Capítulo 302: Status Quo

Nas semanas seguintes, o Castelo Brilhante se tornou um lugar estranho.

Dentro de seus magníficos salões, barricadas foram construídas e três fortalezas improvisadas apareceram, cada facção mantendo um território específico. Além dessas áreas protegidas, não havia terra de ninguém. Sair da fortaleza de uma facção era frequentemente equivalente à morte.

Ninguém sabia o que encontrariam lá. Cadáveres cobriam o chão, com um saqueador ocasional se escondendo na escuridão. Sem mais lei, por mais tirânica que fosse, muitas pessoas cederam aos seus impulsos mais sombrios. Mas esses miseráveis ​​eram o menor dos perigos que agora povoavam o Castelo.

Um destino muito pior era tropeçar em uma patrulha ou grupo de guerra de outra facção. Os Guardas, especialmente, eram rápidos em massacrar qualquer um que encontrassem, às vezes de maneiras horríveis e inventivas. Os Caçadores e os seguidores da Estrela da Mudança eram igualmente implacáveis, mas pelo menos não sem razão ou provocação.

Mas a mudança mais assustadora foi que agora os humanos não eram mais os únicos a povoar a antiga cidadela.

Após a morte de Gunlaug, muitas pessoas foram mortas, e o resto estava ocupado demais com sua pequena guerra para continuar defendendo o Castelo. E assim, depois de tantos anos, as Criaturas do Pesadelo retornaram sob seu teto.

Algumas foram mortas pelos representantes das facções, mas algumas conseguiram se esconder e criar ninhos em algum lugar nas profundezas da fortaleza. Ninguém sabia quantas eram, mas o terror mantinha as pessoas acordadas à noite.

Também havia muitos rumores circulando, um mais assustador que o outro. O mais persistente deles falava de uma criatura horrível chamada Lorde de Sangue, que aparentemente espreitava os corredores do Castelo Brilhante e matava humanos, rasgando suas gargantas com presas afiadas e consumindo todo o seu sangue. Alguns até pensaram que era o próprio Gunalug, que retornou do túmulo para trazer vingança aos seus assassinos.

Sunny duvidou desses rumores até o momento em que encontrou um cadáver sem sangue de um jovem Guarda em uma de suas patrulhas. Por um momento, ele sentiu o medo invadir seu coração. Ele sabia o que eram as Flores de Sangue, afinal. Mas então ele se acalmou, lembrando que o corpo do Lorde Brilhante havia sido destruído durante o massacre que se seguiu à sua morte.

Mas se o cadáver de Gunlaug não estava andando por aí bebendo o sangue das pessoas… então o que estava?

Muitas coisas perturbadoras estavam acontecendo no Castelo ultimamente.

Além das frequentes, mas pequenas escaramuças entre as facções, as pessoas continuavam morrendo de todos os tipos de formas mórbidas. Ele nem queria pensar sobre isso. Não havia lugar seguro em lugar nenhum agora, exceto talvez pelas três fortalezas.

O assentamento externo havia sido completamente abandonado. A princípio, Nephis tentou criar um refúgio seguro ali para aqueles que não desejavam participar da guerra, mas ela rapidamente recebeu uma lição sangrenta de seus inimigos — espalhar suas forças muito finas era simplesmente um convite para um ataque. Depois disso, todos os seus seguidores, dispostos ou não, se mudaram para a parte sul do Castelo e se juntaram às fileiras de sua força de combate.

E ainda assim, mesmo duas semanas depois, nada havia mudado. As três facções continuaram sua luta sangrenta, incapazes de quebrar o status quo.

Logo, algo teve que mudar.

***

Uma noite, Sunny estava sentado em uma caixa em um dos corredores da fortaleza da Estrela da Mudança. Em sua mão havia uma tigela com uma ração miserável, que ele, no entanto, estava comendo com muito entusiasmo.

A poucos metros dele, alguns seguidores de Nephis faziam o mesmo enquanto conversavam. Por tédio, ele ouvia suas vozes enquanto comia.

“Você ouviu? Eles encontraram outro Guarda morto perto da sala do trono. O Lorde do Sangue o pegou.”

“Boa história. Mas essa coisa realmente me assusta.”

“Sim. Assustador. Mas… você sabe do que eu realmente tenho medo?”

O morador da favela olhou para seu parceiro, que estava pagando tributo para morar no castelo apenas algumas semanas atrás, e levantou uma sobrancelha.

“O que?”

“Harus. Aquele bastardo assustador. Onde ele está agora? Droga, se eu pudesse sonhar, com certeza teria pesadelos com aquele açougueiro todas as noites.”

“…Espere. Você não ouviu?”

“O que?”

“Ele está morto.”

O cara arregalou os olhos, enquanto Sunny se virou e tentou reprimir um sorriso.

“Sem chance!”

“Sim. Eles encontraram o corpo dele depois da grande batalha em uma passagem escondida atrás do trono. Alguém tinha… tinha espancado ele até a morte. Com punhos nus. Foi o que eu ouvi.”

Por alguns segundos, houve silêncio. Então, um deles disse:

“Que tipo de humano poderia matar aquele monstro? Com ​​as próprias mãos?”

O favelado estremeceu.

“É isso. Ninguém sabe. Todos os poderosos foram contabilizados. Você mesmo viu, eles estavam todos lutando na sala do trono.”

“…Droga. Agora estou ainda mais assustado. Harus já era terrível o suficiente, mas pensar que há uma pessoa neste Castelo que é poderosa o suficiente para matá-lo tão facilmente… enquanto permanece completamente despercebida e desconhecida, por todo esse tempo… droga, isso é assustador.”

O favelado assentiu e virou-se para Sunny:

“Ei… Sunny, certo? Você é o explorador de Lady Nephis? Quem você acha que poderia matar Harus?”

Sunny pensou por um momento e então disse honestamente:

“Bem… além de mim, que é um verdadeiro terror no campo de batalha e possivelmente um dos Adormecidos mais mortais que já existiram no mundo… uh… acho que Cassie poderia.”

O jovem olhou para ele com desaprovação e então balançou a cabeça.

“Não é legal, cara. Se gabar é legal, eu acho, mas zombar de Lady Cassie foi muito baixo da sua parte.”

Sunny piscou. Quando ele zombou de Cassie? Considerando a Habilidade de Aspecto que Harus possuía, ela era realmente a próxima melhor pessoa a lutar contra o corcunda depois do próprio Sunny. Ela já estava cega e se adaptou a lutar naquele estado o melhor que pôde. Com a ajuda de seus Ecos, Cassie tinha uma boa chance de sobreviver àquela batalha.

Com um sorriso de desculpas, ele deu de ombros e disse:

“Desculpe, eu apenas escolhi mal as palavras. De qualquer forma, estou indo.”

Com isso, ele pulou da caixa e foi em direção à barricada que servia de fronteira para a fortaleza da facção.

O favelado ergueu as sobrancelhas.

“Aonde você vai? A noite está se aproximando!”

Sunny sorriu.

“Caçar. Ah, não se preocupe. Eu vivi na Cidade das Trevas por três meses, lembra? Nada vai acontecer comigo hoje…”