Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Uma leve tontura e uma vaga sensação de estranheza a invadiram novamente. No último cruzamento a caminho de casa, Heidi parou, confusa, e olhou para trás, na direção de onde viera.

    A névoa fina cobria a rua, e as nuvens pairavam baixas sobre os telhados. Os postes de luz emitiam um brilho frio e fraco. Algumas sombras indistintas, trêmulas e ondulantes, subiam e desciam na névoa, emitindo ocasionalmente ruídos caóticos, como um murmúrio de sonho, ininteligíveis para os humanos. Nada parecia fora do normal.

    Ela franziu a testa, e com o canto do olho, viu novamente uma linha de texto gravada na parede ao lado por alguém desconhecido. Os símbolos tortos lhe davam uma leve dor de cabeça.

    Não muito longe, ao lado da rua, uma senhora de constituição robusta estava parada na porta. Provavelmente notando Heidi parada na rua, a senhora lançou-lhe um olhar curioso: “Boa noite, precisa de ajuda?”

    “…Não”, Heidi hesitou por um momento e respondeu. “Estou bem, só senti uma tontura.”

    “Mas cuide-se, tontura não é brincadeira”, disse a senhora robusta com um sorriso amigável. “Se não estiver se sentindo bem, pode entrar e sentar um pouco. Tenho chá quente.”

    Percebendo a pura bondade da outra, Heidi sorriu e acenou com a mão: “Agradeço sua gentileza, mas já estou muito melhor.”

    “Sério? Parece que respirar ar fresco realmente ajuda. Hoje o tempo está bom…”

    Heidi assentiu, agradeceu educadamente e desviou o olhar. Em seguida, ela viu um estranho de casaco azul comprido saindo da névoa. Ele carregava um pacote que parecia pesado, andava apressado e tinha um ar de pânico nos olhos — como se algo terrível o estivesse perseguindo na névoa, fazendo-o observar os arredores com apreensão enquanto andava, mas sem ousar fazer grandes movimentos, como se temesse perturbar algo na névoa.

    Heidi franziu a testa por instinto e se aproximou do homem assustado: “Olá, senhor, algum problema? Sou uma psiquiatra…”

    O homem de casaco azul assustou-se, parou e arregalou os olhos na direção de Heidi. Ele abriu a boca, parecendo querer falar, mas em seguida, como se tivesse descoberto algo em Heidi, seu olhar tornou-se subitamente tenso e alerta. Ele acenou com a mão de forma quase grosseira, virou-se e se embrenhou nas profundezas da névoa, sem dizer uma palavra.

    Heidi franziu a testa, confusa. Ela olhou para si mesma, sentindo que não devia haver nada repulsivo nela.

    A leve tontura e a vaga sensação de estranheza se intensificaram novamente.

    Uma vaga sensação de alerta surgiu no coração de Heidi. Embora não soubesse do que deveria se precaver, sua percepção espiritual, há muito adormecida, pareceu despertar subitamente. Naquela rua que parecia completamente normal, ela começou a sentir… perigo e frio.

    Algo… não estava certo. Bem diante de seus olhos, ao seu redor, mas ela havia ignorado… aquelas coisas estranhas…

    Heidi recuou discretamente para a beira da estrada. Enquanto observava os arredores com cautela, ela murmurava o nome de Lahm. Deixou a mão cair, e uma afiada agulha dourada deslizou silenciosamente para sua palma.

    Mas ela não sabia contra que tipo de “inimigo” aquela agulha dourada poderia ser usada… existia mesmo um inimigo?

    O pingente em seu peito emanava um leve calor, como se a estivesse alertando de algo.

    O olhar de Heidi varreu os arredores. A “pichação” que alguém gravou na parede mais uma vez entrou em seu campo de visão. As linhas curvas se contorciam, tremiam e, de repente, assumiram uma forma legível: “Ondas, morte, a temperatura do fogo…”

    Heidi ficou atônita.

    A razão e a memória, como as ondas que haviam desaparecido de sua percepção, voltaram com força, inevitáveis como a morte. Ela começou a entender, a perceber, a reconhecer as mudanças que haviam ocorrido no mundo. O pânico, suprimido por um tempo desconhecido, quase a derrubou no primeiro segundo — mas o treinamento mental de anos a manteve de pé. Com uma velocidade de adaptação mais rápida do que a de qualquer outra pessoa, ela manteve à força a razão e a coragem e olhou ao redor.

    Sombras vermelho-escuras, como carne, permeavam a noite, cobrindo todas as paredes e telhados ao redor. As nuvens, como outra terra esmagando-a, pendiam invertidas acima. O brilho frio da Criação do Mundo, através das nuvens, transformou-se em sombras de formas instáveis, estranhas e trêmulas, que lambiam e se moviam como seres vivos por todo o céu da cidade. E na rua coberta de névoa, contornos humanoides cambaleavam como zumbis, emitindo murmúrios e gemidos baixos.

    Um homem de casaco cinza se aproximou, segurando um pedaço de matéria podre e suspeita, resmungando enquanto o enfiava na boca.

    Uma bicicleta sem ninguém a controlando andava lentamente e sozinha pela rua. As rodas e a corrente enferrujadas emitiam um rangido. No selim, havia apenas uma sombra ondulante do tamanho de uma cabeça humana.

    De uma casa não muito longe, um enorme membro de carne saiu. As centenas de olhos na ponta do membro piscavam na névoa. O pedaço de carne aterrorizante se virou e, na noite fria, aqueles olhos olhavam desordenadamente em todas as direções, mas da carne saía uma voz humana:

    “Boa noite… hoje o tempo está bom…”

    Heidi engoliu em seco. Um frio que quase congelava seus pulmões penetrou profundamente em suas veias.

