Capítulo 2336 - Uma Estranha Verdade
O sol nascia sobre o mar cor de vinho. Seus raios suaves acariciavam uma ilha onde pedras brancas se afogavam na grama verdejante, e flores coloridas desabrochavam no calor agradável. Uma floresta cobria as encostas da ilha como um tapete e, no seu ponto mais alto, uma mulher descansava à sombra de uma oliveira.
Ela usava um quíton na altura dos joelhos, de tecido imaculado, branco como a neve, com uma pele de veado amarrada em volta dos ombros. Seu cabelo era curto, preso por uma simples faixa de couro. Seu olhar era calmo e sóbrio.
Enquanto a mulher descansava, uma corça emergiu da floresta. Em vez de se assustar com o humano, aproximou-se dela timidamente e abaixou-se até o chão, apoiando a cabeça em seu colo. A mulher abaixou a mão para acariciar a corça selvagem delicadamente, seus dedos afundando-se na pelagem macia.
Então, de repente, ela virou a cabeça e olhou para o mar, cuja superfície subia e descia tumultuosamente.
Ao longe, uma vela surgiu além do horizonte. Um navio se aproximava da ilha, lutando contra as ondas. O vento trouxera uma tempestade, e com ela vieram os convidados.
***
Três pessoas desembarcaram do navio — um velho, um guerreiro carregando um escudo redondo e uma criança ruiva. Eles seguiram pelo caminho sinuoso e se aproximaram de um antigo santuário. O santuário não era nem grandioso nem magnífico, mas emanava um sentimento de santidade solene.
Suas paredes eram construídas em mármore branco, cobertas por roseiras como um manto. Em frente ao santuário, havia um altar com fogo queimando em uma tigela de pedra.
O velho fez uma oferenda ao altar, colocando uvas frescas, folhas de louro e penas de falcão em sua superfície desgastada. Por fim, queimou incenso na tigela e recuou, ajoelhando-se reverentemente no chão.
O guerreiro estava atrás dele, apoiado em sua lança. A criança, enquanto isso, furtivamente estendeu a mãozinha para pegar as uvas. Chocado, o velho deu um tapa na mão do menino.
“Auro!” O garoto recuou e cambaleou, com os lábios tremendo.
“Deixe-o ficar com isso.” A voz da mulher ressoou do outro lado do altar. Ela apareceu sem fazer barulho, como por mágica.
A floresta parecia mais viva em sua presença, e rosas de repente floresceram nas videiras atrás dela. O menino congelou, olhando para ela com os olhos arregalados. O velho se abaixou até o chão, enquanto o guerreiro se curvava profundamente.
“Por que você está aqui?”
O velho se endireitou e olhou para a mulher com admiração.
“Minha senhora… trago notícias lamentáveis.”
Ela o encarou em silêncio, fazendo o velho continuar:
“Uma Besta Suprema está devastando as fronteiras ao norte do nosso reino. O Portal da Montanha não existe mais, e várias cidades já foram devastadas. Viemos implorar a você, como uma heroína, que defenda nossas terras mais uma vez.”
O lindo rosto da mulher permaneceu inexpressivo.
“Não sobrou nenhum guerreiro no reino para derrotar uma fera furiosa?”
O guerreiro desviou o olhar envergonhado. O velho, enquanto isso, sorriu melancolicamente.
“Há aqueles que podem matar a fera, minha senhora. No entanto, só você pode deter sua fúria sem derramar sangue.” A mulher permaneceu em silêncio por um tempo, depois se virou sem dizer uma palavra e desapareceu no santuário.
Poucos minutos depois, ela retornou carregando um arco e uma aljava de flechas, com uma braçadeira de couro presa ao antebraço. O velho se mexeu e olhou para ela com alegria.
“Nosso navio…”
Mas ela apenas balançou a cabeça.
“Não precisa.” Ela pegou uma pena de falcão do altar, olhou para ela em silêncio e a jogou no fogo. Um momento depois, duas asas como as de um falcão se abriram em suas costas, a luz do sol atravessando as penas marrons.
