Capítulo 474: Verdade seja dita
Combo 06/50
Sunny estudou a faca de obsidiana por um tempo e concluiu que não tinha ideia do que aquela coisa era capaz. Não era uma Memória e não tinha uma trama, então nem o Feitiço nem sua própria habilidade de perceber e compreender de alguma forma tais coisas poderiam ajudá-lo.
A única coisa que Sunny tinha certeza era que alguém havia arrancado um fio da Malha do Destino e colocado dentro da faca, fazendo um círculo com ele… para algum propósito misterioso.
Todo o resto teria que esperar até a próxima vez que tivesse notícias de Mordret. O príncipe perdido certamente saberia mais sobre a faca de obsidiana, já que parecia saber muito sobre as Ilhas Acorrentadas e seu passado em geral.
Agora, porém, Sunny teve que lidar com outro problema…
Ele tinha que explicar o desaparecimento da faca ao clã Pena Branca, de alguma forma.
Pela manhã — ou a qualquer momento, na verdade, se alguém decidisse deixar o Reino dos Sonhos ou entrar nele no meio da noite — as pessoas perceberiam que a faca que ninguém foi capaz de levantar ou mover havia desaparecido.
Sunny não tinha dúvidas de que não demoraria muito para que eles descobrissem que fora ele quem a pegara.
E depois disso…
‘O que fazer, o que fazer…’
No final, ele teve uma ideia muito maluca. Algo que ele nunca teria considerado, em circunstâncias normais. Algo que ia contra sua própria natureza.
…Ele foi e contou a verdade ao Mestre Roan.
Bem, a parte que tinha a ver com as moedas milagrosas, para ser mais preciso.
Visitar o complexo do clã Pena Branca no meio da noite foi um pouco estranho, mas felizmente para ele, o homem estava acordado. Ele estava se preparando para partir em patrulha e, por isso, levantou-se cedo para fazer os preparativos necessários.
Depois que Sunny terminou de falar, o poderoso cavaleiro grifo olhou para ele por um tempo com uma expressão perplexa. Então, ele pediu para dar uma olhada na faca.
Sunny relutantemente entregou a lâmina de obsidiana e observou nervosamente enquanto Mestre Roan a inspecionava. Ele realmente esperava que o clã Pena Branca não decidisse mantê-la… havia muito poucas coisas que Sunny poderia fazer se o fizessem.
Finalmente, o robusto Mestre devolveu-lhe a faca de obsidiana e perguntou curioso:
“Então você conseguiu levantá-la usando moedas de Noctis no altar?”
Sunny assentiu.
“Sim… espere, você sabe sobre as moedas?”
Mestre Roan assentiu.
“Algumas foram encontradas aqui e ali nas ilhas ao longo dos anos. Parece que esta era a moeda preferida usada pelas pessoas que viveram aqui há milhares de anos. Ninguém jamais descobriu um tesouro literal deles, como você.”
Ele pensou um pouco e depois sorriu.
“Na verdade, acho que tenho uma escondida em algum lugar. Espere aqui um pouco, ok?”
Com isso, Roan desapareceu no castelo de pedra e voltou cerca de dez minutos depois, segurando uma moeda de ouro familiar na mão.
“Encontrei! Eu costumava carregar muito comigo antes, como um amuleto da sorte. Vamos.”
Juntos, eles voltaram para a ilha do altar.
A primeira coisa que Mestre Roan fez foi olhar para a lua e colocar a moeda no altar. Mais uma vez, brilhou e desapareceu, deixando uma expressão confusa no rosto do belo homem.
“Maldito seja! Acabei de receber um pouco de Essência da Alma. Você estava certo!”
Ele balançou a cabeça, surpreso.
“Pensar que essas moedas tiveram tanta utilidade todo esse tempo, e ninguém sabia. Bom trabalho, Sunless!”
Então, Mestre Roan hesitou por alguns momentos e perguntou:
“Você pode colocar a faca de volta no altar?”
Sunny fez o que lhe foi pedido e então observou o poderoso cavaleiro do grifo usar todo o seu formidável poder em uma tentativa vã de levantar a lâmina de obsidiana da superfície branca. Quando ele terminou aquela tentativa fútil e recuou para recuperar o fôlego, Sunny simplesmente segurou o cabo e recuperou a faca sem nenhum problema.
“Interessante!”
Então chegou o momento da verdade. Sunny ficou tenso enquanto esperava pela decisão dele.
Depois de pensar um pouco sobre isso, Mestre Roan disse:
“Bem… eu não sei se você sabe disso, Sunless, mas existe uma regra sagrada entre nós, Despertos no Reino dos Sonhos. A santidade desta regra é inatacável e irrepreensível. Achado não é roubado, fica com quem encontrou.”
Sunny piscou.
‘O quê?’
O Mestre Roan sorriu:
“Então você não precisa se preocupar comigo ou com Tyris tirando essa faca de você…”
Então, porém, seu sorriso esmaeceu.
“…Outras pessoas, porém, podem não ser tão razoáveis. Mesmo que ninguém saiba que poder essa coisa tem, ou se há algo especial nisso, alguém pode ficar muito animado e agir de maneira lamentável. Aconselho você a colocar a faca de volta no altar, até o momento em que tiver vontade de usá-la.”
Sunny considerou suas palavras e teve que admitir que esta seria, de fato, a melhor decisão por enquanto. Mestre Roan o ajudou a confirmar que ninguém mais seria capaz de pegar a faca, e carregá-la e que se aventurar no Pesadelo com ela não trazia nenhum benefício.
Invocando a memória de como exatamente a lâmina de obsidiana havia sido colocada no altar, ele a colocou no lugar anterior e deu um passo para trás.
Mestre Roan assentiu.
“Boa escolha. Por favor, diga-nos se descobrir alguma coisa sobre seu propósito… pelo menos se tiver alguma coisa a ver com o bem-estar do Santuário. Se necessário, iremos recompensá-lo de forma justa para comprar a faca de você ou alugá-la um pouco, se preferir.”
Sunny concordou com essa condição, pois parecia razoável.
Com isso fora do caminho, o robusto cavaleiro do grifo olhou para ele com faíscas dançando em seus olhos.
“Então, uh… o que você vai fazer agora?”
Sunny franziu a testa.
‘Que pergunta estranha…’
“Vou para casa, tomar um banho, cuidar de alguns negócios do mundo real. Por quê? O que você vai fazer?”
Mestre Roan riu:
“O que você quer dizer com o que vou fazer? Vou sair em minha patrulha e depois irei… caçar moedas, é claro. Suspeito que todos no Santuário estarão procurando por moedas de Noctis como loucos por algum tempo depois dessa sua descoberta. As pessoas vão ficar muito ocupadas…”
Sunny permaneceu em silêncio por um tempo e depois disse em tom muito sério:
“Boa sorte, então. Ah, e uma coisa… se você encontrar um baú grande cheio delas, faça seu grifo pisar nele algumas vezes antes de se aproximar. Melhor ainda, faça isso em todos os baús que encontrar no futuro. Nunca confie em um baú, é o que estou tentando dizer… com certeza não não confie!”
Com isso, despediu-se do belo Mestre, colocou a mão no altar e voltou ao mundo real.
Havia muita coisa que ele tinha que fazer lá…
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