Capítulo 405: Voltando às aulas

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Na verdade, a estranha garota de quatorze anos era sua irmã mais nova, Rain.

E, de fato, não foi uma coincidência que Sunny tenha comprado exatamente esta casa neste exato distrito da cidade. Embora o distrito do terraço fosse agradável e charmoso, o verdadeiro motivo pelo qual ele escolheu esta casa, em particular, foi porque ficava ao lado do lugar onde Rain morava.

Foi nesta rua, há um ano e alguns meses, que ele observou das sombras enquanto ela jantava com sua família adotiva, sua vida calorosa e feliz exposta para ele ver através da ampla janela de sua sala de estar bem iluminada.

…Bem, agora Sunny tinha uma sala de estar e uma ampla janela própria, embora normalmente só houvesse escuridão por trás dela.

Naquela época, ele percebeu dolorosamente que sua fantasia de salvar sua irmã mais nova era vazia e equivocada. Rain não precisava ser salva, muito menos por um vagabundo problemático como ele… um fantasma do passado do qual ela provavelmente nem se lembrava. Se ele tivesse batido na porta dela naquela noite, nada em sua vida teria mudado para melhor.

Sunny não era mais o mesmo garoto sem um tostão. Ele era um Desperto, marcado como um ativo estratégico especial pelo governo. Ele era consideravelmente rico, com boas conexões… até mesmo poderoso.

Mas, no fundo, ele ainda acreditava que a afirmação era verdadeira. Suas roupas e circunstâncias poderiam ter mudado, mas o próprio Sunny permaneceu o mesmo. Torcido e danificado, como seria qualquer pessoa que tivesse visto a verdade deste mundo.

O que é pior, agora que ele havia superado seu eu patético anterior, ele tinha um enxame de problemas novos e muito mais sérios. Nephis, os Soberanos, o legado do misterioso Weaver… todas essas coisas prometiam um futuro cheio de turbulência e perigo. Ele não era exatamente o tipo de pessoa que tinha coisas boas para oferecer a alguém.

Então, não. Sunny não mudou de ideia sobre se manter fora da vida de Rain. Ele não iria se aproximar dela e não tinha vontade de encontrá-la cara a cara.

…Houve, no entanto, um problema.

Agora que Sunny era um Desperto, estatisticamente, as chances de Rain ser infectada pelo Feitiço do Pesadelo aumentaram. Mas mesmo que ele esquecesse dessa correlação estatística, ainda havia a possibilidade de ela acabar no Primeiro Pesadelo, por menor que fosse.

A essa altura, Sunny tinha dezoito anos e Rain tinha quatorze. Quase todas as pessoas infectadas pelo Feitiço foram vítimas dele quando tinham mais de dezesseis anos e menos de dezenove, o que significava que faltavam cerca de dois anos para que Rain estivesse em perigo real, e cerca de quatro antes que ela estivesse fora dele.

Mesmo que fossem mais ou menos estranhos e não devessem nada um ao outro, Sunny se sentia… responsável por ela. Talvez Rain não se lembrasse dele devido ao quão pequena ela era na época da separação, mas ele se lembrava de tudo. Para ele, ela era a última lembrança de seu lar há muito perdido.

Agora que ele tinha a habilidade de mexer os pauzinhos nos bastidores para garantir que suas chances de sobreviver ao Primeiro Pesadelo aumentassem — seja através do acesso a melhores instrutores de batalha ou qualquer outra coisa — ele não podia simplesmente ficar parado e não fazer nada.

Mas para fazer isso, ele primeiro precisava entender o quão bem Rain já estava sendo preparada.

Por isso, ele comprou uma casa perto do local onde ela morava e soltou suas sombras para explorar o bairro e espionar ela e sua família.

‘Uh… quando digo dessa forma, com certeza parece um pouco assustador.’

Sunny levantou-se, bocejou e encolheu os ombros. Ele era um Desperto cujo poder estava nas sombras, no engano e no derramamento de sangue. Antes disso, ele era um rato de rua disposto a fazer qualquer coisa para sobreviver. Os humanos mundanos não tinham ideia do que ele havia passado, do que havia feito e do que era capaz como resultado.

Se soubessem, provavelmente ficariam horrorizados. Então, um pequeno toque de arrepio era de se esperar.

Vestindo um casaco com capuz quente, ele saiu, escondeu as mãos nos bolsos e dirigiu-se lentamente para o terminal de transporte público.

Sua sombra estava algumas centenas de metros à frente, seguindo Rain furtivamente e mantendo um olho nela. Ninguém sabia de sua presença.

Sunny suspirou e olhou para o céu nublado.

‘Hora de ir para a escola, eu acho.’

***

Rain foi para uma escola bastante elitista, no fim das contas. A julgar pelos preços das casas no distrito, Sunny sabia que sua família adotiva era razoavelmente abastada, mas parecia que ele havia subestimado sua riqueza ou suas conexões.

A escola não era das mais prestigiadas, mas estava perto. O suficiente para que apenas os filhos de funcionários do governo e herdeiros de conglomerados participassem… na maior parte, é claro. Havia algumas crianças que pareciam estar ali por causa de seu desempenho acadêmico, mas não o suficiente para fazer a diferença.

Os filhos dos servidores públicos chegaram em transporte público, como Rain; os filhos de empresários vinham em PTVs caros, controlados por motoristas pessoais.

Sentado à mesa de uma cafeteria a cerca de um quilômetro da entrada fortemente vigiada da escola, Sunny reprimiu a vontade de assobiar.

‘Isso é… como algo saído de um drama. Eu me pergunto se verei alguém levando um tapa na cara hoje…’

De repente, lembrando-se de seu primeiro encontro com Mestre Jet, Sunny tossiu e esfregou a bochecha, envergonhado.

A sombra feliz ainda estava seguindo Rain, movendo-se furtivamente de um ponto sombrio para outro. Então, esperou por uma boa oportunidade e mergulhou na sombra de uma das crianças que caminhava em direção à mesma sala de aula que ela.

Sunny ficou confortável e pediu alguns doces e um bule de chá.

Ele não conseguia acreditar que iria perder tempo frequentando a escola, entre todas as coisas, mesmo que fosse daquela maneira tão estranha. Ele já não ia à escola há doze anos, sem contar o mês que passou na Academia.

‘Bem… isso deve ser interessante.’