Capítulo 5
Jum era um covarde. O que eu realmente queria era fazer um pequeno corte, mas, quando avancei para fazê-lo…
— JÁ BASTA! — Rusfum gritou, mostrando-se muito irritado.
— Vamos ter uma conversa sobre isso, Kan — disse meu pai ao passar por mim em direção à saída —, mas não agora, tenho que ir. — Abaixei a cabeça e não falei nada, eu sabia que ele não tinha gostado.
Eu ainda estava no meio do pátio quando percebi os olhares de medo e ódio lançados em minha direção, contudo nenhum deles se comparava ao olhar de raiva de Jum.
Fui instruído a largar minha pequena trouxa em um canto e juntar-me a um grupo de garotos que corria ao redor do pátio. Não demorou muito para que um longo apito soasse, marcando o fim dos treinos. Era a hora do almoço, percebida pela alegria dos garotos.
A cantina era imensa, caberia cerca de trezentas pessoas confortavelmente sentadas em grandes bancos de madeira. Ao lado, sobre a mesa, uma grande travessa de ensopado, algumas frutas e vários pães. Para minha surpresa, o ensopado não estava ruim. Os pães estavam duros, porém mergulhados na sopa ficavam deliciosos.
Infelizmente, não posso dizer como estavam as frutas, pois, quando chegou minha vez, não havia mais nenhuma. Tentei ter uma refeição agradável. Tive que aceitar muitos olhares nervosos, mas não revidei.
Após um breve tempo, o apito soou novamente. Os rostos alegres desapareceram rapidamente e, em seu lugar, podiam-se ouvir longos suspiros vindos de várias direções.
No restante do tempo, treinamos com tipos diferentes de porretes, como um que imitava um machado e outro que era muito parecido com uma lança. A única aula interessante foi a de arco, mas minha pontaria era péssima. Chamaram aquilo de arco de guerra, mas hoje eu sei que era apenas mais um brinquedo. O ferreiro não gostava de arcos, ele dizia que era arma de covardes, era a primeira vez que treinava com um.
No fim do treinamento, um dos supervisores disse-me:
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— Siga-me Garoto, irei te mostrar a Academia. Como você mesmo pode ver, são quatro pisos. No primeiro fica a cantina, sala dos supervisores, arsenal e outras…
— Só um momento, vou pegar minhas coisas. — O supervisor não gostou de ser interrompido e muito menos de ter que esperar, fez uma cara feia para ficar bem clara sua posição.
Demorei um bom tempo até encontrar, não estavam no local que deixei. Alguém as espalhou, jogou algumas peças de roupas no rio e outras foram rasgadas. Na verdade, quase não recuperei nada. Aquilo me deixou muito irritado.
Quando voltei para acompanhar o nervoso supervisor, ele não era o único de cara feia.
— No segundo piso ficam os alojamentos dos supervisores — continuou ele, quando me aproximei — e salas que não são da sua conta.
— No terceiro piso ficam os alojamentos dos alunos. No quarto piso fica o mirante. As regras que você precisa saber agora são: não mate, não roube, não brigue.
Quando cheguei no primeiro degrau da escada, ele já não tinha mais nada para dizer. Eu preferi assim.
— Este é o seu alojamento. Boa sorte. O supervisor apontava para uma porta de madeira.
Fiquei um bom tempo admirando a vista, apenas dava para ver o final da grande ponte negra, além do imenso rio e a floresta que o margeava, mas a visão era magnífica. Aquilo me acalmou um pouco.
Ao passar pela grande porta de madeira, olhos nervosos e surpresos acompanharam minha busca por uma cama. O quarto era como todo o prédio, de rochas negras, além de feder a mofo, chulé e urina. Uma precária luz passava entre os pequenos espaços triangulares espalhados na linha do horizonte. A penumbra e os odores deixavam o lugar insuportável. Novamente tive que ignorar muitos olhares. Escolhi uma cama que aparentava estar vazia e me deitei. Não muito confortável, mas perdido em pensamentos, estava cansado e só queria dormir, mas o dono de uma voz estridente não concordava com a minha vontade:
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— Esta é minha cama! Saia!
Ao levantar os olhos, reconheci quem me importunava: era o mesmo garoto com quem eu lutara no início do dia. Não pude reprimir um suspiro de impaciência, mas consegui conter-me e falei:
— Tudo bem! Irei para outra. — Peguei minha pequena trouxa e logo encontrei outra cama vazia.
Antes mesmo que eu me acomodasse, ele tornou a falar:
— Essa também é minha!
— Qual é o seu problema? — Perguntei, um pouco irritado.
— Novato não tem cama! Durma no chão, se quiser!
Respirei profundamente, tentando controlar minha raiva. Neste momento, percebi que ele não estava sozinho, outros garotos estavam me cercando.
— Eu não vou dormir no chão, vê se entende, cara de queijo! — Várias risadinhas abafadas no fundo do quarto o fizeram ficar vermelho de raiva.
— Você vai dormir no chão de uma forma ou de outra, seu merda!
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Agora ele estava bem perto de mim. Arqueou a cabeça para trás e disse:
— Você vai aprender quem manda neste lugar seu bost…
A última sílaba foi completada com um som oco produzido no fundo da minha cabeça. Recuei alguns passos até cai sobre uma cama, ao sentir o calor do sangue descendo pela minha têmpora; mal tive tempo para bloquear com o braço esquerdo um golpe desferido com um bastão de treinamento, mas antes não o tivesse feito, pois senti uma dor aguda e intensa onde fora atingido. Entretanto, consegui tomar o bastão das mãos do garoto e rolar para a direita bem a tempo de evitar outro golpe contra mim.
Mas minha situação não estava boa, teria que lutar contra cinco garotos além do próprio Jum. O primeiro dos atacantes foi justamente o garoto que me acertou no braço. Ele já tinha outro porrete pronto para terminar o que achou que começou. Contudo desta vez eu estava preparado.
Ele atacou da mesma forma do que antes, levantou bem alto o porrete e usou acredito que toda sua força contra mim, porém eu estava em pé, e não esperei o ataque. Avancei para dentro da sua guarda e aparei facilmente sua fraca investida. Girei o bastão e o acertei no rosto com todas as minhas forças. Ele não levantou.
Senti algo se aproximar de minhas costas. Não pensei duas vezes, girei o bastão novamente, acertando um garoto no peito. Não tive tempo para analisar o que tinha acontecido com ele, pois outros dois garotos me atacavam com os malditos bastões.
Derrubei-os com muita facilidade, mas não tive tempo para desviar completamente do golpe do Jum. Ele estava com um porrete que simulava um machado e o usou como tal. Se eu não tivesse pulado para trás, teria aberto um profundo corte em minha cabeça, mas se aquilo fosse mesmo um machado, não adiantaria em nada o meu pulo: ele teria espalhado minhas entranhas pelo chão.
Ele levantou novamente o “machado”. Desta vez eu não tinha como me defender, muito menos desviar, eu estava encurralado. eu tinha usado minha “espada” para tentar bloquear seu último ataque, momento em que fora arrancada das minhas mãos. Minha única escolha era o ataque. Quando nos deparamos com a morte, ou iminente morte, não há tempo para pensar nas consequências, e esse foi meu erro. Avancei entrando em sua inexistente guarda e o acertei na garganta com força e crueldade.
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