Capítulo 89 - A Tempestade II
Brigitte não perdeu mais tempo. Avançou como um raio em direção à mulher. Os músculos se contraíram em um disparo reto, e seu corpo cortou o ar com um estrondo abafado. A lança prateada zunia, apontada direto para o coração da inimiga mascarada. O chão congelado foi rasgado por sua passagem, neve e folhas foram erguidas em um rastro explosivo.
A estocada foi direta, letal — mirava o peito da oponente com a intenção clara de encerrar aquela luta no primeiro movimento. Quando o golpe, certeiro e feroz, iria encontrar a carne.
CRACK!
Um impacto seco ecoou. A lança parou bruscamente no ar, como se tivesse atingido uma muralha invisível. A força do bloqueio fez seus braços vibrarem. Seus pés deslizaram alguns centímetros para trás do solo congelado.
Entre ela e sua oponente, uma imensa lâmina curvada havia se materializado. Era translúcida, vermelha como vinho e com uma textura cristalina. Um tipo de cristal-vivo, talvez. Aquela espada não estava ali nem um segundo antes. Ela havia surgido do nada.
Brigitte arregalou os olhos. Estava surpresa. Não esperava por isso. Mas o que a desconcertou de verdade foi a postura da inimiga: ela segurava a lâmina com apenas uma mão, sem esforço, como se estivesse bloqueando um galho de árvore e não um ataque em velocidade supersônica.
Por um segundo, as duas se encararam, separadas pela transparência vermelha da espada. Os olhos de Brigitte brilhavam como raios púrpura. Não era possível ver os da mulher mascarada, mas a inclinação de sua cabeça dizia tudo: ela estava analisando Brigitte, como se testasse a força de um animal que acabou de conhecer.
— De que adianta ser tão rápida se é tão previsível assim? — perguntou a mulher, com a voz arrastada e levemente entediada.
Brigitte cerrou os dentes. Se não podia romper a defesa, teria que contorná-la. Com um giro fluido, ela girou no ar e tentou um ataque lateral, mirando o flanco da oponente. Mas o golpe passou no vazio. A mulher dera um passo para trás, desviando com tranquilidade, como se já soubesse exatamente o que Brigitte faria.
— Como eu disse: previsível.
Frustrada, Brigitte recuou. Deslizou pelo solo congelado com agilidade, buscando um novo posicionamento. Seu peito estava arfando, e seus olhos varrendo a adversária, tentando entender sua leitura. Ela precisava de um plano melhor.
A mulher mascarada abaixou a lâmina, posicionando-a na frente do corpo com certa elegância. Estava tentando atrair Brigitte para um ataque direto. Era óbvio demais. Uma armadilha simples. Mas, se usada da maneira correta, eficaz.
— Vou admitir, você me surpreendeu, mas aposto que você nem aguenta minha força. — terminou Brigitte com um sorriso determinado no rosto.
— Para me quebrar, primeiro teria que atravessar sua espada. Ela já sobreviveu a coisas muito piores do que você. Você não tem chances contra sua espada. Devia aceitar sua própria morte e morrer rapidamente. Seria um favor a todos nós.
O silêncio que se seguiu foi denso. O vento soprou levemente, e pequenas faíscas elétricas começaram a surgir ao redor dos olhos de Brigitte. Cada uma brilhava em roxo, como fragmentos de trovões prestes a explodir.
Ela inspirou fundo.
— Até parece que eu fazer isso. Eu não vou morrer até dar tudo de mim!
A mulher suspirou alto, mantendo a mesma posição.
— Huff. Então venha, e me presenteie seu inútil esforço.
No segundo seguinte, a garota se lançou. Mas não da mesma forma. Desta vez, sua velocidade explodiu com uma intensidade ainda maior, tanto que seu corpo se transformou em um borrão roxo-elétrico. Estava prestes a atacar diretamente, quando sumiu da frente da mulher e reapareceu atrás dela, desferindo um golpe horizontal.
A lâmina prateada cortou o ar com violência. Mas, mais uma vez, não atingiu a mulher. A inimiga já havia se virado, bloqueando com a mesma precisão quase sobrenatural. A espada carmesim bloqueou o ataque com um estrondo metálico que ecoou pelas árvores.
Mas Brigitte não parou. Desapareceu de novo na velocidade. Atacou de cima. De baixo. De ambos os lados. Em alguns momentos, seus pés nem tocavam mais o chão. Saltava a todo momento. A floresta emitia faíscas fortes com os choques sucessivos das armas. Se alguém assistisse de longe, veria apenas vultos e clarões, eletricidade e cristal se batendo.
Mesmo com toda essa fúria, não conseguia acertar a mulher mascarada. Cada investida era desviada. Cada movimento era bloqueado no último instante. Como se a mulher já soubesse exatamente onde seria o ataque antes mesmo de ser desferido. Brigitte rangeu os dentes, frustrada.
“Como isso é possível?!”, pensou a garota.
Ela deu um salto para trás, deslizando na neve. Seu corpo tremia de adrenalina e sua mente ainda tentava entender. A mulher à sua frente… não estava nem suando. Apenas espetou sua espada no solo com uma lentidão quase provocativa, inclinou a cabeça, e falou:
— Agora que te observo melhor… você luta como uma amadora. Tem talento, claro. Mas… pouca experiência real. Estou certa ou isso faz parte do seu plano?
Brigitte não respondeu. Em vez disso, flexionou os joelhos com força. Um jato de vapor escapou atrás dela, condensado pela imensa velocidade — era como se o ar estivesse prestes a se rasgar. Em um segundo, ela disparou novamente. Mas, desta vez, não em linha reta.
Ela começou a correr em círculos ao redor da mulher. Cada volta mais rápida que a anterior. O ar começou a girar. As folhas das árvores começaram a cair. A eletricidade formava um redemoinho púrpura em torno da assassina mascarada, que apenas acompanhava com os olhos, com os cabelos balançando ao vento.
E então… silêncio. Brigitte havia sumido.
A tempestade parou de repente, como se o mundo tivesse prendido a respiração. A mulher mascarada apertou o punho em sua espada, erguendo-a devagar. Agora, o ataque podia vir de qualquer lugar. Qualquer direção. Qualquer momento. Ela estava preparada. Precisava estar.
Foi então que uma luz brilhou no céu. Alta. Veloz. Um raio roxo descia dos céus. A mulher girou o corpo, e sua lâmina subiu em um arco perfeito, bloqueando o golpe com precisão cirúrgica. O impacto sacudiu as árvores. Um trovão ressoou por toda a floresta. A mulher manteve a postura firme… mas algo não estava certo.
Ela percebeu rápido demais. Brigitte não estava ali. Era apenas o raio, e não a mulher. Era uma armadilha.
O vento soprou atrás dela. Seu instinto gritou. Mas já era tarde. Virando a cabeça por reflexo, a mulher avistou uma silhueta negra de olhos púrpura brilhantes, como um relâmpago em uma tempestade. A silhueta estava se aproximando em uma velocidade surpreendente.
A assassina tentou desviar do ataque, mas já era tarde demais. Brigitte atacou, desferindo um golpe da haste da lança no busto da mulher. O golpe lançou a mulher pelos ares. Seu corpo atravessou uma árvore, rachando o tronco, e despencou no chão com uma caída seca.
Brigitte pousou no chão, respirando ofegante, os olhos ainda estavam em alerta. Mas um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. Ela ergueu o punho em comemoração.
— Acertei!
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