Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 92: Infinitas Especulações
Morris suspirou profundamente.
“Quando nós, os que escavam a história, dedicamos nossas vidas a alcançar a grande muralha do Grande Aniquilamento… Quando gastamos décadas buscando relíquias, comparando manuscritos, tentando vislumbrar o que há além dessa barreira… Nos deparamos apenas com fragmentos caóticos e absurdos como esses.”
O rosto do velho professor exibia uma exaustão intensa.
Como um viajante que, após uma longa jornada, percebeu que o destino final permaneceu inalcançável.
“A história antes do Grande Aniquilamento está dilacerada, contraditória… As cidades-estado guardam registros que se assemelham mais a contos fantásticos e sonhos desconexos do que a documentos históricos. Não há nenhuma prova concreta de que algum deles seja verdadeiro. E tampouco existe uma teoria unificadora que consiga explicar todas essas discrepâncias.”
Duncan não respondeu imediatamente.
Sua mente estava em ebulição, absorvendo o bombardeio de informações que acabara de receber.
Como alguém que já havia vivido em uma era da informação, e possuía um talento natural para ligar pontos soltos, ele conseguia enxergar padrões naquelas narrativas fragmentadas.
O domo que cobria um continente inteiro…
Talvez uma megainfraestrutura para controle ambiental.
A fonte de energia que imitava o sol, alimentada por um elemento extraído da água…
Soava muito semelhante a tecnologia de fusão nuclear baseada em isótopos da água do mar.
A gigantesca nave que cruzava o vazio, capturando poeira cósmica e gases para obter energia…
Possivelmente, uma frota de naves-colônia em migração interestelar.
E então havia a visão mais enigmática de todas…
O sonho de um Grande Deus, o qual, ao despertar, fez com que o próprio oceano irrompesse no mundo real…
Duncan não conseguia associar isso a nenhuma hipótese racional.
Parecia um conceito puramente fantástico, algo totalmente incompatível com as narrativas anteriores, que possuíam elementos tecnológicos claros.
Ele podia encontrar explicações individuais para cada relato.
Mas não havia maneira alguma de fazer todos esses fragmentos se encaixarem.
Exatamente como Morris dissera—eram como sonhos desconexos de diferentes realidades.
Incoerentes e impossíveis de reconstruir como um único passado lógico.
“Talvez sua analogia esteja correta”, a voz de Morris quebrou os pensamentos de Duncan. “Talvez exista de fato um horizonte de eventos no tempo, especificamente no Grande Aniquilamento. Não conseguimos enxergar nada além dele. Portanto, a história antes desse evento se torna um conceito inatingível, algo que nunca poderemos recuperar ou comprovar.”
Morris estava tomado por reflexões profundas.
Mas Duncan ainda não havia terminado seu raciocínio.
Uma ideia ousada começou a se formar em sua mente.
“Então… E se todos esses registros estiverem certos?”
Morris levantou os olhos, surpreso com a sugestão.
“Oh?”
“E se todos esses registros forem verdadeiros? Se cada cidade-estado, ou cada raça, realmente registrou sua própria visão autêntica do mundo antes do Grande Aniquilamento?”
Duncan passou a mão pelo queixo, refletindo profundamente.
“Talvez… nossos ancestrais, de dez mil anos atrás, realmente tenham vindo de lares completamente distintos. Civilizações inteiramente diferentes, com histórias e realidades separadas. Então, quando o Grande Aniquilamento ocorreu, ele não destruiu o mundo… Ele os trouxe para cá. Talvez tenha sido um evento que jogou sobreviventes de diferentes realidades em um mesmo oceano… Seus descendentes, sem meios de preservar suas origens de forma clara, registraram o que podiam antes que a memória se perdesse por completo… Depois de milhares de anos, o resultado foi essa coleção de histórias aparentemente contraditórias, que hoje deixam os estudiosos perplexos.”
Duncan fez uma pausa, processando sua própria linha de raciocínio.
“Talvez o Grande Aniquilamento não tenha sido um fim… Mas sim uma grande translocação.”
Morris ficou estático por um momento, seus olhos demonstrando um brilho de surpresa.
Então, de repente, ele falou:
“…Essa é a hipótese da Escola Brock-Bendis. A Teoria da Deriva Mundial. É um campo bastante obscuro, mas você conhece essa linha de pensamento?”
Duncan ficou perplexo por dentro, mas não deixou transparecer sua surpresa.
‘Então já pensaram nisso antes?!’
Ele piscou algumas vezes, mas apenas manteve uma expressão neutra e disse:
“Eu apenas conheço algumas ideias dispersas. Mas gosto muito desse conceito.”
Morris assentiu, parecendo genuinamente satisfeito.
“Eu também gosto—mesmo sendo uma teoria impopular.”
“Mas como qualquer outra hipótese, não há provas concretas… então continua sendo apenas isso: uma hipótese.” O professor sorriu com um leve tom de ironia e continuou: “A Escola Clarke argumenta que o Subespaço distorceu nossa percepção da história, criando registros conflitantes. A Escola Villentium sugere que, antes do Grande Aniquilamento, o mundo era uma rede de dimensões isoladas, como células dentro de um cristal, sem qualquer comunicação entre si. Os estudiosos de Bologna, por outro lado, defendem que o mundo antes do Grande Aniquilamento jamais existiu. Segundo eles, todas as referências ao passado distante são ilusões forjadas por sombras do Subespaço.”
Morris fez uma pausa, depois sorriu com um tom de sarcasmo.
“E claro, mesmo os cultos hereges têm suas próprias interpretações do passado.”
Duncan franziu levemente as sobrancelhas.
“Eles também? O que dizem?”
