Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 675: A Assembleia
Os líderes e bispos das quatro igrejas dos deuses se reuniriam em um navio fantasma que retornara do Subespaço. Tal evento, em qualquer época, seria considerado explosivo demais. Seria o tipo de coisa que, se alguém gritasse na Cidade-Estado, quem ouvisse teria que ponderar por um bom tempo se deveria relatar ao Inquisidor ou a um hospital psiquiátrico.
Mas agora, estava realmente acontecendo.
O Banido chegou ao local combinado na hora marcada. Nas águas calmas perto do Porto Brisa, próximo à Catedral da Tempestade, ele parou. Em seguida, os “visitantes” das quatro Arcas de Peregrinação chegaram em pequenos barcos.
Shirley estava debruçada atrás de uma grade no convés de popa, espiando os clérigos no convés principal, que olhavam ao redor nervosamente ou tentavam manter a compostura, tensos. Enquanto observava, ela sussurrava para a sombra ao seu lado: “Eles realmente tiveram a coragem de vir… Você viu aquele tio careca? A testa dele brilha, está todo suado…”
A voz abafada do Cão veio da sombra: “É um pouco assustador… Antigamente, na Cidade-Estado, nem se fala em encontrar alguém desse nível. Se encontrássemos alguns guardas, já teríamos que nos esconder…”
“Os tempos são outros… é assim que se diz, né?”, disse Shirley, orgulhosa. “Agora são eles que têm que se esconder de nós — pelo menos a bordo. Ei, você não quer pular e assustá-los? Essa oportunidade é rara…”
“Eu posso pular, mas você pode levar uma bronca do capitão depois. Eu vou pular mesmo, hein?”
“Não, não, não, estava só brincando…”
No convés, Luni, a boneca que viera com sua senhora para o Banido, guiava metodicamente os “visitantes” pelo convés central em direção à porta que levava à cabine. A boneca de corda olhou para trás, na direção do convés de popa, e virou-se para explicar a um clérigo do Mar Profundo em vestes de bispo: “Aquela é a senhorita Shirley, ela é ‘aluna’ do antigo mestre. O senhor não precisa ficar nervoso.”
“Mas eu sinto a presença de um Demônio Abissal…”, disse o bispo do Mar Profundo, visivelmente nervoso. “Bem ao lado daquela ‘senhorita Shirley’…”
“Aquele é o senhor Cão, o cão guardião da senhorita Shirley”, explicou Luni com calma. “Ele também é aluno do antigo mestre. O senhor não precisa ficar nervoso.”
O bispo do Mar Profundo ficou confuso. “…?”
Luni ignorou o olhar estranho que recebeu e bateu palmas, erguendo a cabeça para apresentar aos clérigos recém-chegados: “Vou reforçar algumas precauções comuns:
“As cordas no navio às vezes se movem sozinhas. Se for amarrado, não se preocupe, elas estão apenas brincando. Um simples cumprimento e elas o soltarão. Se encontrar barris rolando por aí, não se importe, eles provavelmente estão apenas transportando algo. Se encontrar a cabeça de uma boneca de cabelos prateados e não vir o corpo por perto, por favor, leve a cabeça até o mastro principal e entregue a uma pomba falante. A pomba ajudará a devolver a cabeça.
“Além disso, não vá para áreas não autorizadas. Se se perder, pare imediatamente onde está. Não é proibido rezar aos deuses a bordo, mas os deuses não poderão ajudá-lo a escapar de uma cabine trancada, portanto, lembre-se das ‘regras’ que mencionei. Se vir indivíduos que se pareçam Proles do Mar Profundo em algum lugar do navio, mantenha a calma e se afaste. Eles são peixes. Não se importe com sombras estranhas que aparecem de repente em espelhos ou cantos escuros. É a senhora Agatha passeando — ela não entrará nos aposentos dos visitantes…
“Lembrem-se sempre: o navio é seguro e a atmosfera é amigável. Se sentir que está prestes a morrer, repita em sua mente: o navio é seguro e a atmosfera é amigável. Reflita se suas ações violaram as regras, em vez de questionar o ambiente…
“Por fim, desejo a todos um dia gratificante a bordo do grande Banido. A refeição será servida após a reunião. Fiquem tranquilos, são todas substâncias comestíveis para humanos.”
