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    Lá longe, em Bastion, a reunião matinal estava chegando ao fim. Effie lançou um último olhar furioso para Sunny e saiu, enquanto Cassie levava Nephis para cuidar de seus deveres imperiais. Desta vez, ele não seguiu.  Em vez disso, Sunny fechou os olhos e respirou fundo, concentrando-se em seu sentido de sombras. 

    ‘Então, finalmente estou indo para Ravenheart…’

    Ele não precisaria atravessar as Montanhas Ocas novamente para alcançá-la, mas a jornada ainda levaria algum tempo e seria desagradável. Afinal, teria que retornar ao mundo desperto e suportar a rejeição por ele.  Ainda assim, Sunny estava de bom humor. 

    Ele estava ansioso para finalmente explorar o Palácio de Jade e, além disso, estava curioso sobre a cidade em si.  Ravenheart não era exatamente sua casa, mas Sunny passara quase quatro anos lá, escondido na sombra de Rain. Havia muitos lugares naquela cidade árida pelos quais ele sentia nostalgia. Ele também estava curioso para ver como Ravenheart havia mudado após a queda da Rainha Song. 

    Mas, acima de tudo, ele sentia falta de Kai. 

    Sunny havia se reconectado com Nephis e Cassie depois de ter sido apagado das memórias do mundo, e também havia se tornado próximo de Effie novamente — primeiro como Mestre Sunless, depois como consorte das sombras de Nephis. Mas ele mal havia passado tempo com Jet e Kai nos últimos dois anos. Eles só o conheciam como o frio e sinistro Senhor das Sombras — um aliado misterioso que se juntara à causa deles pouco antes do início da guerra. 

    ‘Gostaria de saber como ele está.’

    Sunny sabia que Kai havia conquistado Ravenheart sem derramar uma única gota de sangue. A população local o admirava bastante — bem, obviamente! —, mas ainda assim devia ser difícil lidar com as irmãs Song após a dissolução do Domínio de sua mãe.

    ‘Bem, veremos em breve.’

    Ao desviar a atenção, Sunny sentiu Bastion fervilhar de vida lá embaixo. Seu sentido de sombras envolvia a maior parte da cidade, permitindo-lhe monitorar várias coisas e saber de quaisquer perigos potenciais com antecedência — não que houvesse qualquer ameaça ali, ainda.

    Com exceção das noites de lua cheia. Mas eles tinham esse perigo específico sob controle. Havia muita gente e muito movimento na cidade para que Sunny pudesse compreender tudo — Sunny podia tentar, mas seus sentidos seriam rapidamente dominados. 

    No entanto, sua mente se tornara muito mais poderosa ao longo dos anos — tanto porque ele havia ascendido alto no Caminho da Ascensão quanto porque tinha bastante prática em lidar com inúmeras tarefas ao mesmo tempo. Ele não era a mesma pessoa que quase desmaiara depois de espalhar seu sentido de sombras pelos arredores de NQSC. 

    Sunny sentiu-se até tentado a invocar a Máscara de Weaver e ativar o encantamento [Onde está meu olho?] mais uma vez. Quase o matara da última vez que o usara, mas quem sabe? Talvez ele sobrevivesse ao seu fardo mortal desta vez. O que ele veria na infinitamente vasta, avassaladora e angustiante malha do destino? Será que ele se veria separado de sua infinita complexidade, existindo separadamente de tudo o que havia sido, é e sempre seria? Ele reconheceria os eventos do futuro e do passado na intrincada trama dos fios do destino?

    Ou ele morreria miseravelmente, com todas as suas sete cabeças explodindo em uma massa sangrenta ao mesmo tempo? Sunny não sabia e estava cauteloso demais para tentar… por enquanto.

