Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O Marinheiro se tornou um novo e especial residente na “Mansão da Bruxa” — mas sua chegada parecia não ter tido o menor impacto no funcionamento diário da mansão.

    Na maior parte do tempo, o corpo ressecado podia ficar parado em um lugar como um cadáver de verdade. Ele não precisava comer, não precisava dormir, e se ninguém falasse com ele, poderia passar dois ou três dias sem abrir a boca. Ele sempre ficava em seu canto silencioso, como se estivesse pensando em algo, encontrava um lugar e ficava olhando para o nada o dia inteiro, sem se mover um centímetro.

    Isso fez com que as outras pessoas na casa quase se esquecessem de que havia um novo “hóspede” ali.

    Somente quando Luni estava limpando é que ela trocava algumas palavras com o corpo ressecado, e a conversa se resumia a algumas frases:

    “Ah, chegue um pouco para o lado.” “Certo.” “Pronto, pode voltar.” “Ok.”

    Os dias passaram assim, um após o outro. No terceiro dia, a dona da casa finalmente não aguentou mais. Lucretia encontrou o “Marinheiro” no depósito do porão, deitado em uma pilha de tralha, fingindo ser um cadáver: “Pelo que meu pai descreveu de você no Carvalho Branco, você não era assim. Fazia bastante barulho pulando para cima e para baixo. Como ficou tão quieto aqui?”

    “Ser quieto, não é bom?”, O Marinheiro se sentou do meio da pilha de tralha, olhando nos olhos da bruxa na escuridão. “Pelo que sei, a senhora é uma pessoa que gosta de tranquilidade.”

    Lucretia ficou perplexa por um momento: “Bem… não é que seja ruim. Não, o que eu queria dizer…”

    Mas suas palavras foram interrompidas no meio.

    “Estou guardando minhas energias para a longa viagem”, disse O Marinheiro de repente, e o olhar do corpo ressecado tinha se tornado sério em algum momento. “Teremos uma viagem histórica, senhora. Embora o capitão não tenha dito, a senhora também deve saber do plano dele. Então, nos próximos dias, preciso ajustar meu estado. O capitão me disse para descansar mais nestes dias e tentar me lembrar o máximo possível sobre o ‘Canção do Mar’. É o que tenho feito nos últimos dois dias.”

    “Longa viagem…” A expressão de Lucretia mudou de forma quase imperceptível, mas ela se recuperou imediatamente. “Então, o que você lembrou?”

    “A Capitã Kalani era uma boa pessoa, o refeitório do Canção do Mar era terrível, os tripulantes do segundo turno estavam sempre fazendo barulho e, além disso, havia a névoa, uma névoa que parecia não ter fim”, O Marinheiro se espreguiçou, e suas articulações secas e retorcidas emitiram uma série de estalos terríveis, como se fossem se romper. Em seguida, ele se inclinou para trás e deitou-se novamente na pilha de tralha. “Desculpe desapontá-la, não me lembrei de nada relacionado à ‘rota’, embora o capitão pareça ter muita confiança em mim…”

    Poucas pessoas se atreviam a agir de forma tão preguiçosa e desrespeitosa na frente da “Bruxa do Mar”. As sobrancelhas de Lucretia se arquearam involuntariamente, mas logo ela voltou à sua expressão impassível de sempre: “Meu pai sempre tem seus métodos.”

    O Marinheiro, deitado na pilha de tralha, estalou os lábios de forma evasiva e, de repente, mudou de assunto: “E a senhora? O seu Brilho Estelar está pronto para partir?”

    Lucretia não respondeu, apenas franziu a testa.

    “A senhora ainda sente resistência, consigo ver sua hesitação”, disse o Marinheiro calmamente. “Eu imagino ao que a senhora está resistindo… mas, por favor, prepare-se. Esta pode ser a maior viagem de todos os tempos, e talvez a última. Pelo menos desta vez, a senhora pode escolher partir junto com seu pai…”

    Um olhar calmo, mas que continha uma pressão imensa, fez o corpo ressecado calar a boca.

    “Alguém já te disse que você fala demais?”

