Índice de Capítulo


    Sunny acordou devido a insistente sensação de alarme vinda de sua sombra. Grogue e desorientado, ele abriu os olhos e sentou-se.

    ‘O… o que aconteceu?’

    Ele olhou para a sombra e a viu repetidamente apontando para cima com uma expressão tensa em seu… bem, ela não tinha rosto. Ele apenas sabia que estava nervosa.

    ‘Problemas?’

    Sunny olhou para cima e não viu nada além das folhas escarlates da grande árvore. O céu estava escondido, mas ele pôde facilmente dizer que o sol ainda estava alto. Parecia que ele estava dormindo por apenas algumas horas.

    Não havia nenhuma ameaça à vista. Ele franziu a testa.

    ‘O que te assustou tanto?’

    A sombra apenas apontou para cima novamente, aparentemente irritada com sua estupidez. Sunny piscou algumas vezes e se olhou novamente para o alto:

    ‘Em cima da árvore? Mais alto? No céu?’

    Finalmente satisfeita, a sombra cruzou os braços.

    ‘Tem algo perigoso acima da ilha… aquele corvo medonho de novo?’

    Ele precisava verificar… mas por que ele sentia como se estivesse esquecendo de algo?

    Sunny franziu o cenho, tentando entender de onde vinha essa sensação de esquecer algo importante. O que ele poderia esquecer? Ele estava dormindo, depois acordou e conversou com a sombra.

    Dormindo…

    De repente, ele se lembrou de partes de um sonho estranho. Pelo menos parecia um sonho… realmente era? As pessoas não deveriam sonhar no Reino dos Sonhos. Era apenas como as coisas funcionavam… pelo que ele sabia, apenas Cassie parecia ser uma exceção a essa regra.

    Ele não se lembrava muito sobre esse suposto sonho dele, com se até mesmo os fragmentos restantes já estivessem desaparecendo de sua memória. Havia uma… uma mulher agarrando-o pelos ombros, com uma expressão de horror e pânico em seu rosto. Ela estava dizendo algo, mas ele não conseguia ouvir o quê. 

    ‘Não, não uma mulher. Era… Cassie?’ Sim, era ela. E a coisa que ela estava dizendo…

    Sunny esforçou sua memória, tentando capturar os pedaços do sonho antes que eles desaparecessem completamente.

    ‘Sim, acho que ela estava dizendo… uh…’

    De repente, ele pôde ouvir claramente a voz assustada e tensa de Cassie enquanto ela apressadamente lhe dizia para lembrar de algo, repetindo a mesma frase várias vezes em um tom implorante:

    ‘…você tem que lembrar, Sunny! Cinco! São cinco! Lembre-se! Você tem que lembrar! São cinco!’

    “Que sonho estranho.”

    Sunny lançou um olhar para Cassie, que dormia pacificamente perto de Nephis, e balançou a cabeça em perplexidade. Ele não tinha certeza se essa memória dele era realmente um sonho ou alguma cena estranha que ele tinha imaginado antes de adormecer. Com a forma na qual o Reino dos Sonhos funcionava, ele estava inclinado a acreditar na última possibilidade.

    ‘Ainda assim. É melhor eu contar às meninas quando…’

    Ele foi distraído desse pensamento pela sombra, que acenava com as mãos impacientemente.

    ‘Ah, certo. Há uma ameaça no céu…’

    Instantaneamente, Sunny havia esquecido completamente da sua intenção de compartilhar o conteúdo dessa estranha memória dele com Nephis e Cassie. Na verdade, ele havia esquecido que era estranho e possivelmente importante ao mesmo tempo.

    Esse lapso em seu julgamento foi repentino e anormal, mas como Sunny não conseguia se lembrar de coisas que havia esquecido, ele não percebeu nada de errado e continuou com as suas atividades como se nada tivesse acontecido.

    … Se ele tivesse lembrado, poderia perceber que esta não foi a primeira vez que esqueceu de algo importante desde que chegaram ao Túmulo de Cinzas.

    Levantando-se, Sunny invocou o Fragmento da Meia Noite e olhou sombriamente para as folhas vermelho-sangue da grande árvore. Sentindo a frieza do polido punho preto em sua mão, ele se sentiu um pouco mais calmo.

