Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Quando a porta se abriu, duas figuras familiares, porém inesperadas, estavam do lado de fora. Uma era Helena, vestida com um longo vestido azul-marinho; a outra era Frem, excepcionalmente alto, com a pele de uma textura que lembrava rocha.

    Dois carros a vapor sem identificação estavam parados em um cruzamento próximo, seus faróis perfurando a escuridão da noite. Alguns guardas da igreja permaneciam em silêncio ao lado dos veículos, como estátuas imóveis na noite.

    Lucretia olhou para os visitantes inesperados e franziu a testa: “Por que todos vocês gostam tanto de ‘fazer uma visita’ hoje em dia?”

    “Desculpe o incômodo, mas é algo muito importante”, disse Helena, ignorando completamente a expressão de desdém no rosto de Lucretia. Enquanto falava, ela já entrava como se fosse de casa. “Vamos entrar. Frem e eu viemos em segredo desta vez, não quero que muitas pessoas percebam…”

    Antes que Lucretia pudesse reagir, a papisa, que representava a mais alta autoridade da Igreja do Mar Profundo, já havia entrado agilmente pela porta. Frem sorriu sem graça e, enquanto a seguia, pediu desculpas à dona da casa: “Desculpe, desculpe, Helena sempre foi muito decidida. E realmente aconteceu algo incomum, o ‘Capitão’ deve se interessar por isso…”

    Lucretia não conseguiu impedi-los e só pôde virar a cabeça e olhar de olhos arregalados para as duas “grandes figuras” que entravam à força: “Ei, vocês… esta é a minha casa!”

    No entanto, a aversão social da jovem bruxa não foi capaz de deter a determinação dos dois papas. Lutar não era uma opção, e barrá-los era inapropriado. Quando ela se deu conta, os dois visitantes inesperados já haviam invadido sua casa com sucesso…

    Duncan, que permanecera na sala de estar, já tinha ouvido a agitação na porta. Ao levantar a cabeça, viu Helena e Frem entrando. A primeira já o havia visitado recentemente com Luen, mas era a primeira vez que via o segundo na Cidade-Estado, o que o deixou curioso: “Vocês, papas, costumam andar por aí assim? Têm tanto tempo livre nesta época?”

    Helena percebeu o tom de brincadeira nas palavras de Duncan, mas não se importou. Sentou-se no sofá à sua frente e falou com uma expressão séria: “Trazemos notícias dos deuses — informações de além da Cortina Eterna.”

    Assim que Helena terminou de falar, Duncan desfez a expressão de zombaria em seu rosto. As pistas se reorganizaram em sua mente em um instante, e ele imediatamente as associou às informações que acabara de receber de Lawrence. Até mesmo Lucretia, que se aproximava com uma expressão de impaciência, parou de repente, um ar pensativo em seu rosto.

    Helena notou imediatamente a sutil mudança de atmosfera na sala. Ela franziu a testa, mas antes que pudesse falar, Vanna, que estava de pé ao lado do sofá, quebrou o silêncio em voz baixa: “Canção do Mar?”

    Helena ajustou instintivamente sua postura. “Vocês…”

    “Se você não tivesse vindo me visitar hoje, eu mesmo teria ido procurá-la”, disse Duncan lentamente. “Também acabei de receber algumas notícias sobre o ‘Canção do Mar’. Parece que não é coincidência… mas quero ouvir primeiro as informações que vocês trouxeram. O que aconteceu com aquele navio?”

    Helena e Frem se entreolharam. O último assentiu levemente e se virou para Duncan, falando com uma expressão grave: “O Canção do Mar retornou em dezembro de 1675.”

    A sala ficou em silêncio por um instante, até que Shirley finalmente não conseguiu se conter e exclamou, quebrando a quietude: “O quê?! Trezentos e vinte e poucos anos atrás?!”

    A sala ficou ainda mais silenciosa. Alice, depois de fazer as contas por um tempo, cutucou o braço de Shirley com cuidado: “Acho que foram duzentos e vinte e poucos anos atrás…”

    Shirley ficou pasma por um momento e, recompondo-se, exclamou novamente: “O quê?! Duzentos e vinte e poucos anos atrás?!”