    O Marinheiro pensou um pouco: “…Estou aqui há três dias, e só hoje falei um pouco mais… Tudo bem, não falo mais.”

    Lucretia observou o corpo ressecado em silêncio por um momento, finalmente desviou o olhar e se virou em direção à porta: “O Brilho Estelar está sempre pronto para uma longa viagem.”

    Mas ela mal deu meio passo quando foi chamada pelo Marinheiro: “Ei, espere um momento, tem mais uma coisa…”

    Lucretia parou e se virou, intrigada: “O que mais?”

    “Ajude-me a encaixar minha lombar e meu ombro de volta…” O Marinheiro continuou naquela postura arrogante, deitado na pilha de tralha, incapaz de se mover. “Estiquei demais ao me espreguiçar, e as articulações se deslocaram…”

    A expressão de Lucretia finalmente teve uma mudança sutil. Ela observou o corpo ressecado por dois ou três segundos e, por fim, virou a cabeça e saiu sem hesitar: “Fique aí deitado.”


    Duncan parou de escrever e olhou para o lado. A noite lá fora continuava, e a luz elétrica brilhante iluminava o escritório. Alice estava sentada em silêncio em uma cadeira de encosto perto da janela, a luz incidindo sobre os ombros da boneca. Ela estava de olhos semicerrados, como se estivesse prestes a cair no sono.

    Mas, ao perceber o olhar vindo da direção da escrivaninha, a boneca abriu os olhos imediatamente. Ela olhou para Duncan, com um sorriso feliz no rosto: “Capitão! O senhor terminou de escrever?”

    Enquanto falava, ela se levantou da cadeira e se aproximou de Duncan.

    “Terminei”, disse Duncan casualmente. Ele não guardou seu diário, mas o deixou aberto sobre a mesa, pois sabia que ninguém no mundo conseguia entender o que ele escrevia. “Se estiver com sono, volte para o seu quarto para descansar. Não precisa ficar me acompanhando.”

    “Não estou com sono, não estou!”, Alice acenou com as mãos imediatamente. Em seguida, seu olhar pousou curiosamente no diário do capitão. “Este é o seu diário? Uh… por que não consigo entender uma palavra sequer…”

    Duncan sorriu e balançou a cabeça, sem explicar nada, apenas perguntou casualmente: “Você quer tentar escrever um diário?”

    “Eu?”, Alice ficou surpresa por um momento, mas logo balançou a cabeça. “Eu não sei como… Também não sei o que escrever, e isso exige conhecer muitas palavras, não é…?”

    Duncan riu: “Basta registrar coisas que você acha significativas ou interessantes. Para escrever um diário, não precisa de muitas palavras. O vocabulário que você domina agora já deve ser suficiente. Se houver algo que você realmente não saiba escrever, pode desenhar.”

    A boneca ouvia em silêncio, e seus olhos pareciam brilhar gradualmente.

    “Eu sei desenhar!”, disse ela muito feliz.

    Embora o seu “saber desenhar” se limitasse a permitir que as pessoas distinguissem se o desenho era um homem, uma mulher, uma pessoa ou um cachorro, desde que Duncan lhe ensinou as técnicas básicas de desenho, ela sempre se orgulhou de já “saber desenhar”.

    Duncan apenas sorriu, depois estendeu a mão e pegou um novo diário da gaveta, prendeu um lápis nele e o entregou à boneca.

    “É um presente para você, eu trouxe do navio”, disse ele. “Você pode anotar nele as coisas que quiser lembrar.”

    Alice pegou o “novo presente” do capitão com muita alegria. Ela folheou o diário em branco e depois se debruçou diretamente na escrivaninha, parecendo que ia escrever algo no caderno. Mas, assim que pegou o lápis, pensou em um novo problema e ergueu a cabeça para olhar para Duncan: “Por que o senhor de repente quer que eu escreva um diário?”

    Duncan ficou perplexo por um momento. Ele não esperava que a boneca perguntasse isso de repente. Após um breve momento de reflexão, ele assentiu: “Vamos partir em breve, para um lugar muito distante. Na viagem, podemos ver todo tipo de coisas… A memória é curta. Se não quiser perder as paisagens da jornada, é necessário registrá-las de forma segura.”

