Capítulo 88: Existe um Item Verdadeiro
O senhor idoso entrou na loja de antiguidades, observando com curiosidade a disposição dos objetos ao redor. As vitrines envelhecidas, as prateleiras de ferro baratas e os ‘antigos tesouros’ dispostos de maneira quase aleatória refletiam perfeitamente a verdadeira essência do estabelecimento:
Nada ali era genuíno—exceto o dinheiro que entrava no caixa.
Ainda assim, mesmo percebendo a natureza duvidosa dos itens expostos, o cavalheiro, cuja vestimenta indicava claramente que não pertencia ao Distrito Inferior, continuou analisando a loja com interesse genuíno.
Somente quando Duncan quebrou o silêncio com sua voz vinda do balcão, o velho finalmente desviou o olhar para ele.
“Uma frase interessante”, comentou o senhor com um sorriso. “Levar consigo o que for destinado… Independentemente dos objetos em si, essa é uma bela forma de pensar.”
“Bem, destino por si só não basta”, respondeu Duncan, sorrindo de volta. “Também é preciso dinheiro. Felizmente, aqui nada custa muito—interessado em algo?”
“Ah… Na verdade, não vim comprar nada”, disse o idoso, abrindo a boca como se fosse continuar.
Antes que pudesse terminar, Duncan, com seu entusiasmo comercial impecável, imediatamente interveio:
“Não precisa comprar, só dar uma olhada já vale a pena! Vai que encontra algo do seu agrado?”
O velho suspirou com uma expressão de leve exasperação.
“Mas… tudo aqui é falso.”
“Exatamente.” Duncan assentiu com naturalidade. “Se fosse verdadeiro, estaria exposto aqui? Essa loja nem tem um sistema de segurança adequado! Meu método de prevenção a roubos é simples: fazer com que nenhum ladrão saia no lucro.”
O rosto do velho senhor se contraiu levemente.
Ele claramente não esperava que um antiquário que vendia falsificações pudesse ser tão descaradamente honesto sobre isso. Ficou momentaneamente sem palavras, refletindo sobre o absurdo da situação antes de conseguir formular outra frase.
“Então…”
Duncan, sem perder o ritmo, continuou com seu discurso implacável:
“Os que sabem se convencer veem isso como uma loja de antiguidades e satisfazem a si mesmos. Os realistas a veem como uma loja de quinquilharias, aproveitando os preços acessíveis. E aqueles que conhecem a realidade, mas ainda querem se enganar, acabam acreditando que encontraram uma barra de ouro em um monte de lixo! Afinal, há exatamente um item verdadeiro nesta loja, e se alguém topar com ele… bom, isso significa que era destino.
“No fim das contas, a compra aqui não é sobre objetos, e sim sobre satisfação pessoal. Gastar trinta ou cinquenta soras para se sentir feliz é um ótimo negócio. E o pior golpe que alguém pode levar aqui não passa de cem soras—e ainda saem com uma obra-prima da indústria moderna. Se pensar bem… não parece um negócio tão ruim, não acha?”
O velho senhor ficou boquiaberto, ouvindo o que só podia ser o argumento mais desavergonhado que já escutara em sua vida.
Ele claramente não tinha experiência com esse tipo de conversa, e sua expressão indicava que precisava de um momento para processar tudo.
No entanto, antes que pudesse responder, seus olhos deram um leve sobressalto ao pousar em um canto ao lado do balcão.
Sua expressão mudou sutilmente.
Duncan estava totalmente imerso no prazer de administrar seu pequeno negócio quando percebeu a mudança sutil no olhar do senhor idoso.
Seu instinto imediatamente o alertou, e, em um instante, ele se lembrou do que poderia ter chamado a atenção do homem.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, viu o visitante estender a mão em direção a um canto da loja.
“Isto aqui…”
No meio de uma pilha de quinquilharias, o velho senhor encontrou uma adaga de design antigo, extraordinariamente bem preservada.
Ele a retirou cuidadosamente.
Era exatamente o item que Duncan havia escondido ali anteriormente—um antigo artefato retirado do Banido.
Um dos dois únicos itens genuínos em toda a loja.
O outro era um projétil de ferro fundido, enterrado ainda mais fundo na pilha de objetos.
Por um momento, Duncan considerou desviar a atenção do visitante.
Mas então notou algo:
O brilho nos olhos do velho ao examinar a adaga.
A maneira precisa e meticulosa como seus dedos traçavam as gravações no punho e na bainha.
Duncan imediatamente compreendeu:
Esse homem era um especialista.
Ele franziu ligeiramente a testa e lançou um olhar para a adaga.
No final das contas, não era nada de mais—não era um objeto anômalo, não carregava maldições ou contaminações, nem possuía nenhum ‘presente indesejado’ das profundezas do mar. Apesar de ter vindo do Banido, na essência era apenas um artefato comum, uma relíquia antiga.
Uma peça perfeitamente normal.
Se ele reagisse de forma exagerada, isso só levantaria suspeitas desnecessárias.
O velho senhor repetiu sua frase, levantando os olhos para Duncan com ligeira surpresa:
“Este item também faz parte do seu… estoque?”
Sua escolha de palavras foi cuidadosa, mas a implicação era clara:
Como uma peça autêntica veio parar no meio de tantas falsificações?
Foi um erro de catalogação?
Duncan captou o significado por trás da pergunta imediatamente.
E percebeu que fingir ignorância agora seria um erro.
Na verdade, a melhor abordagem seria assumir a autenticidade do item de maneira controlada.
Assim, ele suavizou seu sorriso, deixando um ar mais enigmático transparecer.
“Veja bem… parece que você realmente encontrou um item com o qual tem afinidade, não é?”
