Capítulo 85: Recompensa
Duncan respirou fundo para se acalmar e caminhou em direção à porta, onde estavam os dois guardas municipais.
Por dentro, ele estava absolutamente tranquilo. Afinal, não havia feito nada de errado, nem causado qualquer tipo de confusão. Embora o Capitão Duncan fosse uma figura famosa pelos mares como uma calamidade ambulante, o que isso tinha a ver com um antiquário honesto e trabalhador como ele?
Se pensasse bem, a coisa mais suspeita que havia feito recentemente fora participar de uma reunião de cultistas. Mas, logo depois, ainda teve o zelo de denunciá-los às autoridades!
Espera… Denunciar?
De repente, Duncan se lembrou disso. Na mesma hora, conseguiu deduzir o motivo da visita dos dois guardas municipais. Seu passo ganhou ainda mais confiança enquanto avançava. No entanto, Nina, ao contrário, não conseguia esconder sua inquietação. Assim que viu o tio descendo as escadas, apressou-se em ir ao seu encontro. Fora do campo de visão dos guardas, abaixou a voz e falou num tom ansioso:
“Tio, quando os guardas começarem a fazer perguntas, você precisa ser totalmente honesto, entendeu?”
Duncan tropeçou levemente ao ouvir isso, lançando um olhar estranho para sua ‘sobrinha’:
“É assim que você me vê?”
Nina o encarou com uma expressão ligeiramente injustiçada. Afinal, para ela, aquele ‘tio’ não tinha a melhor das reputações, sendo frequentemente procurado por conta de brigas em bares ou problemas no cassino devido à bebida.
“Se não for isso, por que mais os guardas viriam atrás de você?”
Duncan: “…”
Com um suspiro resignado, ele se dirigiu até a porta. Quando a abriu, recebeu os dois homens de uniforme azul-escuro com um sorriso radiante:
“Bom dia, senhores. Em que posso ajudar?”
“Senhor Duncan Strelane”, disse o guarda mais velho dos dois, em um tom cortês e estritamente formal, “viemos a este endereço conforme consta no registro. A denúncia que o senhor fez ontem aos patrulheiros foi confirmada. Em nome da prefeitura, agradecemos sua contribuição para a manutenção da ordem na cidade. Além disso, trouxemos a recompensa prometida.”
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Assim que terminou de falar, o guarda mais jovem deu um passo à frente e entregou a Duncan um envelope de papel com uma espessura considerável.
Ao lado, Nina ficou completamente de olhos arregalados.
Duncan já havia deduzido a razão da visita dos dois guardas municipais. Provavelmente se tratava de um desdobramento da denúncia que ele fizera sobre o esconderijo dos cultistas. Porém, o que ele não esperava era que trouxessem a recompensa diretamente até a sua porta. Surpreso, pegou o pacote de papel e, ao examinar o lacre de cera, viu a inscrição ‘435 Sora’ marcada nele — uma quantia considerável, especialmente para os moradores do distrito inferior.
“Então ainda tinha dinheiro envolvido nisso…” murmurou Duncan, apertando o pacote e sentindo a espessura das notas em suas mãos. “Na hora, nem pensei nisso.”
“Claro que há uma recompensa”, disse o jovem guarda com um sorriso. “O governador dá muita importância ao combate às atividades criminosas dentro da cidade, especialmente nos últimos tempos. Qualquer denúncia eficaz é recompensada de maneira justa e significativa. Além disso, a informação que você forneceu… foi bem fora do comum.”
Ao ouvir isso, Duncan sentiu uma leve inquietação, mas manteve a calma e perguntou casualmente:
“Ah, sim… Naquela hora, só percebi que havia algo estranho e preferi não me aproximar. O que exatamente aconteceu lá?”
Os dois guardas trocaram um olhar breve antes de darem dois passos para dentro da loja. Nina, vendo isso, ficou momentaneamente confusa, mas logo se apressou para fechar a porta atrás deles.
“Nós não fomos ao local diretamente. O caso foi tratado pelos Guardiões, mas, de acordo com as informações que recebemos, a cena era… terrível”, respondeu o guarda mais jovem. Seu tom de voz ainda não tinha a impessoalidade que os mais experientes costumavam demonstrar. “Você fez bem em não se aproximar e, em vez disso, ter alertado os patrulheiros imediatamente. Caso contrário, você certamente teria se colocado em perigo.”
Quando o jovem terminou de falar, o guarda mais velho acrescentou:
“Os detalhes não são de interesse dos cidadãos comuns. Só queremos reforçar um aviso: recentemente, as atividades de cultos ilegais na cidade têm aumentado. É melhor não mencionar a ninguém que você recebeu uma recompensa por uma denúncia.”
Duncan ficou ligeiramente atordoado com essa recomendação, mas rapidamente compreendeu a situação.
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Afinal, este era o distrito inferior. A parte baixa da cidade de Pland era onde se acumulava toda a sujeira e podridão do sistema — um labirinto de becos estreitos e estruturas decadentes que abrigavam os segredos mais sombrios da cidade. Nos momentos em que o perigo sobrenatural espreitava, era natural que os cultistas se escondessem em locais como aquele.
Embora a rua onde ficava o antiquário fosse uma das áreas mais respeitáveis do distrito inferior, longe dos bairros mais miseráveis, o ambiente geral ainda era repleto de perigo e desconfiança. Além disso, mesmo ignorando o fato de que alguns moradores poderiam ser secretamente afiliados a cultos, alguém que ‘denunciasse outros e recebesse recompensas das autoridades’ poderia facilmente se tornar alvo de desconfiança e hostilidade.
Os guardas, conhecedores da situação local, claramente entendiam os riscos. O aviso era um procedimento padrão, mas também carregava uma genuína preocupação.
