Capítulo 1284 - Saldando Weaver
Combo 26/250
Sunny se viu incapaz de se mover por alguns momentos. Encontrar o veleiro bem quando eles precisavam desesperadamente de abrigo já era chocante o suficiente. Encontrar um cadáver que parecia assustadoramente similar ao prisioneiro sem nome da masmorra escondida sob a catedral em ruínas dentro do veleiro… isso o deixou em um estado de fuga.
Todos os tipos de pensamentos selvagens passaram pela sua mente.
Por uma fração de segundo, Sunny até imaginou que era seu próprio cadáver, trazido do futuro por alguma estranha anomalia do rio místico. Mas, não… as proporções estavam todas erradas. Ele não era um homem alto, mas a pessoa misteriosa era ainda menor. Ele erampraticamente minúsculo.
Na verdade, agora que Sunny tinha dado uma boa olhada no cadáver, ele percebeu que ele era diferente do prisioneiro da catedral em ruínas, também. O manto escuro e a máscara eram os mesmos, mas o corpo escondido sob eles não era. Mesmo com suas feições ofuscadas, ele conseguia perceber a diferença.
Ainda assim… qual era o significado disso? Como poderia haver outra Máscara de Weaver? Quem eram essas duas pessoas, e como elas poderiam ser tão parecidas apesar da grande divisão entre a Cidade das Trevas e a Tumba de Ariel?
Nephis também pareceu assustada, embora por uma razão diferente da de Sunny. Ela notou sua forte reação, no entanto.
“Sunny? O que foi?”
Ela deve ter notado que a máscara que o cadáver estava usando era a mesma que Mongrel usava. Ela também sabia que era uma Memória Divina do Sétimo Grau, mesmo que Sunny nunca tivesse lhe contado de onde veio a Máscara de Weaver.
Ele respirou fundo.
“Aquele cadáver… é igual ao que encontrei na Cidade das Trevas, abaixo da catedral. Foi lá que consegui a máscara.”
Sunny havia encontrado a prole do Repugnante Pássaro Ladrão por pura coincidência — mesmo que essa coincidência não tivesse acontecido sem a influência de [Destinado]. Tudo o que se seguiu após absorver a gota de icor que continha o Sangue de Weaver, no entanto, foi o resultado da lógica e da razão. Foi a consequência daquele primeiro encontro casual.
Guiado pela habilidade de ver o brilho da divindade, que o Sangue de Weaver lhe concedeu, ele explorou a catedral da Cidades das Trevaa e recebeu a Máscara de Weaver. Guiado pela Máscara de Weaver, ele mergulhou no Céu Abaixo, alcançou a Torre de Ébano e descobriu o braço decepado de Weaver, adquirindo assim os Ossos de Weaver.
Qual foi a causa dessa situação, então? Foi uma coincidência ou o resultado de suas escolhas?
Enquanto Sunny estava distraído, consumido por esses pensamentos, Nephis olhou para ele com o cenho franzido.
“… Cadáver? O que você quer dizer?”
Ele estremeceu.
Ela não conseguia ver a figura curvada sentada no banco do timoneiro?
Ele deu um passo à frente e apontou com um movimento apressado.
“I-isso… você não vê aquele cadáver?”
Nephis parecia cautelosa e um pouco confusa.
“Claro, eu vejo essa pessoa. É só que… por que você continua chamando-a de cadáver? Essa pessoa está viva.”
Os olhos de Sunny se arregalaram.
… E no momento seguinte, o cadáver se moveu.
Com um suspiro profundo, sua cabeça baixa se levantou, e dois abismos escuros esculpidos na máscara assustadora encararam Sunny com uma emoção inefável.
Então, o cadáver levantou-se lenta e arduamente.
Não, não o cadáver… a pessoa. O portador da Máscara de Weaver estava, de fato, vivo.
Sunny observou silenciosamente, incapaz de se mover. Apenas sua mão se esticou um pouco, pronta para invocar uma arma.
Assim que o dono do veleiro se levantou, ele percebeu que eles eram realmente muito pequenos. A figura envolta pelo manto escuro era extremamente magra, parecendo fraca e frágil. As costas da pessoa estavam curvadas, e suas mãos pareciam tremer levemente.
Não foi nenhuma surpresa que Sunny tivesse confundido o portador da máscara com um cadáver. Com a pessoa permanecendo completamente imóvel e sua percepção pintada pelo encontro na masmorra da catedral em ruínas, teria sido estranho para ele assumir que eles estavam vivos.
O estranho curvado congelou, olhando para eles através dos buracos sem luz dos olhos da máscara preta laqueada. Sunny e Nephis também não estavam se movendo, sem saber o que fazer.
Eles tinham acabado de subir sem cerimônia no barco dessa pessoa… então, o que havia para fazer? Pedir educadamente para ser salvo? Ou atacá-los por medo?
Sunny secretamente desviou o olhar, tentando determinar se o portador da máscara era um humano ou uma Criatura do Pesadelo. No entanto, assim como o cadáver sob a catedral, o manto escuro e a máscara eram impenetráveis. Além deles, havia um abismo incognoscível.
Um arrepio gelado percorreu sua espinha.
Então, o dono do veleiro levantou lentamente as mãos, que estavam envoltas em luvas pretas. Os dedos finos tocaram as bordas da máscara preta laqueada e lentamente a puxaram para baixo.
O rosto que foi revelado pertencia a um humano. Ela era uma mulher velha, extremamente velha. Sunny nunca tinha visto alguém que parecesse tão velho. Ele não conseguia acreditar que alguém tão velho ainda pudesse estar vivo.
Sua pele bronzeada estava coberta por uma teia de rugas profundas e cavernosas e grudava em seu rosto emaciado como papel frágil. Seu cabelo longo era inteiramente branco e fino, revelando vislumbres do couro marrom de seu couro cabeludo. Seus olhos, que antes eram penetrantes, agora estavam opacos e obscurecidos por cataratas leitosas.
O corpo pequeno e curvado da velha era frágil e magro, como se estivesse pronto para desabar com a menor ventania. O manto escuro pendia apaticamente dele, alguns tamanhos maior.
No entanto, ela emanava um sentimento de dignidade incontestável, força de vontade e… até mesmo santidade.
A máscara preta caiu no convés do veleiro com um barulho de madeira.
A velha olhava para Sunny e Nephis em silêncio, um momento após o outro.
E então ela se moveu.
Curvando-se, ela gemeu e lentamente se ajoelhou. Sunny ficou assustado, mas, acima de tudo, sentiu uma forte vontade de pular para frente e pará-la. Parecia incrivelmente errado, ver uma mulher tão velha se prostrando… muito menos na frente dele.
Ele notou as costas de Nephis ficando rígidas, assim como ela sentia o mesmo. O canto do olho dela se contraiu.
Mas nenhum deles se moveu.
Finalmente, os joelhos da velha tocaram o convés. Colocando ambas as mãos na frente dela, ela respirou fundo e então se curvou profundamente.
Sua voz baixa soou como uma pena raspando. Ao ouvi-la, Sunny estremeceu.
Ela disse:
“Salve… Weaver… Demônio do Destino…” 1
No silêncio que se seguiu, ele hesitou por um momento e então respondeu:
“… Primogênito do Desconhecido.”
A velha permaneceu imóvel por alguns momentos e então soltou um longo suspiro.
Abaixando a cabeça ainda mais perto do convés, ela falou com reverência:
“Ananke cumprimenta os Filhos de Weaver…”
- sim, ela usou demônio[↩]
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