Capítulo 1630 - Ravenheart
Combo 13/200
De onde Rain estava na encosta, ela conseguia ver a maior parte da cidade.
Ravenheart foi separada em três distritos diferentes.
O maior de longe estava espalhado na encosta escura do vulcão fumegante, protegido do frio implacável por seu calor. Era onde milhões de humanos mundanos viviam. Suas casas eram construídas principalmente de pedra preta, então parecia que a cidade inteira era parte da montanha, intrincadamente esculpida em sua encosta por algum ser divino.
O segundo distrito foi construído na grandiosa ponte de pedra que se estendia sobre um abismo sem fundo em direção a uma distante montanha nevada. Era muito menor que o primeiro, mas ainda assim bem grande. Aquela ponte era o lar da maioria dos cidadãos Despertos de Ravenheart — já que somente eles conseguiam sobreviver ao frio cortante e aos ventos fortes que sopravam através dela.
E finalmente, um palácio sublime que parecia ser cortado de vidro de obsidiana ficava na extremidade oposta da grande ponte. O palácio era visível de qualquer lugar em Ravenheart quando o tempo estava bom, sua beleza escura e etérea nunca deixava de tirar o fôlego.
Era lá que a Rainha Song e seu clã viviam, e onde ficava o Portal para o mundo desperto.
… O Portal dos Sonhos, enquanto isso, estava localizado diretamente em frente ao palácio, na encosta do vulcão atrás do distrito mundano. Carregamentos de suprimentos e novos colonos chegavam dele quase todos os dias, atraídos pela promessa de uma vida melhor.
Rain passou alguns momentos apreciando a vista da cidade, então correu para o portão. Ela mal podia esperar para chegar à sua toca e subir para debaixo de um cobertor quente.
Havia alguns rostos familiares se preparando para deixar a cidade no momento em que ela estava retornando. Um grupo de jovens Despertos estava reunido em frente ao portão, todos vestidos com armaduras encantadas e empunhando armas de Memória. Alguns dos jovens pareciam estar prestando muita atenção nela.
Rain suspirou.
‘Esses caras de novo…’
Seu professor não disse nada, mas ela podia sentir um desprezo quase palpável irradiando de sua sombra. Um dos jovens Despertos acenou para ela e sorriu:
“Rain! Voltando de uma caçada?”
Ela demorou, tentando pensar em uma maneira educada de evitar uma conversa. Infelizmente, sua mente estava em branco. Por fim, Rain forçou um sorriso pálido:
“Ah… sim, eu localizei a Criatura do Pesadelo que estava assediando uma das encostas recentemente, Um Verme de Pedra. Sim… ele está morto.”
O jovem olhou para ela intensamente, com uma expressão que ela teve dificuldade de discernir.
‘Por que ele sempre me encara? Eu sou louca, eu sei! Não precisa deixar seu desgosto tão óbvio!’
Para piorar a situação, o cara era muito bonito… como todos os Despertos eram…
Ele costumava ser um dos humanos mundanos que se mudaram para Ravenheart, como ela, mas desafiou o Primeiro Pesadelo no ano passado. Sendo mais ou menos da mesma idade, eles se conheciam antes, um pouco. Mas agora havia uma grande divisão entre seu status e posição social.
“Tem alguma coisa no meu rosto?”
O jovem Desperto tossiu e desviou o olhar sem jeito.
“N-não, não… ah, estamos apenas saindo para patrulhar. De qualquer forma, é bom ver você… oh! Isso, uh… é uma pele de Verme de Pedra? Eu estava realmente esperando comprar algumas escamas. Você quer… quer nos encontrar amanhã, talvez? Eu tenho algumas moedas sobrando para gastar…”
Rain lançou-lhe um olhar estranho.
O cara estava claramente usando uma armadura completa encantada. Pela aparência, era uma Memória Desperta, e de um Grau alto, ainda por cima. Por que diabos ele precisaria de escamas de Verme de Pedra?
Ele notou a expressão dela e tossiu novamente.
“Ah! É para um amigo meu. Um amigo.”
‘Estranho!’
Rain deu de ombros.
“Você não vai fazer uma patrulha? Você não vai voltar por pelo menos uma semana. Desculpe, não quero que minha casa fique fedendo como um matadouro, então venderei o couro amanhã no mercado.”
Os jovens piscaram.
“Ah… certo…”
Ela balançou a cabeça, acenou para ele e foi embora.
Quando Rain estava saindo, ela ouviu os Despertos sussurrando entre si:
“Huh? Quem era ela? Por que ela está usando lixo, ela não tem memórias?”
“Você não sabe? Essa é a Louca Rain! Ela é uma garota mundana que sai por aí caçando Criaturas do Pesadelo.”
“O quê? De jeito nenhum…”
“É verdade. Você só Despertou este ano, então não sabe. Ela é infame aqui em Ravenheart, na verdade. Alguns dizem que ela matou mais abominações do que todos nós juntos… ninguém sabe por que ela ainda está viva, mas ela está.”
“Droga, pena que ela é uma louca…”
“Vocês dois, fiquem quietos!”
“É, cala a boca! E não diga que sou louca!”
“Ela pode ouvir…”
Rain foi embora, deixando os sussurros irritantes para trás. Ao passar pelos portões da cidade, ela franziu os lábios e reclamou com seu professor:
“Por que esses caras sempre me encaram e tentam arrumar confusão? Eles não podem simplesmente me deixar em paz?”
Seu professor respondeu em tom incrédulo:
“Você não sabe?”
Rain levantou uma sobrancelha.
“Sabe de uma coisa?”
Houve uma longa pausa, e então seu professor riu.
“Eles olham para você porque você é bonita! Não há ninguém mais bonita que minha irmãzinha!”
Ela não conseguiu evitar cair na gargalhada, fazendo com que algumas pessoas lhe lançassem olhares estranhos.
‘Certo. Talvez falar comigo mesmo no meio da rua não seja a melhor ideia… especialmente considerando que eles já acham que eu sou louca…’
Rain balançou a cabeça com desdém.
“Quem, eu? Existem milhares de mulheres Despertas em Ravenheart, e cada uma delas é mais bonita do que eu. Duvido que um cara Desperto me daria uma segunda olhada.”
Claro, ela sabia que não era… tão ruim, realmente, em termos de aparência. Pelos padrões mundanos. Mas o efeito do Despertar no corpo de alguém era simplesmente grande demais.
‘Ah… todos eles têm uma pele tão suave e sedosa. E sem calos. Uma bruta envelhecida como eu não pode competir.’
Seu professor zombou baixinho nas sombras.
“Deuses. Quão burra você é, garota?”
Ele permaneceu em silêncio por alguns momentos e, de repente, engasgou.
“… Espere. Cafeteria Colírio para os Olhos!”
Houve outra longa pausa e então um suspiro desanimado.
“Nós somos definitivamente irmãos.”
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