A boneca de corda sorriu e curvou-se para os visitantes.
“Agora, por favor, sigam-me. Vamos para o salão.”
Os clérigos que embarcaram, ora nervosos, ora desconfiados, observavam com cautela e apreensão este navio fantasma envolto em inúmeras lendas bizarras e uma aura de perigo. O “aviso de segurança” dado por uma boneca de corda no convés não diminuiu a tensão nos corações dessas pessoas de bom senso; pelo contrário, aumentou ainda mais a atmosfera estranha que sentiam. Mas, impulsionados pela missão e pela responsabilidade, eles só podiam deixar de lado suas preocupações e seguir obedientemente as instruções da bizarra boneca de corda em direção à cabine.
Vanna estava de pé, distante, sob um mastro, observando Luni, que estava ocupada, com uma certa preocupação. Ela não pôde deixar de resmungar baixinho: “Acho que a senhorita Lucretia não deveria ter encarregado Luni da ‘recepção’. Teria sido melhor se eu ou o senhor Morris tivéssemos feito isso…”
“Mas eu acho que está ótimo assim”, a voz de Helena soou ao lado. A papisa, de postura imponente, estava ao lado de Vanna, com um sorriso enigmático no rosto. Seu olhar pousou no convés distante, e seu tom era quase alegre. “Isso os fará perceber, no menor tempo possível, por que eu enfatizei antes de embarcarem para ‘não fazerem alarde’ e para ‘considerarem tudo no Banido como algo natural’.”
Ela parou, olhando pensativamente para as silhuetas colossais das arcas no mar distante. “… Os bispos possuem um conhecimento profundo e habilidades divinas extraordinárias, mas eles passaram tempo demais em arcas ‘ordeiras e normais’. Essa ‘normalidade’ não durará para sempre.”
Vanna sentiu que havia um significado profundo nas palavras da papisa, mas antes que pudesse perguntar, Helena falou primeiro: “Você está se acostumando a este navio?”
“Err… está tudo ótimo”, Vanna hesitou, respondendo apressadamente. “Todos são muito gentis, e posso aprender sobre muitos conhecimentos inéditos. Também estou acumulando experiência no combate à heresia e à blasfêmia.”
“Isso é bom”, Helena sorriu. Em seguida, antes que Vanna pudesse falar, ela já caminhava em direção à cabine. “Conversamos depois da assembleia. Não podemos deixar o ‘capitão’ esperando muito.”
Vanna ficou surpresa por um momento e, em seguida, notou um olhar fixo sobre si.
Ela seguiu a sensação até a origem do olhar e viu uma figura excepcionalmente alta e notável entre a multidão, olhando para ela do convés distante.
Era um Sen’jin de pele cinza-claro como rocha, com um olhar profundo e calmo, vestindo uma túnica simples.
Era o líder dos Portadores da Chama, Frem.
O papa Sen’jin, semelhante a um pequeno gigante, acenou com a cabeça de longe e depois se afastou em silêncio.
Vanna ficou atordoada por um instante. No momento em que seu olhar cruzou com aqueles olhos serenos, ela se lembrou involuntariamente daquele deserto infinito e do gigante idoso que caminhara com ela por ele…
No segundo seguinte, Vanna despertou de seu devaneio. Após uma breve hesitação, ela também caminhou em direção à cabine.
O chamado do capitão ecoava em seu coração. Chegou a hora.
Todos se reuniram na maior cabine do convés superior do Banido.
Dizer que era uma “sala de reuniões” era um exagero; na verdade, era apenas o refeitório do navio. Os servos enviados por Lucretia haviam arrumado o lugar, reorganizado as mesas e cadeiras para parecer um local de conferência.