Em seguida, limpou a garganta e, com seriedade impecável, acrescentou:
“A maioria dos itens da loja estão em promoção. Mas há algumas exceções.”
“Por exemplo, a peça que está segurando agora.”
O senhor idoso lançou um olhar rápido para as prateleiras ao redor, examinando as etiquetas de preços exorbitantes dos ‘artefatos modernos’ que, com descontos generosos, ainda custavam uma pequena fortuna.
Seja lá o que tenha passado por sua mente, algo fez com que essa loja decadente e enigmática se tornasse ainda mais interessante para ele.
Ele cuidadosamente colocou a adaga sobre o balcão, parecendo prestes a perguntar sobre o preço—mas, antes que pudesse falar, o sino da porta tocou novamente, interrompendo sua ação.
Duncan ergueu os olhos e viu Nina entrando apressada.
“Tio Duncan, voltei para casa!”
Antes mesmo de levantar a cabeça, ela já chamava por ele do balcão.
“O senhor Morris já chegou?”
“Não vi ninguém”, respondeu Duncan, lançando um olhar ao redor da loja. “Estou no meio de um atendimen—”
Ele foi interrompido pelo senhor idoso, que pigarreou discretamente e apontou para si mesmo.
“Meu nome é Morris.”
Duncan: “…?”

“Professor Morris!”
Os olhos de Nina se arregalaram ao finalmente notar o idoso à sua frente.
Seu tom foi de surpresa, mas, imediatamente, sua postura ficou rígida, e ela se endireitou como se tivesse sido pega fazendo algo errado na escola.
“Boa tarde!”
Duncan alternou seu olhar entre Nina e o velho professor algumas vezes, sentindo a atmosfera da loja ficar subitamente desconfortável.
“Eu queria me apresentar desde o início”, disse Morris, abrindo as mãos com um suspiro resignado.
“Mas antes que eu pudesse falar, você me interrompeu… e começou a me apresentar os produtos da loja.”
Nina finalmente percebeu o que estava acontecendo.
Seus olhos então pousaram sobre a adaga desgastada no balcão.
Em um reflexo imediato, ela deu um passo à frente, alarmada.
“Professor, não compre nada daqui! Tudo na loja é falso!”
Duncan lançou-lhe um olhar curioso.
Essa garota era direta demais.
Em menos de um segundo, já havia entregado o jogo diante do próprio professor—embora, considerando o nível das falsificações na loja e os olhos treinados de um historiador, talvez isso não fizesse diferença alguma.
Do outro lado, Morris sacudiu a cabeça, apontando para a adaga sobre o balcão.
“Este item, porém, é genuíno.”
Nina ficou perplexa.
“… O quê?”
“Esta adaga provavelmente tem um século de idade.”
O professor a pegou novamente, analisando-a com ainda mais atenção.
“Era um modelo popular entre os marinheiros que navegavam entre Pland e Lansa, muito utilizado na época. Mas, devido à falência dos antigos ferreiros e ao desgaste causado pelo sal e vento, pouquíssimos exemplares sobreviveram até hoje—e a maioria está em condições deploráveis.”
Falando com entusiasmo crescente, Morris deslizou levemente a lâmina para fora da bainha.
“Eu… eu nunca vi um exemplar tão impecável!”
“Esta lâmina ainda está afiada o suficiente para cortar papel, e seu estado de conservação é inacreditável… parece que foi usada ontem!”
“Além disso”, acrescentou Duncan casualmente, “ainda vem com sua bainha original.”
“Se observar com atenção, verá que até a fivela traseira da bainha ainda é a original.”
Morris arregalou os olhos, voltando imediatamente a examinar a bainha e seus acessórios.
Seu espanto cresceu ainda mais.
“Isso… Eu realmente não havia notado!”
“Meu Deus! Isso parece ter saído do bolso de um marinheiro de cem anos atrás!”
Por um breve instante, sua confiança foi abalada.
Se não tivesse certeza absoluta de sua experiência, ele poderia ter suspeitado de uma falsificação.
No entanto, a adaga possuía todos os detalhes autênticos—até mesmo as marcações na junção do cabo e uma pequena imperfeição específica na base do punho.
Ele hesitou, então olhou de Duncan para Nina… e de volta para Duncan.
O renomado historiador, que há poucos segundos discursava com segurança, de repente parecia incerto.
“…Tem certeza de que isto não é uma falsificação?”
Nina imediatamente acenou as mãos, apressada:
“Tio Duncan não conseguiria falsificar algo tão autêntico…”
O canto do olho de Duncan tremeu ligeiramente.
Ele lançou um olhar para sua sobrinha.
“Vá para cima e faça seu dever de casa!”
Nina ficou momentaneamente perplexa.
“Mas hoje não tenho lição…”
“Então vá ler um livro!”
Ela esticou a língua num gesto brincalhão e começou a caminhar lentamente em direção à escada.
Mas, após dar alguns passos, virou-se para seu professor com um olhar de alerta.
“Professor Morris, não se esqueça de que veio aqui para uma visita domiciliar…”
O velho historiador sorriu amplamente, parecendo animado.
“Claro, tenho muito o que conversar com o senhor Duncan.”
Ele parecia revigorado pela descoberta inesperada.
“Pode subir e ler seu livro tranquilamente—e não se preocupe, não farei nenhuma queixa sobre minha aluna pelas costas.”
Nina lançou um olhar curioso para Duncan e seu professor.
Ela não esperava que essa ‘visita domiciliar’ começasse dessa forma peculiar.
No entanto, no instante seguinte, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
Com um salto leve, subiu rapidamente as escadas.

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