Duncan refletiu por um momento e concluiu que eles estavam certos. Afinal, aquela área realmente tinha uma tendência a atrair cultistas — e ele ainda carregava no bolso o emblema do Sol que havia encontrado.
“Agradeço o aviso”, disse ele com sinceridade. Apesar de não ter ideia de qual seria o nível médio dos guardas municipais na cidade, ao menos aqueles dois lhe deixaram uma boa impressão. “Gostariam de descansar um pouco por aqui?”
“Não é necessário”, respondeu o guarda mais velho, acenando com a mão enquanto se virava para sair. “Ainda temos uma ronda a fazer.”
O guarda mais jovem, antes de sair, virou-se mais uma vez e disse:
“Se no futuro encontrar algo parecido, não hesite em denunciar novamente. A segurança da cidade é responsabilidade de todos.”
“Com certeza”, respondeu Duncan, apertando o pacote de papel nas mãos e exibindo um sorriso genuíno. “Eu sempre fui um cidadão preocupado com a ordem da cidade.”
Os dois guardas saíram da loja do ‘zeloso cidadão Duncan’. Só depois que as figuras uniformizadas desapareceram na rua, Nina finalmente pareceu recobrar os sentidos. Olhou para o tio, que naquele momento estava abrindo o pacote de papel e contando uma a uma as notas azuis e verdes. O som agradável das cédulas sendo manuseadas parecia dar um toque de realidade à cena.
“Tio… isso é mesmo uma recompensa da prefeitura? Você realmente… fez isso?”
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A garota abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não teve coragem de completar a frase que queria dizer: “Você realmente conseguiu fazer algo bom.”
Duncan, contudo, sabia exatamente o que Nina estava pensando e compreendia suas dúvidas. Com um sorriso, respondeu:
“Foi só ontem à noite, quando eu estava voltando para casa, que denunciei algumas atividades ilícitas. Sabe como é, seu tio sempre foi muito engajado na comunidade.”
Nina: “…”
“Mas tenho que admitir que a recompensa foi bem maior do que eu esperava”, continuou Duncan antes que Nina pudesse responder. Ele abaixou a cabeça, observando as notas em sua mão com um olhar pensativo, e murmurou:
“Isso é bem mais rápido do que ganhar dinheiro com negócios…”
Havia algo que ele não mencionou: de acordo com as informações que tinha, ainda havia muitos cultistas escondidos em Pland, vindos de várias outras cidades.
E isso tudo é dinheiro.
Nina ficou confusa por um momento:
“Tio, o que você disse?”
“Nada não”, Duncan respondeu com um gesto displicente, enquanto ponderava sobre essa nova e lucrativa oportunidade de ganhar dinheiro. Então, falou casualmente:
“Você não devia estar indo para a escola? Saia logo ou vai se atrasar. Ah, a propósito, quando o Sr. Morris virá para a visita?”
“À tarde. Só tenho uma aula depois do almoço”, respondeu Nina, como se de repente lembrasse de algo. “Tio, você vai sair hoje?”
Duncan assentiu:
“Sim, vou sair, mas volto antes que seu professor de história chegue.”
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Nina, no entanto, lançou um olhar cheio de suspeita.
“Tio, o que você vai fazer?”
O sorriso de Duncan se tornou ainda mais radiante:
“Tio vai sair para caçar.”
Ele já tinha um plano em mente. Se o emblema do Sol era tão útil e as autoridades eram tão rápidas em recompensar, por que não explorar essa oportunidade? Afinal, mesmo que não houvesse a questão do dinheiro, ele já tinha motivos suficientes para lidar com os cultistas para garantir a segurança do ambiente ao seu redor. Agora, sabendo que poderia ainda lucrar com isso, seria um desperdício não aproveitar.
Mas Nina era esperta. Mesmo sem saber tudo sobre Duncan, ela imediatamente entendeu o que ele quis dizer com ‘caçar’. Franziu as sobrancelhas delicadas e respondeu:
“Tio, isso não está certo. Ontem mesmo você disse que ia se dedicar a cuidar da loja, que queria organizar tudo e até contratar uma funcionária…”
“Zelar pela segurança da cidade e cuidar da loja não são coisas incompatíveis”, Duncan disse com um gesto largo. “Agora vá para a escola. Seu tio sabe o que está fazendo.”
Para sua surpresa, Nina puxou uma cadeira e sentou-se.
“Nina?”
“Tio, isso é perigoso”, disse ela, levantando os olhos e encarando-o diretamente.
Duncan hesitou por um momento:
“Bem, na verdade…”
“Eu vou ficar de olho em você”, Nina insistiu, firme, com os olhos fixos no tio. “Os dois guardas acabaram de dizer que a cidade está perigosa. Já é ruim o suficiente se alguém se envolver em problemas por acidente, mas por que você iria procurar isso ativamente?”
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Duncan ficou momentaneamente surpreso ao olhar para a garota de apenas dezessete anos.
Foi então que ele percebeu que ela realmente se preocupava com ele — à sua própria maneira, teimosa e protetora, acreditando que o ‘tio Duncan’, na sua visão, era alguém doente há muito tempo, frágil, imprudente e, ultimamente, desesperado para ganhar dinheiro.
“Eu não quero uma bicicleta”, Nina murmurou baixinho, sem erguer o olhar.
“Vá para a escola”, Duncan suspirou profundamente, dando um pequeno sorriso enquanto se aproximava e bagunçava os cabelos dela com a mão.
Nina o encarou, surpresa.
“Você está certa. Isso é perigoso”, disse Duncan, olhando para ela com seriedade. “Eu não vou a lugar nenhum. Vou ficar aqui na loja esperando você voltar.”
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