Capítulo 59 - A Perseguição II
A dupla voltou às ruas de Gryznóv, agora um pouco mais vazias e menos barulhentas que antes. Evelyn soltou um suspiro cansado de olhos fechados, como se quisesse falar algo, mas sem energia para formular as palavras.
— Agora a gente vai ter que implorar pra Hyandra nos dar mais dinheiro pra pagar o colar. É isso… ou ficar com uma dívida enorme. Na verdade…
Ela parou por um momento, avaliando mentalmente as opções que ainda restavam, e então sugeriu:
— A gente pode tentar roubar o colar. Já sabemos onde ele fica, e o escritório do leiloeiro não parece difícil de invadir. A gente pode invadir enquanto o cara não estiver lá. O que acha?
— Eu tenho uma sugestão melhor.
— Qual?
— A gente volta pra casa… e entrega o colar pro Gregory amanhã.
Niko parou, abriu seu manto e puxou de dentro um colar de ouro com detalhes em diamante e uma flor de Araquel no centro. Mostrou-o diretamente para Evelyn dando um sorriso presunçoso. Era o colar de Lady Hyandra.
— Eh?!
…
Edwin estava acomodado em seu escritório, com os pés em cima da mesa, admirando o belo colar de ouro que havia recebido no dia anterior — deixado por um anônimo.
— Espero que eles me paguem parcelado… assim eu ganho mais dinheiro, ihehehe. Se bem que… cinco por cento foi pouco. Eu devia ter cobrado mais…
Enquanto analisava a estrutura detalhada da joia, o leiloeiro não pôde evitar admitir:
— Esse colar é bem bonito mesmo.
Logo depois, a jóia desapareceu das mãos dele sem aviso, sem som, sem explicação, como se fosse mágica.
— Ahn?
A confusão virou desespero quando ele percebeu o que tinha acontecido.
— MAS O QUÊ?!
…
— O quê?! Como você…? — Evelyn arregalou os olhos, até que a ficha caiu. — Ahhh, já entendi! Você colocou uma marca de Alma quando pegou, né? Heh, nada mal, maninho. Isso nos poupou uma bela grana.
O brilho da joia chamava atenção mesmo sob a luz fraca das ruas. Um ou dois pedestres olharam de lado — e um deles até arregalou os olhos quando viu a peça.
Niko guardou o colar de volta e sorriu com orgulho. Evelyn retribuiu com um sorriso cúmplice, até que…
— EI, VOCÊS DOIS! O que pensam que estão fazendo com isso?! — gritou uma voz atrás deles.
Virando o rosto para trás, os olhos atingiram dois homens de casacos longos e pretos vindo rapidamente na direção da dupla.
— Parece que a gente tem companhia. Bora vazar.
Evelyn agarrou o braço de Niko e disparou pela rua em alta velocidade, puxando o garoto entre os pedestres. As ruas estreitas e o caos típico do distrito os ajudavam a se esconder até certo ponto.
— Owaaaa!
— VOLTEM AQUI AGORA! — berraram os guardas.
Niko, após alguns segundos sendo puxado pela elfa, finalmente começou a correr por conta própria, acompanhando completamente o ritmo. Comerciantes e pedestres, confusos, se afastavam automaticamente para não se envolver na confusão.
Quando menos perceberam…
— Vocês não escapam agora!
Outro grupo de guardas, seis deles, cercou a rua da frente, impedindo a passagem da dupla.
— Agora é com você, Niko! — disse Evelyn, sem hesitar.
— Fica com isso! — respondeu ele, entregando-lhe uma de suas adagas.
Niko então puxou outra faca, segurando-a pela lâmina, e a lançou para o alto. No mesmo instante, ativou sua Alma. Em uma aura negra, os dois desapareceram e reapareceram no topo de um dos pequenos prédios próximos.
— Eles sumiram?!
— Onde eles estão?!
— Olha ali em cima! — gritou um dos guardas, apontando.
No alto do edifício, Niko e Evelyn recuperavam o fôlego. Estavam sentados, pouco ofegantes, ainda sentindo a adrenalina da fuga. Evelyn sorria abertamente, enquanto Niko mantinha os olhos contraídos, ainda atento.
— Isso tá sendo bem intenso. — comentou ela.
De repente, um disparo atingiu a beirada do prédio, estilhaçando pedaços de concreto e fazendo os dois se jogarem para o lado de susto.
— WHOA! Ei! Isso podia ter acertado a gente! — gritou Evelyn, indignada.
Outro estrondo ocorreu. Mais um tiro passou por cima deles.
— Melhor a gente sair daqui!
Ambos se levantaram e começaram a correr, Evelyn à frente e Niko à trás. Chegaram à beirada do prédio e pularam para o edifício ao lado, enquanto mais tiros estalavam atrás deles.
— Uhul! — gritou Evelyn, rindo.
Continuaram nesse ciclo por algum tempo: correr, pular, deslizar, fugir. Até que, ao final da última construção, depararam-se com o vazio. Não havia mais prédios à frente. Apenas uma praça lá embaixo. Um salto de morte certa. Os dois pararam bruscamente, sem para onde correr.
— Ai, que droga. O que a gente faz agora, Evel- Woah!
Sem aviso, Evelyn puxou o braço de Niko e saltou do prédio. No ar, ela ativou sua Alma e conjurou uma pista de gelo vertical que se estendia até o chão da praça. Eles deslizaram por ela como em um tobogã improvisado.
— A gente faz isso! — gritou ela, enquanto desciam.
Ao tocar o chão, a calçada de pedras virou gelo sob os pés, e os dois seguiram deslizando como dois patinadores. Rodopiando em círculos, de um lado para o outro. Evelyn segurava firmemente as mãos de Niko, fazendo com que ficassem de frente um para o outro enquanto giravam descontroladamente.
O vento gelado no rosto dos dois, e as roupas ondulavam atrás deles como capas de uma coreografia não improvisada. Niko mal conseguia manter o equilíbrio, mas sua atenção não estava mais no chão — e sim no rosto à sua frente.
Ela ria com os olhos semicerrados, as bochechas estavam coradas e o sorriso era largo e genuíno. Sua gargalhada ecoava na praça vazia como se zombasse do perigo que haviam acabado de escapar.
Aquela alegria espontânea atingiu Niko como uma onda quente em um mundo gelado. Seus músculos relaxaram. O medo evaporou. E, pela primeira vez em horas, ele simplesmente sorriu. Um sorriso leve, despreocupado — talvez o mais sincero que já tinha dado em muito tempo.
Os giros diminuíram até que pararam por completo. Niko caiu sentado com as pernas bambas. Evelyn escorregou de lado e se jogou no gelo, estendendo os braços e a mão sobre a testa, gargalhando como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo.
— HAHAHAHA! Isso foi incrível! Faz tempo que eu não participava de uma perseguição assim.
— Vocês dois! — gritou um dos guardas, surgindo atrás, pistola em mãos. — Devolvam o objeto roubado agora!
— Essa não, Niko. Acho que vamos ter que devolver o colar… — disse Evelyn, com um gesto dramático digno de palco.
— Hehehe. Vamos voltar logo pra casa. Tô cansado. — respondeu Niko.
— VOCÊS NÃO VÃO PRA LUGAR NENHUM ANTES QUE… o quê?!
Em um piscar de olhos, os dois desapareceram.
Na praça, ficou apenas uma brisa leve pelo gelo e a neve recém formada… e um guarda completamente perdido, tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer.
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