Capítulo 754: "Amanhecer"
As estrelas infindáveis desmoronaram. Aquela luz estelar, distante e gloriosa, colapsou silenciosamente de volta à forma de um ser humano. Duncan retornou das estrelas para uma dimensão que Vanna, Morris e os outros podiam compreender — mas sua voz ainda parecia vibrar em algum plano superior; os sussurros e ruídos sobrepostos em sua mente e percepção tornavam quase impossível para Vanna pensar com clareza.
Depois de um tempo indeterminado, que na verdade pode ter sido apenas um instante, Vanna sentiu que o ruído em sua mente diminuía. Ela massageou a testa e viu Morris, do outro lado, tirar lentamente o cachimbo do bolso. O velho cavalheiro, com as mãos trêmulas, o acendia enquanto resmungava: “… Já me acostumei…”
“Puta merda, que loucura…”, murmurou o Cão, deitado aos pés de Shirley. “Acho que vi o Senhor das Profundezas de novo.”
Nina, por outro lado, parecia pouco afetada. Ela ficou perplexa por um momento antes de voltar a si, e então pareceu mergulhar em pensamentos, lançando olhares furtivos para Duncan de vez em quando, com uma sombra de preocupação nos olhos.
Duncan, no entanto, apenas observava calmamente os olhos de “Helena”. Através daquelas pupilas que pareciam refletir as ondas distantes, ele encarava em silêncio aquela criatura antiga e remota.
Depois de um longo tempo, uma voz, acompanhada pelo suave som das ondas do mar, finalmente chegou aos ouvidos de todos: “Eu entendi… Nos encontraremos novamente.”
O som das ondas se dissipou, e a umidade e o cheiro salgado que pairavam no ar também desapareceram gradualmente. Helena piscou, e os traços desumanos e distorcidos rapidamente se retiraram de seu corpo. Logo em seguida, ela se curvou de repente, com uma respiração ofegante acompanhada de fortes ânsias de vômito. Vanna reagiu imediatamente, correndo para amparar o braço da papisa, ajudando-a a regular a respiração enquanto usava sua Arte Divina para reparar o dano que ela havia sofrido.
Levou um bom tempo para que a respiração de Helena se estabilizasse. Ela ergueu lentamente a cabeça, o rosto pálido e exausto, mas com um sorriso genuíno.
“… Faz muito tempo que eu não tocava a vontade d’Ela”, disse ela em voz baixa. “Eu quase tinha esquecido como era essa sensação…”
“Esqueça a sensação, você quase morreu! Você precisa voltar para a Arca imediatamente, lá poderá estabilizar seu estado mental”, interrompeu Luen, balançando a cabeça para a nostalgia de Helena. Em seguida, o velho elfo voltou seu olhar para Duncan. “Nós devemos partir, Capitão.”
Duncan ergueu a mão. “Fiquem à vontade.”
Depois de recuperar um pouco de força, Helena se levantou do sofá. Ela e Luen se despediram de Duncan e partiram em direção à Arca.
Mas, prestes a deixar a “Mansão da Bruxa”, ela parou e se virou, olhando para Duncan, que ainda estava na sala.
“Vão, vocês têm suas obrigações”, disse Duncan, acenando gentilmente para a papisa que hesitava. “Mesmo que agora seja o fim do mundo, a vida de muitas pessoas precisa continuar — nem que seja por mais um dia.”
Helena assentiu em silêncio, então se virou e, junto com Luen, adentrou a vasta e interminável noite lá fora.
Os dois papas partiram. A porta se fechou, bloqueando a imensa escuridão da noite. O silêncio voltou a reinar na sala. Ao som do crepitar suave da lareira, parecia que todos estavam com a mente cheia, mergulhados em seus próprios pensamentos.
Depois de um longo tempo de reflexão, Duncan quebrou subitamente o silêncio: “… Em uma visita tão curta, um dos dois papas quase perdeu a vida. Será que a Igreja do Mar Profundo vai pensar que tínhamos quinhentos atiradores emboscados nesta casa?”
