Capítulo 23 - A Imperatriz II
De repente, seis estacas de gelo azul rasgaram o chão na direção onde Clementine estava, surgindo com uma velocidade brutal. Mas a mulher já previa algo do tipo. Saltou de uma altura impressionante, desviando da armadilha mortal. Ainda no ar, apontou o rifle para Evelyn e disparou sem hesitar.
A elfa ergueu a mão e uma grossa parede de gelo se formou à sua frente, bloqueando o projétil com um estalo seco. Clementine aterrissou no chão logo em seguida, já deslizando para o lado.
Niko, correu instintivamente em direção à atiradora. Clementine puxou a alavanca lateral da arma, colocando duas balas diretamente no rifle de forma mecânica e rápida, depois mirou diretamente nele.
Sem perder tempo, o garoto sacou uma faca e arremessou em direção ao rosto dela. A mulher desviou com um simples movimento de cabeça, como se fosse só um incômodo, e disparou de volta.
Mas antes que a bala atingisse o alvo, Niko desapareceu — com o uso de sua Alma. Clementine arregalou os olhos, surpresa por um instante. “Aquele garoto sumiu?”, pensou ela. Mas logo virou-se para trás ao ouvir o som da neve sendo pisoteada. Lá estava ele, a poucos metros de distância.
O combate corpo a corpo começou. Niko, com sua foice; ela, com a baioneta. Apesar de ser uma atiradora, Clementine demonstrava uma habilidade assustadora no combate próximo. Ela bloqueava e contra-atacava com uma frieza cirúrgica, deixando Niko em sérias dificuldades.
As lâminas se cruzaram, produzindo faíscas e o som cortante de metal rasgando o ar. Três disparos surgiram de longe — tiros rápidos e consecutivos de Evelyn. As balas passaram a centímetros dos dois combatentes.
Aproveitando o breve instante de distração, Clementine segurou a lâmina da foice de Niko com uma das mãos enluvada e, com a outra, golpeou o ar diversas vezes com a baioneta, emitindo mais faíscas e acabando com o ataque de Evelyn.
— Ah, é mesmo… Eu tinha até esquecido de você. — disse ela, com um sorriso malicioso, ao perceber de onde vinham os tiros.
Evelyn estava deitada à distância, em posição de atiradora, com o rifle apoiado numa elevação de neve.
Niko puxou outra faca do manto e a arremessou para o lado, usando seu Portal logo depois, reaparecendo no chão atrás de uma árvore.
Evelyn, sem perder tempo, disparou mais três vezes. O carregador ejetou do rifle com um salto de mola. Ela pegou outra caixa de munição do bolso e a encaixou no rifle com habilidade, enquanto Clementine disparava na direção de Niko.
— AAAARGH! — gritou o garoto, quando a bala atravessou sua coxa esquerda.
— NIKO!
Evelyn estendeu a mão na direção da atiradora e conjurou uma parede de gelo espessa e pontiaguda que brotou do chão como uma barreira instantânea. Clementine recuou no reflexo, saltando para trás, evitando ser esmagada.
A elfa correu até Niko, jogando-se de joelhos ao lado dele. O garoto segurava a coxa, com o sangue escorrendo rápido entre os dedos.
Sem perder tempo, Evelyn ativou sua Alma, canalizando a energia fria na ferida. Pegou uma garrafa de vidro com um líquido avermelhado, despejando diretamente sobre o machucado. Niko grunhiu de dor ao sentir o contato, mas logo a sensação de queimação começou a desaparecer.
— A dor… parou… — disse ele, ofegante.
— Paralisei seus nervos e apliquei um coagulante com fator de cura. Você vai conseguir andar… mas sem exageros, por favor.
Niko respirou fundo, sentindo a força voltar um pouco às pernas. Tentou se levantar e quase caiu, mas Evelyn o segurou pelo ombro, apoiando-o com firmeza.
— Você tá bem? — perguntou a elfa.
— Melhor que antes.
Foi quando ouviram um som metálico ao lado: um pequeno cilindro de madeira e metal caiu bem perto deles.
— Cuidado! — gritou Evelyn, jogando Niko ao chão e erguendo uma nova parede de gelo como proteção.
O clarão foi instantâneo. Um estrondo ensurdecedor explodiu ao redor, seguido de um zumbido que preencheu os ouvidos de Niko. Fragmentos de gelo voaram por cima deles, caindo como chuva de cristais partidos.
