Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Duncan observou Nina subindo alegremente as escadas, mas por um momento não compreendeu a razão daquela súbita felicidade.

    Ele coçou a cabeça, confuso.

    “Por que essa garota estava sorrindo desse jeito…?”

    Antes que pudesse pensar mais sobre o assunto, a voz do professor Morris ecoou do lado do balcão.

    “Para ser sincero, você é bem diferente da imagem que eu tinha em mente, senhor Duncan.”

    “Diferente?” Duncan arqueou uma sobrancelha.

    “Que tipo de imagem você tinha de mim?”

    Enquanto falava, ele saiu de trás do balcão, caminhando até a porta para pendurar a placa de ‘Em descanso temporário’.

    Depois, pegou uma cadeira e a colocou ao lado do balcão—agora que sabia que o visitante era o professor de Nina e estava ali para uma visita domiciliar, deixá-lo em pé seria descortês.

    “Obrigado.”

    Morris assentiu educadamente e se sentou, mantendo um sorriso gentil e refinado no rosto.

    “Eu nunca o conheci pessoalmente, mas, por alguns meios, fiquei ciente da… situação familiar de Nina. Perdoe-me pela franqueza, mas, segundo os relatos que ouvi, Nina tinha um tio alcoólatra, viciado em jogos de azar e de temperamento explosivo. Ela cresceu em um ambiente hostil, o que afetou significativamente sua vida social. Na escola, quase não tem amigos—os outros alunos evitam se aproximar dela.”

    Duncan, que estava preparando duas xícaras de café, parou por um breve instante ao ouvir essas palavras.

    Depois, sem pressa, terminou o que estava fazendo.

    Ele voltou ao balcão, colocando uma das xícaras diante de Morris.

    “Espero que não se importe, mas isso é tudo o que tenho—no Distrito Inferior, este é o melhor café que você vai encontrar.”

    Morris pegou a xícara com um leve sorriso, enquanto Duncan sentava-se à sua frente.

    Entre os dois, sobre o balcão, ainda estava a adaga antiga.

    Mas, naquele momento, nenhum dos dois estava prestando atenção nela.

    “Para falar a verdade… essas histórias são verdadeiras”, Duncan disse lentamente. “Eu estive doente. Bastante doente. E quando os analgésicos não faziam mais efeito, a única coisa que ajudava era o álcool. Foi uma fase decadente, e, infelizmente, coincidiu com os anos mais importantes da adolescência de Nina. Agora percebo que o impacto disso sobre ela foi ainda pior do que eu imaginava.”

    Morris o observou atentamente por um longo momento antes de responder.

    “É mesmo? Mas devo dizer que você não parece alguém que acaba de sair de uma fase autodestrutiva. Na verdade, você me parece mais alguém que nunca esteve nela. Seu jeito perspicaz e bem-humorado de conversar não combina com alguém que foi devastado pelo álcool.”

    Enquanto falava, Morris tomou um gole do café.

    Ele não fez nenhum comentário sobre o sabor, apenas pareceu mencionar casualmente:

    “Eu gosto de pensar que sou bom em ler as pessoas.”

    “Talvez eu só tenha uma capacidade de adaptação rápida”, Duncan sorriu, sua postura notavelmente despreocupada.

    Ele tinha que admitir—o velho tinha um olhar afiado.

    Mas, por mais aguçado que fosse, ele jamais descobriria o verdadeiro segredo por trás de sua existência.

    Portanto, Duncan não estava nem um pouco preocupado.

    “Nina está prestes a se tornar adulta”, ele continuou. “E eu sou seu único responsável legal—então, nada mais justo do que começar a assumir um pouco de responsabilidade.”

    “…Seja como for, isso é algo bom para ela”, Morris respondeu, lançando-lhe um olhar profundo.

    “Ela está em um momento crucial de seus estudos. Muitos dizem que, ao se formar em uma escola pública, o destino inevitável é acabar apertando parafusos em uma fábrica. Mas esses mesmos esquecem um detalhe importante—o conhecimento em si já é uma riqueza. Em algum momento da vida, o aprendizado se prova valioso de formas inesperadas. Infelizmente, esse momento geralmente ocorre quando já não há mais como voltar à escola.”

    O professor balançou a cabeça, suspirando.

    “É uma pena que a maioria dos pais com quem já conversei não compartilhe desse ponto de vista. A preocupação principal deles é garantir que seus filhos terminem os estudos o mais rápido possível e encontrem um emprego.”

    Ao ouvir isso, Duncan sentiu uma familiaridade estranha com aquelas palavras.

    Ele já havia dito coisas muito semelhantes quando era professor.

    Falava isso para seus alunos, para os pais—mas ninguém lhe dava ouvidos.

    No entanto, rapidamente reprimiu essa sensação de afinidade, lembrando-se do mundo em que estava agora.

    Ele sacudiu levemente a cabeça, ponderando sobre o ambiente ao seu redor.

    “Isso acontece porque aqui é o Distrito Inferior, professor Morris. Suas palavras são sábias e visionárias, mas a maioria das pessoas precisa pagar as contas do mês passado quanto antes. Isso não significa que elas não tenham aspirações maiores—mas as barreiras impostas pela realidade limitam sua visão para o futuro.”

    Morris suspirou mais uma vez.

    “Você está certo. Muitos querem olhar para frente, mas as muralhas do cotidiano frequentemente bloqueiam a visão do horizonte.” Ele fez uma pausa e depois sorriu levemente. “Peço desculpas. Passo tanto tempo imerso nos livros que às vezes esqueço os desafios do mundo real. Mas você é um homem reflexivo. Talvez minha preocupação tenha sido desnecessária.”

    Duncan franziu levemente a testa.