Comparado aos templos suntuosos e santuários magníficos das Arcas de Peregrinação, este “local de assembleia” certamente não era o que se poderia chamar de luxuoso.
Mas as pessoas reunidas aqui obviamente não ousavam focar sua atenção na suposta “modéstia” do lugar.
Este era o Banido, uma sombra que retornara do Subespaço, a “Quinta Arca” revelada e apontada pelos Quatro Deuses. Cada canto insignificante deste navio tinha um significado diferente para o mundo.
Apenas poder embarcar neste navio já era uma experiência inesquecível… mesmo para eles, os veneráveis bispos, os “clérigos da corte interna” das Arcas de Peregrinação.
O pessoal não essencial já havia se retirado. Os servos-marionete enviados do Brilho Estelar para “apoiar” fecharam as portas ao sair do salão.
Os clérigos comuns sentaram-se na periferia da sala de reuniões. Dezenas de bispos, divididos em quatro áreas de acordo com os deuses que seguiam, estavam dispostos no centro do salão, onde havia um círculo de cadeiras. Helena, Frem, Banster e Luen sentaram-se em quatro delas. E em frente a eles, estavam o verdadeiro dono do navio e seus “seguidores”.
Duncan havia instruído Lucretia a arrumar o local de propósito daquela maneira.
Ele podia notar que todos os olhares estavam concentrados nele — olhares muito complexos.
A atmosfera tensa nunca se dissipou dessas pessoas.
Mas ele não se importava.
“Nos encontramos novamente”, seu olhar pousou primeiro em Helena, do outro lado. Esta “papisa do Mar Profundo” foi a primeira líder de uma igreja ortodoxa que ele encontrou neste mundo, um dos pontos de partida de seu contato com o mundo civilizado. “Bem-vinda ao meu navio. Eu cumpri minha promessa e, até hoje, permaneço do lado da ‘civilização’.”
Helena retribuiu o cumprimento com polidez e decoro, mas seu olhar não pôde deixar de pousar em Vanna, que estava não muito longe de Duncan.
A expressão da papisa permaneceu calma e serena, mas havia algo de estranho em seu olhar.
Há pouco, Vanna sentara-se naturalmente do lado que representava o Banido…
Esta Santa da Tempestade, esta Inquisidora do Mar Profundo, não hesitou nem um pouco.
Mas logo, ela afastou essa estranheza e, após compor brevemente sua expressão, quebrou a atmosfera um tanto congelada do local.
“Esta é uma reunião a portas fechadas. A natureza da reunião, acredito, todos já conhecem. Então, vamos dispensar todas as formalidades e ir direto ao ponto.
“Vamos discutir o que aconteceu com nosso mundo no passado e o que está para acontecer.”
Ela virou a cabeça e seu olhar pousou em Luen, ao seu lado.
“O mais erudito entre nós trouxe algo que pode ajudar a explicar aos que ainda não conhecem a verdade o que é… a ‘Grande Aniquilação’.”
Luen assentiu e acenou para o lado.
Um erudito se aproximou imediatamente e entregou a ele um objeto coberto com um pano preto.
Duncan observou a cena com curiosidade. Ele viu Luen remover o pano preto, e o que estava por baixo o deixou bastante surpreso.
Era uma gaiola de pássaro.
Dentro da gaiola, havia apenas um pequeno pássaro preto, de aparência comum, pousado em silêncio.
No entanto, a expressão de Luen tornou-se séria. Ele ergueu a gaiola e a exibiu a todos os presentes.
“Este é um pardal-do-mar de bico curto e penas pretas, mas ele tem outro nome famoso, amplamente conhecido nos círculos de eruditos.
“O Pássaro do Louco. Em 1726, o famoso ‘Incidente de Haipa’ deu a este pequeno pássaro seu nome temível.
“Sobre a ‘Grande Aniquilação’, preciso começar falando deste pequeno pássaro.”
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