Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O sol movia-se lentamente, a uma velocidade quase imperceptível a olho nu, descendo vagarosamente em direção ao horizonte. O brilho magnífico, dourado e vermelho, espalhava-se sobre o Mar Infinito. Este espetacular, porém estranho, e longo crepúsculo continuava.

    Pela primeira vez na história, o crepúsculo tornou-se algo a ser temido. Cada vez mais pessoas percebiam que, após o fim de um pôr do sol tão lento, o que se seguiria seria ainda mais aterrorizante: uma noite de duração desconhecida.

    Dante Wayne estava na varanda do seu escritório na Prefeitura, a testa franzida enquanto observava as ruas banhadas pelo brilho do entardecer. Os telhados densamente agrupados do Distrito Superior de Pland reluziam com um esplendor hipnotizante sob o sol poente. Essa paisagem, à qual já estava acostumado, fora um dia o orgulho de seu mandato como Governador, mas à medida que o pôr do sol se prolongava, esse orgulho se transformava gradualmente em uma pressão esmagadora.

    Contudo, ele sabia que, em comparação com outras Cidades-Estado “comuns” e “normais”, a situação de Pland já era muito boa.

    A chama deixada por aquele “Capitão Fantasma” conferia a esta cidade a noite mais segura do Mar Infinito. Mesmo que o sol se pusesse, provavelmente não haveria invasões transcendentais em larga escala aqui. A pressão que a longa noite traria para a cidade, embora desafiadora, pelo menos não envolveria as criaturas não-humanas que prosperam na escuridão. Ele só precisava se preocupar com questões como a segurança pública, a vida dos residentes, as reservas de suprimentos e os ajustes na produção durante a longa noite.

    Mas em outros lugares, a situação não era tão simples.

    No norte, em Porto Frio, o departamento municipal já havia declarado estado de emergência. A Força de Pacificadores e as tropas de guardas estavam nas ruas, consertando abrigos e estocando Óleo Sagrado. Em Mok, a Academia da Verdade havia ativado todos os Caminhantes a Vapor guardados no arsenal da catedral e os posicionado em várias estações de gás, casas de bombas e centrais de vapor. Nas águas do sudoeste, várias Cidades-Estado anunciaram um novo “toque de recolher noturno”: os moradores dos distritos externos seriam temporariamente transferidos para as áreas de refúgio das catedrais mais próximas, os distritos internos seriam isolados, e enormes fogueiras seriam acesas no momento em que o sol se pusesse, permanecendo assim até o fim da noite…

    Todos os suprimentos de reserva estavam sendo contados e mobilizados. Nas setenta e duas horas antes do pôr do sol, cada Cidade-Estado estava reunindo suas forças para enfrentar a noite que se aproximava.

    Se é que ela realmente terminaria.

    Passos soaram atrás dele. Um funcionário do gabinete entrou no escritório e, ao ver Dante Wayne na varanda através da porta de correr aberta, o jovem pigarreou suavemente: “Com licença, senhor Governador, os responsáveis pela Central de Vapor, pela usina de energia e pelas minas já o aguardam na sala de reuniões. O senhor gostaria de…”

    Dante assentiu, acenando levemente com a mão: “Eu sei, vá na frente. Espere por mim alguns minutos.”

    Os passos se afastaram do cômodo. Dante soltou um suspiro, ajustando a expressão tensa em seu rosto enquanto organizava seus pensamentos.

    Ele se virou, passou por sua grande mesa de escritório em arco e estendeu a mão para pegar um documento.

    Seu olhar pousou em um porta-retrato na beirada da mesa.

    No porta-retrato, havia duas figuras juntas. Uma era ele, mais jovem; ao seu lado, uma jovem alta de cabelos prateados com um leve sorriso no rosto. Eles estavam ao lado de um canteiro de flores, com a luz do sol brilhando atrás deles.

