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    Ao ver Shirley caminhando em sua direção com uma aura de pura hostilidade, Duncan suspirou. No fundo, ele já sabia que esse problema acabaria parando em suas mãos.

    Apesar disso, ele não parecia particularmente preocupado. Embora, objetivamente falando, ele quase não tivesse experiência de combate e a garota à sua frente parecesse capaz de invadir e sair ilesa de uma batalha épica sozinha, ele não estava nervoso.

    Primeiro, ele tinha uma pomba que era excelente em ‘ataques retardados’. A habilidade de Ai funcionava de forma instantânea em seu alcance, mais rápida que qualquer arma. Se Shirley realmente tentasse atacá-lo com aquele cão, ela provavelmente seria interceptada no ar, com um ‘lag’ mortal causado pela pomba.

    Segundo, Duncan tinha em seu controle a Chama Espiritual, eficaz contra qualquer fenômeno sobrenatural. Aquele fogo era capaz de controlar até o Banido e, certamente, não deveria ter dificuldades com o Cão de Caça Abissal. No pior dos casos, ele poderia envolver o corpo com as chamas e usar seu dom mais refinado: “Vocês parecem ter afinidade comigo.”

    Por último, mas não menos importante, o corpo que ele usava não era sua forma verdadeira.

    Afinal, o que ele estava utilizando era apenas uma manifestação. Embora, sob a perspectiva biológica, o corpo parecesse vivo, sua essência era apenas uma carcaça animada por energia espiritual. Duncan não precisava que a integridade física do corpo fosse mantida para controlá-lo. Assim como na ocasião nos esgotos, quando o corpo continuou a funcionar mesmo sem um coração, ele sabia que poderia continuar usando-o desde que estivesse ‘presente’.

    Ele até suspeitava que, mesmo se Shirley o desmembrasse, ele ainda poderia comandar cada parte separadamente e, eventualmente, reuni-las.

    Sua única preocupação era outra: se Shirley o espancasse até quebrar todos os ossos, como ele explicaria à Nina que o ‘tio’ dela tinha ossos tão ‘únicos’?

    Duncan permaneceu onde estava, observando com calma a garota de vestido preto se aproximar. Ele notou como a corrente negra em sua mão balançava no ar, enquanto o sinistro Cão de Caça Abissal seguia com passos lentos e indecifráveis ao seu lado.

    Devido à batalha anterior, sangue manchava o braço e o rosto de Shirley. A visão destruía completamente a impressão inicial de uma jovem quieta e educada, substituindo-a por uma imagem perigosa e desconcertante.

    “Você não parece assustado. Definitivamente tem algo estranho aí”, Shirley disse ao parar a poucos metros de Duncan. Ela o observou com as sobrancelhas franzidas. Enquanto falava, sua mão direita se ergueu lentamente, quase imperceptivelmente. “Vai desistir de resistir?”

    Duncan pensou por um momento e respondeu:
    “E se eu disser que não sou um deles? Você acreditaria?”

    Enquanto dizia isso, ele moveu os dedos no bolso discretamente, fazendo com que as Chamas Espirituais começassem a fluir sob suas roupas, prontas para reagir caso Shirley decidisse usar o cão como arma.

    Shirley ficou momentaneamente confusa. Uma expressão de incredulidade e desdém surgiu em seu rosto manchado de sangue:
    “Você acha que eu…”

    Antes que ela pudesse terminar a frase, o Cão de Caça Abissal ao lado dela interrompeu. Com uma voz rouca e profunda, vinda de sua garganta óssea, ele disse:
    “Eu acredito.”

    “Ah… Ah?!” Shirley olhou para sua invocação em choque. “Cão, você bateu a cabeça? Esse cara…”

    “Espere um pouco”, interrompeu o Cão de Caça Abissal. Ele balançou a cabeça e, sob o olhar perplexo de Duncan, deu alguns passos para o lado. Em seguida, estendeu o pescoço e…
    Urgh…”

    O som alto e repugnante de vômito ecoou pelo espaço subterrâneo manchado de sangue. O aterrorizante demônio vindo das profundezas abissais começou a se contorcer violentamente, expelindo incontáveis chamas negras sufocantes, cinzas e uma substância escura e corrosiva, semelhante a ácido. O chão de concreto e aço foi corroído pelos fluidos, emitindo um som de chiado, enquanto rapidamente afundava em depressões deformadas.

    Duncan, com uma expressão inalterada, observou a cena. Em sua mente, começou a refletir se havia descoberto o ponto fraco da força de combate de Shirley. Embora a garota fosse extremamente forte, com golpes implacáveis e um estilo de luta imprevisível, parecia evidente que ela não era adequada para combates prolongados.

    A fraqueza estava no método dela: o corpo humano aguenta, mas o cão, não.

    A situação no local ficou embaraçosa por uns dois ou três minutos. Quando o Cão de Caça Abissal finalmente terminou de vomitar, Duncan não pôde evitar inclinar a cabeça para olhar a criatura:
    “… Você está bem?”

