Capítulo 70: Sou um dos Seus
Em um mundo onde fenômenos extraordinários existem, onde a terra é cercada por um oceano infinito, e onde guardiões das cidades-estado lutam incessantemente contra o anormal, como os comuns sobrevivem?
Duncan ainda não compreendia plenamente esta cidade-estado, mas, ao menos nas áreas que presenciou, o mundo parecia oferecer aos seus habitantes comuns uma vida de ordem e estabilidade.
Eles trabalhavam, estudavam, descansavam. Gerenciavam suas lojas, trocavam bens e serviços. Nos dias de folga, saíam para ir ao cinema, restaurantes, parques e portos. Visitavam museus e conversavam descontraidamente com vizinhos após o jantar. Levavam uma vida não muito emocionante, mas geralmente tranquila.
Os ônibus movidos por motores a vapor paravam e seguiam seu percurso. Às vezes, estacionam nas plataformas, outras vezes ao longo das ruas. Passageiros embarcavam e desembarcavam continuamente. O motorista, sempre calado, ocasionalmente trocava algumas palavras com a cobradora, mas, na maior parte do tempo, permanecia concentrado em dirigir. Já a jovem cobradora lançava olhares frequentes para o teto do veículo, como se ainda estivesse preocupada com a pomba.
Duncan estava sentado, observando com curiosidade o ambiente ao redor, contemplando aquela vida cotidiana.
Fora a necessidade de conhecer as anomalias e fenômenos incomuns do mundo e tratar essas informações como ‘regras de segurança’, a vida dessas pessoas comuns não diferia tanto da que ele conhecia na Terra.
Quando o ônibus se aproximou do Distrito da Encruzilhada, parou novamente, desta vez em uma plataforma, onde vários passageiros subiram.
Curioso, Duncan olhou para a paisagem na estação e para as chaminés ao longe, além dos canos de vapor que se cruzavam sobre os edifícios. Subitamente, sentiu uma estranha onda de calor emanando de perto de seu peito.
O calor vinha do Amuleto do Sol que ele mantinha escondido em seu corpo!
Perplexo, Duncan tocou instintivamente o local onde guardava o amuleto. No instante seguinte, percebeu que não apenas estava quente, como também tremia levemente.
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Ele não sabia o que estava acontecendo, mas era evidente que o amuleto estava entrando em ressonância com algo próximo. Por meio da conexão já estabelecida entre ele e o amuleto, ele tentou detectar a origem daquela ressonância. Em poucos segundos, seus olhos fixaram-se em uma figura que se movia rapidamente entre a multidão do lado de fora da janela.
A figura usava um casaco preto e parecia apenas mais um transeunte comum. No entanto, o ‘sentido direcional’ emanado pelo amuleto apontava sem qualquer dúvida para aquela pessoa!
Duncan levantou-se imediatamente, dirigindo-se rapidamente para a porta do ônibus. Com um comando mental, a pomba Ai recebeu a instrução e voou do teto do ônibus, pousando em seu ombro.
A cobradora, surpresa, assistiu à cena e murmurou enquanto Duncan descia: “Como será que ele treinou essa pomba…?”
Logo, entretanto, esse pequeno episódio foi deixado de lado pela jovem. Voltando sua atenção para os novos passageiros que haviam embarcado, ela começou a cobrar as passagens: “Venham comprar as passagens aqui… Crianças também precisam pagar, sabe? Esse aí tem claramente mais de um metro e dez! Quatro anos? Impossível ter só quatro anos, já passou da linha de altura, será cobrada uma inteira!”
Duncan, por sua vez, já havia se misturado à multidão. Movia-se rapidamente entre as pessoas aglomeradas na plataforma e no cruzamento, seguindo o indivíduo de casaco preto.
Aquela figura movia-se com pressa. O fluxo intenso de pessoas à tarde facilitava que ele se escondesse dos olhares, e, em poucos minutos, a figura desapareceu da vista de Duncan.
Contudo, a ressonância do amuleto solar persistia. O ‘sentido direcional’ que vinha das profundezas do amuleto continuava a guiá-lo na direção correta.
Enquanto seguia a orientação do amuleto, Duncan pensava rapidamente.
Não havia dúvidas de que aquele indivíduo era suspeito. O amuleto havia certamente detectado algo para reagir de forma tão repentina. Talvez fosse uma força semelhante à do ‘Sol Negro’.
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Ele já sabia, por meio do Cabeça de Bode, que o amuleto possuía a habilidade de reconhecer aliados e guiar aqueles que receberam as ‘bênçãos do Sol’. Normalmente, apenas os seguidores do Sol Negro poderiam usar essas funções ou perceber as indicações do amuleto.
Duncan havia usurpado o controle do amuleto com suas chamas espirituais, mas acreditava que suas chamas haviam também destruído grande parte das habilidades do artefato. No entanto, agora parecia que a capacidade de reconhecimento ainda estava ativa!