    Esta era a única foto que Dante Wayne, sempre ocupado com o trabalho, e Vanna, que ingressou cedo na escola da igreja para sua formação, tinham juntos. Depois daquela foto, parecia que nunca mais tiveram uma tarde tão tranquila.

    “Gostaria de saber como Vanna está…”

    Uma leve lembrança surgiu em sua mente. Dante sentiu falta do calor do sol que se dissolvia em suas memórias e, em seguida, olhou para além do porta-retrato, encontrando o documento que procurava. Ele o prendeu debaixo do braço e caminhou apressadamente em direção à porta do escritório.


    Vanna despertou de uma série de sonhos caóticos, fragmentados e bizarros. O som suave das ondas do mar ainda ecoava em seus ouvidos. O barulho das vagas quebrando contra o casco do navio subia e descia do lado de fora da vigia, acalmando seu coração um tanto inquieto.

    Ela não conseguia se lembrar do conteúdo dos sonhos, apenas que objetos que se distorciam e se rasgavam subitamente haviam deixado uma sombra indelével em seus olhos. A memória do sonho se desvaneceu, mas uma “atmosfera” de solidão, desolação e ruína parecia pairar longamente sobre sua mente, e senti-la agora ainda a fazia estremecer.

    Vanna sentou-se na cama e olhou para a janela próxima, vendo o brilho do pôr do sol ainda se espalhando sobre a superfície do mar. O Banido, em algum momento, havia saído do estado do Plano Espiritual e agora navegava no mar da dimensão real. Ao longe, era possível ver a silhueta do Brilho Estelar; aquele peculiar “navio de guerra mágico” navegava junto com o Banido, cortando as ondas a toda velocidade.

    Quanto aos navios de guerra da igreja, o Maré, o Réquiem e o Inquieto, eles já haviam partido há muito tempo. Depois que a frota deixou a Cortina da fronteira, o Banido e o Brilho Estelar se despediram dos navios da igreja, e cada um seguiu seu caminho.

    Vanna soltou um suspiro e respirou fundo algumas vezes. Um cheiro levemente salgado encheu suas narinas, e o som suave e sobreposto das ondas ainda ressoava em sua mente.

    De repente, ela franziu a testa, como se tivesse percebido algo, e virou-se rapidamente para um canto do quarto.

    Águas gentis subiam na cabine, envolvendo-a sem que ela percebesse. O som ilusório das ondas ecoava em seus ouvidos, e no instante em que Vanna se virou, aquela massa de água que subia suavemente pareceu se expandir inúmeras vezes, e com ela, o quarto inteiro.

    No final do quarto, que de repente se tornara difícil de distinguir entre real e ilusório, Vanna viu uma sombra imponente, uma enorme… estrutura biológica, emergindo no fim das ondas que subiam e desciam lentamente.

    E uma parte daquela estrutura biológica se estendeu em sua direção, condensando-se em uma figura sobre a superfície do mar: vestia um longo vestido negro como as profundezas do oceano, e um véu cobria seu rosto.

    Ela olhou para Vanna, e em seus olhos, com pupilas em um formato peculiar de losango, pareciam transbordar inúmeros pensamentos e emoções impossíveis de serem transmitidos diretamente. E sob esse olhar, Vanna sentiu subitamente uma afinidade indescritível e… uma comoção.

    Ela reagiu instantaneamente, seu corpo se tensionando enquanto inclinava a cabeça profundamente: “Senhora…”

    “Não temos muito tempo, criança”, disse a figura em voz baixa, acompanhada por um ruído sobreposto que seria suficiente para rasgar a mente de uma pessoa comum e levá-la à loucura. Seus pensamentos ecoaram na mente de Vanna. “… Nossa conexão com o mundo mortal terá um último fortalecimento…”

    Uma tontura irresistível subiu do fundo de seu coração. Vanna percebeu instantaneamente que estava sendo contaminada — contaminada pela deusa em quem acreditava devotamente. Sua voz, seus pensamentos, a visão que ela lhe transmitia, tudo estava cheio de um caos sem precedentes!