    Os dois papas, que provavelmente nunca tinham lidado com alguém como Shirley, ficaram sem palavras: “…”

    “Não se preocupem com ela, a matemática dela não é muito boa”, felizmente, Duncan já estava acostumado e acenou com a mão para trazer a atenção de Helena e Frem de volta. “Vamos ao que interessa. O Canção do Mar realmente retornou em 1675? Como vocês descobriram ou confirmaram isso?”

    “…A história foi perfurada. Na trajetória normal da história, há um buraco”, disse Frem com a voz grave. “Eu senti esse buraco e encontrei as pistas correspondentes nas lajes de anotações deixadas pelos papas dos Portadores da Chama anteriores…”

    Ele fez uma pausa, como se estivesse organizando as palavras, e depois continuou: “Em dezembro de 1675, um navio estranho e dilapidado, como um fantasma, apareceu na fronteira leste e, pouco tempo depois, desintegrou-se e desapareceu no mar. A única coisa que as pessoas puderam confirmar antes de seu desaparecimento foi o nome ‘Canção do Mar’ em seu casco.”

    “Este evento foi registrado nos arquivos do Santuário dos Portadores da Chama, mas, além das palavras na laje de anotações, não há registros correspondentes em nenhum arquivo ou dossiê daquele ano. É como uma sombra que de repente caiu na dimensão da realidade vinda de uma fenda na história. Apenas o papa dos Portadores da Chama daquela época viu e se lembrou dessa aparição… ou melhor, apenas o registro deixado por aquele papa deixou um ‘rastro’ na história.”

    “… Por que isso aconteceria?”, Morris não pôde deixar de perguntar. “Isso é algum tipo de contaminação histórica? Ou uma alteração…”

    “Foi a incompletude do tempo que levou ao evento de penetração histórica”, disse Frem, balançando lentamente a cabeça. “O Canção do Mar deve ter se desprendido da linha do tempo normal por algum motivo acidental e, em um estado sem sequência temporal, começou a ‘derivar’. Finalmente, no ponto do tempo de ‘1675’, ele retornou a este mundo…”

    Ele parou para pensar um pouco e continuou a explicar: “É como se houvesse inúmeras partículas de poeira presas dentro de um pneu em movimento. Se uma dessas partículas se soltar da parede interna e flutuar livremente, quando for novamente atraída pela parede, ela poderá aparecer em qualquer ponto do pneu.”

    ‘Desprendido da linha do tempo normal… derivando em um estado sem sequência temporal…’

    Ouvindo a explicação de Frem, Duncan franziu a testa pouco a pouco, uma expressão pensativa em seu rosto.

    Lucretia e Morris também pareceram ter entendido algo, uma centelha de compreensão em seus olhares.

    Apenas Alice e Shirley, ao ouvirem uma teoria tão fora do senso comum, mantiveram seus olhares límpidos, aparentemente intocadas pela contaminação do conhecimento…

    “Então é isso”, Lucretia falou de repente em voz baixa. Ela assentiu levemente para Duncan. “Assim, a experiência daquele ‘Marinheiro’ pode ser explicada.”

    “Marinheiro?”, perguntou Helena, confusa. “O ‘Marinheiro’ de quem vocês estão falando é…”

    “O ‘imediato’ do Canção do Mar. Ele ainda existe neste mundo, embora… tenha mudado muito.”

    Duncan tomou a palavra, sem esconder as informações que havia recebido de Lawrence. Nos dez minutos seguintes, ele contou tudo o que sabia.

    Helena e Frem se entreolharam.

    Após um momento de hesitação, Helena falou de repente: “Preciso ver esse ‘Marinheiro’.”

    “Ele está agora em uma pequena Cidade-Estado perto da fronteira sudoeste, ‘Faerun’, com outro grupo de meus seguidores”, Duncan assentiu. “Posso ‘trazê-lo’ para cá a qualquer momento, mas primeiro preciso consultar o interessado.”