O fio de pensamento de Lucretia se partiu instantaneamente. Ela ergueu a cabeça e o encarou, de olhos arregalados: “Você passou todo esse tempo em silêncio pensando nisso?”
“Você não acha que é uma preocupação muito pertinente?” perguntou Duncan, olhando para Lucretia com uma expressão séria. “Sua casa já não tem uma boa reputação nesta cidade. Todos pensam que você tem todo tipo de coisa escondida aqui, com crianças e cães de rua do mundo inteiro cozinhando no seu caldeirão…”
“Agradeço a eles pelos rumores, talvez isso me ajude a evitar os panfletos de propaganda que aparecem na minha caixa de correio toda semana”, respondeu Lucretia de olhos arregalados, mas logo suspirou e olhou para a janela. “…Claro, provavelmente não há mais panfletos de propaganda agora.”
Duncan soltou um leve suspiro e levantou-se do sofá.
“Falei demais e também estou um pouco cansado. Vou para o meu quarto descansar. Vocês se arranjem como quiserem, não precisam me esperar para o almoço.”
Com um leve ranger dos degraus da escada para o segundo andar, a figura alta de Duncan desapareceu no topo da escada.
As pessoas que ficaram na sala se entreolharam, parecendo um pouco perdidas por um momento.
“Na verdade, eu não entendi nada do que eles estavam falando”, Shirley foi a primeira a quebrar o silêncio. “Mas uma coisa eu percebi: aquela papisa de antes… não era ela de verdade, era?”
Vanna assentiu lentamente: “A deusa me disse que a conexão deles com o mundo mortal teria um último fortalecimento. Parece que já começou.”
“O que vai acontecer a seguir?” Nina não pôde deixar de perguntar.
“Quem sabe? Antigamente, os otimistas podiam ao menos dizer ‘de qualquer forma, o sol vai nascer como sempre amanhã’, mas agora nem essa frase tem mais força”, disse Morris com a voz baixa, segurando seu cachimbo. “Mas, de qualquer maneira, o amanhã sempre virá, mesmo que seja uma manhã sem o nascer do sol. Como o capitão disse, a vida tem que continuar. Ele tem o que fazer, e nós também.”
O fumo no cachimbo se consumiu lentamente, e as últimas brasas desapareceram na fumaça que se dissipava.
Um vento invisível soprou pela sala de estar, e então papéis coloridos e brilhantes giraram no ar antes de desaparecerem da vista de todos.
Duncan ouviu o som do vento atrás de si e, sentindo uma presença familiar se aproximar, virou-se. Viu a figura de Lucretia se materializando em meio aos papéis coloridos que dançavam no ar.
“Pensei que depois do ‘incidente’ da última vez, você nunca mais usaria esses papéis coloridos para se locomover na minha frente”, disse Duncan, sorrindo. “Não tem medo que minha curiosidade transborde de novo?”
“O senhor vai para além da Cortina Eterna”, disse Lucretia, ignorando-o e olhando para Duncan com uma expressão impassível. “Atravessar a linha crítica das seis milhas náuticas?”
Duncan ficou em silêncio por um momento. “Por que pergunta?”
“O que o senhor procura não está no Mar Infinito. Embora eu não tenha entendido muito bem o que o senhor disse àquela ‘papisa’, eu sei que o senhor vai atravessar aquele véu novamente. E posso sentir que, desta vez, irá mais longe e ficará fora por mais tempo.”
Duncan observou a “bruxa” à sua frente em silêncio. Depois de um longo tempo, ele finalmente falou: “Lucy, você já deve ter visto.”
Pontos de luz estelar apareceram vagamente na sala e, no jogo de luz e sombra, o canto dos olhos de Lucretia pareceu refletir um céu estrelado distante.
“Eu vi”, disse a “Bruxa do Mar” com total franqueza. “Na verdade, eu vi desde a primeira vez que o senhor apareceu na minha frente.”
