Índice de Capítulo

    Koopus manteve o machado alto. As costas encostaram na pedra por um instante. O peito ardia, o ar falhava.

    Pátkos ficou a poucos passos, parado, o olhar preso nele.

    Koopus puxou fôlego e chamou essência. Ela subiu pelas pernas, travou joelhos, firmou quadril, endureceu as costas. O corpo respondeu de uma vez. O machado ficou estável na mão.

    Ele mudou a pegada no cabo e foi primeiro.

    O machado veio de baixo e bateu na base das costelas de Pátkos. O corpo do Multiplicador saiu da linha e recuou.

    O pé de trás raspou uma emenda do piso. Pátkos ajustou a passada. Não caiu, mas atrasou meio tempo.

    Koopus colou.

    O segundo golpe veio alto, na altura do ombro. Metal bateu em metal. O som estourou na pedra. Pátkos foi jogado de lado e as costas dele bateram numa coluna baixa. Pó caiu.

    Koopus não parou. Trouxe o machado de volta e bateu no peito. Pátkos recuou mais dois passos. O tronco dele segurou, mas o chão começou a faltar.

    Pátkos tentou entrar pela lateral.

    Koopus girou junto e empurrou com o cabo, sem dar espaço pro corpo do inimigo sumir inteiro. O machado bateu no ombro e Pátkos cedeu. Outro impacto pegou no quadril. Ele perdeu a linha do passo e precisou corrigir perto demais da parede interna.

    Koopus manteve pressão. Golpe atrás de golpe, sempre para empurrar. A parede cresceu no campo de visão de Pátkos.

    O Multiplicador levantou o antebraço para segurar a próxima pancada.

    Koopus desceu o machado ali.

    O braço de Pátkos baixou um palmo, forçado. O joelho dele encostou na pedra por um instante.

    Koopus avançou no mesmo instante e bateu no peito de novo. Pátkos voltou a ficar de pé, mas já sem espaço para escolher distância.

    Ele tentou sumir.

    Koopus atacou a faixa de chão antes do corpo aparecer. O machado ocupou o caminho. Quando Pátkos surgiu, surgiu tarde demais para passar limpo. O golpe pegou na lateral do tronco e empurrou.

    Outro impacto acertou as costelas. Outro, o ombro.

    A armadura de Pátkos respondeu com um som mais grave. O corpo por baixo sentiu.

    Pátkos tentou abrir distância com um passo.

    Koopus colou e bateu de novo. Empurrou mais um passo. A pedra atrás de Pátkos já não deixava muito.

    O Multiplicador tentou entrar no corpo do general, para tirar o machado do jogo.

    Koopus travou o cabo entre os dois e empurrou com ombro e perna. A armadura rangeu. O peito dele reclamou.

    Pátkos girou o tronco, buscando o flanco.

    Koopus virou junto e trouxe o machado numa diagonal, mirando o braço que apareceu primeiro.

    A lâmina pegou na carne.

    Foi pouco, um risco alto, perto do ombro. O suficiente para abrir pele. Um filete de sangue desceu.

    Koopus viu e não desperdiçou o segundo seguinte. Puxou o machado de volta para repetir o caminho.

    Pátkos ergueu a mão e olhou o sangue no próprio braço. Passou dois dedos e ficou com vermelho na ponta.

    Levantou os olhos para Koopus.

    — Você conseguiu.

    Koopus atacou de novo.

    Pátkos entrou no golpe.

    Ele aceitou a pancada no peito e avançou junto, fechando distância no lugar onde o machado não tinha espaço para entrar. Os braços dele envolveram Koopus.

    O abraço fechou e o ar sumiu.

    A armadura de Koopus reclamou num rangido lento. O cabo ficou preso entre os dois, pressionado no abdômen. O general tentou abrir espaço com o joelho, não achou ângulo. Tentou torcer o tronco, o abraço apertou mais.

    Pátkos aproximou o rosto do ouvido dele, voz baixa.

    — Segundo homem de Taeris a me ferir. O primeiro foi Clyve.

    O abraço apertou mais um nível. A dor subiu pelo peito e travou as pernas. A essência correu para segurar o tronco. Não bastou.

    Os joelhos de Koopus tocaram a pedra.

    Pátkos segurou por mais um instante, só para confirmar. Depois abriu os braços.

    Koopus caiu.

    O joelho bateu primeiro. O ombro veio em seguida. O machado escapou e bateu no chão com peso morto, girou e parou encostado na parede.

    Koopus tentou levantar a mão, que tremeu e não subiu.

    Pátkos ficou acima dele por um instante, olhar neutro, como se fechasse uma conta. Depois virou o rosto para os ruídos ao longe.

    ***

    Aamerta ficou onde estava. Um passo dela pisaria no próprio sangue.

    Cedric não mexeu. As duas lâminas dele ficaram prontas, uma alta, outra baixa. O olhar continuou calmo demais.

    Aamerta deixou o peso descer. A perna ferida ficou atrás, a outra segurou o corpo. A mão apertou o cabo até a luva reclamar.

    Essência subiu pela perna boa primeiro. Firmou o quadril, subiu pelas costas. O tronco parou de oscilar.

    Aamerta avançou.

    Não foi direto no peito, foi na mão.

    A ponta buscou o punho que segurava a lâmina alta. Cedric tirou o punho da linha. A outra espada dele tentou ocupar o espaço, ponta baixa, ameaça na altura da coxa.

    Aamerta puxou a perna ferida para fora da linha e entrou de novo, agora no outro punho.

    Metal bateu em metal.

    Cedric recuou meio passo, Aamerta o seguiu.