    Alice ouvia as palavras do capitão, meio que entendendo, meio que não. Ninguém sabia o que a boneca estava pensando naquele momento. Alguns segundos depois, ela apenas assentiu com um “oh” e, em seguida, abaixou a cabeça e escreveu com muita seriedade algumas palavras na página de rosto do diário com o lápis: “O Diário de Alice”.

    “Terminei!”, ela mostrou alegremente o nome que acabara de escrever para o capitão.

    A linha de letras estava torta, mas era, de fato, a melhor que ela já tinha escrito desde que começou a aprender a ler e a escrever com Duncan.

    “Muito bom”, Duncan assentiu com um sorriso, mas logo em seguida não pôde deixar de lembrá-la: “Mas um diário normalmente não se mostra para ninguém. Você tem que guardá-lo bem…”

    Alice inclinou a cabeça, apontando para o diário de Duncan na mesa: “Mas o senhor me mostrou o seu.”

    A expressão de Duncan congelou: “…Isso é porque eu sei que você não consegue ler o que está escrito aqui.”

    “…Oh”, Alice coçou a cabeça, olhando para seu próprio diário com um ar de conflito. “Nem para o senhor eu posso mostrar?”

    “Não pode”, disse Duncan com muita seriedade. Mas, logo em seguida, notou o conflito e a impotência na expressão da boneca e, depois de pensar um pouco, acrescentou: “Mas se houver algo que você queira muito compartilhar comigo, então pode. Fora isso, eu não vou olhar. São seus segredos.”

    A boneca ficou feliz novamente: “Ok!”

    Duncan se sentiu um pouco resignado, mas, de qualquer forma, com essa distração da boneca, seu humor melhorou bastante.

    Alice não pensou muito, mas podia sentir que o humor do capitão estava melhorando, e isso a deixou muito feliz. Ela observou Duncan guardar o diário na mesa e, depois de pensar um pouco, perguntou casualmente: “Capitão, vamos para a fronteira agora?”

    Duncan olhou para a boneca com surpresa.

    “Foi a senhorita Vanna que me contou”, disse Alice imediatamente. “Ela também disse que partimos em dois dias. Desta vez, temos que levar comida e água suficientes no navio, porque o lugar para onde vamos pode ser muito especial…”

    Duncan assentiu levemente: “Isso mesmo, será muito especial… um lugar onde nem eu sei exatamente como é ou o que vai acontecer.”

    “…Mais longe do que aquela ‘ilha do santuário’ de antes?”

    “Mais longe ainda.”

    “Oh—”

    Alice prolongou o som, como se estivesse se esforçando para imaginar como seria um lugar mais distante que a ilha do santuário, mas não conseguia imaginar.

    “Você não está preocupada?”, Duncan olhou curiosamente para a boneca à sua frente. Naquele olhar límpido, ele parecia não ver nenhum traço de inquietação.

    Alice segurou a cabeça e balançou-a com força.

    Duncan pensou um pouco e, deliberadamente, tornou as coisas um pouco mais sérias: “Podemos nos perder além da fronteira, encontrar falhas no tempo. Mesmo com preparativos completos, podemos levar muito, muito tempo para voltar… ou, simplesmente, não conseguir voltar.”

    Alice, no entanto, continuou balançando a cabeça e, de repente, abriu um sorriso.

    “Não tenha medo, eu vou trazer você de volta.”

    “Você? Me trazer de volta?”

    “Sim!”

    Duncan riu, surpreso e resignado: “Como você vai me trazer de volta?”

    “Eu não sei!”, Alice respondeu sem hesitar.

    Duncan: “…”

    Ele olhou, um pouco resignado, para a boneca que parecia estar sempre confusa, para aquele sorriso confiante em um rosto que abrigava uma mente cheia de confusão.

    Mas, de repente, ele pareceu ter pensado em algo. Ao olhar para Alice novamente, sua expressão resignada trazia um traço de reflexão…

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota