Capítulo 1293 - Profanação

Combo 36/250

O rosto envelhecido e enrugado de Ananke escureceu. A velha demorou-se um pouco antes de dizer:

“O outro nome para a Profanação é Corrupção… um tipo especial de Profanação que apareceu no Grande Rio e então se espalhou rio abaixo como uma praga. Ou melhor, foi espalhada.” 

Nephis se inclinou um pouco para frente:

“Espalhado… rio abaixo?”

A velha assentiu pesadamente. “Sim. É porque a Profanação… sua origem é o Estuário.”

Seus olhos nublados ficaram distantes. “Os Procuradores estavam sempre tentando alcançar o Estuário, viajando cada vez mais rio abaixo. Mas nenhum deles conseguiu encontrá-lo. Eventualmente, eles construíram uma cidade própria nos confins do passado — uma cidade chamada Verge. Sua grandeza poderia competir com a prosperidade agitada das grandes cidades governadas pelas Sylbils, e de lá, eles continuaram sua busca. Até que, eventualmente… um deles realmente conseguiu entrar no Estuário.”

A velha agarrou o remo de direção enquanto olhava para a vasta extensão do Grande Rio, então continuou lentamente:

“No entanto, o que ele encontrou lá não foi a verdade, mas Corrupção. Ou talvez tenha sido a verdade que ele encontrou que o corrompeu. Aquele Procurador se tornou o primeiro dos Corrompidos, e ele trouxe a Corrupção de volta com ele para a Verge. A cidade dos Procuradores foi consumida pela Corrupção, e aqueles consumidos por ela se tornaram distorcidos e monstruosos. Eles se espalharam de lá como uma praga, trazendo uma grande calamidade para o Povo do Rio.”

Ananke ficou em silêncio, respirando pesadamente. Sunny estava carrancudo. ​​’Então foi isso que aconteceu…’

A verdade hedionda que o Daemon do Pavor havia escondido no coração da Pirâmide Negra… a primeira pessoa que soube disso foi consumida pela Corrupção como resultado. Não apenas isso, mas ele também infectou o resto dos Procuradores com isso, destruindo — ou melhor, transformando — uma cidade inteira em uma fonte da Profanação que se espalhava.

 … Que tipo de segredo Ariel havia enterrado no início dos tempos? Mais importante, era isso que Daeron do Mar Poente havia tentado alcançar? Invadir a cidade corrompida de Verge e matar a primeira testemunha da verdade angustiante, que era a raiz da Profanação? Se sim, sua tarefa seria terrível. Nephis parecia estar pensando o mesmo. Depois de ponderar por um tempo, ela perguntou:

“O que aconteceu depois?”

Ananke se mexeu no banco e suspirou. 

“Por causa da Profanação, as águas pacíficas do Grande Rio foram infestadas pelos Corrompidos. Os mais poderosos deles vêm dos confins mais distantes do passado, rio abaixo… assim como do terrível vazio do futuro, de onde vocês vieram, meu Senhor e Senhora. O Povo do Rio se viu preso entre o passado angustiante e o futuro condenado, sem ter para onde escapar. Claro, eles lutaram contra a Corrupção e resistiram por um tempo.”

Ela desviou o olhar e disse amargamente:

“… Mas eles também lutaram entre si. Foi assim que fomos expulsos e forçados a escapar rio acima, enfrentando perigos terríveis. Eventualmente, perdemos todo o contato com aqueles que nos exilaram. A última coisa que ouvimos foi que muitas das Sylbils haviam sucumbido à Profanação, e que muitas de suas cidades haviam caído. Até mesmo Twilight, a cidade do Rei Serpente, havia sido perdida. Em breve, não haverá mais nenhum de nós.”

Sunny sentiu que entendia o que havia acontecido com as pessoas que escaparam do fim do mundo entrando na Tumba de Ariel… a maioria delas havia morrido ou sido Corrompida, e o resto logo seguiria. Esse era o destino da civilização do Grande Rio. Então, havia duas maneiras de resolver o conflito do Pesadelo. 

Eles tinham que ajudar na destruição daquela civilização ou virar a maré eliminando a fonte da Corrupção que se espalhava. A última, é claro, receberia elogios muito maiores do Feitiço, já que seria drasticamente diferente do destino. Ele também notou a menção de Twilight… que, como se viu, era o nome da cidade que o Rei Daeron e seus vassalos construíram. 

Outro ponto interessante era que Graça Caída, a cidade governada pela última Sylbil, estava situada na região do Grande Rio que já havia sucumbido em grande parte à Corrupção. Talvez fosse a última fortaleza humana restante na Tumba de Ariel.

‘E outra coisa…’

Ananke dissera que havia dois lugares dentro da Tumba de Ariel que eram muito mais terríveis e perigosos do que todos os outros — os confins do futuro rio acima e os confins do passado rio abaixo. Sua sorte foi incrível, como sempre. Sunny não só havia entrado no Grande Rio em um desses lugares angustiantes, mas também parecia destinado a viajar para o outro.

‘Ótimo. Simplesmente ótimo…’

No entanto, o que Sunny mais prestou atenção foi uma pergunta simples… como a Profanação estava se espalhando? Ele não sabia muito sobre Corrupção, mas não parecia algo que pudesse simplesmente acontecer.

Nem mesmo Skinwalker conseguia infectar humanos com Corrupção — em vez disso, ele só conseguia infectá-los com seu veneno. A Profanação tinha uma natureza similar? Ele não achava que tivesse — se todas as Criaturas do Pesadelo na Tumba de Ariel fossem recipientes da mesma entidade, o primeiro Procurador, elas não estariam lutando entre si.

Essa foi uma distinção importante. Olhando para Ananke, ele perguntou em um tom sombrio:

“Vovó, você sabe como a Profanação se espalha?”

A velha sacudiu a cabeça. “Sinto muito, meu Senhor. Eu não… na verdade, só conheci um verdadeiro Profanado uma vez. Weave está situada muito rio acima, então, embora tivéssemos que lutar contra criaturas Corrompidas do futuro com frequência, ninguém da Verge jamais nos alcançou.”

Nephis franziu a testa. “Exceto por aquele Profanado?”

Ananke assentiu.

“… Sim.”

A água brilhava sob a luz do sol, e o veleiro voava sobre as ondas, viajando cada vez mais para o passado. Nephis hesitou por um momento, e então perguntou:

“O que aconteceu quando o Profanado apareceu?”

A velha não respondeu por um tempo. Eventualmente, ela levantou a cabeça e sorriu amargamente.

“O dia em que ele apareceu… foi o dia em que Weave foi destruída.”

Suas palavras viajaram sombriamente pela superfície da água, logo desaparecendo no vento.