Capítulo 1932 - Segunda Geração

Combo 58/300

Orum não via Ravenheart e sua filha com frequência desde aquele dia que passaram juntos em NQSC. Eles viviam em tempos turbulentos e tumultuados, e ele tinha assuntos familiares para resolver naquela época. Mais tarde, seu foco mudou para o Reino dos Sonhos. Ele perseguiu suas ambições e, por fim, conquistou sua própria Cidadela, desejando construir um meio de vida para si e sua família.

Os Despertos eram naturalmente agrupados pela região do Reino dos Sonhos para onde viajavam à noite. Ravenheart estava simplesmente longe demais, em um lugar para onde poucos outros haviam sido enviados pelo Feitiço do Pesadelo. Ela também não era muito sociável, então os dois se distanciaram, acabando por perder completamente o contato.

Ele ouvia falar dela de vez em quando, sentindo-se feliz em saber que ela estava bem. A vida de Ravenheart parecia bastante difícil, considerando o quão remoto e perigoso era seu canto do Reino dos Sonhos. Não havia muitos Despertos lá, e menos ainda Cidadelas — ao contrário da região onde o próprio Orum estava ancorado. As pessoas ali se reuniram em torno da imponente Cidadela do Guardião da Bravura, que agora era um bastião da humanidade naquele perigoso mundo alienígena. Quase parecia o centro do Reino dos Sonhos, com todo o resto existindo na periferia.

Bem, havia o elusivo Andarilho da Noite e outras almas infelizes que se encontravam em um mar nebuloso, é claro, bem como Cidadelas isoladas espalhadas aqui e ali pela vasta extensão do Reino dos Sonhos. Considerando sua natureza, era difícil até mesmo estabelecer onde estavam localizadas em relação a áreas mais populosas, quanto mais traçar um caminho até elas.

A última vez que Orum ouviu falar de Ravenheart, ela havia conquistado uma Cidadela em algum lugar bem ao norte, perto de uma colossal cadeia de montanhas que se estendia de leste a oeste até onde os humanos exploravam. Preocupado com outras coisas, ele não pensava nela há muitos anos. Mas agora, ao ver sua filha, as lembranças de todo o tempo que passaram juntos inundaram sua mente.

Orum sentiu nostalgia, ternura, uma melancolia agridoce… e vergonha. Ravenheart fizera tanto por ele, mas nunca lhe retribuíra. Em vez disso, simplesmente se esquecera dela, ocupado demais com seus próprios assuntos e com as complexidades da vida.

A pequena Ki — já uma adolescente — olhou para ele e franziu a testa, confusa. Parecia que ela mais uma vez não se lembrava de quem ele era. Ainda um pouco atordoado, Orum lhe ofereceu um sorriso.

“Eu sou o Desperto Orum… Tio Orie. Sou amigo da sua mãe.”

Não havia nenhum sinal de reconhecimento em seus olhos. A adolescente se mexeu desajeitadamente, seu rosto sombrio sem um sorriso sequer. 

“Ah… prazer em conhecê-lo, Desperto Orum.”

Ele hesitou, sem saber o que dizer, então de repente olhou ao redor.

“Sua mãe está aqui?”

A pequena Ki… embora ele provavelmente devesse parar de chamá-la assim… balançou a cabeça. “Não… a Cidadela da mamãe fica em uma região perigosa do Reino dos Sonhos, e muitas pessoas a usam como abrigo. Como precisam da proteção dela, ela passa a maior parte do tempo dormindo.”

Ela demorou-se por alguns instantes e depois acrescentou secamente:

“Mas minha mãe me disse para passar mais tempo com crianças de outras famílias Despertas, então aceitei o convite em nome dela. Para representar nossa família.” Havia um toque de orgulho em suas últimas palavras, o que levou Orum a observá-la atentamente.

“Mas parece que você não está passando tempo com outras crianças.”

Os olhos do pequeno Ki se arregalaram.

“Bem! Isso… isso… Eu os abordarei na hora certa. Estou apenas organizando meus pensamentos.”

Orum sorriu, desconfiando do motivo pelo qual Ravenheart havia dito à filha para se socializar mais com outras crianças.

“Você está tendo dificuldades?”

A pequena Ki lançou-lhe um longo olhar e depois suspirou.

“… Um pouco.”

Então, ela acrescentou amargamente:

“Todos eles já se conhecem. Além disso, as famílias dos outros Despertos Nomeados estão todas… estão todas… em melhor situação do que nós. Quando me apresentei, eles apenas me cumprimentaram e perderam o interesse imediatamente.”

Orum conteve uma careta. As famílias de pessoas como Chama Imortal e Guardião eram de fato um clube um tanto quanto exclusivo. Tinham que ser, considerando quantos bajuladores buscavam seus favores, muitas vezes com pouca ou nenhuma sinceridade.

Ele lamentou que seus sobrinhos não estivessem ali… embora fossem muito mais novos do que aquela garota rejeitada. Ela provavelmente também não saberia o que conversar com eles. Ele permaneceu em silêncio por alguns momentos e depois sorriu novamente.

“Eu estava indo comprar uns salgadinhos… você quer vir comigo? Afinal, é muito mais fácil suportar esses acontecimentos de estômago cheio. Além disso, quero saber mais sobre como sua mãe está. Somos da mesma cidade, sabia? Aliás, eu não estaria vivo hoje se não fosse por ela. Minha irmã também. Pensando bem, preciso te contar tudo sobre como ela nos resgatou — afinal, seria um crime se você não soubesse o quão incrível sua mãe é…” 

Finalmente, o conhecido sorriso tímido apareceu no rosto da adolescente.

“Ah… tudo bem. Mas eu já sei o quão incrível ela é…”

Orum passou algum tempo com a Pequena Ki, conversando sobre Havenheart e os primeiros dias do Feitiço do Pesadelo. Ela ainda era a mesma criança doce por baixo da fachada de melancolia adolescente, o que o deixou feliz. No processo, ele a apresentou a algumas pessoas e a ajudou a se misturar à multidão. Seu constrangimento diminuiu, e ela finalmente saiu do lado dele para conversar com algumas crianças de famílias menos influentes.

Ele ficou muito feliz com a oportunidade de ajudar a filha de sua benfeitora, mesmo que fosse de uma forma tão pequena. Havia um pequeno sorriso em seus lábios.

“Espero que a encrenqueira da minha irmã a conheça quando crescerem.”

Depois daquele dia, porém, a vida voltou a ficar turbulenta. A conquista de Chama Imortal causou um enorme impacto, e uma onda de mudanças abalou o mundo inteiro. Essas mudanças foram especialmente pungentes para Despertos como ele. Logo, mais Ascendentes — agora chamados de Mestres — emergiram. A existência dos Portais da Categoria Três foi revelada, mergulhando a humanidade no caos por um tempo. Eventualmente, Orum começou a fazer preparativos, planejando desafiar o Segundo Pesadelo pessoalmente.

Em meio a toda essa turbulência, ele não pensou muito na pequena Ki Song. Até que chegou o dia em que ele se arrependeu amargamente. Isso porque, naquela época, a primeira geração de crianças nascidas após a descida do Feitiço do Pesadelo atingiu a idade que lhes permitiu serem infectadas por ele. E Despertos como ele rapidamente descobriram que os filhos daqueles que passaram pelo teste do Feitiço tinham muito mais probabilidade de se tornarem suas vítimas.