Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Duncan rapidamente ajustou sua expressão e postura para não parecer um forasteiro perdido em meio a conceitos absurdos, mas sua mente estava em total tumulto.

    A verdade era que, quando alguém despertava em um mundo estranho e bizarro, não importava o quão rápido se adaptasse ou o quão bem conseguisse se disfarçar—sempre haveria um momento em que algo aparentemente trivial o atingiria como um tijolo na cara.

    O conhecimento histórico poderia ser aprendido de forma estruturada, e o conhecimento técnico, se não fosse necessário no dia a dia, poderia ser ignorado.

    Mas o senso comum…

    O senso comum era algo que só se percebia quando se batia de frente com ele—e então, tudo que se podia fazer era engolir o choque.

    Não há estrelas no céu deste mundo. Isso é senso comum.

    O firmamento estelar encontra-se nas profundezas do oceano, entre o Plano Espiritual e as Profundezas Abissais. Isso também é senso comum.

    Quanto a essa segunda ‘verdade absoluta’…

    Duncan só conseguia pensar em uma coisa: ‘Mas que porra é essa?!’

    Ele nunca havia explorado essa área específica do conhecimento e tampouco havia viajado até tais profundezas.

    Ele já havia conduzido o Banido pelas profundezas do Plano Espiritual, e já havia observado os fluxos de luz caóticos vazando do Subespaço, mas jamais havia testemunhado esse tal ‘firmamento estelar submerso’.

    Isso era um ponto cego em sua compreensão.

    Então, enquanto continuava conversando com Morris, sua mente trabalhava a toda velocidade.

    Um céu estrelado… oculto sob as águas profundas…

    Que tipo de cena absurda seria essa?

    A ‘abóbada estelar’ mencionada por Morris era a mesma que ele conhecia de seu mundo original?

    O que exatamente existia na fronteira entre o Plano Espiritual e as Profundezas Abissais?

    Era uma região de oceanos ainda mais profundos, ou algo apenas chamado de oceano, mas que na realidade era uma estrutura espacial incompreensível?

    Por alguma razão, a imagem da jovem chamada Shirley veio à sua mente.

    E, mais especificamente, seu inseparável ‘companheiro’, Cão.

    Cão era um ‘cão de caça abissal’.

    Segundo o conhecimento comum deste mundo, essas criaturas eram ‘demônios’ convocados das profundezas.

    Duncan não sabia como descrever a biologia de tal criatura, mas, à primeira vista, era evidente que não era um ser aquático.

    O que sugeria uma hipótese interessante:

    Se criaturas do Abismo não eram, necessariamente, aquáticas, então talvez as Profundezas Abissais também não fossem um oceano no sentido tradicional.

    Talvez fosse uma vastidão de espaço incompreensível…

    E, talvez… estivesse envolta por um firmamento de estrelas.

    Enquanto Duncan tentava esboçar mentalmente um modelo espacial das Profundezas Abissais, Morris percebeu que o antiquário de repente parecia distraído.

    O professor olhou para ele com curiosidade.

    “Você também tem interesse em astronomia?”

    “Eu só… tenho um certo fascínio pelo assunto.”

    Duncan forçou um leve sorriso.

    Já havia se acostumado com a ideia de que este mundo não possuía um céu estrelado.

    Mas então, do nada, surgia o termo ‘astronomia’…

    A sensação de dissonância cognitiva era surreal.

    “Se as estrelas estão escondidas em um lugar tão profundo… Explorá-las deve ser extremamente difícil.”

    Morris soltou uma risada leve.

    “Sem dúvida, é um empreendimento perigoso. Mas felizmente, com os avanços da tecnologia, conseguimos observar projeções do firmamento por meios indiretos. Graças às lentes espirituais, os navegadores agora podem ver as estrelas refletidas a partir do Plano Espiritual. Isso reduziu drasticamente os casos de loucura entre tripulações de navios de longa distância.”

    Morris pareceu ficar mais animado, como se não tivesse alguém com quem falar sobre isso há muito tempo.

    “Você precisa entender… um século atrás, os navegadores tinham a maior taxa de mortalidade entre as tripulações de navios. Naquela época, guiar um navio pelo oceano era um trabalho suicida. Na verdade, eu sempre quis colecionar um dos primeiros modelos de lentes espirituais, mas nunca consegui encontrar um contato para isso.”

    Duncan piscou, perdendo completamente o interesse na última parte da frase.

    Seu foco estava em algo muito mais importante:

    ‘Então é assim que os navios de longa distância navegam neste mundo? Ainda utilizam navegação astronômica… mas observando um céu projetado pelo Plano Espiritual?’

    Antes do Ano 1800 do Novo Calendário das Cidades-Estado, ser um navegador era uma sentença de morte.

    Afinal, navios comuns não possuíam o equivalente ao mapa vivo do Banido, que se atualizava como um sistema de navegação por satélite.

    E certamente não contavam com um ‘imediato-bode’ confiável.

    Duncan sorriu genuinamente.

    “Você realmente é um homem muito erudito.”

    Após uma longa conversa, ele não conseguiu conter um comentário sincero.

    “Nina tem muita sorte em ter você como professor.”

    Morris assentiu educadamente, sua expressão transmitindo uma leve satisfação.

    “E eu fico feliz que ela tenha você como tutor. Agora posso dizer com certeza que todas as minhas preocupações desapareceram. Você não apenas é um guardião responsável, mas também tem um intelecto aguçado e uma curiosidade genuína. Para ser honesto… já faz muito tempo que não tenho uma conversa tão agradável.”

