Capítulo 99: O Primeiro Passo para Testar e Controlar
Depois de confirmar que Alice não reagia a nenhum dos ‘termos-chave’ e não fazia ideia das informações sobre a habilidade de decapitação, Duncan decidiu contar para a boneca amaldiçoada tudo o que havia acabado de descobrir.
Isso porque ele começava a formular uma nova hipótese: talvez o verdadeiro foco da Anomalia 099 – Caixão de Boneca não fosse a boneca em si, mas sim seu caixão.
O Mar Infinito estava calmo, as ondas brandas embalavam suavemente o navio. Dentro da cabine, a luz trêmula das lâmpadas a óleo dançava nas sombras, enquanto o Capitão Fantasma narrava lentamente a história do Caixão de Boneca—e, ao final, a boneca se encolheu de medo.
Duncan permaneceu impassível, observando Alice, que agora estava encolhida no canto da cama, abraçando a própria cabeça, com as costas contra a parede.
“Precisa mesmo entrar em pânico assim?”
“Es-esse negócio soa assustador demais!” Alice engasgou nas palavras, parecendo uma jovem comum que acabara de ouvir uma história de terror. “Decapitação indiscriminada, só para quando todo mundo na área estiver morto, expansão contínua da zona afetada… Eu… Eu não sabia nada disso!”
“Agora eu acredito que você realmente não sabia.” Duncan lançou um olhar para Alice. “Mas, goste ou não, essas são as informações registradas sobre a Anomalia 099 – Caixão de Boneca.”
Alice segurou a própria cabeça com as mãos, seu pescoço rígido enquanto olhava fixamente para Duncan.
“Então…”
“Tenho duas hipóteses.” Duncan começou a explicar. “A primeira: essa habilidade de ‘decapitação’ pode ter sido ativada por você sem perceber. Afinal, você mesma é uma anomalia, e suas capacidades podem ser apenas um efeito passivo em área. Ou seja, mesmo quando estava ‘adormecida’, a habilidade ainda poderia estar ativa.”
Enquanto falava, Duncan se levantou lentamente da cadeira. Ele caminhou até o caixão ornamentado e tocou sua superfície com a ponta da espada.
“A segunda hipótese: talvez o poder de ‘decapitação’ da Anomalia 099 não venha de você, mas sim do seu ‘caixão’.”
“Meu… caixão?” Alice arregalou os olhos, seguindo instintivamente o movimento de Duncan até o ataúde ao lado da cama. Só agora parecia processar o que ele queria dizer.
“O nome completo da Anomalia 099 é ‘Caixão de Boneca’…” Duncan continuou, esfregando o queixo enquanto pensava alto. “Ou seja, você e o seu caixão, juntos, formam a anomalia completa. Quando te encontrei pela primeira vez, instintivamente considerei que você era a parte ‘principal’—porque eu ainda não sabia o nome completo da anomalia.”
Ele fez uma pausa antes de concluir:
“Mas, agora que penso melhor… O termo ‘Caixão de Boneca’… O foco pode estar justamente na primeira parte do nome.”
Alice piscou algumas vezes, processando a informação em seu ritmo. Após alguns segundos, bateu palmas como se tivesse tido uma revelação:
“Oh! Eu sou só um acessório do caixão!”
Duncan a encarou com uma expressão completamente sem emoção.
“… Você não precisava dizer isso com tanto orgulho.”
Alice, no entanto, não percebeu o tom sarcástico de Duncan. Ela apenas lançou um olhar preocupado para seu próprio caixão, sua voz carregando um toque de inquietação:
“Então, quer dizer que… Meu caixão sempre teve essa habilidade de ‘decapitação’? Mas eu vivi dentro dele por tanto tempo e nunca senti nada de tão terrível ou perigoso… Nem percebi nenhuma força especial vinda dele…”
“Óbvio.” Duncan franziu a testa. “Você é uma parte da Anomalia 099. Você acha que sua percepção pode ser levada a sério?”
Ele a observou por um momento antes de acrescentar, com um olhar avaliador:
“Aliás, por que você não experimenta tocar seu próprio pescoço? Eu estou começando a achar que a razão pela qual sua cabeça cai o tempo todo é justamente porque você dorme dentro desse caixão!”
Alice ficou visivelmente abalada com essa possibilidade. Sua expressão imediatamente se tornou complexa, mas logo depois outra dúvida surgiu em sua mente:
“Mas, se essa ‘decapitação’ é mesmo uma propriedade do meu caixão… Ele está no navio há tanto tempo e nunca vi essa habilidade sendo ativada. Por quê?”
Assim que terminou de falar, Alice encontrou o olhar de Duncan—uma expressão sombria e carregada de significado.
Foi nesse momento que a boneca boba finalmente percebeu o que havia acabado de dizer… Ela ficou tão relaxada vivendo no navio que, por um instante, esqueceu completamente quem era Duncan e do que ele era capaz.
Ele simplesmente a observou em silêncio.
A cada segundo que passava, Alice se encolhia ainda mais, quase formando uma bolinha.
Duncan só abriu a boca depois que ela já estava toda encolhida:
“O único ser humano nesse navio além de você sou eu. Você está insinuando que…”
“Eu não estou insinuando nada!” Alice quase saltou do lugar, gesticulando freneticamente. “Por favor, ouça minha explicação! Eu só queria dizer que o caixão…”
“Eu nunca disse que ia te fazer algo.” Duncan a interrompeu, suspirando com um olhar exasperado. “Agora você faz parte da tripulação do Banido, e eu sou o responsável por garantir sua segurança no Mar Infinito. Você não precisa ficar tão apavorada assim—sente-se direito. Desse jeito, parece até que eu estou te intimidando.”