    Acordada por seus movimentos silenciosos, Nephis abriu os olhos e olhou para ele, seu corpo ficou tenso. Havia uma pergunta silenciosa em seus olhos.

    Sunny balançou a cabeça.

    “Ainda não sei. Fique com a Cassie enquanto eu verifico as coisas.”

    Deixando as meninas para trás, Sunny andou para frente. Ele estava planejando chegar à borda da ilha, onde os galhos da árvore colossal não eram tão grossos e o céu podia ser visto através das aberturas em sua copa.

    Tecnicamente, ele poderia ter enviado sua sombra para fazer isso em vez de ir ele mesmo. Mas em situações como essa, onde o perigo era desconhecido, Sunny geralmente preferia manter sua sombra por perto, caso precisasse usá-la.

    Ao chegar à encosta leste do Túmulo de Cinzas, ele olhou cuidadosamente para cima, ainda escondido na sombra da grande árvore.

    Lá em cima, no vasto céu cinza, um pequeno ponto preto circulava ao redor da ilha.

    O peito de Sunny ficou pesado de preocupação. Quando a terrível besta alada apareceu pela primeira vez, parecia exatamente assim de longe.

    Deixando a sombra para trás para vigiar o ponto preto, ele retornou e contou brevemente a Nephis e Cassie sobre sua descoberta.

    “Agora mesmo, aquele monstro voador está apenas voando sobre a ilha. Não sei se é a mesma criatura ou não, e nem quando vai pousar.”

    A Estrela da Mudança franziu a testa.

    “Da última vez, ele não estava muito interessado em procurar por presas vivas. Talvez ele seja mais um comedor de carniça, e por isso está interessado apenas na carcaça do Demônio de Carapaça.”

    Cassie ofereceu sua própria opinião:

    “Talvez sejamos muito fracos e pequenos para saciá-lo? Afinal, ele nunca veio pelos cadáveres dos carniceiros que matamos. Como se comer meros animais fosse baixo pro seu nível.”

    Sunny balançou a cabeça.

    “Naquela época, ele veio pela carne do Centurião de Carapaça. Mas levou alguns Carniceiros com ele também antes de partir. Então é otimista pensar que essa abominação não tentará nos devorar também se tiver uma chance.”

    Nephis pensou por um tempo e então assentiu.

    “Você está certo. O melhor curso de ação seria ficar longe do Demônio por enquanto e se esconder quando ele decidir pousar.”

    Então, erguendo os olhos, ela acrescentou:

    “Mas primeiro, precisamos observá-lo para ter certeza de que é a mesma criatura e confirmar suas intenções.”

    Sem ter argumentos contra esse raciocínio, Sunny levou as meninas até o local onde ele havia deixado sua sombra. Lá, elas se sentaram no chão e observaram o ponto preto enquanto ele circulava em volta do Túmulo.

    Observar a criatura voadora os deixou perturbados e sem saber o que fazer.

    O ponto preto se aproximou algumas vezes, permitindo que eles discernissem que era de fato a mesma monstruosidade terrível que eles encontraram algumas semanas antes, ou pelo menos uma criatura do mesmo tipo. No entanto, ela nunca chegou muito perto da copa da grande árvore, como se hesitasse em pousar em sua sombra.

    O pior é que, com o passar das horas, outras duas abominações da mesma raça apareceram, cada uma tão horripilante e repulsiva quanto a primeira. Agora, três pontos pretos estavam circulando nos céus acima de suas cabeças, enchendo o coração de Sunny com pavor.

    Uma dessas criaturas, com seu corpo branco cadavérico e penas negras como corvos, tendo uma confusão sobrenatural de membros poderosos saindo de seu peito largo, cada um terminando com um conjunto de garras aterrorizantes, era o suficiente para exterminar todo o grupo.

    A lembrança de quão facilmente a criatura havia quebrado a carapaça do Centurião com seu bico enorme ainda estava fresca em sua mente. Ele suspeitava que essas abominações eram pelo menos tão poderosas quanto o Demônio de Carapaça, ou até mais.

