Capítulo 11 - Pedido
— Evellyn, para onde a gente vai agora?
— A gente vai para um bar que eu conheço. A gente não comeu muito bem durante esses dias, principalmente eu, então vamos comer alguma coisa de verdade. Pode ser?
Mesmo aquele dia sendo mais calmo que o anterior, Niko ainda estava cansado, provavelmente pelo fato de não ter se alimentado muito bem nos últimos dias, somente comeu uma fruta e vários doces. Seu corpo precisava de alguma refeição de verdade, com carboidratos e proteínas. Ele daria de tudo para ter esse tipo de alimente, então ele comprou a ideia de Evellyn.
— Pode ser. Esse lugar fica muito longe daqui?
— Fica uns seis minutos a pé, então vamos indo. — disse ela enquanto fazia o número seis com as mãos.
Os dois começaram a andar, Evellyn indo à frente e Niko atrás, seguindo-a, enquanto carruagens e pessoas passavam ao lado da dupla. A rua parecia mais movimentada do que antes, mesmo eles estando longe do centro e de grandes comércios. Provavelmente, essas pessoas estavam voltando para casa depois de um longo dia de trabalho, afinal, já era fim da tarde, mais ou menos umas 17h.
Nesse meio tempo, Niko ficou entediado de ficar somente calado, então resolveu conversar com a garota.
— Você vem muito nesse bar, Evellyn?
— Vou sim, já que além de comer lá às vezes, o bar é um local de encontro entre mercenários e canais ou clientes.
— Esse é o único lugar de encontro para mercenários da cidade?
— Não é o único, mas é o mais famoso de Bazavich, o distrito em que estamos.
Após a fala de Evellyn, um silêncio foi iniciado entre as duas partes, infestando o ambiente, não tão silencioso quanto na floresta, já que se podia ouvir sons de cavalos cavalgando junto de rodas de carroças rodando, pessoas andando e conversando. Mesmo assim, aquela situação, para Niko, era… desconfortável. Não só aquela situação em específico, mas sim, desde que o garoto acordou na floresta, ele sentia um grande desconforto, que impregnava sua alma e aumentava exponencialmente com o passar dos segundos.
— É estranho, sabe… — expressou o garoto de chifres.
— O quê?
Niko não pensou muito no que ele iria falar, somente soltou um pensamento que corria em sua mente no momento. Mesmo não tendo ideia do que iria dizer, ele sabia o que sentia, que só ele sentia, aquele desconforto, aquela solidão, aquela curiosidade, desejo e vontade. Ele precisava desabafar isso com alguém, precisava desabafar isso com Evellyn.
— É estranho, tudo isso… Eu não tenho perspectiva de passado e o meu futuro parece… incerto. — Niko parou sem perceber, continuou desabafando seus pensamentos para a elfa, enquanto olhava para o chão. — Eu fico me perguntando sobre o que aconteceu na minha antiga vida, o porquê eu perdi minhas memórias, se eu tinha alguém que se importava comigo antes, se eu tinha amigos, família e se eles estão procurando por mim ou no mínimo se importam comigo… É estranho… Parece que eu não pertenço a esse mundo e eu não sei o que fazer… Eu só estou perdido… Só isso…
Niko voltou seu olhar para cima, observando Evellyn, que estava à sua frente com uma expressão preocupada e levemente triste.
— M-me desculpa. Eu só precisava falar disso com alguém e você estava aqui… Esquece.
O garoto estava envergonhado por ter falado demais, voltando a olhar para baixo em seguida.
— Não, não, está tudo bem, Niko. Você pode desabafar quando quiser comigo, afinal, não deve ser fácil passar pelo que você está passando. — Evellyn tocou o ombro de Niko com a palma da mão, que respondeu virando seu olhar em direção aos olhos da garota. — Pode contar comigo quando precisar. — terminou ela, dando um leve sorriso ao ser de chifres que também elevou seus lábios para cima.
— Só falta atravessar mais uma rua. Vamos?
— Claro.
Ao chegar ao outro lado da rua, à direita estava um prédio de três andares com uma placa ao lado escrito “Cova do Lobo”. Sem nem esperar, Evellyn entrou no estabelecimento, junto dela Niko seguia logo atrás.
Ao entrarem no lugar, um sino tocou, anunciando a chegada dos dois. Niko avistou um ambiente agradável a sua volta, iluminado por candelabros de latão pendurados no teto e lanternas em móveis de madeira escura.
Um piano tocava ao fundo, servindo como trilha sonora para o ambiente. Havia pessoas de todos os tipos comendo, bebendo e conversando umas com as outras. O lugar estava com o número perfeito de pessoas, nem muitas, nem poucas. No fundo da sala, ficava o balcão, exibindo fileiras de garrafas de bebidas, onde um bar tender de bigode exuberante estava limpando um copo com um pano branco.
