mais perturbador… era que, desde um tempo atrás, ele não conseguia mais ouvir a voz sussurrante, mas reconfortante, em sua mente.

    ‘Para onde foi a Rabi?’

    Ele levantou a cabeça lentamente e olhou para Dumont, que estava amarrado ao seu lado. Este, por sua vez, também levantou a cabeça e olhou em sua direção.

    O olhar de Dumont também carregava hesitação e confusão. Ele abriu a boca para Richard, mas não disse nada, como se algo estivesse bloqueando sua garganta. Entre seus dentes, era possível ver vagamente uma substância branca e felpuda.

    “Vocês trouxeram algo para o navio…”

    A voz do Santo finalmente soou do palanque, e sua pressão intimidadora apontou diretamente para Richard, Dumont e os outros.

    “Onde vocês esconderam?”

    Entre a dúzia de Cultistas da Aniquilação amarrados, alguns vacilaram, parecendo ainda sentir um medo instintivo diante da pressão do Santo. Mas o resto permaneceu imóvel, como se já tivessem perdido a percepção do perigo e dos superiores. Dentro de suas peles, parecia não haver mais nervos ou carne capazes de reagir ao medo.

    Os ossos negros entrecruzados no corpo do Santo emitiram um som de “clac-clac”. Cada batida dos fragmentos de osso parecia liberar uma força capaz de golpear a alma. Nessa série de estalos, a sanidade vacilante de Richard pareceu se recuperar um pouco. Ele finalmente se lembrou de quem era e, em seguida, começou a se perguntar: ‘Por que estou amarrado?’

    Ele levantou a cabeça, hesitante, e olhou na direção do palanque.

    Uma voz imponente veio de lá:

    “O que vocês viram no Sonho do Inominado? Com o que entraram em contato? O que fizeram depois de retornar?”

    A mente de Richard funcionava com dificuldade. Em meio ao torpor, seu pensamento remanescente finalmente produziu uma última centelha.

    ‘Foi a Bruxa do Mar, foi aquela bruxa e seus servos!’ Ele pensou ter gritado isso.

    Mas, na realidade, ele apenas abriu a boca abruptamente e, após alguns sons roucos e difíceis, cuspiu uma grande bola de algodão na frente de todos.

    Mais algodão ainda bloqueava sua garganta, impedindo-o de pronunciar qualquer palavra.

    A última centelha se dissipou. Richard abaixou a cabeça, olhando fixamente para a massa branca e felpuda no chão — algodão, precioso algodão!

    “Meu algodão… meu algodão… meu algodão!”

    Uma série de murmúrios sem sentido saiu de sua garganta entupida de algodão. Richard se arrastou apressadamente para o chão, querendo recuperar aquele algodão precioso. As cordas que o prendiam o fizeram perder o equilíbrio, e ele caiu quase reto, depois começou a se contorcer e a se arrastar pelo chão de forma distorcida e frenética, tentando desesperadamente pegar os flocos úmidos de algodão com a boca.

    Thud, thud.

    Várias outras figuras caíram em sucessão!

    Dumont, Vesen, Surok… todos que haviam entrado no Sonho do Inominado com Richard caíram no chão. A atração fatal do algodão era irresistível para eles. Eles gritavam, murmuravam, lutavam, disputando desesperadamente os flocos de algodão que Richard tinha acabado de cuspir.

    ‘Não roubem meu algodão! Não roubem meu algodão!’

    Richard gritava em desespero em sua mente. Ele usou a cabeça para afastar Dumont, que se aproximava, mas foi mordido na orelha por Vesen. Eles começaram a se morder para disputar o algodão, toda a razão e emoção haviam desaparecido, restando apenas o instinto de lutar pelo algodão!

    O salão mergulhou em um alvoroço. Mesmo os cultistas de coração frio sentiram uma enorme comoção diante da cena bizarra e assustadora. Eles observavam seus doze ex-“irmãos”, amarrados, se contorcendo no chão, mordendo uns aos outros, emitindo rugidos confusos e incoerentes, enquanto flocos de algodão jorravam continuamente de suas feridas — como uma espécie de parasita vivo feito de fibras!

    “Executem-nos!”, um grito ecoou do palanque.

    Bang, bang, bang—

    Sob a ordem do Santo, alguém finalmente reagiu. Vários tiros de revólver de grosso calibre ecoaram pelo salão, enquanto os sacerdotes armados que os vigiavam começaram a atirar em Richard e nos outros. Em seguida, outros começaram a invocar o poder de seus demônios abissais, lançando balas mágicas, relâmpagos e névoa ácida sobre aqueles que claramente não eram mais seus ex-“irmãos” humanos.

    Os corpos de Richard e Dumont foram facilmente dilacerados por esses ataques. Sua pele frágil se rasgou como tecido velho, com um som de “crac-crac”, e uma profusão de algodão jorrou de dentro deles, sem um único traço de carne ou sangue.

    Em um piscar de olhos, a dúzia de Cultistas da Aniquilação parasitados pelo “algodão” perdeu a vida.

    No entanto, após menos de alguns segundos de silêncio, o algodão que fluiu de seus corpos de repente começou a se contorcer novamente. Os flocos começaram a se devorar e a se rasgar, como se a obsessão que essas pessoas tinham em vida pelo algodão ainda pulsasse naquelas massas felpudas. E enquanto o algodão se devorava, algo esvoaçante começou a flutuar da pilha.

    Eram esporos, finos como poeira.

    Os esporos se espalharam, como uma névoa rala, começando a se difundir por todo o salão.

    Mesmo a pessoa mais lenta sentiu o perigo e o terror ao ver aquela névoa de esporos se espalhando.

    Mas os esporos flutuaram apenas por uma curta distância antes de encontrarem uma barreira invisível, sendo rapidamente suprimidos e forçados a voltar para a pilha de algodão por uma força poderosa.

    No palanque, o “Santo” abriu seu esqueleto negro, que parecia uma coroa. Inúmeros tentáculos se estenderam de seu cérebro gigante, balançando no ar.

    Os esporos dispersos foram todos capturados. Em seguida, uma chama surgiu do nada, incinerando instantaneamente a pilha de algodão que ainda se contorcia e se agitava freneticamente.

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