A diferença era que essa habilidade estava, agora, ao seu dispor…
Sob a orientação do amuleto, ele deixou as ruas movimentadas e, após algumas voltas, encontrou-se em um caminho mais tranquilo e menos frequentado.
Ele avistou novamente a figura suspeita — o indivíduo estava cruzando rapidamente uma rua à frente, aparentemente alheio ao fato de estar sendo seguido.
Duncan sentiu que o amuleto em seu peito estava ainda mais quente do que antes, e a ressonância que emanava se tornava cada vez mais clara e intensa.
Em silêncio, ele ativou as chamas espirituais, tentando decifrar as informações transmitidas pelo amuleto solar. Imediatamente, uma abundância de percepções direcionais inundou sua mente.
Era uma sensação peculiar — embora o amuleto solar não tivesse consciência, Duncan quase podia sentir sua excitação, como se ele estivesse transmitindo com entusiasmo as informações. Parecia ansioso para informar aquele que nem ao menos era um seguidor do Sol Negro sobre a localização de outros fiéis.
Ele até pensou em lembrar o amuleto de manter alguma dignidade — afinal, não fazia muito tempo que ele era um artefato sagrado do Sol Negro. Agora, comportar-se como um mero guia entusiasmado parecia indigno.
Enquanto refletia, Duncan ficou cada vez mais certo de que estava se aproximando de um local de encontro secreto, onde numerosos seguidores do Deus Sol estavam reunidos.
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Como imaginava, mais ‘hereges do Sol’ estavam escondidos nos cantos sombrios desta cidade-estado. Aqueles eliminados no esgoto eram apenas uma fração desses cultistas, que se espalhavam como baratas.
Ele não sabia ao certo quais eram os planos desses fanáticos, mas tinha certeza de que eles sabiam mais sobre a história antiga, a adoração ao sol e a Era da Ordem do que os professores de Nina.
Para desvendar os segredos mais profundos deste mundo, seria necessário interagir com forças do domínio sobrenatural. Aproximar-se da igreja ou das autoridades da cidade-estado por meios convencionais seria quase impossível, mas os cultistas eram outra história — era uma questão de se misturar entre eles.
Ou, talvez, esmagá-los.
Duncan refletia sobre isso quando, de repente, parou.
Ele havia chegado ao final de uma rua estreita, e a figura suspeita de casaco preto acabara de entrar em um beco próximo. O sinal do amuleto solar estava mais claro e intenso do que nunca. Além disso, não havia outros transeuntes por perto.
Através do amuleto solar, ele percebeu mais sinais de ‘congêneres’ aproximando-se de sua posição.
Duncan ergueu a gola do casaco, cobrindo metade do rosto—e, quase imediatamente após esse gesto, ele ouviu múltiplos passos ecoando nas sombras dos edifícios ao redor.
Um a um, surgiram figuras.
Eram cerca de uma dúzia, vestidos de forma indistinta dos cidadãos comuns — afinal, nenhum cultista andaria por aí em plena luz do dia usando túnicas longas, assim como um assassino profissional não usaria uma capa amarela chamativa para se infiltrar em uma rua movimentada.
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Somente o calor persistente e os sinais inequívocos emitidos pelo amuleto solar garantiam a Duncan que todos os indivíduos que surgiram ao seu redor eram, de fato, seguidores do Sol Negro.
Duncan ergueu os olhos em direção ao beco e viu o homem de casaco preto que havia seguido. O indivíduo o encarava com evidente cautela. Ao lado dele, um jovem alto e magro murmurou algo a um companheiro antes de também levantar o olhar.
“Este é um terreno particular. O que está fazendo aqui, seguindo-nos assim?” perguntou o homem alto e magro. Ele parecia se esforçar para criar a impressão de que eles eram apenas cidadãos comuns, insinuando que Duncan, ao segui-los, era o único suspeito ali. Por não conhecer a verdadeira identidade de Duncan, o homem não tomou nenhuma ação precipitada, mas manteve-se vigilante.
Duncan, internamente, lamentou sua inexperiência para tarefas de perseguição, e ficou curioso para saber como os cultistas reagiriam se ele fingisse ignorância. Eles tentariam assustá-lo com uma encenação de criminosos dedicados, ou optariam por sequestrá-lo para servir de oferenda ao Deus Sol?
“Você não ouviu?” o homem alto franziu a testa, impaciente. Assim que terminou de falar, as figuras ao redor deram um passo adiante, discretamente formando um círculo ao redor de Duncan. “Estou perguntando o que você está fazendo aqui…”
Duncan deu de ombros e, casualmente, retirou o amuleto solar de dentro do casaco, respondendo com sinceridade: “Sou um dos seus.”
Era melhor tentar se infiltrar primeiro. Talvez pudesse arrancar alguma informação útil.
Se eles não acreditassem, então o próximo passo seria esmagá-los.
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