Evellyn se dirigiu à direita, onde estava um pequeno balcão com um híbrido de homem e raposa branca. Evellyn entregou ao híbrido a maleta em que estava o rifle, o homem-raposa agradeceu a garota com a cabeça, como se já estivesse acostumado com isso. A elfa então adentrou ao bar, ao mesmo tempo que Niko estava prestes a guardar suas armas com o meio-homem.
— Você tem alguma coisa para guardar comigo também? — perguntou o balconista.
Niko respondeu tirando seu manto e entregando ao híbrido, que primeiramente não entendeu muito bem, mas aceitou mesmo assim, liberando o albocerno.
Evellyn e Niko se sentaram em uma mesa perto da parede, o garoto ficou em uma cadeira de madeira e Evellyn em um estofado interligado à parede. Quando os dois se sentavam, chegou uma garota jovem de cabelos loiros e uniforme ajustado com dois cardápios, colocando-os na mesa, logo depois voltando a fazer suas tarefas.
— Gostaria de comer o que, Niko?
O ser de chifres deu uma rápida olhada no cardápio, vendo as várias opções que ele oferecia. Eram tantas opções que pareciam ser infinitas, com descrições de sabores e seus ingredientes. O garoto não sabia o que escolher, com uma opção parecendo mais saborosa que a outra. Até que ele bateu os olhos em uma comida que chamou sua atenção. Assim, Niko resolveu pedir um…
— Que tal um “Krautenporgi”?
Segundo a descrição, era um prato de carne de porco defumada, batatas cozidas, cebolas caramelizadas e pasteizinhos recheados com requeijão cremoso, carne bovina e alguns vegetais. Isso parecia saboroso e, para Niko, era a escolha perfeita.
— Boa escolha. Acho que eu vou pegar o mesmo para mim também, junto de uma sidra. Você vai querer algo para beber?
— Acho que só um suco de uva.
Com os cardápios abaixados, Niko e Evellyn estavam prontos para pedir o que queriam. Passado um tempo, a mesma garota de antes voltou estando ao lado dos dois.
— Já decidiram o que vão pedir? — perguntou a garçonete.
— A gente vai querer dois Krautenporgis, uma sidra e um suco de uva, por favor. — falou a elfa.
Junto da fala de Evellyn, a garota loira anotava os pedidos em um bloco de notas.
— Vai estar pronto daqui a pouco, senhores.
Alguns minutos se passaram e o pedido da dupla chegou. Evellyn ficou com os olhos brilhando quando viu a comida e, no mesmo instante, começou a comer o prato.
— Que saudade eu estava de uma comida assim. — disse a garota com a boca cheia de comida.
Enquanto isso, Niko estava um pouco incerto sobre comer. Ele estava com fome, é claro, mas mesmo assim não conseguia colocar sequer uma garfada na boca… ele continuava desconfortável.
— Evellyn…
— O que foi? — perguntou ela com a mão na boca.
— Eu queria te perguntar se a sua agenda está livre em algum dia dessa semana.
— Aonde você quer chegar? — disse a elfa desconfiada, com o punho cerrado na bochecha.
— Eu queria saber se você poderia me acompanhar até o lugar onde eu acordei, para saber mais sobre mim, se eu encontro algo que possa me dizer mais sobre meu passado ou algo do tipo. — ao ouvir esse pedido, Evellyn parou de comer para prestar atenção no garoto à sua frente. — Desculpa se parecer um pedido egoísta, mas de verdade, seria tão bom ter uma ajuda nessa aventura…
Após ouvir estas palavras Evellyn colocou a mão no queixo, olhou para baixo e deu um gole em sua bebida.
— Uma investigação pessoal? Tá, eu aceito. Inclusive, pode ser amanhã de manhã que podemos ir ao lugar. Eu estou livre essa semana, então… que tal? — terminou ela com um sorriso no rosto.
Niko sentiu um calor em seu peito. Ele estava extremamente contente sobre saber que sua aventura seria mais fácil, pelo menos um pouco mais fácil, graças à ajuda de Evellyn e que teria uma companheira durante sua investigação amanhã. Pelo pouco que conhecia da garota, aquilo não seria de graça, mas nesse ponto Niko nem se importava, só queria ter alguma ajuda e alguém para passar o tempo.
— Obrigado… Evellyn…
— Certo, então amanhã nós vamos em busca de descobrir sobre seu passado! E para isso você não pode ir de barriga vazia, então come aí, maninho.
Depois do pedido de Evellyn, Niko começou a comer seu prato, que havia esfriado um pouco. E, como ele imaginava, estava delicioso.
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