Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Os caminhantes cegos e em transe vagavam do lado de fora da usina de energia. Na névoa densa, ouvia-se o zumbido baixo das instalações de energia do porto. O núcleo de vapor frio funcionava em vazio, o próprio vapor tendo se tornado parte de uma anomalia distorcida, e o abrigo da chama já havia se dissipado.

    Mas o próprio “abrigo” no mundo de hoje já era dispensável. A fronteira entre o “normal” e o “anormal” há muito se tornara tênue. Quando todas as mentes caíram junto com o mundo, a “razão” tornou-se, aos olhos deste mundo, loucura e contaminação. Agora, os loucos se reuniam dentro dos altos muros, construindo o último abrigo, observando com apreensão o mundo exterior mergulhar gradualmente na escuridão.

    “Prepararemos suprimentos suficientes para o Brilho Estelar”, disse Helena, de pé em uma plataforma alta na usina de energia, para Vanna e Lucretia ao seu lado. “Vocês podem se transferir para atracar no cais oeste — essa é uma das passagens externas que controlamos atualmente.”

    “Este ‘farol’ ainda pode fornecer suprimentos?” Lucretia olhou para a papisa, um pouco surpresa. “Vocês têm tantos recursos?”

    “Sim, não faltam suprimentos. Isso pode não corresponder à sua primeira impressão daqui”, Helena sorriu. “Mas, na verdade, o ‘funcionamento’ do mundo inteiro continua. A produção de vários suprimentos essenciais, o transporte, e até mesmo as ‘atividades comerciais’ na cidade-estado… a cada meio mês, um navio de carga cheio de suprimentos vem da base da fronteira para reabastecer este farol com combustível e outras coisas. Os compatriotas em transe realizam as trocas como de costume, e nós, os ‘despertos’, usamos as licenças que encontramos em documentos antigos para transferir parte dos suprimentos para outros armazéns. Da mesma forma, também podemos usar muitas das instalações e equipamentos aqui.”

    Ela se virou e olhou para a vasta plataforma do lado de fora da usina de energia.

    “Sim, este mundo ainda está funcionando. Cada parte… está funcionando em transe ao longo de sua antiga trajetória. Como um grande navio cujo interior já entrou em colapso, mas que ainda flutua no mar sob o impulso da inércia, ao longo de sua rota original. Nós, que despertamos no navio, não temos como consertá-lo, mas pelo menos, antes que ele afunde, ainda podemos ‘navegar’ com ele.”

    Vanna e Lucretia não falaram por um tempo, sem saber o que dizer.

    Este mundo já não era mais o que elas conheciam.

    Mas Helena obviamente não se importava com isso. Ela apenas acenou com a mão e continuou: “Muito obrigada por me contarem o que aconteceu nos confins do mundo. Assim, nós, que esperamos no grande navio, finalmente sabemos o que está acontecendo lá fora. Agora, a espera pelo menos tem um significado, e não é mais apenas uma sobrevivência precária.

    “O Banido… ainda está navegando nos confins do mundo, certo?”

    “Sim, o capitão e Alice permaneceram nos confins do mundo. Eles ainda estão avançando para mais longe”, disse Vanna em voz baixa. “O capitão está se preparando para o novo mundo. Quando tudo estiver pronto… a senhora poderá ‘piscar os olhos’.”

    “Certo, então não vou mais atrasar sua jornada”, o avatar de Helena se virou e soltou um suspiro leve. “Vou providenciar os suprimentos. Depois, alguém as levará de volta ao cais…”

    Ela parou de repente, olhando fixamente nos olhos de Vanna. Depois de um longo tempo, ela falou.

    “Vanna, boa viagem — nos vemos no novo mundo.”

    Vanna assentiu solenemente. “Sim, Vossa Santidade a Papisa, nos vemos no novo mundo.”


    O vento uivante havia parado em algum momento. Agora, o que restava nesta planície de gelo era apenas um “frio” puro e extremo — um frio que penetrava na carne, embebia a medula óssea, congelava a alma. E os Portadores da Chama neste vento frio já haviam esquecido o calor do “fogo”.

    Os mortos-vivos caminhavam pela planície de gelo. Na noite fria e clara, as lanternas em seus peitos se estendiam em uma linha sinuosa, tornando-se uma linha trêmula e rastejante nas profundezas da planície de gelo.

    Frem estava em uma plataforma construída às pressas, observando a superfície de gelo à distância. No horizonte, a imponente silhueta da Nau-Arca da Catedral erguia-se silenciosamente. As luzes da nau-arca delineavam uma “montanha” cintilante na noite, e a luz das lanternas, como pontos de estrelas, fluía entre a “montanha” e a superfície de gelo a seus pés, indo e vindo incessantemente, incansavelmente.

    Depois que o quebra-gelo se tornou completamente inutilizável, os Portadores da Chama usaram os explosivos que traziam a bordo para abrir o próximo trecho da camada de gelo. Depois que os explosivos acabaram, a nau-arca usou sua poderosa força motriz e sua armadura robusta para abrir mais um trecho do caminho. E depois disso, seu sistema de propulsão finalmente parou completamente — mesmo que o núcleo de vapor ainda uivasse em vazio e o fluxo de ar se movesse nos dutos, a gigantesca nau permaneceu parada entre as camadas de gelo, no último trecho do caminho antes do destino.

    Mas, felizmente, a distância até o “ponto focal” final não era grande, e eles já estavam dentro de sua área de influência. Naquele momento, o último “arquivo” da civilização estava sendo estabelecido nesta planície de gelo.

