Capítulo 457: Torre de Marfim
Combo 89/100
“Santa… venha ver isso…”
Sunny sentou-se na grama macia, aproveitando a luz do sol e o vento fresco. Ele nem sabia o quanto sentia falta deles… sentia falta de tudo, na verdade. Olhando para trás, era difícil imaginar que ele tivesse suportado mais de um mês de completo nada sem perder a cabeça. Parecia que suas experiências na Cidade das Trevas o tornaram muito mais resistente.
…A sombra da Torre de Marfim aproximava-se lentamente à medida que a noite se aproximava, marcando a passagem do tempo. Estava tranquilo e calmo no prado verde da ilha celestial.
Atendendo ao seu chamado, o demônio taciturno apareceu por perto e ficou em silêncio, observando a magnífica torre branca. Seus olhos rubi, porém, não demonstravam nenhuma emoção.
Ele suspirou.
“…Bem, eu acho que é adorável.”
A ilha elevada não era muito grande, então Sunny podia ver mais ou menos sua borda não muito longe, cercada por lousas flutuantes de mármore estilhaçado. Havia uma campina deste lado, um bosque que farfalhava ao vento e um gracioso mirante construído com o mesmo material branco da própria Torre de Marfim. O arco de pedra dentro dele também era branco e vazio. O Portal desapareceu.
A alguma distância, ligado ao mirante por um caminho de pedra, erguia-se o magnífico grande pagode que outrora pertencera ao Daemon da Esperança. Se sua cópia no Céu Abaixo era sombria e ameaçadora, a original era exatamente o oposto. Era linda, graciosa e ligeiramente surreal, como se fosse sublime demais para existir no reino mortal.
…Em certo sentido, isso não aconteceu.
Entretanto, algo na Torre de Marfim deixou Sunny inquieto. Ele não conseguia descrever bem a sensação, mas era como se ao mesmo tempo se sentisse atraído e ameaçado por ela. A sensação não veio de sua intuição, mas sim dos cantos mais profundos de sua alma. Foi bastante forte.
E também havia algo estranho no formato da própria torre.
Havia uma coisa estranha que contornava a base, circulando todo o perímetro do grande pagode e desaparecendo de vista. Aquela coisa era quase da mesma cor, mas um pouco menos imaculada, e feita de seções longas e desgastadas.
Depois de olhar por um tempo, Sunny finalmente percebeu o que era aquilo.
…Osso. Enrolado na torre estava o que restava da cauda de alguma criatura gigante morta. Ele franziu a testa.
‘… Ainda bem que está morto. Espero que continue assim.’
Sunny suspirou, usou a Visão Cruel para se levantar e se dirigiu para a borda da ilha. A Santa seguiu, colocando a lâmina do Fragmento da Meia Noite em seu ombro.
Ao alcançá-lo, ele olhou cautelosamente para baixo e viu a colcha de retalhos desarticulada das Ilhas Acorrentadas bem abaixo. Daquela altura, pareciam peças de um lindo mosaico que alguém havia disposto sobre o fundo de uma escuridão aveludada, com uma série de estrelas radiantes brilhando no meio.
Sunny olhou para baixo por um momento, depois pegou uma pedra do chão e jogou-a pela beirada.
A rocha caiu cerca de cem metros sem encontrar qualquer resistência. Então, porém, de repente rachou e explodiu em cacos, que se transformaram em pó e foram espalhados pelo vento.
‘…Maldições.’
Parecia que o Esmagamento ainda estava lá. Acontece que a Torre de Marfim em si não foi afetada por ele, assim como a ilha onde ela se encontrava e uma pequena área ao seu redor.
Como ele iria descer?
Sunny ficou na beirada por algum tempo com uma expressão ressentida no rosto, depois se virou e caminhou mais fundo na ilha, circulando a Torre de Marfim pela esquerda.
Do outro lado do grande pagode havia um lago claro, com correntes de água fluindo dele e caindo na borda da ilha. À luz do sol, parecia que toda a superfície do lago brilhava com um brilho dourado puro. Sunny olhou para seu reflexo na água e depois para um banco esculpido em pedra branca que estava perto dele.
Finalmente, ele avançou e chegou a um ponto privilegiado de onde se avistava o portão da graciosa torre.
‘Oh…’
Os portões pareciam muito parecidos com aqueles que ele havia aberto nas profundezas do Céu Abaixo, com a principal diferença sendo a cor e a ausência de fuligem.
…Além disso, havia restos do esqueleto de uma fera gigante na frente deles, seu corpo serpentino enrolado na torre, seu enorme crânio descansando bem perto das altas portas brancas. Cada uma das terríveis presas da grande fera era tão longa quanto Sunny, pelo menos. A escuridão profunda aninhada em seus olhos vazios.
Ele estremeceu.
‘Isso é… um dragão?’
Na verdade, sim. Bem na frente de Sunny estavam os ossos desgastados e brancos como a neve de um dragão de verdade. A imagem da poderosa criatura morta em frente à torre imaculada era solene, misteriosa e aterrorizante.
O que poderia ter matado tal ser?
Pensando que não queria saber, Sunny demorou-se um pouco e depois seguiu em direção aos restos do dragão. Ele esperava desesperadamente que a grande fera não se mexesse e ganhasse vida. Se isso acontecesse… bem. Era melhor nem pensar nisso.
Alcançando o crânio branco da poderosa criatura, Sunny hesitou um pouco, depois caminhou entre as terríveis presas e se aproximou dos portões.
…Eles estavam entreabertos, então ele nem precisou usar essência para destravá-los.
Sunny reuniu coragem, levantou a mão… e abriu os portões.
De repente, ele sentiu um pouco de sono.
‘O que… o que é isso?’
Balançando a cabeça para afastar a sonolência, Sunny entrou na torre e se viu em um grande salão, com uma luz brilhante entrando pelas janelas altas. O ar lá dentro, porém, estava impregnado de uma escuridão estranha e brilhante.
E no seu centro, havia…
Correntes.
Sete correntes se espalhavam pelo chão branco e imaculado, como se crescessem dele, cada uma terminando em uma algema quebrada. As algemas estavam inscritas com uma miríade de runas e estragadas, com o metal rasgado. Elas também eram a fonte do estranho brilho, que subia de sua superfície em fios etéreos.
Uma massa caótica e em constante mudança de pura escuridão pulsava bem no centro do grande salão. Não, não era escuridão… pelo contrário, parecia uma fenda na estrutura da realidade, que poderia devorar até a própria luz.
Sunny ficou tenso e depois deu um passo hesitante à frente, na esperança de ver o que estava escondido atrás da escuridão.
Assim que o fez, porém, uma voz familiar ecoou no silêncio do grande salão:
“Pare, Sunless! Volte se quiser viver.”
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