    E agora havia três delas.

    ‘É melhor nos escondermos bem’, pensou ele, com suor frio escorrendo pelas costas.

    No entanto, os monstros voadores pareciam relutantes em se aproximar do Túmulo de Cinzas por algum motivo. Eles apenas circulavam ao redor dele, às vezes se aproximando hesitantemente, mas então ganhando altura novamente. O comportamento deles era estranho e perturbador.

    Depois de algum tempo, Cassie disse calmamente:

    “Talvez eles não estejam com fome?”

    Sunny piscou, tentando imaginar um mundo onde uma Criatura do Pesadelo não poderia estar com fome. Seria possível?

    Ele, por outro lado…

    “Não sei sobre essas galinhas albinas, mas estou com uma fome danada.”

    Isso era verdade. Os três não comiam nada desde ontem. Sunny estava com medo de que, se as abominações decidissem pousar na ilha, os altos roncos de seu estômago entregassem sua posição.

    Nephis olhou para ele e perguntou:

    “Quer comer frango grelhado?”

    Sunny abriu bem os olhos e sibilou:

    “Nem pense nisso!”

    Ela olhou para ele e então se virou com um sorriso.

    ‘Isso foi… uma piada? Ela sabe brincar?’

    Bem… pelo menos o senso de humor de alguém era pior que o dele.

    … No final, seus piores medos não se realizaram. Depois que o sol começou a descer em direção ao horizonte, as três abominações voadoras finalmente tomaram uma decisão e deixaram os céus acima do Túmulo de Cinzas, voando para o oeste em uma formação de lança. Elas nunca desceram baixo o suficiente para notar os três Adormecidos, muito menos para pousar na superfície da grande ilha.

    Sunny ficou encharcado de suor e cansado de antecipar um desastre, quase desapontado com o fato de que toda essa preocupação tinha se revelado em vão. Olhando para Cassie, que não conseguia ver que o perigo havia passado, ele disse:

    “Eles foram embora.”

    A garota cega exalou alívio e relaxou, a carranca desaparecendo de seu rosto.

    “Graças a Deus. Ficar sentada aqui e esperar foi cinco vezes pior do que se esconder de um deles naqueles penhascos.”

    Por algum motivo, Sunny estremeceu um pouco.

    “O que… o que você disse?”

    “Eu disse que esperar eles pousarem era muito cansativo.”

    Ele piscou, sem entender por que havia reagido tão estranhamente a essa frase inocente. Ele viu um sonho relacionado a Cassie e o número cinco? Certo, ele viu. Não que fosse algo para se pensar duas vezes.

    “Ah, sim. Você tem razão.”

    Então ele se virou para Nephis e perguntou:

    “O que você quer fazer agora?”

    A Estrela da Mudança olhou para o oeste, onde os pontos pretos haviam desaparecido de vista, e disse após uma breve pausa:

    “Vamos verificar a borda oeste da ilha e decidir qual o próximo ponto alto a ser alcançado.”

    Sunny deu de ombros, sem fazer nenhuma objeção.

    Cassie sorriu:

    “Boa ideia! Quem sabe, finalmente seremos capazes de ver as muralhas do castelo!”


    Logo, eles cruzaram a ilha e se aproximaram de sua encosta oeste. Aqui, o solo estava elevado pouco antes de afundar, formando uma muralha natural que escondia a paisagem de seus olhos.

    Nephis foi a primeira a subir e chegar ao topo.

    Sunny estava logo atrás dela quando ele sentiu que algo estava errado. A postura dela estava de alguma forma estranha, dura e rígida, como se ela tivesse se transformado em pedra de repente.

    Pisando na superfície cinzenta da muralha natural, ele olhou preocupado para Nephis e notou uma expressão sombria e ressentida em seu rosto. Ele nunca a tinha visto em tal estado antes.

    Virando a cabeça, Sunny olhou para o oeste e então estreitou os olhos. Seu rosto escureceu instantaneamente.

    Sentindo vontade de xingar, Sunny cerrou os dentes e os punhos. Dentro de sua cabeça, apenas uma palavra se repetia sem parar.

    ‘Droga, droga, droga!’

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