Capítulo 68: A Confiável Pomba-Correio
Uma brisa marítima ligeiramente fria soprou de repente pelo convés, fazendo com que o Capitão Lawrence, que acabava de sair do interior para o lado de fora, esfregasse instintivamente os braços. Contudo, ele não sabia ao certo se o arrepio era causado pelo vento fresco ou pelas informações que a jovem inquisidora havia lhe revelado.
Anomalia 099, o Caixão de Boneca, após perder o controle, não apenas ganha a capacidade de se mover e escapar, mas também expande constantemente seu alcance de influência. Dentro de sua área de efeito, identifica alvos humanoides e realiza decapitações incondicionais. Apenas santos têm alguma chance de resistir a esse efeito, que beira o causal.
Nos últimos quinze dias de viagem, ele e sua tripulação conviveram dia e noite com essa perigosa anomalia. Apesar de, na prática, não terem enfrentado nenhum grande risco além do encontro final com o Banido, a retrospectiva ainda o deixava com um calafrio na espinha.
Ainda assim, era apenas isso: um calafrio.
Como membro da Associação de Exploradores e veterano em exploração oceânica, seu trabalho era lidar com o Mar Sem Fim. Diferentemente dos pescadores que se limitavam às áreas costeiras seguras, ele passava a maior parte de sua carreira enfrentando as mais diversas anomalias e fenômenos bizarros.
Ao aceitar missões de transporte de anomalias, tanto as autoridades quanto a Igreja alertavam previamente sobre os riscos do processo. Contudo, esses avisos costumavam ser extremamente breves, resumindo-se geralmente a uma única linha no contrato:
“Esta missão envolve risco de morte. Detalhes específicos não podem ser fornecidos.”
Todo capitão que dependia do comércio entre as cidades-estados sabia exatamente o que enfrentava. Mais da metade deles, no entanto, carregava em sua velhice as marcas de uma carreira tão perigosa. Lidar constantemente com o Mar Sem Fim sempre deixava algo gravado no destino de uma pessoa.
Lawrence conhecia muitos colegas de sua idade que já haviam se aposentado. Alguns sofriam com pesadelos recorrentes, outros enfrentavam problemas mentais causados por diferentes graus de maldições, enquanto outros ainda carregavam deficiências físicas adquiridas em viagens de longa distância… ou enfrentavam destinos ainda piores.
Os capitães e marinheiros de embarcações oceânicas recebiam salários que superam de longe a imaginação dos moradores das cidades-estados, mas também enfrentavam ‘doenças ocupacionais’ mais severas do que qualquer outra profissão.
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Lawrence não se considerava uma pessoa nobre. Ele trabalhava nessa área principalmente para ganhar dinheiro. Claro, na juventude, também sentia uma paixão ardente por explorar o mar, mas, como a maioria das pessoas, essa paixão juvenil dificilmente durará uma vida inteira. Agora… ele sentia que essa chama estava prestes a se apagar.
Enquanto sua mente ainda estivesse intacta, enquanto o Mar Sem Fim ainda não tivesse amarrado seu destino, ele pensava que era hora de se aposentar.
Lawrence suspirou suavemente e se virou, caminhando lentamente em direção à sala do capitão.
Os sacerdotes ainda não haviam concluído a busca e os interrogatórios em todo o navio. Até lá, ele não podia deixar o Carvalho Branco. Depois disso, seria transferido com todos os outros para a igreja, onde passariam por isolamento, observação e uma série de avaliações psicológicas.
Seu olhar percorreu as instalações familiares do navio ao redor.
Era um excelente navio, e ainda muito novo. Ele estava no comando há apenas cinco anos. Segundo os ditados dos capitães do Mar Sem fim, o ‘período de lua de mel entre capitão e navio’ ainda não havia terminado. Para ser sincero, ele sentia relutância em se aposentar.
Mas era melhor abandonar o posto agora do que perecer em uma futura viagem de longa distância ou passar o resto da vida em um manicômio.
Na parte baixa da cidade-estado, numa antiga loja de antiguidades chamada ‘Loja de Antiguidades do Duncan’, um homem de meia-idade deitado na cama do segundo andar abriu lentamente os olhos. O teto levemente mofado e desgastado refletia-se em sua visão.
“Hah…”
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Duncan exalou suavemente, sentindo a conexão com seu corpo gradualmente se firmar e estabilizar. A sensação de controle, que antes era remota, agora estava sob domínio direto. Depois de alguns segundos, ele empurrou-se para sentar na cama.