    Ela não caçou abertura grande, fez Cedric trabalhar em detalhe: punho, punho, antebraço, guarda. Cada estocada obrigava ajuste, cada ajuste gastava chão.

    Cedric tentou recuperar o compasso com um passo lateral.

    Aamerta levou a luta junto, fechando para perto das colunas quebradas.

    Cedric olhou rápido para o chão e voltou os olhos para ela. O primeiro sinal de incômodo.

    Aamerta entrou com a ponta baixa, mirando a mão que segurava a espada de baixo. Cedric tentou aparar e responder no mesmo gesto.

    Aamerta não esperou a resposta nascer. Ela encostou o aço dela no dele e empurrou, só o suficiente para tirar a ponta baixa da linha da perna. O movimento abriu um palmo.

    Aamerta encaixou a ponta na manga dele, acima do cotovelo, e o tecido abriu num risco. A pele por baixo marcou em vermelho ralo.

    Cedric olhou para o próprio braço. Voltou o olhar para ela.

    Aamerta não parou.

    Ela avançou mais um passo e bateu na mão dele com o guarda da espada, seco, sem arco. Os dedos de Cedric cederam um instante. A lâmina dele baixou um dedo.

    Aamerta empurrou de novo. Cedric recuou, agora sem escolher tanto. O calcanhar dele pegou pedra irregular.

    Aamerta entrou no mesmo tempo.

    A estocada veio para o ombro. Cedric cruzou as duas espadas para segurar. Aamerta virou o punho no choque e atacou o espaço que abriu do lado, buscando a lateral do tronco.

    O aço raspou na armadura dele e deixou um risco. nada profundo.

    Cedric deu dois passos para trás e voltou a montar guarda. As duas pontas ficaram presentes de novo. O rosto dele perdeu o sorriso.

    Aamerta sentiu a perna ferida latejar forte, mas a base não abriu. Ela segurou o ritmo com a perna boa, e fez a ferida existir só no lugar certo: atrás, protegida, fora da linha.

    Ela entrou mais uma vez, punho. Depois punho de novo. Depois o antebraço. A defesa de Cedric teve de subir e descer como portão sendo batido.

    O sangue na coxa de Aamerta pingou e manchou a pedra com mais um ponto. Ela não olhou.

    Cedric parou por um instante, os olhos nele mesmo depois nela.

    Aamerta manteve a espada na frente. O olhar ficou duro.

    — Agora você olha. — a voz dela saiu baixa.

    Cedric ergueu o queixo.

    — Você acha que isso muda alguma coisa?

    Aamerta não respondeu, empurrou.

    Uma estocada para a mão, outra para o ombro. Cedric recuou de novo, agora com menos sobra. As colunas quebradas estavam perto demais do pé dele. A parede interna da arena já aparecia no canto do corpo.

    Aamerta viu e forçou.

    Ela entrou por dentro e fez o aço dela encostar no dele. Pressão direta. Sem espaço para giro bonito. Cedric teve de abrir distância com o tronco e não conseguiu abrir com os pés.

    Aamerta bateu com o guarda na mão dele outra vez.

    A lâmina baixa dele tremeu, o punho dele apertou.

    Aamerta empurrou mais um passo.

    Cedric encostou o ombro na pedra.

    Aamerta veio para a garganta.

    Cedric cruzou as duas lâminas e segurou. O choque sacudiu os braços dos dois. Aamerta manteve o punho firme e tentou descer pela lateral.

    Cedric segurou de novo. Só que o metal dele já não cedia no mesmo ponto.

    Ele ficou rígido e olhar dele mudou.

    Cedric empurrou as duas lâminas para fora de uma vez. A espada de Aamerta foi desviada para o lado com força que não estava ali antes.

    Aamerta sentiu o braço abrir meio palmo e tentou fechar de novo.

    Cedric entrou no mesmo instante.

    A lâmina baixa veio na coxa ferida.

    Dessa vez não foi corte “de passagem”. O metal riscou o mesmo lugar e abriu mais fundo. O sangue saiu quente, rápido. A perna de Aamerta falhou o suficiente.

    A lâmina alta de Cedric bateu na guarda dela e empurrou a espada para fora da linha. A outra lâmina já estava subindo pelo meio.

    Aamerta virou o tronco e segurou o golpe no peito com a placa. O metal raspou e arrancou dor. O braço dela desceu um pouco.

    Cedric não deu distância.

    Ele entrou com o corpo inteiro, colando. Uma lâmina prendeu a espada dela por fora. A outra ficou livre e ameaçou o rosto.

    Aamerta tentou arrancar a lâmina presa com força de punho.

    Cedric torceu.

    O punho dela reclamou, a mão quase abriu. A espada dela saiu do centro e apontou para nada.

    Cedric bateu com o ombro no corpo dela, jogando peso onde a perna ferida precisava segurar.

    O joelho de Aamerta tocou a pedra e ela tentou subir no impulso da perna boa.

    Cedric empurrou a espada dela para longe e manteve as duas pontas perto demais, uma na altura do pescoço e outra apontada para o peito.

    Aamerta ficou de joelho, sem baixar o rosto.

    O sangue desceu pela canela e pingou.

    Cedric inclinou a cabeça, avaliando como se ela fosse uma peça que ainda não quebrou, mas já tinha trinca certa.

    — Assim fica mais honesto. — ele disse.

    Aamerta tentou levantar a espada de novo.

    Cedric torceu mais uma vez e a mão dela finalmente cedeu.

    A espada escorregou. Cedric encostou a ponta alta na lateral do pescoço dela, sem cortar. A ponta baixa ficou no peito, parada.

    Ele não precisava avançar.

    Aamerta manteve o olhar nele. Cedric falou baixo, sem pressa.

    — Continua em pé.

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