A luz das estrelas se desvaneceu. Duncan olhou para a “bruxa” com alguma surpresa.
“Então você deveria saber que, na verdade, eu não sou…”
“Nina nunca se importou se o senhor é ou não o ‘Tio Duncan’ dela”, disse Lucretia calmamente.
Duncan suspirou, um sorriso de resignação no rosto.
“Nas profundezas da luz estelar, consigo ver a sombra do meu pai, quer o senhor mesmo reconheça isso ou não”, Lucretia balançou a cabeça suavemente. “Eu sei que o senhor realmente voltou a este mundo, embora de uma forma que ainda não consigo compreender, mas o senhor está aqui, exatamente como em minhas memórias. E agora está partindo de novo… parece que é como daquela vez.”
Ela fez uma pausa, sua expressão tornando-se séria. “O senhor se lembra? Nós conversamos sobre isso.”
“… Levar você comigo. Sim, eu me lembro”, Duncan finalmente assentiu lentamente. “Tudo bem, Lucy, admito que, antes de você chegar, eu considerei brevemente a possibilidade de partir sozinho. Não se apresse em julgar, foi só uma consideração, não tive a intenção de colocar em prática…”
Talvez o olhar inexpressivo da bruxa fosse realmente intimidador. Ao final de sua fala, Duncan acrescentou algumas palavras com uma ponta de culpa. Mas, de repente, ele notou que no fundo dos olhos de Lucretia havia um traço de sorriso.
A jovem bruxa finalmente não conseguiu se conter e um sorriso franco floresceu em seu rosto.
Duncan franziu a testa. “Do que você está rindo?”
“… O senhor costumava se atrapalhar assim para me explicar as coisas, embora fosse muito, muito raro”, disse Lucretia, sorrindo alegremente. “A última vez foi quando o senhor quebrou minha presilha de cabelo.”
Duncan ficou atônito e, sem saber o que fazer, abriu as mãos em um gesto de rendição.
Então, um clarão vindo da janela interrompeu subitamente o que ele ia dizer.
Ele hesitou por um segundo, e então, junto com Lucretia, correu para a janela.
Na tênue “luz do sol” dourada que emanava do Corpo Geométrico de Luz, um arco ainda mais brilhante emergia lentamente no horizonte distante da cidade.
Duncan olhou para o “arco de luz” com curiosidade, e então, de repente, compreendeu.
Na loja de antiguidades de Pland, seu olhar atravessou a janela aberta do segundo andar e viu uma cena ainda mais clara:
Um brilho dourado e resplandecente subia lentamente no horizonte do mar.
Nos primeiros dez segundos, que encheram inúmeras pessoas de excitação e euforia, quase todos pensaram que era o nascer do sol.
Até que o arco dourado subiu completamente acima da superfície do mar e começou a acelerar em direção ao céu a uma velocidade espantosa. Até que sua estrutura fragmentada se tornou cada vez mais clara para todos, desintegrando-se ainda mais à medida que subia.
Duncan finalmente viu claramente o que era aquilo.
Era um quarto da estrutura de um anel, parecendo ser apenas uma parte do anel rúnico externo do Fenômeno 001. Sua borda arqueada e brilhante estava coberta de fissuras escuras visíveis a olho nu, e essas fissuras acabaram fazendo com que todo o “arco de luz” se dividisse em mais de uma dúzia de estruturas luminosas dispostas de forma irregular durante sua ascensão. Em pouco mais de dez minutos, esse “conjunto luminoso”, cada vez mais disperso, acelerou até atingir a altura do sol por volta das nove ou dez horas.
Então, aquele solitário anel rúnico que subiu aos céus se desintegrou completamente.
Acompanhado por um estrondo que quase abalou o mundo inteiro, por um uivo aterrorizante e por um clarão que rasgou os céus, o conjunto luminoso se transformou em mais de uma dúzia de “estrelas cadentes” que cruzaram o firmamento, caindo sobre a humanidade.

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