Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 97: Quem está elaborando a lista?
A perspectiva refletida no espelho parecia se basear em uma janela. Duncan sentia como se estivesse colado ao vidro, observando a cena dentro do cômodo. No interior do aposento, uma jovem mulher de estatura excepcionalmente alta chamava sua atenção. Seu perfil lhe parecia familiar.
Com um breve esforço de memória, Duncan lembrou-se de onde já havia visto aquele rosto—era Inquisidora Vanna Wayne, uma das figuras mais proeminentes em Pland!
Ele se recordava de ter visto sua imagem estampada nos jornais.
Por que estava vendo essa cena? Por que, de repente, enxergava através de uma janela essa devota da Deusa da Tempestade? Existia alguma conexão oculta entre eles? Quando essa ligação teria sido estabelecida? E por que nunca a havia percebido antes, apenas para senti-la tão nitidamente agora?
Uma torrente de pensamentos surgiu em sua mente, mas, no instante seguinte, suas divagações foram abruptamente interrompidas pelo que viu.
Ele percebeu o que a Inquisidora estava lendo no espelho.
Era um documento, redigido com um formato rigoroso. No papel, via-se impresso o símbolo sagrado da Deusa da Tempestade, e a primeira linha do texto dizia:
〖Comunicado a todos os capitães e clérigos acompanhantes, bem como guias navegadores dos mares infinitos: Anomalia 099 – Caixão de Boneca saiu recentemente do controle. Sob a testemunha do Mais Sagrado e Iluminado, o objeto amaldiçoado encontra-se perdido na tempestade. A seguir, estão os detalhes do incidente e suas características…〗
Duncan arregalou os olhos, fixando seu olhar sobre os ombros de Vanna e lendo o conteúdo do documento, que seguia um formato semelhante a um rito ou oração. Ele viu as descrições sobre a Anomalia 099, sua maldição mortal com poder de decapitação, a origem do Caixão de Boneca e menções ao cadafalso de Alice…
Atônito, ele continuou a leitura, até que seus olhos desceram para a parte inferior do documento, onde encontrou o registro do suposto ‘ataque’ ao Carvalho Branco. No entanto, a última linha crucial estava obstruída pela silhueta imponente da Inquisidora, impedindo que ele lesse o final do texto.
Duncan inclinou-se para os lados na frente do espelho, tentando enxergar melhor. Frustrado, ele murmurou instintivamente:
“Sai um pouco da frente… só um pouquinho para o lado…”
Na sala de descanso, Vanna sentiu uma leve brisa passar por sua orelha. Instintivamente, ela virou a cabeça, percebendo que a janela estava ligeiramente entreaberta. A brisa fria do entardecer soprava do mar através da fresta.
As chamas das lâmpadas a óleo no aposento tremulavam suavemente. A luz branda dissipou a hostilidade que se espalhou pelo mundo ao cair da noite, trazendo-lhe uma sensação peculiar de segurança.
Ela colocou o documento de lado e se virou para o bispo distrital:
“Guarde isso. Os bispos das cidades-estado certamente tomarão providências cuidadosas. Esse material está seguro.”
O bispo distrital assentiu. Enquanto recolhia o documento, também girou o interruptor da lâmpada elétrica do cômodo. A luz intensa da eletricidade dispersou a penumbra do crepúsculo, sobrepujando o brilho das lâmpadas a óleo:
“Pretende retornar à catedral central ainda esta noite?”
“O Bispo Valentine ainda me aguarda para uma reunião”, Vanna respondeu com um leve aceno de cabeça. “Muitas coisas estão inquietas na cidade-estado ultimamente. Talvez precisemos organizar uma cerimônia de oração em larga escala para reforçar a proteção da catedral sobre toda a cidade.”
Ela ergueu o olhar para o lustre pendente no teto. As lâmpadas elétricas iluminavam o cômodo como se fosse pleno dia.
“… Se ao menos a luz elétrica tivesse efeito contra o mal… É tão brilhante, sua iluminação é muito mais ampla do que a chama.”
“Quem dera”, o bispo distrital deu de ombros. “Mas, infelizmente, a eletricidade não possui santidade.”
Vanna balançou a cabeça, sem dizer mais nada. Após se despedir do bispo, saiu da sala de descanso.
Pouco depois de sua partida, uma das lâmpadas a óleo próxima à janela tremulou levemente, mas logo voltou à sua tranquilidade.
A cena refletida no espelho começou a desaparecer. A película esverdeada de luz esmaeceu e, no vidro, voltou a se refletir apenas o interior da cabine do capitão.
No instante em que a Inquisidora havia virado a cabeça, Duncan conseguiu vislumbrar a última linha do documento—e, para ele, a informação mais relevante se resumia a algumas palavras:
〖Fenômeno 005 – Banido〗
“Então o Banido realmente foi classificado como um ‘Fenômeno’… e o número é tão alto.” Duncan retornou à sua escrivaninha, murmurando pensativo. Mas, logo em seguida, uma dúvida surgiu. “Agora que penso nisso… como exatamente esses números são definidos?”
Os livros didáticos de Nina mencionavam diversas anomalias e fenômenos, seus números e nomes, além de uma ‘lista’ e suas regras de classificação, cuja origem remonta ao antigo Reino de Creta. No entanto, o método exato de designação dos números e quem os determinava permanecia vago. Apenas afirmava-se que as igrejas detinham autoridade para interpretar e divulgar tais informações. Além disso, normalmente, quanto menor o número, mais estranha e perigosa era a entidade, ou maior era seu significado histórico.