Assim que a explosão passou, Evelyn cutucou Niko e apontou para uma direção no bosque.
— Vai! Agora! — sussurrou ela.
Os dois correram juntos, Evelyn segurando o braço dele para ajudar na mobilidade. Se esconderam atrás de uma árvore grossa, ofegantes, com os corações disparados.
Sem dizer uma palavra, Evelyn entregou para Niko seu rifle. Fez sinais rápidos com as mãos: primeiro apontando para ele, depois para o alto, por fim simulando um tiro.
Niko entendeu: ela queria que ele subisse nas árvores e tentasse acertar Clementine de cima.
Ele assentiu com a cabeça e começou a executar o plano. Usando seus portais, pulou de galho em galho, procurando a mulher. Ouviu um som abafado. Viu Clementine caindo de cima da barreira de gelo se movendo entre as árvores.
Niko a encontrou. Ela andava com calma, rifle em mãos, vasculhando a mata. Ele respirou fundo. Mirou. E tentou puxar o gatilho. Mas seu corpo… falhou. Uma fraqueza repentina o atingiu. Os braços amoleceram. As pernas cederam. A visão ficou turva. Não conseguia mais segurar nem o próprio peso. Ele caiu da árvore, batendo na neve com força.
Clementine virou-se na hora. Caminhou em direção a ele, com aquele mesmo sorriso tranquilo e perigoso de antes.
— Ah… até que enfim o veneno fez efeito. — disse ela, parando ao lado de Niko. — Atirei em você com uma bala modificada… cheia de um paralisante muscular. Agora você não vai conseguir nem se mexer.
Evelyn surgiu disparada entre as árvores, correndo como uma flecha na direção da mulher.
Clementine girou o rifle e disparou vários tiros. Evelyn ergueu uma nova barreira de gelo, bloqueando os projéteis enquanto avançava.
Ao se aproximar, a elfa invocou uma lâmina de gelo nas mãos e atacou com fúria. O combate entre as duas começou. Evelyn atacava com força descontrolada, golpe após golpe, como se cada movimento fosse um grito de raiva acumulada.
Clementine, por sua vez, só se defendia. Esquivava, bloqueava com o rifle, contra-atacava com a baioneta, sempre com um olhar calmo. Quase indiferente.
Em um movimento brusco, Evelyn criou uma estaca de gelo nas mãos e tentou perfurar o peito da oponente. Clementine levantou a mão esquerda para se defender e o gelo atravessou sua palma, perfurando também parte de seu busto.
Com a outra mão, Clementine tentou mirar o rifle em Evelyn, mas a elfa segurou o cano com força, congelando e quebrando a arma ao meio.
Logo em seguida, Evelyn agarrou o pescoço de Clementine com as duas mãos, empurrando-a contra uma árvore com brutalidade.
— Você… não vai… destruir a minha vida de novo! — gritou ela, com os dentes cerrados.
Clementine sorriu, mesmo com a respiração falhando.
— Pff… não imaginei que isso ia acontecer. Você melhorou bastante… desde a última vez que a gente se viu. — disse ela, a voz rouca pela falta de ar. — Faz sentido… eles te chamavam de prodígio, né?
Ouvindo aquilo, Evelyn parou por um segundo. Algo naquelas palavras mexeu fundo. A raiva deu lugar a uma estranha melancolia.
— Aquele tempo… — continuou Clementine, com um meio sorriso. — me dava… uma certa nostalgia. Não queria que terminasse assim. A gente brigando… Não sei se podia chamar nossa relação de “amizade”… mas… era uma boa relação. Era algo que eu ficava contente de ter aquilo… Muito contente…
O olhar de Evelyn se suavizou. A tensão em seus músculos diminuiu. As mãos que seguravam o pescoço dela perderam força. A elfa parecia… triste. Perdida. Como se, por um momento, todas as razões para aquele combate tivessem desaparecido.
Foi nesse instante… quando menos esperava… que sentiu o toque de algo frio em seu peito.
Ela olhou para baixo. Clementine segurava uma granada. No reflexo, Evelyn soltou o pescoço da mulher e tentou conjurar uma barreira de proteção.
Mas já era tarde. A explosão as lançou com violência. Evelyn foi arremessada para longe, colidindo de cabeça contra o tronco de uma árvore. O mundo girou. Os músculos se enfraqueceram. E então tudo escureceu.
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