Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Passos apressados quebraram a quietude do santuário. Um sacerdote de meia-idade, vestindo uma túnica azul-escura com padrões dourados, atravessou o longo corredor como uma rajada de vento. Sob o olhar silencioso dos muitos sábios retratados nos murais das paredes, ele chegou à porta da sala de orações. Mas, antes que pudesse bater, uma voz suave de mulher já vinha de dentro:

    “Entre.”

    O sacerdote abriu a porta e viu a figura parada diante da estátua da Deusa da Tempestade. Helena usava uma túnica simples de sacerdotisa e tinha um rosário de pedras de água-marinha enrolado no pulso. Parecia estar em oração devota até um segundo atrás. Ela não se virou ao ouvir a porta se abrir, continuando a fitar a estátua da deusa com o rosto coberto por um véu leve, enquanto perguntava em voz baixa:

    “Qual é a situação lá fora agora?”

    “O crepúsculo persiste. O sol continua na mesma posição, mantendo seu brilho e forma ‘normais'”, relatou o sacerdote de meia-idade, baixando a cabeça imediatamente. “A ordem na Cidade-Estado está boa por enquanto. Como a situação ainda é incerta, a maioria dos cidadãos voltou para casa para aguardar novas instruções. Também não há anomalias nas naus-arcas, e quatro equipes de padres técnicos já estão de prontidão perto das caldeiras a vapor.”

    Helena assentiu levemente, parecendo ponderar algo em silêncio. Apenas um momento depois, ela perguntou de repente: “E a situação das outras arcas?”

    “Fizemos contato há alguns minutos. A situação nas arcas está normal. A Arca da Academia informou que seus equipamentos de observação receberam uma série de sinais repetidos vindos da direção do sol, com conteúdo diferente dos sinais anteriores. Quando convertidos em som, são ruídos agudos e curtos…”

    Helena murmurou um “hm” e não disse mais nada, apenas continuou a olhar silenciosamente para a estátua da deusa. Por um instante, pareceu ter esquecido do sacerdote que ainda aguardava ordens ao seu lado. Apenas alguns minutos depois, ela falou baixinho, como se para si mesma: “Um longo crepúsculo…”


    Taran-El franziu a testa, observando os dados que um aprendiz acabara de lhe entregar. A longa fita de papel, registrada automaticamente por uma máquina, estava coberta por uma profusão de curvas e perfurações aparentemente aleatórias que deixariam uma pessoa comum tonta. E o que esses dados, semelhantes a um texto celestial, revelavam era o estado atual do “Fenômeno 001 – O Sol”, que por tanto tempo iluminou e protegeu este mundo.

    Depois de um longo tempo, o erudito elfo finalmente pousou a fita de papel e massageou as têmporas, cansado, sem dizer uma palavra por um bom tempo.

    Uma voz calma veio do lado: “Diga-me a situação atual, Taran.”

    Taran-El ergueu a cabeça e viu Tad Riel parado ao lado da estante. O Guardião dos Segredos da Verdade usava uma túnica da academia, mas por baixo dela era possível ver uma armadura leve e engates para armas. Ele parecia calmo, mas seu olhar era afiado como o de um soldado prestes a entrar no campo de batalha.

    “… O sol está piscando. Embora seja imperceptível a olho nu, ele está de fato piscando. E não é um tipo de ‘sinal’ regular, parece mais uma… lâmpada em mau estado”, disse Taran-El, umedecendo os lábios secos e empurrando os dados para o lado. “Além disso, os últimos registros de rastreamento mostram que ele não está completamente parado no horizonte, mas ainda se move, só que… muito, muito lentamente. Tão lento que é impossível perceber a olho nu.”

    Tad Riel ficou em silêncio por dois ou três segundos. “… Quão lento?”

