Capítulo 674: "A Quinta Arca"

Em um espaço escuro, vasto e caótico, as projeções espirituais de Helena, Luen, Banster e Frem estavam reunidas.

Os quatro papas já haviam concluído toda a comunicação pré-assembleia, mas ainda não tinham se dispersado, pois a orientação final enviada pela “vontade divina” ainda os deixava confusos e inquietos.

Momentos antes, ao decidir o local da assembleia, os Quatro Deuses, raramente em uníssono, enviaram um sinal forte. Embora o “sinal” ainda estivesse misturado com um ruído imenso e caótico, as quatro Arcas de Peregrinação foram explicitamente descartadas pelos deuses.

Na orientação que “Eles” enviaram, Helena, Luen e os outros foram instruídos a ir para a “Quinta Arca”.

Helena baixou a cabeça. Neste espaço escuro construído pela ressonância psíquica, uma chama queimava de forma etérea em sua visão. Ela olhou para a chama por um longo tempo antes de falar com cautela: “…A Quinta Arca… no que vocês pensaram?”

“No que mais poderia ser?”, Luen balançou a cabeça. “A resposta é óbvia. Além das quatro Arcas-Catedrais, só há um navio que poderia ser chamado de ‘Quinta Arca’.”

“… Francamente, pela primeira vez na minha vida, estou duvidando um pouco do resultado de um oráculo”, disse Banster, hesitando por alguns segundos antes de finalmente levantar a cabeça para os outros três. “Nós de fato concordamos em convidar aquele capitão, mas realizar uma reunião tão crucial ‘naquele navio’? Isso não estava nos planos. E a vontade que o Senhor enviou desta vez parece um pouco… estranha, não acham? Faz muitos anos que não ouvimos uma voz tão clara e forte…”

“É um sinal de que ‘Eles’ estão nos apressando, Banster”, disse Frem, com sua voz profunda e calma. “Nós todos sabemos que o tempo está se esgotando. ‘Eles’, é claro, também sabem.”

Helena olhou de soslaio para Banster. “Você não está ainda remoendo o caso da ‘Instante Fugaz’, está?”

“Claro que não”, Banster balançou a cabeça imediatamente. “Já se passaram tantos anos, eu não me importo tanto com aquele navio. Estou apenas sendo um pouco cauteloso… Claro, são apenas meus pensamentos pessoais e não podem mudar a ordem que recebemos. A revelação sobre a ‘Quinta Arca’ já foi transmitida com a vontade divina, então não há muitas outras opções.”

No espaço escuro, os quatro papas caíram em um silêncio uníssono.

Helena baixou a cabeça novamente, fixando o olhar na chama que queimava etereamente em sua visão. Ela sabia que, no fundo de seu coração, também sentia a mesma cautela e até dúvida de Banster, mas ela escolhia confiar incondicionalmente na orientação da Deusa da Tempestade.

Nessa observação silenciosa e prolongada, ela pareceu ver a chama etérea em sua visão subir gradualmente, depois se espalhar sem som. O fogo ondulante pareceu se transformar em um mar gentil. As marés subiam e desciam diante de seus olhos, e uma imagem vasta e antiga se aproximava dela, emergindo das marés.

A imagem da Deusa da Tempestade surgiu da escuridão, e uma “verdade” ainda maior e mais inominável flutuava atrás da deusa. Essa presença entrelaçada estendeu a mão suavemente para Helena. Ela sentiu múltiplos toques frios em sua alma, envolvendo sua mente e sussurrando em seus ouvidos:

“Enquanto ainda há tempo…”

A ilusão da maré recuou, e o som suave das ondas desapareceu de seus ouvidos.

“Vão se preparar”, disse Helena, erguendo a cabeça e olhando calmamente para os outros. “Notifiquem os bispos que participarão da assembleia conosco. Notifiquem o pessoal de serviço nas arcas. Contem a eles sobre a ‘Quinta Arca’. Todos precisam de alguma preparação psicológica — mas digam a eles que o tempo de preparação é limitado.”

“Além disso, não se esqueçam de instruí-los sobre algumas noções básicas daquele ‘navio'”, acrescentou Luen em seguida. “Ele não é como as naus-catedrais que todos conhecem. Não quero que ninguém cause um mal-entendido embaraçoso por se assustar ao pisar ‘naquele navio’.”

“As instruções não serão suficientes. Aquele navio tem coisas bizarras demais. Vanna, até hoje, me conta de tempos em tempos sobre novas situações inacreditáveis”, Helena acenou com a mão. “Digam diretamente aos que vão participar da assembleia: não importa o que vejam naquele navio, mesmo que vejam alguém cozinhando a própria cabeça em uma panela, não gritem. Tratem tudo como um fenômeno natural.”

“Antes de discutirmos isso, é melhor entrarmos em contato com aquele capitão primeiro”, acrescentou Frem, que mal tinha falado até então. “Nós decidimos, por conta própria, que o navio dele será o local da assembleia, mas ainda não pedimos a opinião do dono.”

Luen assentiu. “Claro. Também precisamos organizar o processo de embarque e o transporte de pessoal. O cronograma da reunião também pode precisar de ajustes urgentes… Se o local da assembleia for fora das quatro Arcas de Peregrinação, muitas coisas serão diferentes do planejado.”

“Tanta coisa para fazer…”, Helena suspirou, cansada. Antes de terminar de falar, ela acenou com a mão e sua figura desapareceu gradualmente na escuridão. “Vou contatar meus Santos primeiro…”

“Eu também preciso falar com meus estudantes”, disse Luen em seguida, e sua figura também se dissipou.

Logo, apenas Banster e Frem restaram no espaço escuro.