    O professor suspirou levemente.

    “Minha vida atual tem muitas vantagens. É tranquila, pacífica, sem as burocracias que eu enfrentava no Distrito Superior. Mas há um problema: é difícil encontrar alguém disposto a me ouvir falar sobre esses temas ‘entediosos’. Mesmo entre meus colegas professores, quase ninguém acompanha meu raciocínio. É raro encontrar alguém que possa me escutar por tanto tempo.”

    Duncan riu.

    “Eu ficaria feliz em ser seu ouvinte. Sou muito interessado em história.”

    “Isso está bem claro para mim”, Morris sorriu de volta, parecendo realmente satisfeito.

    Mas então, ao lançar um olhar para a vitrine da loja, ele de repente se deu conta do tempo.

    “Oh, pela Deusa!”

    “Eu já passei a tarde inteira aqui?”

    “Se não se importar, pode passar a noite aqui”, Duncan disse casualmente. “Assim, poderá provar minha comida.”

    “… Acho que ainda consigo pegar o último ônibus de volta para o Distrito da Encruzilhada”, Morris olhou para o sol poente e recusou educadamente a oferta. “Agradeço o convite, mas acho melhor voltar para casa. A cidade anda instável ultimamente, e ficar fora a noite toda pode preocupar minha família.”

    “Faz sentido… Então, não vou insistir”, Duncan assentiu e se levantou. “Vou chamar Nina.”

    Morris abriu a boca, mas antes que pudesse dizer algo, Duncan já estava chamando a sobrinha do segundo andar:

    “Nina! O professor Morris está indo embora, venha se despedir dele!”

    O som de passos apressados ecoou pela escada.

    Nina desceu correndo, agora vestindo um vestido caseiro confortável. Primeiro, cumprimentou seu professor, depois olhou para o céu escurecendo do lado de fora e virou-se, surpresa, para Duncan.

    “Vocês conversaram esse tempo todo?!”

    “Tivemos uma conversa muito proveitosa”, Morris sorriu. “Seu tio é alguém de interesses amplos e muita sede de conhecimento. Falamos bastante sobre história.”

    Duncan manteve uma expressão séria e assentiu, sem contestar.

    Na realidade, a ‘conversa’ consistiu em Morris falando e ele fingindo entender, mas se o professor estava satisfeito com essa dinâmica, Duncan não via razão para negar. Afinal, ele considerava que havia sido um bom ouvinte, contribuindo com perguntas ocasionais para manter o fluxo da discussão. Para um historiador que normalmente não encontrava quem quisesse ouvir suas longas explicações, aquele ambiente de troca parecia perfeito.

    Mas Nina olhou para o tio, depois para o professor, com uma expressão visivelmente desconfiada.

    Ela queria perguntar desde quando seu tio se tornara um estudioso curioso, mas engoliu a dúvida no último segundo. No entanto, de repente, seu rosto ficou um pouco tenso.

    Agarrou a manga de Duncan e cochichou baixinho:

    “Vocês falaram algo sobre mim?”

    “Algumas coisinhas sobre a escola”, Morris, que, apesar da idade, ainda tinha uma audição afiada, ouviu sua pergunta e respondeu prontamente. “Seu tio vai lhe contar. Mas não se preocupe, não fiz nenhuma reclamação injusta.”

    Enquanto falava, pegou a bengala que deixara ao lado da porta e conferiu novamente a adaga antiga guardada em seu bolso interno.

    Feito isso, despediu-se dos dois e saiu tranquilamente pela porta.

    Assim que Morris se afastou, Duncan olhou para o céu escurecendo.

    Sem pressa, virou a placa da porta para ‘Fechado’ e trancou a loja.

    A essa hora, dificilmente apareceria mais algum cliente.

    Além disso, após a transação da adaga, ele não sentia urgência em vender mais nada.

    Nina observava o tio, que agora organizava o balcão e trancava tudo. Seu rosto estava repleto de dúvidas, mas antes que pudesse falar, Duncan olhou para ela e sorriu.

    “Nos próximos dias, vou comprar uma bicicleta para você.”

    “Ah?” Nina piscou, confusa. “Por que…?”

    “Ganhei um prêmio da prefeitura há alguns dias, o dinheiro já era suficiente. E agora, com essa venda, podemos gastar um pouco mais confortavelmente”, Duncan balançou o cheque em mãos. “Uma bicicleta seria bem útil, não acha?”

    “Venda…” Nina finalmente entendeu. “Ah! Então você realmente vendeu aquela adaga para o professor Morris?”

    “Sim”, Duncan assentiu. “Por mais de três mil soras.”

    Nina: “…?!”

    Ela, que tinha uma noção muito clara do valor do dinheiro, ficou imediatamente atordoada com aquele número.

    Então, olhou estranhamente para o tio.

    “O professor veio para uma visita domiciliar, você o segurou aqui a tarde toda e ainda vendeu algo para ele por mais de três mil soras… Você tem ideia de como isso vai soar para os outros?!”

    Duncan pensou por um momento, então respondeu com total seriedade:

    “Significa que nossa loja ficará famosa?”

    Nina: “Você está falando sério?!”

    Duncan deu de ombros.

    “E qual seria o problema? O professor gostou da peça, e eu não ia simplesmente dar de presente. Era um dos únicos itens autênticos da loja.”

    Nina cruzou os braços, inflando as bochechas em irritação.

    Mas, no final… a expressão emburrada se dissolveu em um sorriso.

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