Duncan nunca havia pensado muito nisso antes, mas, agora, a questão o intrigava.
Esses números seguem a ordem de descoberta?
Se fosse esse o critério, então um navio que só surgiu há cem anos, como o Banido, não poderia ter um número tão baixo. Afinal, existem incontáveis fenômenos mais antigos, e os primeiros números deveriam estar preenchidos há muito tempo.
Mas, se os números não seguem a ordem de descoberta, e sim o grau de perigo, então a classificação precisaria ser constantemente revisada. Cada vez que uma nova anomalia ou fenômeno fosse encontrado, seria necessário recalcular seu nível de ameaça e reorganizar toda a ‘lista’. Isso tornaria o sistema extremamente trabalhoso e pouco prático de se usar.
Embora os livros didáticos afirmassem que o nível de perigo das anomalias e fenômenos nem sempre estava 100% relacionado à sua posição numérica, também deixavam claro que, na maioria dos casos, os de números mais baixos eram mais perigosos, aterrorizantes ou possuíam maior relevância histórica.
Isso levantava uma questão intrigante: se a lista atual de anomalias e fenômenos fosse algo estável e raramente alterado, então seu criador precisaria ter uma capacidade profética impressionante. Para manter essa ordem fixa, ele teria que prever a posição exata de cada nova anomalia e fenômeno descoberto, além de reservar espaços para aqueles que ainda surgiriam no futuro.
Duncan ficou pensativo ao ver a classificação ‘Fenômeno 005 – Banido’ e começou a questionar quem havia criado essa lista e quais critérios realmente regiam sua organização. No entanto, ele rapidamente deixou essas dúvidas de lado.
Porque, no momento, havia algo ainda mais importante do que os critérios dessa ‘lista sobrenatural’—Alice.
Aquela boneca amaldiçoada tinha uma origem muito mais significativa do que ele imaginava!
“Vou sair um instante.”
Duncan jogou a frase no ar para a pomba sobre a mesa e saiu da cabine do capitão.
No Sala de Mapas, a cabeça de bode ouviu o barulho da porta e imediatamente girou na direção do som. Ao avistar Duncan, iniciou seu discurso habitual:
“Senho—”
“Duncan Abnomar. Agora deixa isso pra lá. Onde está Alice?”
“Ah, grande capitão—” O Cabeça de Bode, após confirmar o nome, estava prestes a continuar seu falatório habitual, mas Duncan o cortou antes que ele pudesse entrar no modo automático. A interrupção fez seu pescoço estalar ruidosamente, antes que finalmente processasse a pergunta.
“Ah, a senhorita Alice? Deve estar no quarto, contando os fios de cabelo.”
“Contando os fios de cabelo?” Duncan parou por um segundo, franzindo a testa. “Que tipo de mania nova é essa? Ah, esquece, eu mesmo vou até lá. Continue navegando.”
Sem esperar por qualquer resposta, ele girou nos calcanhares e saiu da sala a passos largos, deixando para trás a cabeça de bode, que piscou algumas vezes, olhando para a porta agora fechada.
“Eu nem tive tempo de falar mais…” murmurou, frustrado. Depois de um momento de reflexão, suspirou. “Minha habilidade de iniciar conversas está ficando pior?”
Assim que ele terminou de falar, a porta que conectava à cabine do capitão se abriu ligeiramente. Pela fresta, Ai, a pomba, passou batendo as asas e pousou sobre a mesa.
“Quer conversar por cinco soras?” A pomba inclinou a cabeça, piscando os olhos miúdos.
“Ótimo! Desde que haja alguém para conversar!” O Cabeça de Bode ficou animado instantaneamente. Como considerava todos no navio ‘da família’, não era nada exigente com seus parceiros de diálogo. “Sobre o que quer falar? Aliás, você realmente consegue falar normalmente? Sempre tive a impressão de que você…”
“Quero batata frita.”
“Hã?” O Cabeça de Bode piscou. “Não, o que eu queria dizer era se você realmente tem consciência de si mesm—”
“Quero batata frita.”
“… Se estiver interessado na culinária marítima…”
“Quero batata frita.”
“… Você não pode dizer outra coisa?”
“Quero batata frita.”
Cabeça de Bode: “…”
Enquanto isso, Duncan ignorava completamente o que acontecia na cabine do capitão. Ele cruzou o convés superior sem hesitar e rapidamente chegou ao dormitório dos tripulantes. Parou diante da porta de Alice, respirou fundo para organizar os pensamentos e então bateu.
“Alice, sou eu.”
Do outro lado da porta, uma voz hesitante e gaguejante respondeu rapidamente:
“Po-pode… po-pode en-trar…”
Duncan levantou uma sobrancelha, suspeitando imediatamente que havia algo estranho. Sem mais delongas, empurrou a porta e entrou.
Alice, vestindo seu usual vestido gótico, estava sentada diante da penteadeira. Suas mãos seguravam sua própria cabeça, enquanto sua longa cabeleira prateada caía em cascata pelos ombros.
Quando a cabeça virou na direção dele, um sorriso encantador se abriu em seu rosto impecavelmente esculpido.
“Bo…bo…boa noi…noite, ca…ca…capitão!”
Duncan suspirou profundamente.
“Coloque sua cabeça de volta no lugar.”
“Plop.”
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