    Em algum lugar lá fora, uma das quatro partes restantes da linhagem de Weaver estava esperando por ele… a Trama da Mente. Sunny decidiu não desafiar o destino antes de recuperá-la. Por enquanto, porém…

    Embora não pudesse prestar atenção ativa a tudo o que acontecia em Bastion, ele conseguia sentir tudo passivamente e voltar sua atenção para qualquer perturbação incomum. Ele também conseguia se concentrar seletivamente em lugares e indivíduos específicos. 

    Agora, ele estava procurando por Rain.  Sua irmã era especialmente fácil de ser descoberta devido à Marca das Sombras. Graças a ela, ele quase sempre sabia onde Rain estava — contanto que ela permanecesse na vasta área que seu sentido de sombras envolvia.

    Sunny não seguia Rain ativamente na maior parte do tempo, preferindo dar-lhe algum espaço. Afinal, ele não era um irmão totalmente superprotetor…

    E mesmo que fosse, quem poderia culpá-lo? Sua irmã tinha o hábito de se alistar em guerras suicidas e brigar com criaturas do pesadelo mortais! E se algum libertino viscoso a incomodasse, ela não conseguiria nem matá-lo! Ela não faria mal a uma mosca. 

    Bem, na verdade, ela era capaz de machucar uma mosca de forma bastante cruel. Mas não conseguia acabar com a vida vil e lasciva dela! Quem não ficaria protetor com uma irmã doce e gentil como essa?

    ‘Onde ela está? Espera… por que ela está vestida assim?’

    Sunny arregalou os olhos. 

    Lá embaixo, Rain atravessava as ruas movimentadas de Bastion. Ela devia ter trabalhado a noite toda com Beth e sua equipe, mas em vez de usar suas roupas práticas de sempre ou o Manto do Marionetista, usava um lindo vestido preto, cuja saia mal chegava aos joelhos. Ela também usava brincos — nem mesmo encantados — e sapatos completamente antipráticos e bonitinhos. Seu cabelo estava preso com um grampo de ônix.

    Sunny não conseguia perceber através do sentido de sombras, mas tinha certeza de que ela também havia aplicado uma maquiagem leve.

     Seu rosto empalideceu.

    ‘A…alarme!’

    Alheia à turbulência no coração do irmão, Rain aproveitava o sol da manhã enquanto cantarolava uma melodia com um sorriso feliz. Logo ela chegou ao seu destino — uma luxuosa cafeteria situada no trecho mais bonito do calçadão à beira do lago. Ao passar pela porta, ela parou por um segundo e olhou ao redor. 

    Então, o sorriso dela se alargou e ela acenou.

    “Aí está você!”

    Sunny soltou um suspiro de alívio.

    ‘Ah… são eles. Alarme falso.’

    Duas lindas jovens esperavam por Rain em uma mesa que tinha a melhor vista.

    Uma delas tinha pele bronzeada e cabelos acinzentados, e seu vestido cinza, de ombros caídos, revelava a linha suave de sua clavícula delicada. A outra tinha pele clara e cabelos loiros brilhantes, e seus olhos âmbar ardiam sob a luz dourada do amanhecer. Seu vestido branco era leve e elegantemente adornado com renda, fazendo-a parecer uma princesa de conto de fadas em um passeio. 

    Elas eram, é claro, Tamar do Clã Sorrow e Telle de Pena Branca. 

    Hoje, as três nobres garotas descartaram suas armaduras encantadas habituais, vestiram lindos vestidos e se enfeitaram o máximo que puderam para tomar um bom café da manhã na cidade e se lembrarem de que eram, de fato, garotas — e não máquinas de batalha. 

    Rain chegou à mesa e sentou-se com um sorriso incandescente. 

    “Desculpe o atraso!”

    Telle olhou para ela por um tempo, depois desviou o olhar para o ombro nu de Tamar.  Os olhos dela se estreitaram. 

    “Vocês… vocês fizeram tatuagens combinando?”

    Ela franziu os lábios, olhou para elas com uma expressão estranha e acrescentou em voz baixa:

    “… Sem mim?” 

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