    Mas Vanna ainda assim firmou sua mente à força. Na borda de sua visão, ela viu uma suave chama verde-espectral queimando e subindo, restaurando a estabilidade de sua mente.

    “… O que a senhora precisa que eu faça?” ela perguntou, tentando não olhar diretamente para a vasta sombra atrás da Deusa da Tempestade, enquanto se esforçava para permanecer consciente. “O que eu posso fazer?”

    “…Colete as estrelas que se desprendem… para que elas possam protegê-los mais uma vez… vá dizer ao Usurpador do Fogo que nós… precisamos conversar com ele… nós encontraremos…”

    O som das ondas sobrepostas transformou-se gradualmente em um grito agudo e insuportável. A água que subia suavemente parecia começar a feder, e um frio que penetrava até os ossos a submergia lentamente. Vanna mal conseguiu distinguir as últimas frases em meio aos ruídos que ecoavam em seus ouvidos. Sua cabeça doía tanto que ela não tinha forças para pensar no significado daquelas palavras. E em sua visão, que se tornava cada vez mais turva, ela viu a água distante e a vasta sombra desmoronando silenciosamente.


    “Você viu a revelação de Gomona?” Duncan arregalou ligeiramente os olhos. Ele olhou para Vanna, que de repente correra para a cabine do capitão, e então notou seu péssimo estado. Ele se levantou imediatamente para segurar seu braço. “Sente-se aqui, respire fundo, fale com calma.”

    “Obrigada… Capitão”, Vanna foi praticamente forçada a se sentar na cadeira por Duncan. A dor latejante e a tontura remanescentes em sua mente tornavam até mesmo o pensamento difícil, mas, felizmente, essa condição melhorou rapidamente após ver o capitão, o que clareou seus pensamentos. “Eu vi a ilusão dela diretamente e ouvi sua voz… A deusa não está em um bom estado. Aqueles ruídos… a sensação foi como encarar diretamente aqueles deuses sombrios.”

    Ela respirou fundo algumas vezes e depois relatou tudo o que acabara de vivenciar.

    Ao ouvir o relato de Vanna, Duncan franziu a testa, sua expressão tornando-se gradualmente séria.

    “‘Colete as estrelas que se desprendem…'” ele murmurou a frase, mas não pôde deixar de se lembrar do “conselho” que ouvira de um tentáculo do Senhor das Profundezas, nos fundos do jardim da Mansão de Alice:

    “Preserve os fragmentos caídos de ¥#&**, se tudo for irreversível, use-os para prolongar a vida das cidades-nó o máximo possível. Mantenha-se vivo. A sobrevivência é a primeira diretriz1.”

    Evidentemente, Vanna também se lembrou disso rapidamente.

    “… Será que a deusa se refere aos ‘fragmentos luminosos’ que se soltaram do anel rúnico do sol?” ela ergueu a cabeça, olhando nos olhos de Duncan. “Ela quer dizer que esses corpos luminosos podem proteger as Cidades-Estado nos próximos dias?”

    “Pela experiência de Porto Brisa, embora o poder desses corpos luminosos não se compare ao do sol, eles ainda podem, dentro de um certo alcance, ocultar a Criação do Mundo e acalmar a noite”, Duncan assentiu lentamente. “Agora que o segundo fragmento luminoso caiu em Geada, e com a revelação que você acabou de receber, não é difícil conectar os pontos.”

    Enquanto falava, ele ergueu o olhar para a janela.

    O sol poente e lento ainda flutuava sobre o mar distante. O anel rúnico com sua falha projetava uma sombra magnífica sobre o oceano.

    A revelação que Gomona transmitiu a Vanna não era difícil de entender. O que era verdadeiramente inquietante era o outro significado da revelação.

    “… Isso é apenas o começo”, ele disse em voz baixa. “Parece que a desintegração do sol vai acelerar. O verdadeiro colapso e queda em grande escala… ainda está por vir.”

    1. Caso não se lembre, capítulo 564.[]
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