    Ela se lembrou de repente das pichações e gravuras extras que via na rua todos os dias, da estranha sensação de que algo estava errado que sentia, do homem de casaco azul que andava apressado e assustado.

    Lembrou-se de sua mãe, que estava em casa!

    Ela respirou fundo, virou-se e correu para a rua enevoada, correndo o mais rápido que pôde em direção a sua casa.

    Na névoa, alguém pareceu soltar uma pequena exclamação. À distância, alguém pareceu gritar seu nome. As sombras vermelho-escuras, como carne, ao lado da estrada, se contorceram, tremeram e se uniram, depois se separaram lentamente de uma forma nauseante. Tiros vieram do bairro vizinho, parecendo que alguém em pânico havia causado uma comoção. Um caminhante a vapor com muitos olhos e bocas cambaleava em sua direção, os canos de pressão abrindo-se como bocas, cantando uma canção estranha e monótona.

    Heidi, no entanto, parecia não ter ouvido nem visto nada disso. Ela bloqueou tudo o que poderia perturbar sua mente e apenas correu pela rua sem se distrair. Através da névoa fina, a luz da porta de sua casa finalmente apareceu em sua visão.

    Ela agarrou a saia de seu vestido e correu os últimos metros sem nenhuma elegância. Mas, antes de abrir a porta, ela parou por um instante. Hesitou por um momento, passou a “Agulha Dourada” afiada para a mão esquerda e ajustou a respiração. Só então ela pegou a chave com cautela, destrancou e girou a maçaneta.

    A porta se abriu. A luz fria e brilhante da sala de estar entrou em seus olhos. Heidi viu que tudo em casa parecia estar como sempre — embora ainda se pudessem ver algumas sombras se contorcendo nos cantos, pelo menos era inúmeras vezes mais “normal” do que a rua lá fora.

    Sua mãe estava sentada perto da lareira no fundo da sala, parecendo estar totalmente concentrada na leitura de um jornal que chegara em algum momento.

    Ao ouvir o som da porta se abrindo, a velha senhora perto da lareira ergueu a cabeça, um sorriso gentil em seu rosto: “Heidi, você voltou. A consulta correu bem?”

    Sua mãe estava como sempre, e não havia nenhum “intruso” no quarto como ela esperava.

    Heidi soltou um suspiro de alívio secretamente, guardou a Agulha Dourada e, recompondo-se, caminhou rapidamente em direção à lareira: “Não há tempo para explicar, mãe. Venha comigo agora. Precisamos sair daqui. Este bairro não é seguro, há algo lá fora…”

    Enquanto falava, ela parou, hesitante.

    Porque sua mãe apenas sorria gentilmente, sem qualquer surpresa ou dúvida. Depois que Heidi parou, hesitante, a velha senhora assentiu e se levantou, indo para as escadas do outro lado da lareira.

    Ela pegou duas malas de debaixo da escada.

    “O essencial está aqui. O abrigo tem instalações básicas, e os suprimentos são suficientes. Dante Wayne sempre fez um bom trabalho.

    “Sua ‘maleta médica’ também está pronta, na mesa do seu quarto. Vá pegá-la. Eles ainda precisarão dela no abrigo.

    “Leve seu revólver, com várias caixas de munição. Tente não usá-las, mas se for preciso, atire com precisão. As balas ainda são muito eficazes contra aquelas coisas de carne e osso que rastejam por aí.”

    Enquanto a velha senhora falava, ela foi até a lareira novamente, ficou na ponta dos pés e, com algum esforço, tirou o velho rifle pendurado no gancho de latão.

    Com alguns cliques, a velha senhora verificou habilmente a ação da arma, inseriu uma bala na câmara, ejetou-a e recarregou.

    “Eu vou usar este. Foi o que usei quando fui acampar com seu pai. Este velho amigo é confiável, um tiro para cada cultista.”

    Heidi observou a cena, boquiaberta. Só então ela gradualmente entendeu, olhando para a mãe com incredulidade: “Mãe, a senhora… já há muito tempo…”

    “Eu me preparei desde a primeira vez que eles colaram os panfletos nos postes. Depois disso, foi só esperar você ‘acordar'”, a velha senhora olhou para Heidi. “Até que não demorou muito.”

    Heidi permaneceu em silêncio por um longo tempo, em estado de choque. Só quando a mãe começou a apressá-la é que ela finalmente despertou, concordando apressadamente e correndo para seu quarto no andar de cima. Na mesa, encontrou a pequena mala que a mãe a ajudou a arrumar, e ao lado dela, várias caixas de papelão.

    Ao abrir as caixas, viu balas de revólver douradas e brilhantes. Em cada ponta de bala, estava impressa com uma tinta especial a sagrada máxima do Deus da Sabedoria, Lahm:

    “Deixe o conhecimento entrar na mente.”

    Heidi olhou para as balas douradas, recompôs-se, escondeu parte delas em vários bolsos e embalou o restante com cuidado, colocando-as na maleta médica.

    Depois de fazer tudo isso, ela se virou e desceu as escadas correndo.

    “Mãe, estou pronta. Nós…”

    Heidi parou de repente na escada.

    Ela viu que a porta de casa estava aberta, e uma figura familiar estava parada na entrada.

    Vestindo um casaco de lã um pouco velho, mas limpo e arrumado, com um monóculo e um cachimbo.

    O pai voltou para casa.

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