    “Se a velocidade atual não mudar, ele cairá abaixo do horizonte em aproximadamente setenta e duas horas”, disse Taran-El, estendendo a mão para o copo ao lado, quase o derrubando. Ele agarrou o copo apressadamente e tomou dois grandes goles do chá já frio, seu rosto melhorando um pouco. “Mas o pior não são as setenta e duas horas de crepúsculo que se seguirão, mas o que acontecerá depois. Tad, você entende o que quero dizer.”

    “… Mais longa que o crepúsculo é a noite”, a expressão de Tad Riel tornou-se instantaneamente sombria. É claro que ele entendia o que seu amigo queria dizer. “Se continuar nesse ritmo, quanto tempo durará a próxima noite?”

    Taran-El, no entanto, não respondeu. Ele apenas pousou o copo e encarou os papéis à sua frente, como se quisesse ver o futuro do mundo naquelas folhas, como se quisesse arrancar o segredo de algum inimigo delas. Depois de muito tempo, ele deu um sorriso amargo e abriu as mãos para Tad.

    “… Vou mandar os Guardas do Conhecimento se prepararem”, Tad Riel olhou para seu amigo por um momento e assentiu levemente. “Temos planos de contingência para missões contínuas em caso de escuridão prolongada inesperada. Aquele ‘objeto luminoso que caiu’ perto de Porto Brisa também fornecerá um abrigo básico na escuridão. A situação não será tão ruim.”

    “Sim, em Porto Brisa a situação não será tão ruim. O mesmo não se pode dizer das outras Cidades-Estado”, Taran-El suspirou suavemente após um momento de silêncio. “Diferente da vez anterior, quando o sol se apagou e as várias Cidades-Estado simplesmente ‘saltaram no tempo’, desta vez estamos enfrentando uma desaceleração do sol. Todas as Cidades-Estado estão passando por este fenômeno de nível mundial… Não sei como elas enfrentarão a longa noite que virá.”

    “Toda Cidade-Estado tem planos de sobrevivência para situações extremas, mas o quanto pode ser feito é outra história… Só podemos desejar o melhor e esperar que os Quatro Deuses os protejam.”

    Disse Tad com a voz grave. Em seguida, balançou a cabeça e pegou o pesado livro que registrava inúmeros milagres, parecendo prestes a abrir uma passagem para sair. No entanto, ele hesitou por um momento, guardou o livro novamente e, com um suspiro, virou-se e caminhou em direção à porta.

    Taran observou em silêncio as costas do Guardião dos Segredos da Verdade, como se estivesse se despedindo de um guerreiro a caminho da batalha. Somente quando a figura desapareceu do outro lado da porta, ele desviou o olhar, que varreu os dados que acabara de empurrar para o lado.

    No final de uma das páginas, uma anotação deixada pelo observador estava escrita com uma caligrafia ligeiramente trêmula:

    “… De acordo com os cálculos atuais… até o fim do pôr do sol… setenta e duas horas…”

    Do lado de fora da janela de sacada, o pôr do sol dourado ainda se espalhava sobre os telhados densamente agrupados da Cidade-Estado, magnífico e resplandecente.

    Então, ele ouviu o som etéreo e ilusório de um sino.

    O sino tocava rápido, repetindo-se ritmicamente, como se convocasse todos que o ouvissem, chamando as pessoas para escutar o anúncio antes da chegada da noite.


    Nas profundezas da Catedral de Pland, o Arcebispo Valentine, que discutia com o Governador Dante Wayne como lidar com a anomalia do sol, parou de repente, inclinando o ouvido para o som do sino que surgira.

    O Governador Dante, sentado em frente a Valentine, ergueu a cabeça imediatamente: “Vossa Excelência, o Bispo? O que aconteceu?”

    Valentine gesticulou levemente com a mão e, após uma breve hesitação, respondeu: “É o Sino de Convocação.”

    “Sino de Convocação?” A expressão de Dante mudou ligeiramente. Embora não fosse um clérigo da igreja, ele sabia muitas coisas sobre a igreja por causa de Vanna e, naturalmente, sabia o que era o “Sino de Convocação”. “Então…”

    No entanto, Valentine balançou a cabeça: “Não, vamos continuar, senhor Governador.”