    Imediatamente, o cão abaixou a cabeça. Sua cauda, formada por ossos curvados, foi instintivamente enfiada entre as pernas:
    “Obrigado por sua preocupação, espero que meu comportamento inadequado não tenha manchado seus olhos. Se não houver mais nada, com sua permissão, podemos ir embora agora…”

    Duncan ainda estava processando o comportamento incomum do cão quando Shirley gritou surpresa:
    “Cão, você está mesmo bem? Eu realmente bati sua cabeça tão forte assim? Você nunca foi tão educado com um humano antes! Normalmente, quem fica na sua frente não consegue salvar nem o próprio pescoço depois de dez segundos!”

    Nesse momento, algo despertou em Duncan. Ele de repente fixou seu olhar no Cão de Caça Abissal, sua expressão ficando séria.

    Pelas palavras do sacerdote do Sol Negro anteriormente, aquela ‘criatura’ era um demônio invocado das profundezas abissais. Sem entrar no mérito de como o Culto da Aniquilação conseguia realizar tal invocação, ou o que exatamente habitava as profundezas, uma coisa era clara:

    O cão tinha medo dele. Esse demônio das profundezas parecia enxergar algo além da aparência humana de Duncan.

    “Você sabe quem eu sou?” Duncan perguntou calmamente. “Você me conhece?”

    “Não conheço, não conheço”, respondeu o Cão de Caça Abissal, sem nem levantar a cabeça. “Definitivamente não conheço… Mas, sem dúvida, você é uma pessoa importante.”

    Duncan franziu a testa e perguntou novamente:
    “Aos seus olhos, eu não pareço humano, certo?”

    A criatura hesitou. Cautelosa, levantou os olhos para encarar Duncan antes de responder, hesitante:
    “Você… parece… mas, ao mesmo tempo, não parece.”

    Duncan desviou o olhar e virou-se para Shirley.

    A garota de vestido preto estava agora encarando a cena com uma mistura de confusão e incerteza. A hostilidade inicial havia desaparecido, substituída por uma perplexidade e um estado de alerta evidentes.

    A garota parecia ter um temperamento impulsivo, mas claramente não era tola. Após observar as reações anormais de seu ‘cão de estimação’ por tanto tempo, mesmo a pessoa mais imprudente teria começado a se acalmar e perceber que algo estava errado.

    Ela apertou discretamente a corrente que a conectava ao Cão de Caça Abissal e deu meio passo para trás, observando Duncan com cautela.
    “Você disse que não faz parte do grupo deles…”

    “Exatamente”, respondeu Duncan, abrindo as mãos. “Sei que é difícil de acreditar, mas também me infiltrei aqui para coletar informações.”

    “Eu acredito”, Shirley respondeu sem hesitar.

    Dessa vez, foi a vez de Duncan ficar surpreso. Ele percebeu que a impressão que tinha da garota mudava constantemente. No início, pela aparência, ele achava que ela era uma jovem calma e educada. Então, ela revelou um lado violento e sanguinário. Agora, ele a considerava impulsiva e teimosa, mas sua capacidade de se adaptar e recuar em momentos críticos era ainda mais rápida do que ele havia imaginado.

    Que tipo de ambiente poderia criar uma pessoa assim?

    Esses pensamentos peculiares passaram pela mente de Duncan enquanto ele tentava processar a atitude inesperadamente pragmática da garota. Ele finalmente se recompôs e formulou sua próxima pergunta:
    “Por que, durante a reunião, você olhou para mim duas vezes?”

    “Foi porque o Cão estava te observando”, Shirley respondeu de má vontade, mas ainda assim colaborou. “Eu só fiquei curiosa e olhei também…”

    “O Cão? Está falando dessa criatura?” Duncan franziu a testa e lançou um olhar para o Cão de Caça Abissal. “Eu ouvi aquele sacerdote mencionar o Culto da Aniquilação. É uma seita que adora as profundezas abissais? Qual é sua ligação com eles?”

    “Eu não tenho nada a ver com eles!” Shirley imediatamente respondeu, com um tom defensivo e enfático. “Se eles adoram as profundezas abissais, é problema deles. Eu e o Cão nos conhecemos por outros motivos!”

    Os olhos de Duncan pousaram na corrente que conectava a garota ao Cão de Caça Abissal.

    Pelas informações que ele havia coletado, o Culto da Aniquilação venerava as profundezas abissais, sendo capaz de invocar demônios de lá e, geralmente, utilizava esses demônios para canalizar feitiços em combate. Essa parecia ser uma característica marcante do culto. O sacerdote do Sol Negro havia presumido que Shirley era parte dessa seita devido ao cão que ela havia invocado. Embora ele tenha julgado errado e sofrido as consequências, Duncan acreditava que, em circunstâncias normais, essa informação era confiável.

    A única variável era a garota peculiar à sua frente.

    Ela parecia odiar ser associada a cultistas, mesmo tendo uma criatura das profundezas ao seu lado.

    “Se não tem relação, então não tem”, Duncan disse, balançando a cabeça. Ele então perguntou: “Por que você está aqui? O que está investigando?”

    Shirley mordeu os lábios. Ela parecia relutante em responder, mas as contínuas reações nervosas do Cão de Caça Abissal ao lado dela deixaram claro que o homem diante deles era extremamente perigoso. A melhor opção era cooperar.

    “Eu…”

    Shirley mal havia começado a falar quando uma explosão repentina ressoou pelo porão. Um intenso fogo iluminou o ambiente quando uma bola de fogo disparou de um dos lados!

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