A mulher prendeu a aljava ao cinto e esticou as asas, preparando-se para alçar voo. Antes disso, porém, ela hesitou por alguns segundos. Pegando as uvas do altar, ela as ofereceu ao menino e então deu um tapinha desajeitado em sua cabeça.
“Não deixe os mais velhos se ajoelharem em seu lugar, garoto.” Um segundo depois, sua figura graciosa elevou-se no ar. O garoto ficou no chão, olhando para o céu com admiração nos olhos.
***
Uma cadeia de montanhas estava em ruínas.
Além dos penhascos quebrados e da terra fraturada, colunas de fumaça subiam para o céu de uma cidade devastada. E na planície em frente…
Um enorme javali jazia no chão, morto, com uma torrente de sangue carmesim escorrendo de seus ferimentos como um rio. Sua carcaça era como uma colina imponente, e a mulher que estava abaixo dele parecia uma formiga em sua sombra.
Sua aljava estava vazia e seu rosto estava preocupado. Ela respirou fundo e então fez uma careta, como se estivesse horrorizada com alguma coisa.
‘Tóxico…’
A mulher agachou-se levemente e saltou alto no ar, pousando no focinho do animal morto. Ela subiu sobre o cadáver como se estivesse subindo uma montanha, chegando finalmente às vastas costas do enorme javali. Ali, escondidas pela pelagem áspera, centenas de grandes flechas eriçavam-se como uma paliçada, com o metal corroído e coberto de ferrugem.
A mulher agarrou uma das flechas e a arrancou da carne do animal morto, depois a examinou com o cenho franzido. Alguns segundos depois, franziu a testa.
‘Aço imperial?’
Sua expressão escureceu.
Virando-se para o norte, ela olhou para as montanhas em ruínas. Onde antes havia uma estreita passagem, agora havia um amplo vale. Um desfiladeiro inexpugnável se transformara em uma estrada aberta.
Uma sombra caiu sobre os olhos claros da mulher…
E com isso, Sunny se viu de volta ao Castelo de Cinzas. Ele ofegou, depois cambaleou levemente, desorientado por um momento.
‘O quê? O que…’
Qual das suas perguntas essa verdade deveria responder? Ele queria saber como o mundo havia acabado, não como uma mulher estranha havia matado uma Besta Suprema em fúria.
E mais do que isso…
“Auro?! O maldito Auro dos Nove?!”
Isso sim é uma explosão do passado.
Enquanto Sunny xingava o nome do jovem soldado imperial que matara uma vez, em seu Primeiro Pesadelo, Caçadora se moveu levemente atrás dele. Virando-se, olhou para o rosto velado dela e, em seguida, estudou sua figura graciosa.
“Aquilo… aquilo era uma cena do seu passado, não era?”
Caçadora inclinou a cabeça, olhando para ele sem expressão. Sunny olhou fixamente para sua Sombra por alguns segundos e depois desviou o olhar.
‘Certo. Ela não sabe qual verdade me foi revelada e, além disso, nem se lembra do próprio passado.’ E mesmo que a verdade que o Jogo de Ariel lhe mostrara fosse sobre a Caçadora… tecnicamente, não era o passado dela. Porque Caçadora não era a mulher da visão que lhe fora mostrada, mas uma Criatura das Sombras nascida da sombra da mulher, muito tempo depois de ela ter morrido.
Mas…
Deve ter havido uma razão pela qual a Visão de Ariel lhe deu esta verdade, e nenhuma outra. A cena deveria ser importante, de alguma forma. Tão importante quanto dois daemons se encontrando no meio da Guerra do Destino.
… Se fosse, no entanto, Sunny não tinha ideia do porquê.
Ele respirou fundo algumas vezes, tentando suprimir sua frustração, e então lentamente recuperou a compostura.
“Não… está tudo bem.” Havia mais doze Abominações da Neve para ele matar e mais doze verdades para descobrir. Uma delas deveria conter a resposta que ele buscava.

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