Capítulo 1914 - Comportas abertas

Combo 40/300

Morgan levantou sua espada e apontou para o homem que se dizia seu irmão.

“… Eu coletei alguns outros amuletos em preparação para vê-lo um dia, irmão. Você gostaria de ver?”

Lentamente, uma luz perigosa acendeu-se em seus olhos espelhados, e seus lábios finos se torceram em um sorriso frio.

“Claro, por que não? Ah… Eu me pergunto quanto tempo sua essência vai durar. Se eu cortar seus dois braços dessa vez, você teria que gastar mais? Não, na verdade, acho que vou arrancar seus olhos. Lembro de ter perdido um para sua lâmina uma vez, então será justo.”

Morgan o perfurou com um olhar ardente, desejando poder destruir aquele monstro aqui e agora. Então, ela cerrou os dentes e invocou outro amuleto. Havia todos os tipos de Memórias no mundo, e a Habilidade Ascendente de Morgan permitia que ela assimilasse seus amuletos em seu corpo. Havia limites para esse poder, é claro, e um preço que tinha que ser pago para usá-lo.

No entanto, isso lhe concedeu um nível único de versatilidade, tornou-a extremamente imprevisível em batalha e, acima de tudo, lhe concedeu grande poder. Se quisesse e tivesse tempo suficiente para se preparar, ela poderia voar como Vento da Noite, se tornar um colosso como Criada por Lobos, cortar almas como a Ceifadora de Almas Jet, comandar a escuridão como o Senhor das Sombras… até mesmo liberar chamas incineradoras como a Estrela da Mudança.

Infelizmente, nada do que ela podia fazer — pelo menos atualmente — lhe permitiria derrotar seu irmão monstruoso e seus treze corpos Transcendentes sozinha. Então, ela não tentou.

De qualquer forma, seu objetivo em Rivergate havia sido alcançado. O encantamento que ela invocou era poderoso, mas simples — permitia que ela viajasse por grandes distâncias em um instante, desde que ela estabelecesse um ponto de ancoragem com antecedência.

Morgan havia colocado uma âncora encantada na margem do rio enquanto viajava de Bastion para Rivergate, e agora era como se ela estivesse sendo puxada de volta por uma força avassaladora o suficiente para perfurar o próprio espaço. Enquanto Mordret e seus receptáculos se preparavam para repelir o ataque decisivo de Morgan…

Ela simplesmente desapareceu no ar, sem deixar vestígios. Mordret congelou por um momento, encarando onde sua irmã estivera uma fração de segundo atrás, incrédulo. Seu olhar ficou desfocado por um momento, viajando através das miríades de reflexos na vasta área ao redor de Rivergate.

Morgan não estava em lugar nenhum. De repente, uma risada irônica escapou de seus lábios, e ele lançou um olhar divertido para o norte. Seus olhos brilhavam com uma intenção assassina sombria e louca.

“… vejo você em Bastion, então.”

****

Um momento depois, Morgan se viu na margem do rio, voando pelo ar a uma velocidade terrível. Ela bateu no chão bruscamente e rolou várias vezes, quebrando algumas pedras em pó com seu corpo de aço. Eventualmente, ela parou em uma nuvem de poeira, a poucos metros da borda da água. Foi uma entrada nada graciosa, para dizer o mínimo.

Fazendo uma careta de aborrecimento, ela virou de costas e sentou-se lentamente.

As ruínas desoladas de Rivergate se foram, substituídas pela vista pitoresca do coração do Domínio da Espada. A água límpida do rio brilhava na luz dourada do amanhecer, e árvores antigas balançavam na brisa leve, suas folhas esmeraldas farfalhando como um mar.

Claro, havia todos os tipos de horrores escondidos sob a superfície da água, e as árvores altas podiam puxá-la para baixo do solo com suas raízes para servir de alimento para as folhas farfalhantes. O Reino dos Sonhos podia frequentemente ser bonito, mas nunca era gentil.

Hoje, porém, tudo estava tranquilo e silencioso, como se o rio e a floresta tivessem medo de fazer barulho. E por um bom motivo.

