Capítulo 005 - O bosque das folhas densas!
Capítulo 005 – O bosque das folhas densas!
Sihêon, foi o último reino do sudeste do mundo antes dos mares perdidos, uma potência imponente. Na qual era controlada por um tirano chamado Mahfus III, que sempre foi um homem odioso.
Embora ele conseguisse manter seu reinado com proficiência e abundância, seus súditos o repudiavam, muitos não iam embora por não ter outro lugar para ficar, a tristeza reinava junto da coroa do velho medíocre, apenas os nobres podiam usufruir do bom que a vida tinha para oferecer.
Tal situação viajou como boato para os ouvidos de Aiden, um líder bárbaro que havia se cansado da vida nômade. Esse bárbaro, inclusive, era ovacionado por todo seu bando que o tratava como um soberano, era inclusive chamado de prócer, um título entregue ao tribal responsável por guiar todos, como um rei.
Aiden também era pertencente ao antigo clã bárbaro chamado Alvorada, por conta disso, tanto sua voz quando a de seus irmãos mais novos: Ayel e Alicia eram escutadas em um nível de respeito tão absurdo que toda e qualquer ordem era rapidamente acatada, não importando o quão suicida fosse.
Sempre garantiu ataques de alto risco, mas de grandes recompensas.
E não foi diferente quando o prócer se aproximou do seus companheiros com a ideia de atacar Sihêon, todos apoiaram sem sequer pestanejar, espadas e machados haviam se erguido em brando de guerra, canecas de hidromel chocavam entre si e mulheres foram fodidas como presságio da destruição que a presença do bando causava.
O conflito havia sido sangrento, mas preciso. A horda bárbara conseguiu com uma excelência digna de um exército. Os maiores campeões foram executados, todo guerreiro que erguia a espada contra os tribais, sentia a lâmina na carne. Um a um, até Aiden encontrar Mahfus.
O velho rei foi decapitado em uma rapidez tão notável que diziam que a sua cabeça tinha esse único propósito: ceder ante a espada do bárbaro ruivo.
“Agora este lugar me pertence, quem se elevar da minha voz, cairá de joelhos pelo medo ou pela espada.”
Os tempos que se sucederam foram deveras conturbados.
Conforme as primaveras passavam, a aceitação andava para a realidade, é fato que os bárbaros não haviam açoitado os civis, nenhum aldeão tinha sofrido a revolta do ataque tribal, era uma honra que muitos reconheciam.
Boa parte dos populares associavam o bárbaro a um mal menor se comparado com Mahfus, e ainda, os saques que os bárbaros continuavam fazendo nos territórios vizinhos alimentava consideravelmente o tesouro do castelo e consequentemente de todo o território.
A moeda compra tudo, inclusive o homem. Logo, a ideia de um rei que fosse tribal começou a deixar de carregar uma tamanha estranheza, se tornando apenas um aspecto bem excêntrico da história que Sihêon começava a deixar no mundo.
Os pássaros voavam com o susto do tilintar agudo, alguns aldeões corriam em busca de abrigo, guiados pelos guardas reais que estavam sempre a postos.
As espadas chocavam-se, criando leves faíscas que podiam ser vistas mesmo com o sol da tarde. Uma pequena confusão se iniciou perto do portão sul do reino de Sihêon, os membros da guarda estavam digladiando contra criaturas de baixa estatura, orelhas pontudas, pele verde e equipamentos de qualidade duvidosa.
Os chamados goblins tinham um grupo relativamente pequeno, já sofreram uma baixa considerável quando os arqueiros das atalaias os alcançaram. Nem todos os monstros possuíam inteligência, então permaneceram em suas posições recebendo as saraivadas.
Os golpes deslizavam pela esquerda e direita quase que em uma dança desengonçada no campo, as criaturas pequenas gritavam por suas vidas enquanto tentavam desvencilhar das lâminas prateadas.
Seus clamores de socorro assustavam os guerreiros, que sentiam que um passo em falso seria o suficiente para serem absorvidos pela desgraça da derrota. A relva abaixava-se e pulava com as botas metálicas e as pequenas pernas musgo que a utilizava como piso, que gradualmente tingia-se do rubro inesquecível e quente.