    “… O senhor não vai responder ao chamado do ‘Sino de Convocação’?”

    “Não”, disse Valentine lentamente, como se lembrasse de muitas coisas em um instante, mas no final, apenas balançou a cabeça. “Isto é uma ordem.”

    Não responda ao sino, não responda à Tumba do Rei Sem Nome, não responda ao chamado daquele Guardião da Tumba.

    O sino continuava a soar repetidamente, em cada Cidade-Estado, em cada catedral, em cada navio, na mente de cada clérigo que acreditava nos Quatro Deuses, o toque rápido e repetitivo ressoava vez após vez.

    No momento em que o sino tocou, os sacerdotes pararam o que estavam fazendo em uníssono. No entanto, após uma breve pausa, todos voltaram ao seu trabalho tenso e ocupado — continuando a receber e acalmar os fiéis que buscavam ajuda, a manter os artefatos sagrados, a cuidar das catedrais e a preparar bênçãos para os guerreiros, em preparação para a noite que poderia ser muito longa.

    O sino era como o vento nos ouvidos e as ondas distantes, ecoando em um lugar longínquo, mas nenhum sacerdote mais respondia ao seu chamado…

    E em outra dimensão distante, no antigo Local da Assembleia envolto em escuridão e caos, o último grupo de ascetas estacionado ali observava silenciosamente o centro da praça.

    Pilares de pedra enormes e imponentes cercavam o local, e no céu sombrio, feixes de luz caóticos brilhavam. A tumba em forma de pirâmide, antiga e pálida, ergueu-se do centro da praça. No centro do desolado e abandonado local, o Guardião da Tumba, envolto em bandagens, como se estivesse perpetuamente entre a vida e a morte, saiu e ficou na praça vazia.

    No entanto, diferente dos últimos milênios, não havia mais Santos parados ali. O Guardião da Tumba segurava papel e caneta, mas ninguém se aproximava para ouvir as notícias da tumba.

    Os ascetas permaneciam longe do centro da praça, a uma distância segura. Seus corpos estavam cobertos de tatuagens rúnicas que simbolizavam a bênção dos Quatro Deuses, e seus olhos e ouvidos haviam sido selados por feitiços. Eles percebiam a situação da tumba através de milagres divinos, para evitar ver diretamente a figura do Guardião da Tumba ou ouvir sua voz.

    O Guardião em frente à tumba deu alguns passos à frente. Uma sombra imensa cresceu atrás dele, e membros indescritíveis e coisas distorcidas se espalharam como lodo ondulante seguindo seus passos. Ele se aproximou dos ascetas, estendendo um pergaminho no qual globos oculares trêmulos apareciam continuamente. Ele abriu sua boca pútrida e disforme, chamando os ascetas vigilantes.

    Sua voz era como a maldição de dez mil contaminações blasfemas, cada vibração carregando o poder de perfurar o coração e destruir a sanidade.

    Os ascetas vigilantes apenas permaneciam em silêncio fora do perímetro da tumba, como estátuas, “observando” silenciosamente o guarda da tumba.

    Não podiam dar nenhuma resposta, não podiam ter nenhuma comunicação, mas também não podiam abandonar seu posto.

    A sombra disforme e rastejante se acalmou lentamente. Após um longo impasse, o Guardião da Tumba baixou a cabeça, seus olhos turvos fixos no pergaminho em suas mãos. Ele ficou em silêncio por um longo tempo e finalmente se virou lentamente, caminhando em direção à tumba.

    Sussurros baixos e sobrepostos vinham de dentro da tumba. A voz baixa do Guardião e os sons vindos de dentro se fundiram gradualmente.

    Ele murmurava baixinho, repetindo várias vezes:

    “O crepúsculo chegou…”

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