Morris soltou um leve suspiro, como se não quisesse dar muito crédito a tais crenças.
“Os Pregadores do Fim, que veneram o Subespaço, acreditam que o fim do mundo já começou. Mas, ao contrário do que se pensa, o fim não avança do presente para o futuro… Ele está nos perseguindo pelo passado.
“De acordo com eles, a história do mundo está sendo devorada aos poucos pelo Subespaço, como se o próprio tempo estivesse sendo despedaçado do passado para o presente. E os registros históricos cada vez mais contraditórios seriam um sintoma desse colapso progressivo. O Grande Aniquilamento, então, seria uma barreira temporária, impedindo o colapso de alcançar o presente…
“Mas assim que até mesmo a história após o Grande Aniquilamento começar a se desintegrar, o Subespaço finalmente engolirá toda a existência.”
Duncan ouviu tudo com um misto de perplexidade e inquietação.
Após um longo silêncio, ele balançou a cabeça.
“Eu não fazia ideia de que existiam tantas hipóteses bizarras…”
“Não é algo com que pessoas comuns se preocupem.”
Morris disse com um tom resignado.
“Mas no sentido místico e acadêmico, estudar a história pode ser perigoso.”
“Porém, há um princípio muito simples: Se milhares de estudiosos passaram séculos inteiros explorando um mesmo enigma sem solução, então é certo que já propuseram todas as hipóteses possíveis.”
Duncan lentamente começou a entender o que o professor queria dizer.
Para aqueles que passaram uma vida inteira entre manuscritos antigos e relíquias, formular teorias era fácil.
Acadêmicos nunca tiveram falta de imaginação ou visão ampla.
O que lhes faltava era prova concreta.
O que faltava não eram teorias.
Faltava prova—qualquer evidência tangível que pudesse confirmar ao menos uma hipótese.
“… Então, nenhuma evidência concreta sobreviveu?” Duncan perguntou, sua expressão séria. “Nada que tenha vindo diretamente da história anterior ao Grande Aniquilamento, nada que corrobore alguma dessas lendas?”
“Até hoje, nada foi encontrado”, Morris respondeu lentamente. “Dez mil anos se passaram. E, nesse período, o mundo atravessou múltiplas eras de escuridão… Cidades-estados surgiram e caíram nas ondas intermináveis do Mar Infinito. É extremamente difícil que qualquer coisa da antiguidade tenha resistido.
“O que temos hoje são transcrições de origem incerta, manuscritos reescritos inúmeras vezes ao longo das eras, ou histórias transmitidas oralmente, que podem ter sido distorcidas com o tempo.”
Duncan não respondeu de imediato.
Em algum lugar no fundo de sua mente, em um espaço distante e assombrado, o Banido navegava suavemente sobre as águas do mundo.
O mar continuava seu ciclo eterno, infinito e implacável.
Oceano sem fim.
E nele, enterrada, talvez estivesse a verdade perdida.
Duncan suspirou.
“Estudar a história antiga parece ser um caminho repleto de obstáculos.”
“De fato”, Morris concordou, soltando um suspiro cansado. “Não estamos apenas lutando contra o tempo fragmentado, mas também contra a falta de um terreno sólido. Se houvesse algo enterrado em terra firme, já teríamos encontrado. O fato de nada ter sido descoberto significa que as respostas que buscamos estão escondidas onde nenhum mortal pode alcançá-las.”
“Como no fundo do mar?” Duncan perguntou repentinamente.
Morris riu, surpreso com a sugestão.
“No fundo do mar? Bem, isso é de fato um pensamento assustador e audacioso. Mas, curiosamente, essa é a última esperança de muitos historiadores frustrados. Se existem resquícios do antigo mundo, eles devem estar lá. Cidades submersas, ruínas perdidas, monumentos esquecidos… Todos escondidos nas profundezas insondáveis…”
O professor fez uma pausa, sua expressão tornando-se mais sombria.
“Mas e daí? Mesmo que haja um império de conhecimento esperando abaixo, de que nos serve? Os mortais não podem tocar as profundezas desse mundo. Se tentarmos mergulhar… só encontraremos sombras”, Ele silenciou por um momento, como se estivesse ponderando algo, então prosseguiu: “Mas isso, claro, deu origem a outra teoria… Embora não seja formalmente uma escola acadêmica, há aqueles que especulam que o antigo mundo perdido nunca foi destruído.
“Em vez disso… ele afundou.”
Duncan levantou uma sobrancelha.
“Como assim?”
Morris pensou por um instante antes de explicar.
“Há estudiosos que afirmam que o mundo antes do Grande Aniquilamento ainda existe… Ele está submerso em algum ponto exato da imensidão oceânica, entre as Profundezas Abissais e o Plano Espiritual.
“Ali, ele dorme, esperando ser descoberto.”
Duncan se inclinou ligeiramente para frente, intrigado.
“E por que dizem isso?”
Morris esboçou um leve sorriso, já esperando essa pergunta.
“Porque em várias lendas antigas, o mundo antes do Grande Aniquilamento é descrito como tendo sido coberto por um firmamento de estrelas.
“E como sabemos, o único lugar onde as estrelas ainda brilham… É na fronteira entre as Profundezas Abissais e o Plano Espiritual.”
Duncan engasgou na própria saliva.
“Cof! Cof! … O quê?!”
Morris o olhou, surpreso com a reação.
“Você está bem?”
“Ah, sim… só me empolguei com a história e me engasguei um pouco.”
Duncan acenou com a mão, tentando disfarçar seu choque.
“Claro, claro… todo mundo sabe que o firmamento estelar está entre as Profundezas Abissais e o Plano Espiritual…”
“Óbvio.”
“Totalmente óbvio.”
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