Alguns dos humanos estavam atingidos, o que era deveras preocupante. Esses passavam a recuar, isso evitava baixas desnecessárias, a grama também recebeu a benção do sangue arroxeado dos pequenos seres que um por um começaram a cair, devorados pela ambição humana, esmagados pela defesa dos muros sul do castelo.
Quando tudo se encerrou e a ameaça foi neutralizada, dois desses guerreiros pararam sobre o campo de batalha com suas marcas de combate, observavam com cautela tudo que era possível, rastros, pistas. Eram eles os amigos Kord e Claude, ambos guerreiros há muito, estavam seguindo as ordens da Yelena por mais que ela fosse bem mais nova que os dois.
A loira tinha uma força tão admirável que todos da guarda real se ajoelharam diante de tal monstruosidade, e mais da metade desses, matariam para que pudessem se deitar com a garota, também.
— Há quanto tempo não vê nada assim?
Kord começara a colocar sua lâmina de volta para a bainha, jogava seu cabelo curto para trás com o auxílio da sua mão esquerda, encarava seu companheiro de guerra, que estava agachado, retirando o dente de um dos goblins para guardar em seu bolso.
— Há quanto tempo não vemos um goblin? — Ele continuou.
— Tínhamos uns doze anos na época. — Claude Hob se ergue, guardando o espólio que acabou de conquistar. — Agora, revê-los na casa dos trinta anos… É preocupante.
Claude mantinha um cabelo raspado bem baixo, mal se movia com o vento, ele encarava o céu, recebendo os raios de sol que fazia sua pele negra brilhar.
— Vou redigir um relatório sobre, para informarmos a nossa líder o que houve. — Os olhos cor de mel do Kord tentavam visualizar além do verde que se estendia para muitos metros adentro da mata enquanto ele continuava conversando. — Ali, após aquelas árvores, inicia-se o bosque das folhas densas, correto?
O bosque recebeu esse nome pelo menos duzentos anos atrás, perto da criação e fundação do que é o reino hoje em dia.
Muitos aventureiros se perderam no meio dessa selva, as árvores eram muito coladas e essa proximidade que foge do natural dava uma sensação de prisão, além de dificultar observar trilhas, ver a luz do sol e até mesmo sentir o vento.
Era um local perigoso e esquecido, nem mesmo os mais habilidosos lenhadores ousavam jornadas por esses cantos, já tiveram situações que a guarda real precisou emitir ordens expressas para que nenhum morador se aproximasse, volta e meia, por conta da vantagem geográfica, muitos monstros haviam decidido se estabelecer entre as folhas densas.
— Exatamente. – assentiu Claude.
Ele contemplava o contorno do bosque junto do seu amigo, essa dupla era comumente conhecida como os dois guerreiros mais habilidosos do reino e isso não era à toa, sempre foram muito cautelosos quando em conjunto, mesmo que em infantarias diferentes, Claude era um dos batedores, enviados para captar informações além reino, Kord, patrulhava as ruas.
— Vai ser um problema caso os goblins estejam se reunindo tão abundante no bosque, eu digo.
— Kord, não sei dizer se há mais dessas criaturinhas lá, ou se aqui nesse chão restam todos que poderiam estar. — Claude moveu levemente um dos corpos esverdeados usando o pé esquerdo.
O guerreiro dos olhos de mel virou para trás, onde havia outros dos soldados
— Vocês dois! Façam uma pequena patrulha ao redor de todo o perímetro do bosque, nem preciso alertá-los que não devem entrar, é pela segurança de todos vocês. Se encontrarem algo de lá que possa assemelhar a rastros feitos por goblins, retornem e reportem diretamente para mim ou para Claude!
— Sim, senhor! — Os soldados então começaram a correr em direção à entrada do bosque e seguiram pelas redondezas buscando os rastros.
Após isso, Claude andava de volta para os muros do reino. Kord lentamente passou a segui-lo, então o homem da pele de ébano virou delicadamente o rosto, observando o companheiro que passou a se aproximar com a sua visão periférica
— Não está pensando em resolver esse problema sozinho, está?