    Helena pareceu não entender de imediato: “Consultar… a opinião dele?”

    “Ele passou por muitas coisas que pessoas comuns dificilmente poderiam imaginar. E talvez a jornada perdida do Canção do Mar além da fronteira tenha completado o ‘ciclo da história’, e todas as memórias ressurgiram em sua mente quase que instantaneamente”, disse Duncan, muito sério. “Ele pode não ser mais o ‘imediato do Canção do Mar’ que você conheceu. Ele pode não querer mais ter contato com o pessoal da Igreja do Mar Profundo…”

    “Ah, não estou surpresa com isso, posso imaginar o estado atual do ‘Marinheiro’”, disse Helena, olhando para Duncan com uma expressão estranha. “Só estou surpresa que, em um assunto como este, o senhor respeite tanto os desejos de seus seguidores e se preocupe com os sentimentos deles…”

    O canto da boca de Duncan se contraiu: “…Qual é exatamente a imagem que vocês têm de mim?”

    O rosto de Helena endureceu, e ela tentou consertar a situação rapidamente: “Um capitão confiável, um explorador respeitável. Embora haja muitos mal-entendidos, nós acreditamos que o senhor…”

    “…Está sempre cercado por inúmeras sombras do Subespaço, com crianças e cães de rua do mundo inteiro cozinhando no seu caldeirão…”, Frem comentou casualmente.

    Helena: “…”

    “Não fui eu que disse isso”, Frem olhou para Helena com uma expressão impassível. “Foi o que você e Banster disseram quando estavam conversando.”

    “…Isso foi apenas uma figura de linguagem exagerada! E isso foi no ano passado!”, Helena quase saltou. “Por que você se lembra disso?!”

    A expressão de Frem nem sequer mudou. Ele apenas virou a cabeça lentamente para Duncan, o rosto ainda com aquela calma e serenidade de uma estátua de pedra: “Foi exatamente o que eles disseram.”

    Duncan ficou em silêncio por alguns segundos e virou-se para o lado.

    Lucretia estava de pé ao seu lado, com o rosto sério.

    O rosto da jovem bruxa estava vermelho — não rir foi a última cortesia que ela demonstrou ao pai.

    Duncan suspirou: “…Vou contatar Lawrence.”


    “A situação é esta”, disse Lawrence, sentado na cadeira em frente à Anomalia 077, com uma expressão séria. “Agora, o Capitão Duncan quer vê-lo, e Sua Santidade, a Papisa da Igreja do Mar Profundo, também está esperando. Se você estiver disposto, pode partir imediatamente. O capitão me permitiu usar seu fogo para invocar uma mensageira. Ai pode transportá-lo para Porto Brisa em um instante.”

    A Anomalia 077, a essa altura, já havia superado o choque e a confusão iniciais de suas memórias. Ele se acalmara gradualmente e recuperara um pouco de seu estado normal.

    Agora, ele estava cheio de preocupações.

    “Eu… não sei o que fazer”, ele suspirou, sem esconder sua hesitação diante de Lawrence. “Lembrei-me de muitas coisas, mas as lembranças de antes da partida do Canção do Mar são vagas. Sei que era o imediato do Canção do Mar, mas essa identidade parece um estranho no espelho para mim… E, mais importante, eu perdi aquele diário de bordo…”

    “Se você está preocupado com o diário deixado pela Capitã Kalani…”, Lawrence hesitou por um momento e disse lentamente. “Talvez você não o tenha perdido.”

    O Marinheiro ficou atônito e ergueu a cabeça abruptamente: “Hã?”

    “Você disse que se lembra de ter guardado o diário dela consigo antes da Capitã Kalani desaparecer, e que o manteve sempre junto ao corpo. Na verdade, ele esteve sempre com você”, disse Lawrence, olhando seriamente nos olhos do Marinheiro e falando pausadamente, palavra por palavra. “Você ainda se lembra do que sempre esteve com você?”

    O Marinheiro ficou pasmo, como se estivesse começando a entender.

    “Encontramos alguns vestígios muito tênues em sua mortalha”, disse Lawrence.

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