“Até nos vermos na dimensão real”, disse Frem, o gigante de pedra, acenando com a mão antes de desaparecer nas profundezas da escuridão.

Banster deu de ombros.

“Eu realmente não me importei… por que ninguém acredita em mim…”

“O quê?! Eles querem vir para este navio? Aquela turma de papas e bispos?!”, na cabine do capitão do Banido, o Cabeça de Bode, que estava ocupado conversando com sua outra cabeça, ficou claramente chocado ao ver o retorno repentino de Duncan e ouvir a notícia que ele trazia. “Eles enlouqueceram?”

“Não olhe para mim, eu também estou surpreso”, disse Duncan, lançando um olhar para o Cabeça de Bode. “Mas a notícia foi confirmada. É até mesmo a ‘vontade dos Quatro Deuses’. As quatro Arcas de Peregrinação foram descartadas, e o local final da assembleia foi escolhido como a ‘Quinta Arca’.”

Ele fez uma pausa, sua expressão um tanto peculiar. “O Banido é a ‘Quinta Arca’.”

“… Ah-há, aqueles Pregadores do Fim dizem que o Banido é a ‘Arca Prometida’, e agora essa turma que acredita nos Quatro Deuses nos dá o título de ‘Quinta Arca’. O famoso Banido agora virou um bom lugar…”, o Cabeça de Bode balançou a cabeça, seu tom claramente zombeteiro. “Se continuar assim, eles vão acabar dizendo que você é uma boa pessoa. Existe insulto maior?…”

Duncan ficou sem palavras.

Depois de segurar por dois ou três segundos, ele finalmente não conseguiu mais se conter. “Aconselho que você preste um pouco de atenção aos seus valores. Pelo menos recuperou parte da ‘essência’ de Sasroka. Desse jeito, fica difícil associar você ao ‘criador’ da Segunda Longa Noite.”

“Eu não consegui criar nada naquela época”, resmungou o Cabeça de Bode. “E o que deu certo também não se saiu muito melhor. O ‘Senhor das Profundezas’ ainda está preso na passagem entre as Profundezas Abissais e o Subespaço. Pela descrição do Cão, parece que ele está entalado em um vaso sanitário…”

Duncan sentiu que não conseguia mais conversar com aquela cabeça de bode. Por que ele de repente estava sendo tão sarcástico?

“Não ache que estou sendo grosseiro, é que acho essa situação um tanto estranha”, o Cabeça de Bode, provavelmente notando a expressão peculiar no rosto do capitão, acrescentou algumas palavras. “Aqueles Pregadores do Fim lunáticos podem considerar o Banido uma ‘Arca Prometida’, tudo bem. Mas agora, esses Quatro Deuses, em seu estado suspeito, de repente enviam uma ‘vontade divina’ dizendo que o Banido é a ‘Quinta Arca’ além das quatro Arcas de Peregrinação… Isso não soa nada bem.”

O Cabeça de Bode resmungou, girando a cabeça em sua base e olhando seriamente para Duncan.

“‘Arca’, essa palavra tem um significado especial no Mar Infinito. Existem apenas quatro arcas reconhecidas pelo mundo. Qualquer navio que ouse se autodenominar ‘Arca’ além das quatro naus-catedrais é uma heresia. E agora, o Banido de repente recebe o título de ‘Quinta Arca’. Eu sinto que ‘eles’ estão empurrando o Banido para uma situação perigosa… Claro, parece que ultimamente temos resolvido todo tipo de crise de qualquer maneira…”

Ouvindo os resmungos do Cabeça de Bode, a expressão de Duncan não mudou. Ele apenas esperou que o outro terminasse de falar e perguntou casualmente: “Os ‘eles’ de que você fala se referem às quatro grandes igrejas ou aos ‘Quatro Deuses’ por trás delas?”

O Cabeça de Bode hesitou. “… Há alguma diferença? As quatro grandes igrejas são as executoras da vontade dos Quatro Deuses. Em termos populares, são os seus capangas…”

“Há uma diferença”, Duncan balançou a cabeça. “Se você se refere às quatro grandes igrejas, elas provavelmente ainda não têm a capacidade de empurrar o Banido para o perigo. Mas se você se refere aos ‘Quatro Deuses’ por trás da igreja, eu mesmo estou muito interessado neles. Se o arranjo da ‘Quinta Arca’ é algo que os Quatro Deuses querem fazer, então isso seria ótimo.”

O Cabeça de Bode ficou sem palavras. “…”

Foi Duncan quem, de repente, sentiu um pouco de curiosidade. Ele olhou o Cabeça de Bode de cima a baixo. “Você não está interessado? Como o antigo ‘Rei dos Sonhos’, depois de recuperar parte da memória de Sasroka, você não tem curiosidade sobre seus antigos ‘colegas’?”

“Nenhum interesse”, o Cabeça de Bode pensou seriamente, balançando a cabeça de um lado para o outro. “Eu não recuperei a memória do período entre a Grande Aniquilação e a era do Mar Profundo. Portanto, para mim, os chamados ‘Reis’ são um conceito completamente estranho… Talvez seja algo a se lamentar, mas não sinto arrependimento.”

Duncan olhou seriamente para o Cabeça de Bode por um momento, mas no final não disse nada.

Ele foi para trás da mesa de navegação e sentou-se na cadeira.

“Eu já trouxe Nina e Morris de volta ao navio. Como ‘testemunhas’ que presenciaram a Grande Aniquilação, eles também participarão desta assembleia.”

“Eu aceitei o convite das quatro igrejas. Agora, este navio está a caminho do ponto de encontro combinado perto de Porto Brisa. O Brilho Estelar se encontrará conosco lá, e Lucretia trará um grupo de seus servos para nos ajudar a preparar a assembleia.”

“Acelere. Vamos ao nosso encontro.”