    Passos soaram de perto. A sacerdotisa com o rosto velado subiu na plataforma e parou ao lado de Frem, curvando-se ligeiramente. “Mais onze ‘despertaram’. Eles foram acomodados no acampamento e estão recebendo apoio psicológico e orientação.”

    Frem assentiu levemente. “Hum, como eles estão?”

    “Melhor do que o último grupo”, respondeu a sacerdotisa. “Transmitir constantemente algumas dicas e lembretes para as pessoas em estado de ‘transe’ é útil. Assim, quando eles ‘despertam’, a maioria percebe quase imediatamente que se trata de uma ‘situação’ ainda sob controle e procura o pessoal de contato mais próximo para obter ajuda… Essas experiências podem ser transmitidas para a cidade-estado.”

    Frem assentiu levemente, sem dizer mais nada, apenas ergueu a cabeça e observou em silêncio o arquivo em construção.

    As máquinas de engenharia transportadas da nau-arca estavam ocupadas na planície de gelo, e um complexo de edifícios simples, e até mesmo um tanto feio, já começava a tomar forma.

    Em comparação com a imponente nau-arca e a solene igreja a bordo, os edifícios, que não eram muito diferentes de fábricas rústicas, não tinham praticamente nenhuma beleza estética, porque seu objetivo de projeto era um só: construir, no menor tempo possível, em um ambiente desconhecido, o maior espaço de armazenamento possível.

    Um leve murmúrio veio de perto. “Fazer isso… realmente tem algum significado?”

    Frem se virou e olhou para a sacerdotisa ao seu lado.

    “Desculpe, Vossa Santidade o Papa, eu não hesitei, eu só…” a sacerdotisa balançou a cabeça, explicando. “Eu só pensei nos acontecimentos recentes. Mais e mais pessoas estão despertando do ‘transe’. Muitas delas, suas últimas memórias voltam ao dia em que partimos. Muitas pessoas me perguntaram o que aconteceu ao longo do caminho, muitas perguntas…”

    “Eu entendo o que você quer dizer, Delis”, Frem interrompeu suavemente a explicação da sacerdotisa, seu olhar ainda fixo no “canteiro de obras”. “Muitas pessoas acreditam que, desde que as pessoas sejam preservadas, tudo é preservado, porque a civilização foi criada pelo homem. Se o homem pôde criar a civilização uma vez, ele pode reconstruí-la inúmeras vezes… Eu entendo, sim, e concordo ainda mais. Como Papa dos Portadores da Chama, eu entendo melhor do que muitos como a civilização foi estabelecida e continuou.”

    Ele fez uma pausa e continuou em voz baixa: “Uma civilização sem pessoas não tem sentido. Mas, Delis, há a segunda parte da frase: pessoas sem civilização também não.

    “A civilização de fato não é apenas pedras e livros frios, não é apenas esculturas, partituras e artesanato que não falam. Essas coisas são apenas os portadores e as manifestações da civilização, não a civilização abstrata em si. Tudo isso está correto, mas…

    “A civilização precisa de portadores, precisa de provas.

    “Apegar-se aos ‘portadores’ e abandonar a ‘essência’ é tolice. Conhecer apenas a essência e pensar que os portadores não são necessários também é tolice. Sem portadores e provas, até a memória mais brilhante se corroerá com o tempo, se corroerá antes que o homem tenha tempo de reconstruir a civilização. E mesmo que não consideremos isso… Delis, precisamos deixar algumas provas para que as gerações futuras possam entender o que aconteceu neste mundo.

    “Um dos significados dos artefatos e da arqueologia reside nesta ‘informação’.”

    A sacerdotisa de véu encarou o olhar de Frem com franqueza. Seus olhos, que um dia foram brilhantes, haviam se tornado turvos e escuros muitos dias atrás, mas agora esses olhos turvos ainda estavam firmes.

    “Entendido. Também transmitirei sua advertência aos outros…”

    Frem assentiu.

    E uma fina camada de “névoa” apareceu silenciosamente ao redor deles em algum momento.

    A sacerdotisa Delis ergueu a cabeça, surpresa, olhando para a névoa branca que flutuava ao redor.

    Depois de entrarem na planície de gelo, eles não viam “névoa” há muito tempo.

    Embora o horizonte fosse a magnífica muralha de névoa da Cortina Eterna, ao contrário de outras áreas da fronteira, esta planície de gelo quase nunca tinha névoa.

    “O tempo mudou…” ela ergueu a mão, tocando a névoa sem substância. “A planície de gelo também pode ter névoa?”

    Frem franziu a testa. Ele olhou para o céu, para os fios brancos que flutuavam e fluíam como um fluido. Depois de um momento, ele finalmente entendeu.

    “Não, isso não é névoa”, ele disse de repente, com surpresa na voz. “…São nuvens!”

    “Nuvens?” a sacerdotisa ficou atônita. Pareceu que ela só se lembrou do que “nuvem” significava depois de pensar um pouco. Em seguida, seus olhos se arregalaram de espanto. “As nuvens caíram do céu?”

    “…A altitude das nuvens diminuiu”, disse Frem, com uma expressão séria. Mas ele logo percebeu que essa afirmação não fazia muita diferença e acrescentou: “Todas as nuvens estão descendo em sincronia. Em vez de ‘caindo’, é mais como se…”

    Ele parou. Delis já havia entendido o que ele queria dizer. A sacerdotisa piscou os olhos, com um toque de inquietação na voz: “O próprio céu está baixando…”

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