Índice de Capítulo

    Olhando para frente, encontrou Evelyn. Ela agora parecia estar realmente dormindo — sem o falso ronco exagerado de antes. Sua cabeça estava apoiada contra a janela, abraçando a mochila como se fosse um travesseiro improvisado. O rosto tranquilo contrastava com as cicatrizes que carregava.

    Curioso, virou o olhar para o lado. No banco oposto, duas pessoas estavam lendo livros, e uma senhora idosa rabiscava algo sobre o joelho. O folheto dizia “Sudoku”. Niko leu o título de relance. Achou curioso. Se encontrasse um parecido com aquele, pegaria.

    Ele tirou do bolso o relógio, cujos os ponteiros apontavam levemente para a esquerda, indicando o horário — “9:53”. Ainda havia tempo.

    Levantou-se em silêncio e caminhou até a porta metálica no fim do vagão. Ao abri-la, foi recebido por um estrondo de vapor e um frio imenso vindo do exterior. A ponte entre os vagões tremia sob seus pés. Logo à esquerda, avistou uma pequena escada que levava ao topo do trem. Ele subiu.

    Do alto da locomotiva, agora sem o embaço da janela, Niko viu a vastidão do campo nevado. A paisagem se estendia sem fim: poucas árvores dispersas, algumas casas afastadas, todas conectadas por uma estrada solitária. Cercas delimitavam o que pareciam antigas fazendas adormecidas — calmas, imóveis, esperando pela primavera. Era como se o mundo inteiro tivesse prendido a respiração e segurado o fôlego. Não havia nenhum som, exceto pelo rugido da locomotiva abaixo de seus pés.

    Sentou-se na borda do vagão. O vento frio batia no rosto, mas não o incomodava. Era um frio limpo, puro — fazia parte daquele momento. Devia ser apreciado junto com aquela bela vista.

    Depois de alguns minutos contemplando a gélida paisagem, Niko desceu e voltou ao assento. Abriu o livro novamente, na página marcada com a fita vermelha.

    1.3. O Desenvolvimento das Primeiras Cidades e Organizações

    O surgimento das primeiras cidades ao redor do Mar de Saqiien representou um marco transformador na história das civilizações da região. À medida que comunidades sedentárias cresciam em número e complexidade, surgiram centros urbanos que funcionavam como núcleos de comércio, administração e cultura…

    O capítulo seguiu explicando como essas “cidades marítimas” deram estabilidade às sociedades locais. Sistemas políticos e sociais surgiram, com leis e acordos de cooperação entre reinos vizinhos. Aquilo impulsionou a ciência, a arquitetura e as redes comerciais.

    1.4. Desafios e Superações: Guerras, Fome e Catástrofes Naturais

    A história das margens do Mar de Saqiien é profundamente marcada por adversidades que moldaram as comunidades e suas culturas. Durante milênios, os povos da região enfrentaram guerras devastadoras, fome generalizada e a força imprevisível da natureza. Esses desafios, embora catastróficos, também impulsionaram a inovação e a resiliência das civilizações locais…

    O capítulo se aprofundava nas tragédias que assolaram aquela era. Uma das piores foi a Guerra das Três Margens, em cerca de 800 Pr., travada entre os reinos de Qädimar, Braqielus e Caltrônia. O motivo era para os reinos terem o controle de um delta fértil. Trinta a cinquenta mil mortos em quinze anos. E isso sem levar em conta as mortes indiretas e de civis.

    Outra calamidade foi o Grande Terremoto de Zalthora, em 12 Pr. A cidade de mesmo nome foi quase completamente destruída. Estimavam ao menos seis mil mortos no desastre. E levou séculos para o ponto comercial se reconstruir completamente.

    Esses desafios, segundo o autor, moldaram as culturas com força e criatividade. A guerra, por bem ou por mau, fez florescer a inovação.