Alice respondeu com um pequeno ‘oh’ e, um tanto hesitante, voltou para a beira da cama.
Duncan, por outro lado, ficou pensativo. O comentário impulsivo de Alice o levou a outra linha de raciocínio.
Ela estava certa.
Seja a verdadeira fonte da anomalia a boneca ou o caixão, a Anomalia 099 já está no Banido há muito tempo—muito além do que seria esperado para sua ‘reativação’ periódica. No entanto, a anomalia permaneceu completamente inofensiva esse tempo todo.
Isso só poderia significar que algo a estava suprimindo.
A questão era: o que exatamente estava restringindo a anomalia—o próprio Banido ou Duncan?
Ele baixou os olhos para as próprias mãos.
Duncan sabia que possuía um poder anormalmente vasto. Essa força era tão intensa que não apenas lhe permitiu tomar completamente a identidade do cultista Ron, mas também era assustadora o bastante para fazer com que Alice—a própria Anomalia 099—se encolhesse de medo no momento em que o viu pela primeira vez.
Até mesmo o Cão de Caça Abissal, uma criatura das Profundezas Abissais, abaixava a cabeça na presença dele.
Ele ainda não entendia a verdadeira natureza de seu poder, mas aos poucos começava a formar uma ideia sobre sua singularidade.
E, por outro lado, havia o Banido—um dos fenômenos sobrenaturais mais poderosos do Mar Infinito.
Diferente das anomalias, o Banido não era classificado como ‘Anomalia’, mas sim como ‘Fenômeno’.
Isso significava que, enquanto alguém estivesse a bordo do Banido, essa entidade exerceria um efeito contínuo sobre tudo dentro de seu domínio—um campo de influência ativo 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Com a dupla restrição do Capitão e do Banido, a Anomalia 099 permanecia completamente inofensiva.
Mas, se Duncan realmente seguisse seu plano e levasse Alice até Pland…
As coisas poderiam sair do controle rapidamente.
Por isso, ele precisava esclarecer uma série de questões:
O verdadeiro catalisador da anomalia era a boneca Alice ou o caixão?
A supressão da anomalia vinha dele próprio ou do Banido?
Se Alice e o caixão fossem separados, a anomalia ainda ocorreria?
Se a supressão viesse dele, qual era o alcance desse controle?
E se a capacidade de decapitação viesse realmente do caixão, isso significaria que levar Alice sozinha até Pland seria seguro?
Se o caixão fosse um elemento anômalo independente, então seria possível para suas chamas interagir diretamente com ele?
Duncan se perguntou: se ele cobrisse o caixão com suas chamas e o tomasse para si, isso significaria que teria controle total sobre esse efeito de decapitação?
Tal como aconteceu com Ai e a bússola de latão?
Uma onda de perguntas inundou sua mente, e, lentamente, essas dúvidas se organizaram em um plano de experimentação.
Mas, no fim, Duncan percebeu um problema frustrante:
Ele não tinha as condições ideais para conduzir esses testes.
O Banido não era um ambiente confiável para esse tipo de experimento, pois suas propriedades sobrenaturais poderiam interferir nos resultados. Além disso, ele não tinha um alvo adequado para testar a capacidade de decapitação—afinal, esse teste específico exigia sacrificar um ‘voluntário’.
Duncan levantou o olhar.
Alice continuava sentada quietamente na beira da cama, olhando para seu caixão favorito com uma expressão de inquietação—seus pensamentos claramente refletidos em seu rosto.
Percebendo que o capitão a observava, Alice quebrou o silêncio e falou em voz baixa:
“Desde o momento em que tomei consciência… sempre vivi dentro desse caixão. Ele é minha cama, minha casa, meu refúgio. Quando estou lá dentro, me sinto segura.”
Duncan não respondeu de imediato, apenas continuou observando-a.
Alice esticou a mão, passando os dedos delicadamente sobre a superfície de madeira do caixão.
“Agora eu entendo por que os humanos têm tanto medo…” ela murmurou. “Eles não temem a mim. Eles temem ‘nós’.”
Duncan assentiu levemente e, com um tom sério, revelou:
“Eu planejava levá-la a Pland em minha próxima travessia espiritual. Eu preciso de uma assistente por lá.”
Por um instante, os olhos de Alice brilharam—mas, logo em seguida, seu entusiasmo desapareceu.
“Ah… Isso pode ser um problema…”
“O plano foi adiado, mas não cancelado.” A expressão e a voz de Duncan permaneceram firmes. “Só precisamos de mais tempo para entender você… ‘vocês’. Precisamos descobrir exatamente como essa ‘decapitação’ funciona. As cidades-estado encontraram maneiras de selar e até mesmo usar diversas anomalias ao longo dos anos. E aqui, no Banido… podemos fazer ainda mais.”
Alice lançou um olhar cheio de dúvida para Duncan.
Mas, ao encarar os olhos profundos e calmos do capitão, ela percebeu que suas palavras não eram apenas um conforto vazio.
“Você tem um plano?”
Duncan pensou por um momento, então ergueu uma das mãos.
Na ponta de seu dedo, uma pequena chama verde espectral brilhou suavemente.
“Para começar…” ele disse com um meio sorriso. “Vamos precisar de um pouco de fogo.”
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