    “Preocupação? Falando nisso… Nina teve algum problema na escola recentemente? Ela teve uma queda no desempenho?”

    Morris hesitou ligeiramente, escolhendo suas palavras com cuidado.

    “As notas dela sempre foram boas”, ele admitiu. “Mas ultimamente… ela parece estar distraída. Ela se perde em devaneios durante as aulas. Dorme durante o estudo supervisionado. E até mesmo se distrai durante as aulas práticas.”

    O professor então fez uma pausa, antes de acrescentar com um tom mais sério:

    “Na aula de química da semana passada, ela chegou a incendiar a bancada do laboratório. Algo assim nunca havia acontecido antes. Pelo menos… não com ela.”

    Morris fez uma breve pausa antes de acrescentar:

    “Nos testes da última semana, suas notas não caíram. Mas, se essa falta de concentração continuar, é difícil prever como será seu desempenho até a formatura. Embora as opções para um graduado de escola pública sejam realmente limitadas, há uma grande diferença entre trabalhar montando máquinas em uma fábrica do Distrito Inferior e manter os núcleos a vapor em uma igreja do Distrito Superior. Como tutor legal de Nina, você deveria prestar atenção nisso.”

    Duncan franziu as sobrancelhas.

    “Ela tem se distraído muito nas aulas ultimamente?”

    “Sim.”

    “Mas ela nunca mencionou nada sobre isso para mim…”

    “Garotas dessa idade não costumam falar muito com seus responsáveis”, Morris balançou a cabeça. “Inicialmente, pensei que fosse um problema familiar. Talvez algo em casa tivesse perturbado seu estado emocional—ou talvez fosse culpa de seu ‘tio alcoólatra’.

    “Foi por isso que decidi fazer esta visita domiciliar. Mas agora percebo que o problema deve estar em outro lugar.”

    Duncan ficou em silêncio por um momento, tentando lembrar se Nina havia demonstrado qualquer comportamento incomum nos últimos dias.

    Pensou em sua rotina, em seus hábitos…

    Então, Morris interrompeu seus pensamentos:

    “Você a conhece melhor do que ninguém. Ela demonstrou alguma mudança recente? Talvez esteja dormindo mal ou se sentindo fisicamente debilitada?”

    Duncan refletiu por um longo tempo.

    Então, apenas deu de ombros.

    “… Sendo honesto, não faço ideia.”

    O fato era que, uma semana atrás, ele nem sequer conhecia Nina.

    Como poderia saber se algo nela havia mudado?

    Morris não pareceu surpreso com a resposta.

    Provavelmente já havia reduzido suas expectativas sobre o ‘tio de Nina’ antes mesmo de chegar à loja.

    Ainda assim, deu um conselho de maneira quase automática:

    “Você deveria prestar mais atenção a ela. Principalmente para uma garota dessa idade, o suporte emocional é tão importante quanto o material.”

    Duncan imediatamente teve um pensamento.

    “… E se ela estiver apaixonada?”

    Essa ideia tinha um quê de experiência adquirida—talvez mais pela memória de Zhou Ming, o professor, do que por qualquer outra coisa.

    Morris lançou um olhar estranho para ele.

    Por um breve momento, o velho professor ficou surpreso.

    “… Ela estuda em um colégio feminino.”

    Duncan pensou por um instante.

    Então, respondeu com seriedade:

    “Isso não impede nada.”

    Morris arregalou os olhos.

    O acadêmico, sempre tão centrado em suas pesquisas, parecia verdadeiramente chocado com aquela resposta.

    Ahm, certo, eu só estava especulando.”

    Duncan percebeu que talvez o assunto tivesse ido longe demais e limpou a garganta, tentando dissipar o constrangimento.

    “De qualquer forma, vou conversar com Nina. Tenho certeza de que ela vai me contar o que está acontecendo.”

    “Ah… oh, claro”, o professor Morris finalmente recuperou-se do choque, embora sua fala ainda parecesse um pouco mais lenta do que o normal.

    “Pelo que sei… Nina é uma garota muito sincera e honesta. Se você conversar com ela de maneira adequada, ela provavelmente não vai resistir muito.”

    Duncan assentiu.

    “Além disso, há mais alguma coisa?

    “Ela tem demonstrado outros comportamentos estranhos na escola?”

    Morris pensou por um momento antes de balançar a cabeça.

    “Além da distração, nada fora do comum. Na verdade, vim aqui principalmente para falar sobre isso… e para conhecer melhor sua situação familiar.”

    “Falando nisso”, ele continuou, “os pais de Nina… o que aconteceu com eles?”

    “O acidente de onze anos atrás.” A resposta de Duncan foi direta. “Há registros oficiais sobre isso—o vazamento químico na fábrica do Sexto Distrito.”

    “Ah, entendo,” Morris suspirou, com um olhar sombrio.

    “Eu me lembro desse incidente. Naquela época, eu e minha filha estávamos perto do Distrito da Encruzilhada, e a explosão foi imensa. A contaminação foi tão severa que muitas pessoas fugiram até as bordas do Distrito Superior.”

    Ele fez uma pausa e então acrescentou, num tom mais grave:

    “Após as investigações, descobriram que muitos cultistas hereges estavam agindo naquela noite. Os rumores dizem que foram eles que sabotaram a fábrica.”

    Duncan sentiu um leve calafrio.

    Algo em sua mente se conectou instantaneamente—mas, mantendo sua expressão neutra, ele perguntou casualmente:

    “Naquela noite… não houve um incêndio no Distrito Inferior?”

    “Incêndio?” Morris franziu a testa. “Não me lembro de nenhum incêndio. Você deve estar se confundindo.”

    Duncan pressionou os dedos contra a testa, forçando um sorriso.

    “… Parece que estou mesmo. Definitivamente preciso ficar longe do álcool.”

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