— Como assim? — Kord aproveitou que seu parceiro talvez não estivesse o observando completamente, então abaixou o rosto, soltando um leve sorriso de lado.
— Kord, eu conheço você há tantos anos que chega ser patética sua tentativa de me esconder as suas reais intenções — exclamou Claude.
Ambos passaram pelo portão sul, caminhavam em direção às primeiras ruas. Os aldeões os encaravam e acenavam, todos bem apreensivos até serem informados pela dupla que tudo estava seguro novamente, quando mais uma vez sozinhos, Claude prosseguiu
— Você não quer incomodar a senhorita Yelena com esse leve tumulto goblin, então decidiu resolver tudo sozinho e reportar apenas o nosso sucesso.
— E você precisa parar de me ler tão fácil, amigo. — Kord ajeitava novamente o cabelo, que caia com o vento.
— Eu tento, mas você é bem simples de se entender. — O olhar de Hob era sempre deveras certeiro.
A dupla passeava pelo campo de treinamento, um enorme pedaço vazio de grama cortada e alguns manequins de madeira, couro e palha. O local era conhecido por abrigar alguns alojamentos especialmente para guerreiros, esses diferem dos alojamentos para os soldados e guarda real que ficavam próximos ao castelo.
Esse campo acabava comumente utilizado por qualquer pessoa que desejasse aprimorar suas capacidades de batalha. Muitos guerreiros inclusive eram solícitos e ensinavam suas técnicas a quem desejasse aprender.
— A senhorita Yelena está focada nesse momento em estruturar as coisas com a chegada do irmão mais novo do último rei. — Kord abrira as portas do alojamento, teu amigo passou na frente enquanto ele prosseguia. — Eu não tenho desejo de adicionar mais empecilhos.
— Eu soube da dificuldade desse tal Ayel de conseguir lealdade alheia, palpável, até. O irmão mais velho que conquistou esse território todo, ele apenas herdou. As pessoas vão ficar com uma certa estranheza sobre a validade da sua posição.
Claude é um homem muito honrado, isso causa uma ressonância muito poderosa que pende suas decisões e ações.
Ele inclusive havia aceitado o poder do novo governante ruivo, mas não sabia se isso já estava seguro de dizer publicamente. Conforme eles andavam pelo alojamento, passando pelos corredores estreitos de madeira e pedra, chegaram finalmente em um dos cantos considerados mais espaçosos, ali, constava a parte dos dormitórios onde os dois poderiam encontrar um local para descansar.
— Você confia nele? — O guerreiro de olho cor de mel parou para perguntar ao seu parceiro da pele de ébano.
Ele esmiuçou Claude alcançar a cama. Kord teria feito o mesmo em menos tempo, se não tivesse algumas botas em cima do seu colchão lavado e o guerreiro teria ficado nervoso, mas se tocou que foram coisas que ele mesmo esqueceu que havia posto, no começo do dia.
— Kord, sendo sincero, mal o conheço… Porém, eu soube da vitória que ele teve sob um efreet há duas semanas. — argumentou Hob
— Eu soube disso também.
— Devo dizer que isso é notável, guerreiros extremamente habilidosos como nós teríamos sofrido muito para abater um ser elemental dessa magnitude. Ele foi um bom líder. — Claude diz, com um tom calmo e caridoso.
Ele retirava parte dos seus equipamentos, pronto para trocar também as vestes e dormir finalmente com um tecido fino e aconchegante, que um guerreiro merece.
Kord tratou de se trocar também, exausto, caiu na cama como se tivesse falecido. Ainda assim, virou seu rosto, para poder comentar algo para o senhor Hob que estava se deitando:
— Eu ainda não fui devidamente apresentado à nossa mais nova alteza, mas não tenho nada contra. Se a senhorita Yelena confia nele, então acredito que seja dever de todos os guerreiros acreditarem também.
Cada um em uma das suas camas, retornavam a papear eventualmente sobre todas as coisas supérfluas que sempre estavam acostumados a fazer, até que a nuvem do cansaço os atingiu violentamente, afinal haviam batalhado.
Com o fechar dos seus olhos pesados, a noite passou em uma velocidade que mal puderam imaginar, já estava amanhecendo mais uma vez.
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