A pomba Ai se agitou, voando até a cabeceira da cama, e começou a resmungar: “Querido, bem-vindo de volta! Vai comer primeiro, tomar banho ou…”
Duncan estava prestes a se espreguiçar, mas foi interrompido pela fala da pomba, quase se torcendo de tanto rir. Sem hesitar, deu um tapa na cabeça do pássaro: “De onde você tira essas falas absurdas?!”
Ai, obviamente não era um pássaro comum. Depois do tapa, apenas recuou dois passos e continuou falando com entusiasmo: “Com um soco certeiro, o nariz jorrava sangue, torto de um lado, parecia uma loja de molhos…”
Duncan ignorou a pomba maluca e levantou-se, voltando sua atenção para a mesa próxima.
Na mesa, estavam vários itens preparados anteriormente no Banido para um experimento:
Um amuleto do sol, uma adaga, um pedaço de queijo, uma bala de canhão e um peixe salgado.
Os itens estavam todos lá, um amontoado de coisas aleatórias e sem relação. Surpreendentemente, Ai havia transportado tudo sem perder nada pelo caminho.
Essa pomba é mais confiável do que eu imaginava, pensou Duncan, enquanto verificava item por item, confirmando estarem intactos. Ele lançou um olhar de aprovação ao pássaro, que agora andava de um lado para o outro na cabeceira da cama, recitando: “Quando Luda olhou, lá estava Zheng Tu estirado no chão…”
Duncan: “…”
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Escondendo sua apreciação pela ave, sentou-se à mesa e começou a examinar os itens um por um.
Primeiro, o amuleto do sol. Ele permanecia inalterado. Como um item extraordinário modificado e controlado pelo Fogo Espiritual, sua energia interna fluía suavemente, sem mudanças após duas viagens ao plano espiritual.
A adaga comum também não apresentava alterações. Embora antiga em design, sua lâmina continuava afiada e bem conservada.
Duncan então voltou sua atenção para o queijo, retirado da cozinha do Banido.
O queijo não exibia anormalidades. Ainda parecia tão intragável quanto antes, mas, ao contrário do esperado, não apodreceu nem desapareceu após deixar o navio.
Depois veio a bala de canhão, que repousava imóvel sobre a mesa.
Duncan empurrou a bala levemente e bateu em seu revestimento de ferro fundido.
As propriedades extraordinárias haviam desaparecido.
No Banido, até mesmo as balas de canhão possuíam ‘atividade’. Isso não significava que cada bala tinha uma consciência própria, mas que o sistema de armamento do navio operava como um único ‘organismo’. Sob o controle desse sistema, as balas reagiam ao comando do capitão, alinhando-se para inspeção.
Pelo que Duncan observara, o sistema de armas do Banido parecia ter duas consciências principais: uma para as munições e outra para os canhões no convés. Cada uma controlava suas ‘subunidades’ durante os combates.
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Essa bala de canhão, ao ser removida do navio, perdeu a conexão com sua consciência superior, tornando-se apenas um pedaço de ferro comum.
Se eu levar essa bala de volta, ela se reintegrará ao sistema do navio? Duncan refletiu.
E se estendeu o pensamento:
As munições do navio podem ser reabastecidas? E os novos suprimentos, como se tornam parte do sistema? O navio poderia melhorar seu sistema de armas com equipamentos mais modernos?
Essas ideias vieram à mente de Duncan enquanto ele ponderava sobre as limitações do Banido.
Apesar de sua reputação assustadora, o Banido estava longe de ser perfeito. Não tinha lâmpadas elétricas, nem batatas fritas. Seus canhões ainda eram antigos e de carregamento frontal. Embora eficazes, faltava a conveniência de tecnologias modernas, como caldeiras a vapor.
E ainda sem batatas fritas.
Duncan olhou para a pomba, agora no parapeito da janela, observando o lado de fora.
O pássaro virou-se, seus olhos brilhando enquanto perguntava: “Vamos até o cais buscar batatas fritas?”
“Cale-se. Pare de falar de batatas fritas.” Duncan rejeitou com um toque de irritação antes de se concentrar no último item.
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O peixe salgado, uma delícia natural pescada nas profundezas do mar, não apresentava alterações após a jornada no plano espiritual.
“Vou usá-lo para fazer sopa para Nina hoje à noite”, decidiu Duncan.
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