    Enquanto lia o capítulo, Niko não pôde deixar de imaginar como seria viver naquela época. Como eram as vozes, os mercados, os desejos e os medos diários de pessoas que enfrentavam catástrofes sem qualquer explicação científica? Será que havia albocernos também entre eles? Ou será que eles ainda nem haviam sido descobertos?

    A ideia de estar lendo sobre milhares de anos atrás, sobre vidas inteiras apagadas pelo tempo, o deixava um gosto estranho. Como se tudo aquilo tivesse acontecido em outro mundo. Mas, de algum jeito, ainda era o dele.

    Virando a página, Niko chegou ao capítulo seguinte.

    Capítulo 2: O Surgimento dos Anjos (1Po.)

    O surgimento dos Anjos, como eventos sobrenaturais que abalaram o mundo arcaico, foi uma virada inesperada na história do mundo.

    Em Qädimar, uma terra onde o sol impiedoso queimava as dunas de areia e os rios tentavam dar vida ao deserto, um acontecimento transcendental, até então impensável, se fez presente.

    Embora muitos povos acreditassem em deuses que residiam no céu ou na terra, a chegada dos Anjos trouxe uma nova dinâmica à realidade já delicada da região. Para os habitantes de Qädimar, os Anjos não eram apenas seres divinos, mas figuras quase mitológicas, portadoras de conhecimento inédito e de um poder que nenhum ser Sapien poderia compreender ou contestar. Era um fenômeno que misturava misticismo, temor e reverência, e que desde o princípio, começaria a redefinir o futuro das civilizações conhecidas.

    Aquela foi a introdução do capítulo, rápida, direta, e pela primeira vez respondia algo que Niko se perguntava: “De onde surgiram os Anjos?” A resposta: Qädimar.

    2.1. O Mistério da Chegada

    A chegada dos Anjos foi um evento envolto em mistério. Surgiram não por meios naturais ou simplesmente como parte de um ciclo esperado, mas de maneira abrupta e dramática, como se estivessem descendo dos céus, em uma dança silenciosa com as estrelas.

    No primeiro instante, ninguém sabia exatamente o que acontecia. As estrelas pareceram brilhar mais intensamente, e os ventos, antes áridos e implacáveis, cessaram como se a própria natureza tivesse parado para testemunhar o evento.

    Para os habitantes das margens dos rios de Qädimar, a visão dos Anjos parecia um prenúncio, algo maior do que a própria existência sapiana poderia compreender.

    Eles não vieram com armas nem discursos imponentes. Em silêncio, pairaram sobre as águas dos rios, entre o calor do deserto e o frescor das margens, provocando os primeiros questionamentos dos seres conscientes sobre seu próprio lugar no mundo…

    Embora fosse fantástica essa história da chegada dos anjos, o autor deixou claro em seguida que não se tem certeza se foi isso de fato que ocorreu, já que o registro mais antigo encontrado foi em 23Po., mais de duas décadas depois de sua chegada, em um conto de um autor sem nome.

    O modo que os Anjos surgiram foi igualmente inesperado. Surgiram graças às orações dos povos de Qādimar, que desejavam paz, riqueza e prosperidade. Os anjos atenderam os pedidos de ajuda com uma condição: sua conversão à Ordem Alstra.

    Os anjos eram criaturas praticamente mágicas, cada um com uma característica diferente do outro, em específico, seus poderes. Havia Isalya, anjo da natureza e da vida, Selunor, anjo da Lua e das noites, Pryxio, anjo do fogo e do sol, entre muitos outros seres divinos, imortais e de grande poder, cada um único, insubstituível e inabalável.

    Assim que Niko chegou ao fim da seção, um apito grave ecoou, abafado pelo vagão. A locomotiva reduzia a velocidade conforme se aproximavam a parada.

    Ele marcou a página com a fita vermelha e a fechou o livro, olhando para a janela ao seu lado. Mesmo embaçada pelo frio, era possível distinguir a silhueta de uma grande estrutura de metal e concreto.

    Eles chegaram à cidade.

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