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    O quadrado do Santuário não era diferente das demais. Antes, era uma montanha coberta de neve, mas agora que o Domínio das Cinzas a engolia, o pico da montanha se despedaçou e rios de lava fluíram por suas encostas, derretendo a neve e o gelo. Logo, estava coberta de cinzas.

    Sunny e seus companheiros subiram lentamente a encosta do vulcão recém-nascido, sem pressa para chegar à caldeira. Afinal, ainda havia tempo de sobra, já que seus inimigos precisariam de pelo menos dois movimentos para lançar um ataque.

    “É interessante.” Sunny olhou para a coluna de fumaça subindo ao céu. Lembrou-se de seu Primeiro Pesadelo — afinal, o Templo Sem Nome também estava localizado no topo de um pico nevado. Mas agora, o pico da montanha havia explodido e desmoronado, substituído pela cratera de um vulcão fumegante. Isso significava que o Santuário da Verdade não poderia estar localizado ali.

    ‘Estava escondido numa caverna?’, ele poderia perguntar a Kai, mas, na verdade, Sunny não estava tão curioso assim. Kai, por sua vez, parecia um pouco preocupado.

    “Desta vez, serão três bonecos de neve lançando um ataque ao mesmo tempo, não é?”, Sunny deu de ombros. “Provavelmente.”

    O charmoso arqueiro expirou lentamente. “Os dois que matamos já eram terríveis o suficiente. Tem certeza de que conseguiremos lidar com três ao mesmo tempo?”

    Sunny hesitou um pouco. “Bem, também temos a Colmeia de Obsidiana e a sombra da Abundância conosco agora. E não precisamos matar os três — só precisamos resistir até o sol nascer. Se fortificarmos bem este lugar, deve ser possível.” Sua expressão se obscureceu um pouco. “O verdadeiro problema é que teremos que repeli-los no dia seguinte, e no dia seguinte, e no dia seguinte… quantas vezes forem necessárias até que um lado seja completamente obliterado.” 

    Ele sorriu fracamente. “Mas foi exatamente por isso que decidimos vir aqui, não foi? Para ficarmos mais fortes cada vez que uma figura de Neve for sacrificada ao Santuário da Verdade.”

    Na verdade, Sunny esperava poder usar o Santuário antes mesmo do primeiro cerco. Afinal, ele carregava duas estatuetas de jade… a ideia de desperdiçar duas verdades o magoava, mas se as estatuetas pudessem ser sacrificadas para fortalecer a ele e seus aliados, ele estava disposto a se desfazer delas. 

    Kai riu baixinho. “Você ainda está cheio de confiança, pelo que vejo. Não está nem um pouco assustado?”

    Sunny balançou a cabeça. “Por que eu estaria? Essas coisas pararam de me assustar há muito, muito tempo. É como se eu tivesse esgotado todo o medo que me foi concedido ao nascer… ah, mas eu não sou completamente destemido. Sabe o que realmente me assusta?”

    Kai levantou uma sobrancelha. “O quê?”

    Sunny respirou fundo e estremeceu. “Ver Nephis derramar mel nas panquecas que eu fiz. Isso sim é… isso é assustador.”

    Kai piscou algumas vezes. “O que há de errado com o mel?”

    Sunny lançou-lhe um olhar indignado. “Tudo! A pergunta mais adequada seria: o que há de certo com o mel… quem em sã consciência contaminaria panquecas inocentes com algo tão vil?”

    O charmoso arqueiro apenas o encarou em silêncio por um tempo, depois respirou fundo, trêmulo. “E você também está sendo sincero. Mas se tem tanto medo de mel, por que não diz a Nephis para parar de usá-lo?”

    Sunny tossiu e desviou o olhar. “Bem… por que eu faria isso? Se ela gosta de mel, estou disposto a encher a Torre de Marfim inteira com mel. Se não for suficiente, também troco a água do lago por mel.”

    Kai riu. “Você não é um fofo? Igualzinho…” 

    Sunny lançou-lhe um olhar sombrio. “Sugiro que pare por aí, amigo. Se você sabe o que é bom para você.” 

    Kai riu ainda mais alto.

    Finalmente, eles chegaram ao topo da caldeira e começaram a descida. Logo chegaram à abertura principal do vulcão e à coluna de fumaça que se erguia dela.

    O Santuário da Verdade repousava sobre uma plataforma suspensa sobre o abismo abissal por correntes cobertas de fuligem. Ao contrário do Castelo de Cinzas, porém, não havia fortaleza na plataforma. Em vez disso, havia um templo carbonizado, construído com grandes blocos de pedra, cujo edifício enegrecido pelas cinzas e pela fumaça. Pilares altos, um friso largo, um frontão triangular decorado com relevos desgastados pelo tempo… O Santuário da Verdade parecia vagamente familiar, como um primo decadente do Templo Sem Nome. Os dois não eram exatamente iguais, mas definitivamente se assemelhavam, como se tivessem sido construídos no mesmo estilo.

    Sunny olhou para o templo carbonizado por alguns segundos. “Curioso.”

    Ele sabia que o Templo Sem Nome era verdadeiramente antigo. Como havia sido originalmente dedicado a todos os sete deuses do panteão, devia ter sido construído no início da existência — depois que o Vazio foi selado, mas antes que o sétimo deus fosse esquecido, e sua própria memória fosse proibida. Os daemons nasceram mais ou menos na mesma época, então esse tipo de templo devia ter se arraigado na mente de Ariel desde a juventude. Assim, quando precisou criar um modelo rudimentar de um templo, poderia ter simplesmente recorrido a esse estilo sem pensar muito.

    Sunny inclinou a cabeça. Seria correto pensar em daemons em termos tão simples? Imaginá-los tão humanos? Daemons nasceram Sagrados, arrancados da alma de um deus. Portanto, não podiam ser humanos demais… Dito isso, também já foram jovens. Também vivenciaram paixões e tristezas. Trilharam o Caminho da Ascensão e se elevaram ao Nível Divino.

    Então, quem poderia dizer que eles não tinham nenhuma semelhança com mortais como Sunny e Kai? Balançando a cabeça, ele se virou para a Caçadora e sorriu. “Devo te jogar do abismo de novo?”

    Ela lançou-lhe um olhar frio e sinistro… então deu um passo gracioso em direção a Kai, parando perto dele em silêncio. Sunny arregalou os olhos. 

    “Ah! A dor amarga da traição…”

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