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    Niko e Evelyn estavam sentados em cadeiras luxuosas, em um corredor fora do salão do leilão. Após a vitória de Niko, o apresentador pedira para que os dois o acompanhassem até o corredor de espera, ao lado de seu escritório — onde ele se encontrava naquele exato momento, provavelmente arrumando a sala para os receber.

    O corredor era iluminado por lanternas presas às paredes. Um longo tapete vermelho percorria o chão, rodeado por mobílias de madeira escura, belos quadros ornamentados e detalhes dourados nos cantos das molduras. Lá dentro fazia calor — um contraste gritante com o frio das ruas de Gryznóv.

    — Foi legal o jeito que você ganhou o leilão e humilhou aquela mulher, mas… — disse Evelyn, se virando para ele. — Como a gente vai pagar pelo colar agora?

    — Eh? — murmurou Niko, como se só agora percebesse o problema.

    — Você ofereceu um valor que já seria difícil de pagar nos oitenta mil, e não satisfeito, foi lá e mandou cem mil por puro orgulho! Ai ai… você não pensa, não? E agora, o que a gente faz?

    Parando para refletir, Niko percebeu o tamanho da burrice que tinha cometido. E essa burrice iria custar caro.

    — A gente pode pedir mais cinquenta mil pra Hyandra depois. Acho que ela vai entender. — sugeriu ele.

    — Tá, e o valor do nosso pagamento? Ou a gente fez essa missão de graça?

    — Ah… tem isso também…

    — Então a gente vai, na maior cara de pau, implorar pelo dobro do dinheiro que nosso contratante ia dar? — bufou Evelyn, fazendo biquinho e cruzando os braços, visivelmente irritada com a ideia de sair da missão no prejuízo. — Ótimo.

    Foi então que uma porta ao lado deles se abriu. O responsável era um homem de cabelos pretos e terno excêntrico — o mesmo leiloeiro animado de antes, agora com seu sorriso um pouco menor e sem a forte energia teatral de antes.

    — Com licença, senhores, já podem entrar.

    Niko e Evelyn se entreolharam uma última vez, se levantaram e entraram no escritório.

    Era um espaço de tamanho médio, elegante e organizado, grande o suficiente para acomodar confortavelmente mais de dez pessoas. O chão era de madeira, coberto por um tapete floral preto e vermelho. No teto, uma lamparina quadrada iluminava todos os cantos da sala. As paredes eram revestidas de madeira escura e cobertas por estantes repletas de livros.

    No centro, uma mesa com papéis, livros, uma lanterna, uma máquina de escrever e diversos outros objetos em cima. Diante dela, havia duas cadeiras para os convidados. O leiloeiro se sentou à mesa e pegou um cachimbo do canto da escrivaninha, levando-o à boca. Niko e Evelyn se acomodaram nas cadeiras à sua frente.

    Ele puxou a fumaça, depois a soltou calmamente para o lado.

    — Primeiramente, boa noite, senhores…

    — Meu nome é Evelyn, e esse aqui é Niko. — disse ela, direta.

    — Evelyn e Niko, perrfeito. Gostaria de parabenizar o senhor Niko pela sua vitória hoje. Foi algo realmente incrrível. — disse, gesticulando com o cachimbo. — Agora precisamos falar sobre a forma de pagamento. Será em cheque? Dinheiro vivo? Confesso que prefiro essa forma de pagamento, se é que vocês me entendem, uhuhul. Como vocês apostaram muito, imagino que não estejam com o dinheiro aqui. Posso estar errado… mas duvido. E só pra constar, vocês não ficarão com o colar até pagar por ele. — finalizou, puxando mais uma tragada do cachimbo.

    — Posso ver o colar? — perguntou Niko.

    — É claro, meu amigo chifrudo. Huhu!

    O leiloeiro tirou uma chave do bolso, abriu uma gaveta da mesa e pegou o colar protegido por uma redoma de vidro. Estendeu-o para Niko, que o recebeu com uma reverência quase exagerada, os olhos brilhando enquanto analisava a jóia com extremo cuidado, deslizando os dedos ao redor da flor de Araquel no centro.

    — Ela é maravilhosa, não é? — comentou o homem, com um sorriso satisfeito.

    — Sobre a forma de pagamento, senhor… — começou Evelyn.

    — Pode me chamar de Edwin. — interrompeu ele.

    — Edwin, tivemos um pequeno imprevisto. Não temos o dinheiro agora, mas nossa contratante pode nos repassar uma quantia maior em breve. Assim conseguimos te pagar.

    — Contratante? Vocês são mercenários?

    — Sim, exatamente. Se precisar de algum serviço…

    Hah! Talvez eu pense nisso mais tarde. Já ouvi falar de você, Evelyn. A Mercenária Élfica.

    — É sério? — perguntou ela, surpresa.

    — Mas é claro. Tenho uma rede enorme de contatos, clientes e fornecedores. Conheço esta cidade como a palma da minha mão. — respondeu, enquanto reclinava a cadeira de rodinhas e puxava uma nova tragada do cachimbo. Então olhou fixamente para Evelyn. — Como eu disse no leilão: sse não me pagarem em até três dias úteis, aquela mulher se torna a nova dona do colar. Se quiserem, podem parcelar em até doze vezes… mas haverá um juro de cinco por cento sobre o valor total. Conseguem ao menos arranjar oito por cento do valor até depois de amanhã?

    — Conseguimos sim, senhor! — respondeu Evelyn, firme. — Talvez até o valor completo.

    Edwin desviou o olhar para baixo, ajeitou-se de volta na cadeira e soprou a fumaça para frente. O aroma doce e levemente picante do tabaco envolveu os dois por um momento.

    — Nesse caso, tudo certo. — disse ele, pegando um relógio de bolso, olhando as horas com um ar entediado, quase cômico.. — Bom… daqui a pouco terei outro lance. O décimo da madrugada. Eheheh. — guardou o relógio de volta no paletó. — Carinha chifrudo, o colar, por favor.

    — Ah, sim…

    Niko, com expressão satisfeita, devolveu o colar com o mesmo cuidado que teve ao recebê-lo. Edwin o colocou de volta na redoma de vidro com uma cautela visível.

    — Bom, rapazes, espero ver vocês de novo… logo, logo.

    — Certo. Muito obrigada, Edwin. — disse Evelyn, levantando-se.

    Niko apenas acenou com a cabeça, em sinal de agradecimento. Quando já estavam na porta, Evelyn se virou, confusa.

    — Ehh… onde fica a saída mesmo?

    Niko relaxou os olhos e segurou o pequeno riso. Claro que ela não fazia ideia de onde era a saída — tinham entrado pelo telhado, afinal.

    — Descendo a escada, seguindo o corredor. A última porta leva à recepção. — respondeu Edwin, com o cachimbo ainda entre os dentes.

    — Entendido. Obrigada.

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