Havia um dragão majestoso deitado na margem do rio, sua escama azul-meia-noite quase ficando preta na luz do sol. Uma mulher com olhos azuis-gelo estava inclinada ao seu lado, emanando uma sensação de frio congelante. Outra mulher, esta aparentemente feita de aço polido, estava roendo um osso de uma abominação morta perto de uma fogueira próxima. Duas grandes sombras estavam escondidas sob a água, e um jovem com uma armadura danificada estava sentado na praia, olhando para a água com uma expressão sombria.

Quando ela apareceu, todos se viraram em sua direção. Eles estavam machucados e ensanguentados, mas vivos. O jovem foi o primeiro a falar:

“Lady Morgan! Você… você sobreviveu.”

Ela lançou-lhe um breve olhar e depois se virou.

“… É um insulto vê-lo agindo tão surpreso, Lorde Éter. Claro que sim.”

Morgan não conseguiu evitar tratar o jovem com frieza.

Éter costumava ser um dos jovens Cavaleiros mais promissores da Casa da Noite… quando ela ainda existia. Ele era forte, talentoso, valente e excelente em todos os aspectos. Na verdade, quando o Clã Valor estava em negociações com a Casa da Noite para forjar uma aliança por meio do casamento, era o Santo Éter quem deveria se tornar seu noivo.

As negociações fracassaram, é claro, e embora Morgan soubesse que era por uma razão política… ela não conseguia deixar de se sentir pessoalmente menosprezada pelo homem. O que era irônico, honestamente, considerando que ela realmente não queria que as negociações dessem certo, sentindo-se ambivalente sobre todo o caso.

Ainda…

‘Olha quem voltou rastejando para me implorar por ajuda depois de me rejeitar tão firmemente…’

É claro que ela não deixou que esses pensamentos infantis transparecessem em seu rosto.

Naquele momento, a superfície da água se rompeu, e a cabeça de uma enorme serpente marinha se ergueu acima da água, olhando para ela com dois olhos índigo gigantes. Santo Naeve assumiu sua forma humana e caminhou até a praia, parecendo um pouco pior pelo desgaste após a dura batalha.

Ele fez uma reverência para ela.

“Senhora Morgan.”

O Andarilho da Noite mais velho hesitou por alguns momentos, e então balançou a cabeça. “É bom que você esteja ilesa. No entanto, o inimigo… Eu simplesmente não consigo entender como um indivíduo pode ser tão forte. Que tipo de monstro seu clã criou?”

Ela lançou-lhe um olhar sombrio.

“Primeiro de tudo… não fomos nós que o criamos. Na verdade, meu clã estava protegendo o mundo daquela coisa por muitos anos. Segundo — ele é tão forte porque é o primeiro humano na história do nosso mundo que atingiu um Aspecto Divino. Sim, eles existem. Mas, na verdade… estamos com sorte.”

Naeve fez uma careta.

“Você chama isso de sorte?”

Morgan soltou um suspiro cansado e sorriu para ele. Ao contrário de Éter, ela gostava bastante do Santo Naeve. Isso porque ela conheceu a filha dele brevemente enquanto providenciava para que os sobreviventes da Casa da Noite fossem cuidados, e a garotinha era positivamente doce.

“De fato. Porque o que você testemunhou em Rivergate é meramente metade da força daquele monstro. Ele nem mesmo trouxe seus Reflexos… dadas as circunstâncias, podemos muito bem assumir que ele não é capaz disso no momento, por qualquer razão. Então, sim. Considere-se sortudo.”

O dragão levantou a cabeça e olhou para ela, o que fez Morgan estremecer. Um momento depois, uma voz profunda e melodiosa ressoou em seus ouvidos:

“Perdemos Rivergate. E agora?”

Morgan hesitou por alguns momentos.

Ela poderia evacuar a modesta cidade que havia crescido ao redor da Cidadela da Casa Dagonet, mas havia dezenas de milhões de pessoas vivendo em Bastion. Elas não seriam capazes de fugir para lugar nenhum quando a guerra batesse à porta delas.

Claro…

Bastion não era uma Cidadela qualquer, mas uma Grande. Ela tinha um poder próprio, e se ela usasse bem esse poder, o resultado de sua batalha contra Mordret seria… Menos definido do que parecia no momento. Morgan se levantou e deu de ombros.

“Agora, corremos de volta para Bastion e nos preparamos para um cerco.”

Um sorriso pálido torceu seus lábios ensanguentados.

“Se eu puder fazer do meu jeito, esse cerco vai ser longo…”