Índice de Capítulo

    Evelyn puxou a pilha de cartas da mesa ao lado da porta e folheou rapidamente com os olhos, separando três envelopes do restante. O papel de cada um era diferente: o primeiro tinha um lacre vermelho, bem prensado; o segundo, azul-escuro e ligeiramente amassado nas pontas; o terceiro, mais simples, sem nada de especial.

    Ela pegou os três e caminhou até a mesa de jantar, onde Niko e Brigitte estavam sentados. Niko tamborilava os dedos sobre a mesa de madeira. Brigitte, por sua vez, ainda passava a mão nos arranhões que ganhou do gato, mas sem perder o bom humor.

    — Aqui estão as opções. — disse Evelyn, sentando-se com um leve estalo da cadeira. Quebrou o lacre do primeiro envelope com cuidado e puxou a folha de dentro, alisando-a antes de começar a leitura. — Vamos ver…

    Prezados,

    Tenho um trabalho para indivíduos habilidosos e discretos.

    Um colecionador excêntrico possui um artefato valioso que me interessa. Desejo tê-lo, nem que seja à força. O pagamento será generoso e detalhes só serão fornecidos pessoalmente.

    Se estiverem interessados, compareçam ao endereço abaixo amanhã à noite.

    Sigilo absoluto é exigido.

    — Um cliente que valoriza discrição.

    — Huh… um roubo direto? — comentou Evelyn, sorrindo de lado. — Gostei. Eu apoio a gente fazer essa aqui.

    Brigitte imediatamente bateu as mãos na mesa com força, fazendo os dois virarem o rosto. A madeira vibrou sob o impacto.

    — Mas nem pensar que a gente vai fazer isso! — disse ela, com as sobrancelhas franzidas, indignada. — Roubar é errado! E não vamos cometer crimes!

    — Ah, qual é… — Evelyn recostou-se na cadeira, cruzando os braços com um suspiro demorado. — É um roubo bem pago. Já fiz isso centenas de vezes. Não é nada de mais.

    — Não importa se paga bem! Não importa a desculpa! — Brigitte se levantou, apontou o dedo para Evelyn, como se estivesse repreendendo uma criança. — Enquanto eu estiver nesse grupo, a gente não vai cruzar essa linha! Eu jurei nunca usar meus poderes pra prejudicar inocentes. E sim, roubar conta como prejudicar!

    — Tá bom, heroína… — Evelyn murmurou.

    — Eu também concordo com a Brigitte. — disse Niko, interrompendo a troca. — Não gosto muito da ideia de roubar itens de pessoas inocentes.

    — Hah?! Mas, mas…

    — Sem mais. — concluiu ele. — Esse contrato está fora de cogitação.

    Evelyn abaixou tristemente a cabeça, derrotada, enquanto Brigitte comemorava com um pulinho no lugar e os punhos erguidos.

    — Yey!

    Do outro lado da sala, o gato laranja espiava os três de baixo do sofá, como se esperasse o momento certo em que pudesse sair sem que Brigitte percebesse.

    Sem mais o que fazer, Evelyn pegou o segundo envelope. Dessa vez, deslacrou com menos entusiasmo. A leitura foi mais curta, com um tom entediado.

    Mercenários,

    Preciso de proteção durante um evento particular.

    O motivo do pedido não pode ser revelado, apenas que a segurança deve ser garantida até o fim da noite.

    A missão exige discrição e atenção.

    O pagamento será feito ao término do trabalho.

    Caso aceitem, compareçam ao endereço abaixo antes do pôr do sol.

    — Um anfitrião cauteloso.

    — Ele não diz quem é, nem por que precisa de proteção. — comentou Niko, coçando o queixo.

    — E ainda insiste na tal “discrição” sem dar contexto nenhum. — Brigitte cruzou os braços, desconfiada. — Isso cheira a encrenca.

    — E se for só um nobre paranoico? — sugeriu Evelyn, arqueando uma sobrancelha.

    — Ou um criminoso tentando não ser morto num jantar. — rebateu Niko, sem mudar a expressão.

    — Deixa eu adivinhar… também não vamos fazer essa?

    A resposta veio no silêncio. Ambos encararam Evelyn com expressões neutras, mas perfeitamente claras. A elfa suspirou alto e largou a carta na mesa com certa indiferença.

    — Tá bom. Última tentativa.

    Ela pegou o envelope restante, que tinha o papel mais áspero e a cera já meio gasta. Rasgou-o com rapidez e leu o conteúdo com tom mais contido, como se já esperasse algo mais promissor.

    Prezados,

    Escrevo-lhes porque algo estranho aconteceu na minha fazenda.

    Um dos meus bois foi encontrado morto dentro do celeiro esta manhã.

    Não há sinais de arrombamento, nem pegadas na neve do lado de fora.

    Os outros animais estavam intactos.

    Não sei o que pode ter causado isso, mas preciso de ajuda antes que aconteça de novo.

    Pago bem para quem puder descobrir o que houve.

    Se aceitarem, me encontrem na fazenda Ostrav.

    — Sigurd Keller.

    Brigitte nem esperou o fim da leitura. Seus olhos brilharam como os de uma criança recebendo um presente inesperado.

    — Essa!

    — Você nem ouviu tudo ainda… — disse Niko, olhando de lado.

    — Não importa! É uma missão de verdade! Um mistério! Um fazendeiro pedindo ajuda… isso é coisa de…

    — …uma heroína? — completou Evelyn, sem conter o sorriso.

    — Exatamente! — Brigitte bateu os punhos na mesa de leve com empolgação. — Além disso, ninguém mais vai resolver isso por ele! Se a gente recusar, ele vai continuar sozinho com esse problema.

    Niko pegou a carta e releu, agora com mais atenção. As palavras estavam lá, mas alguma coisa no tom da mensagem o deixava desconfortável. Uma sensação difícil de explicar.

    — Se o celeiro estava trancado… e não havia pegadas… como o boi morreu?

    — E é isso que nós vamos descobrir! — disse Brigitte, erguendo o queixo com confiança exagerada.

    Evelyn observou os dois. Por um momento, o apartamento ficou em silêncio — apenas ouviam o vento batendo contra a janela.

    — O que diz, maninho? — perguntou a elfa.

    Niko suspirou devagar, colocando a carta sobre a mesa. Ainda não confiava cem por cento em Brigitte. Ainda achava que algo não se encaixava. Mas, de todas as missões, essa era a mais… honesta.

    — Certo. Vamos ver o que está acontecendo nessa fazenda.

    Brigitte comemorou com um soco no ar e uma pirueta desajeitada no mesmo lugar, como se estivesse em um palco.

    — Mal posso esperar por isso!

    Enquanto Brigitte ainda girava no próprio eixo, vibrando de empolgação, o gato laranja esgueirou-se para fora do sofá. Olhou rápido para os lados, depois disparou em silêncio pelo corredor, atravessando a fresta da porta antes que alguém percebesse.

    Niko, que ainda segurava a carta do fazendeiro, viu o vulto alaranjado escapando — e esboçou um leve sorriso.

    — Amanhã de manhã partimos pro interior, pra fazenda. — disse Evelyn, espreguiçando-se com um leve estalo nos ombros. — Até lá, podemos descansar um pouco.

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